HÁ MOUSES QUE VÊM PARA O BEM...
A coluna Incontros de hoje traz poemas e algumas fotografias de um velho amigo, Edu Hoffmann. Multiartista, arteiro também, sabe brincar com as palavras com graça e inteligência. Antes de se deleitarem com versos e imagens, uma pequena biografia para que os leitores o conheçam melhor.
Luiz Eduardo Hoffmann, nasceu em Jacarezinho (Pr) em 09 de setembro de 1954, é poeta, jornalista e fotógrafo. Entre suas publicações, estão:
Ensaio Fora de Planos – poesia – Edições Pirata – Instituto Joaquim Nabuco - Recife PE em 1979
Trens – (Poemas) -Editado pela secretaria de Cultura do Estado- Pr – 1985
Livro de poemas Rasantes - Edição do autor – 1985
Participação no livro antologia poética O Feiticeiro Inventor – Criar Edições/ Curitiba / PR - 1985
Sete Quedas da Paixão – poemas – no Peito e na Raça edições ( do autor) 1987
Participação na Revista Mensal de Cultura Todavia – editada pela Casa do Poeta do Paraná,
Participaçãp no Livro Carpe Diem, coletânea de poemas, em 1990.
Premiado no 1º Concurso Helena Kolody – Antologia de poetas contemporâneos do Paraná – Secretaria de Estado da Cultura – 1990/e em 1994.
Lançamento, em 1991, de envelope com 20 cartões postais – de haicais, com ilustrações do autor, no Bar Degrau 43, do músico e compositor Guêgo Favetti.
Participação na Revista dos Bancários, Contos e Poemas, do Sindicato dos Bancários de Curitiba, janeiro de 2001.
Lançamento do livro Bambus, de haicais, com ilustração de Emílio Boschilia, pela Secretaria de Cultura e do Estado- Pr, em 2003.
Passeio Público - Curitiba
UM FILME
(ao amigo Dante Fonseca)
...ela ainda disse
me devolva o colar
afinal de contas...
sabia, no sonho
que era um sonho
cinematográfico
dos tempos da vovó,
bem art nouveau
pairava um filme noir
o criado mudo.
o espelho apenas refletia
Hitchcock escada abaixo
doido, como todo sonho
agora o filme um spagheti italiano
visto por um olhar
bem ordinário da Cardinale
suava frio
as unhas compridas do Zé do Caixão
apertavam minha garganta.
Era fatal! Filme nacional...
Ao fundo uma linda canção:
era o canto do quarto
Espere: ouço uns gemidos
seria uma chanchada?
De sacanagem, um filme de fricção científica:
os gemidos eram do corredor dando pra sala
Acordei
entre gritos e sussurros.
Santiago do Chile: Hay que endurecerse, pero sin perder la ternura
MEDUSA
Você não fica confusa
ao sabor de saber que a semibreve
tem o valor de duas mínimas ?
pensando bem, minha musa
de que nos adianta saber
se a soma dos quadrados dos catetos
é igual ao quadrado da hipotenusa ?
você não dá a mínima
que as medusas são animais hidrozoários
em forma de campainha ou sino
e se as medusas tocam em alguma banda
de samba ou de tango argentino
se as gravadoras as recusam, não interessa
nada disso minha diva é divino
nenhuma voz tão bem professa
o que quero ouvir, de verdade
de maneira clara, conclusa
é se o coração que me ama
bate debaixo da sua blusa.
Animais em Morretes - Pr.
CIBERNET
simplicidade havia
bastava um cotonet
pra se ouvir a cotovia
eu passeava na minha caminhonet
era tudo tão verde, tudo tão zen
minha namorada era a Marinet
Atendia de caixa lá no velho armazém
cumplicidade havia
bastava um cotonet
pra se ouvir a cotovia
hoje estou aqui, não saio da internet
ninguém me quer, ninguém me tem
mas tenho torcicolo, tenho joanet
há mouses que vêm para o bem ?
simplicidade havia...
Atacama: Vale de la Luna
VIAGEM
Para chegar ao nirvana
tem de cruzar aduana
(via Uruguaiana)
hai que endurecerse Havana
entre a baiana e a curitibana
aranha que me tateia
no fio que me apetece
envolta em manto cantando mantra
três goles de água tônica
fina. em sintonia, fina
a voz da cantora afônica
quem apalpa
quem a polpa
dos teus sulcos ?!
teu fogo chamo
venha vento que me chama
inventa-me.
