quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Livro aborda o heavy metal sem sensacionalismos ou preconceitos



O heavy metal ainda sofre preconceitos e estereótipos típicos de quem têm pouco conhecimento sobre o estilo e a importância do mesmo para a “eterna” revitalização do rock como cultura jovem. No último Rock in Rio, tivemos vários exemplos dessa representação muitas vezes medíocre feita pela grande mídia. Os velhos “lugares-comuns” de que o estilo é barulhento e tem apenas letras satânicas, é usado muitas vezes como “exotismo” para atrair a atenção dos receptores. E tal atitude preconceituosa não fica explícita apenas aos veículos e suas pautas sem pesquisa ou com pouco conteúdo de pesquisa.

Sarcófago: banda mineira de heavy metal e a imagem do choque para causar impacto

A cantora Claudia Leite demonstrou total preconceito ao comparar os “metaleiros” com nazistas. Indignada por ter sido vaiada num festival que unia diversas “tribos”, ela apenas reafirmava uma posição totalitária: a de que todos no festival deveriam apreciar suas músicas, mesmo que o show não fosse numa noite de carnaval na Bahia. Ou seja, muito do que é dito de forma pejorativa acerca do gênero mais pesado do rock é feito com má-vontade, além de inúmeros clichês que acabam sempre caindo em reducionismos e sensacionalismo.
O heavy metal sempre usou da polêmica como um dos artifícios para a manutenção de sua imagem rebelde e contestadora, porém mostrou durante décadas, uma vitalidade e ambição, bem maior que o punk rock, um estilo musical que muitas vezes ficou em guetos underground pela sua parca força propulsora de novos subgêneros. Dessa forma, é evidente que o metal manteve-se vivo e atuante pela capacidade de se reinventar e criar ramificações que utilizam influências que vão do jazz até o hardcore, por exemplo.
Primeiro disco do Black Sabbath consolidava o estilo e a imagem "maldita" do heavy metal

Para ilustrar a importância do metal às gerações de roqueiros das últimas quatro décadas, foi publicado no Brasil o livro “Heavy Metal – A História Completa”, do jornalista especializado em música, Ian Christe. O livro é um lançamento da editora ARX e vem com um apanhado geral e completo dos 40 anos do estilo, desde que o Black Sabbath lançou seu primeiro elepê, até as bandas atuais. Além de muito bem escrito, com uma história que mescla as desventuras dos “metaleiros” (termo ridículo criado pela Rede Globo durante o primeiro Rock In Rio, em 1985) com o contexto histórico, político e social de cada década, “Heavy Metal...” pode ser chamado de a “Bíblia Negra” do metal.
O livro não é apenas uma fonte interminável de consulta para os apreciadores do estilo, mas pode-se dizer que é uma verdadeira luz às trevas que sempre são colocadas por jornalistas mal informados - os típicos críticos preconceituosos de cadernos culturais de publicações comerciais; senhores de terno e gravata que acham que o som mais pesado feito no rock é o U2.

O livro também aborda, de forma bem completa, a ligação do estilo com a grande mídia. Se no começo houve uma profunda ligação com a imprensa alternativa, visto sua popularidade através de fanzines que estimulavam a troca de fitas, o metal passou nos anos 80 a gênero predileto da MTV. Depois da glória, o estilo caiu no ostracismo na visão da grande mídia, isso porque na década de 90, a mídia popularizou estilos como música eletrônica e o próprio grunge. Contudo, nos subterrâneos, as bandas de metal continuavam a vender milhares de discos e realizar turnês lotadas por todo o globo, isso demonstra (e fica muito bem claro no livro) que o metal nunca precisou do grande apoio da mídia para vender discos. O estilo sobrevive (e bem) pela devoção dos fãs, tornando-o mais que um movimento modista, mas um estilo de vida que transpassa gerações e tendências.
A obra  não é apenas para quem é fã de heavy metal, mas para todos aqueles que gostam de música e querem entender a história de um estilo que definiu modas, gírias e todo um universo cultural.


 Marcelo Pimenta e Silva é graduado em jornalismo pela Universidade da Região da Campanha, Bagé/RS. Como pesquisador atuou por três anos no Núcleo de Pesquisa da História da Educação, pela Urcamp, tendo produzido diversos trabalhos multidisciplinares. Tem como temas de pesquisa a imprensa alternativa brasileira; a contracultura e suas implicações na sociedade brasileira, além de temas como o ativismo na cibercultura. Conta com experiência em colunas sobre cultura, em jornais, em sites e em revistas. Atualmente, trabalha com jornalismo, assessoria de imprensa e pesquisa free-lance, além de cursar pós-graduação em comunicação mercadológica na Fatec Senac de Pelotas/RS.  

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