quinta-feira, 15 de março de 2012

HÁ MOUSES QUE VÊM PARA O BEM...

          
A coluna Incontros de hoje traz poemas e algumas fotografias de um velho amigo, Edu Hoffmann. Multiartista, arteiro também, sabe brincar com as palavras com graça e inteligência. Antes de se deleitarem com versos e imagens, uma pequena biografia para que os leitores o conheçam melhor.

Luiz Eduardo Hoffmann, nasceu em Jacarezinho (Pr) em  09 de setembro de 1954, é poeta, jornalista e fotógrafo. Entre suas publicações, estão:
Ensaio Fora de Planos – poesia – Edições Pirata – Instituto Joaquim Nabuco - Recife PE em 1979
Trens – (Poemas) -Editado pela secretaria de Cultura do Estado- Pr – 1985
Livro de poemas Rasantes - Edição do autor – 1985
Participação no livro antologia poética O Feiticeiro Inventor – Criar Edições/ Curitiba / PR - 1985
Sete Quedas da Paixão – poemas – no Peito e na Raça edições ( do autor) 1987
Participação na Revista Mensal de Cultura Todavia – editada pela Casa do Poeta do Paraná,
Participaçãp no Livro Carpe Diem, coletânea de poemas, em 1990.
Premiado no 1º Concurso Helena Kolody – Antologia de poetas contemporâneos do Paraná – Secretaria de Estado da Cultura – 1990/e em 1994.
Lançamento, em 1991, de envelope com 20 cartões postais – de haicais, com ilustrações do autor, no Bar Degrau 43, do músico e compositor Guêgo Favetti.
Participação na Revista dos Bancários, Contos e Poemas, do Sindicato dos Bancários de Curitiba, janeiro de 2001.
Lançamento do livro Bambus, de haicais, com ilustração de Emílio Boschilia, pela Secretaria de Cultura e do Estado- Pr, em 2003.


                                                                 Passeio Público - Curitiba


UM FILME
                    (ao amigo Dante Fonseca)


...ela ainda disse

me devolva o colar

afinal de contas...


sabia, no sonho

que era um sonho

cinematográfico

dos tempos da vovó,

bem art nouveau


pairava um filme noir

o criado mudo.

o espelho apenas refletia

Hitchcock escada abaixo


doido, como todo sonho

agora o filme um spagheti italiano

visto por um olhar

bem ordinário da Cardinale


suava frio

as unhas compridas do Zé do Caixão

apertavam minha garganta.

Era fatal! Filme nacional...


Ao fundo uma linda canção:

era o canto do quarto


Espere: ouço uns gemidos

seria uma chanchada?


De sacanagem, um filme de fricção científica:

os gemidos eram do corredor dando pra sala


Acordei

entre gritos e sussurros.


                                  
                                               Santiago do Chile: Hay que endurecerse, pero sin perder la ternura


MEDUSA


Você não fica confusa

ao sabor de saber que a semibreve

tem o valor de duas mínimas ?



pensando bem, minha musa

de que nos adianta saber

se a soma dos quadrados dos catetos

é igual ao quadrado da hipotenusa ?



você não dá a mínima

que as medusas são animais hidrozoários

em forma de campainha ou sino

e se as medusas tocam em alguma banda

de samba ou de tango argentino

se as gravadoras as recusam, não interessa

nada disso minha diva é divino

nenhuma voz tão bem professa



o que quero ouvir, de verdade

de maneira clara, conclusa

é se o coração que me ama

bate debaixo da sua blusa.




                                                                   Animais em Morretes - Pr.     

CIBERNET


simplicidade havia

bastava um cotonet

pra se ouvir a cotovia

eu passeava na minha caminhonet

era tudo tão verde, tudo tão zen

minha namorada era a Marinet

Atendia de caixa lá no velho armazém

cumplicidade havia

bastava um cotonet

pra se ouvir a cotovia

hoje estou aqui, não saio da internet

ninguém me quer, ninguém me tem

mas tenho torcicolo, tenho joanet

há mouses que vêm para o bem ?

simplicidade havia...




                                                               Atacama: Vale de la Luna


VIAGEM

Para chegar ao nirvana

tem de cruzar aduana

(via Uruguaiana)

hai que endurecerse Havana

entre a baiana e a curitibana



aranha que me tateia

no fio que me apetece



envolta em manto cantando mantra

três goles de água tônica

fina. em sintonia, fina

a voz da cantora afônica



quem apalpa

quem a polpa

dos teus sulcos ?!



teu fogo chamo

venha vento que me chama

inventa-me.