Menino da Pipa - Parque da Barreirinha, Curitiba.
FARINHA DO MESMO SACO
Eu que andava desse mundo
mais cheio que prato de caminhoneiro
sem rumo sem amor e sem dinheiro
talvez por ir com muita sede ao pote
comia o pão que o diabo amassou
pagava mico pagava o pato
até o meu retrato a outra queimou
andava mais quebrado
que arroz de terceira
amor, você me tirou da dieta
você é minha feijoada completa
agora choro de barriga cheia
você me lambuzou, você se regalou
você meu ante-pasto, minha ceia
nesse bolo todo você é a cereja
que fica comigo à esmo
tomando cerveja
comendo torresmo
Teatro de rua - Ruínas de São Francisco, Curitiba
PANTAGRUEL
Acordou o dia
batendo caçarola na cozinha
hoje vai ter quiabo com salada
milho verde, arroz com galinha
vai rolar cachaça da serra
feijão de corda pra João provar
ah, uma loirinha bem suada
que até o santo vai gostar
um panelão de vaca atolada
meu Deus, vai ser um colosso
de tempo em tempo, põe tempero
pra Claudinha lamber até o Osso
é batata é Madalena
há um feitiço nesse fogão
é cocada é marmelada
arroz doce de montão.
Tai-Chi no Bosque do Papa - Curitiba
PERFUME
chove chuva de chuveiro
é uma lisonja ensaboar
a quem a mui lejos foi monja
ela me disse que tudo passa
- passe bem de leve a esponja
melodias realejo
ambígua língua dançando
distraída no seu umbigo
blues no azul do azulejo.
Teatro de rua - cena I
SWING
(temperô)
tonto, um tanto bambo,
minha vida era um bolero
você quem temperou
e botou salsa, mambo,
rock em roll.
minha vida então virou
uma febre que só
eu dancei hula, forró
caí no frevo e no carimbó
vem pra roda, morena
que eu quero ver
você rodopiando
me bem temperando
até o caldo ferver
quantos ritmos menina
faxinaram minh’alma
você foi a vitamina
que sacudiu minha calma
aí deu breque no samba
você me assanhou e vazou
e eu que já me achava um bamba
caí no choro, ah que enfado
ando blue
ah a falta que você me faz
perdi o rumo, zerou o gás
no fundo, minha música jaz.
Teatro de rua - cena II
POEMA BUGRE
o desejo e as carícias
das minhas mãos vaqueiras
aboiando
seu perfume de flor orvalhada
do maracujá
eu me arranjo
em qualquer rancho
a vida me escreve
torto
com o seu garrancho
umas rimas tortas
mi amore minha amora quase roxa
em seu regaço em seu rego
deslizam minhas margens
apaga o lampião
uma estrela na ponta-da-língua
a constelação na ponta-dos-dedos
uma serenata de lonjuras.
Fotos e Poemas: Edu Hoffmann.
Izabel Liviski é fotógrafa e professora de Sociologia, disciplina na qual é doutoranda na UFPR.
Pesquisadora de Linguagens Visuais, História da Arte e Sociologia da Imagem, escreve quinzenalmente a coluna Incontros às quintas-feiras na ContemporArtes.
6 comentários:
Muito bonita esta homenagem aos nossos queridos poetas.
15 de março de 2012 às 20:27Izabel, gostei muito das imagens e dos poemas. Meus preferidos: a foto da policial chilena e o poema "Swing". Não é só porque fala de música, mas ele pede para ser musicado!
15 de março de 2012 às 22:21beijos,
Adriana
Super bacana mesmo. Um grande abraço.
16 de março de 2012 às 15:12Sou fã do poeta há muito tempo, agora do fotógrafo também. Maravilha.
24 de março de 2012 às 18:56Sônia Gutierrez
Edu,
27 de março de 2012 às 13:22adoreii o blog e vou estar xeretando sempre
super beijossss
parabens!!!
Meu genial poeta, fotógrafo, artista, meu amigo Du....TAmbém acho que um daqueles poemas merece ser musicado. Mas é o "Farinha do Mesmo Saco", daria um belo de um samba-choro...Tem umas coisas que lembra o Chico Buarque.
30 de março de 2012 às 13:48bj
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