                                                      Menino da Pipa - Parque da Barreirinha, Curitiba.


FARINHA DO MESMO SACO


Eu que andava desse mundo

mais cheio que prato de caminhoneiro

sem rumo sem amor e sem dinheiro



talvez por ir com muita sede ao pote

comia o pão que o diabo amassou

pagava mico pagava o pato

até o meu retrato a outra queimou



andava mais quebrado

que arroz de terceira

amor, você me tirou da dieta

você é minha feijoada completa



agora choro de barriga cheia

você me lambuzou, você se regalou

você meu ante-pasto, minha ceia



nesse bolo todo você é a cereja

que fica comigo à esmo

tomando cerveja

comendo torresmo




                                                 Teatro de rua - Ruínas de São Francisco, Curitiba



PANTAGRUEL


Acordou o dia

batendo caçarola na cozinha

hoje vai ter quiabo com salada

milho verde, arroz com galinha



vai rolar cachaça da serra

feijão de corda pra João provar

ah, uma loirinha bem suada

que até o santo vai gostar



um panelão de vaca atolada

meu Deus, vai ser um colosso

de tempo em tempo, põe tempero

pra Claudinha lamber até o Osso



é batata é Madalena

há um feitiço nesse fogão

é cocada é marmelada

arroz doce de montão.



                                                             Tai-Chi no Bosque do Papa - Curitiba


PERFUME


chove chuva de chuveiro

é uma lisonja ensaboar

a quem a mui lejos foi monja

ela me disse que tudo passa

- passe bem de leve a esponja



melodias realejo

ambígua língua dançando

distraída no seu umbigo

blues no azul do azulejo.



                                                                Teatro de rua - cena I


SWING
            (temperô)


tonto, um tanto bambo,

minha vida era um bolero

você quem temperou

e botou salsa, mambo,

rock em roll.



minha vida então virou

uma febre que só

eu dancei hula, forró

caí no frevo e no carimbó



vem pra roda, morena

que eu quero ver

você rodopiando

me bem temperando

até o caldo ferver



quantos ritmos menina

faxinaram minh’alma

você foi a vitamina

que sacudiu minha calma



aí deu breque no samba

você me assanhou e vazou

e eu que já me achava um bamba

caí no choro, ah que enfado

ando blue



ah a falta que você me faz

perdi o rumo, zerou o gás

no fundo, minha música jaz.


                                                             Teatro de rua - cena II
                                                    


POEMA  BUGRE

o desejo e as carícias

das minhas mãos vaqueiras

aboiando

seu perfume de flor orvalhada

do maracujá



eu me arranjo

em qualquer rancho

a vida me escreve

torto

com o seu garrancho

umas rimas tortas



mi amore minha amora quase roxa

em seu regaço em seu rego

deslizam minhas margens



apaga o lampião

uma estrela na ponta-da-língua

a constelação na ponta-dos-dedos

uma serenata de lonjuras.





 Fotos e Poemas: Edu Hoffmann.





Izabel Liviski é fotógrafa e professora de Sociologia, disciplina na qual é doutoranda na UFPR.
Pesquisadora de Linguagens Visuais, História da Arte e Sociologia da Imagem, escreve quinzenalmente a coluna Incontros às quintas-feiras na ContemporArtes.

6 comentários:

SoniaMAR Passot disse...

Muito bonita esta homenagem aos nossos queridos poetas.

15 de março de 2012 às 20:27
Adriana Baggio disse...

Izabel, gostei muito das imagens e dos poemas. Meus preferidos: a foto da policial chilena e o poema "Swing". Não é só porque fala de música, mas ele pede para ser musicado!

beijos,

Adriana

15 de março de 2012 às 22:21
Brodinho disse...

Super bacana mesmo. Um grande abraço.

16 de março de 2012 às 15:12
Anônimo disse...

Sou fã do poeta há muito tempo, agora do fotógrafo também. Maravilha.
Sônia Gutierrez

24 de março de 2012 às 18:56
Gisele disse...

Edu,
adoreii o blog e vou estar xeretando sempre
super beijossss
parabens!!!

27 de março de 2012 às 13:22
Noemi disse...

Meu genial poeta, fotógrafo, artista, meu amigo Du....TAmbém acho que um daqueles poemas merece ser musicado. Mas é o "Farinha do Mesmo Saco", daria um belo de um samba-choro...Tem umas coisas que lembra o Chico Buarque.
bj

30 de março de 2012 às 13:48

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