quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Uma chave interpretativa para nossas vidinhas miseráveis



O mundo vive um momento histórico curioso. Com a queda do Muro de Berlim em 1989, boa parte d@s intelectuais e polític@s deixaram de acreditar nas teses e ideias socialistas. Não com base em estudos, debates e outras atividades dos centros de produção e difusão do conhecimento, mas por mero pragmatismo barato, no qual a "realidade concreta" passou a falar mais alto e as análises e reflexões se tornaram servis ao que a "realidade social" e a "cultura local" apresentava. É uma troca de base: olhar e procurar entender o mundo a partir dos fenômenos e não das coisas em si. Olha-se para o vestido manchado e não se dá muita importância para o que provocou a mancha. Com o suposto fim do "socialismo real", as teses neoliberais ganharam força e se firmaram, tornando-se guias para o Establishment.

Quase duas décadas depois, em 2007-2008, uma "surpresa" desagradável aconteceu, o Muro de Wall Street ruiu, @s clérig@s do livre mercado colocaram um exército de especialistas (economistas em sua maior parte, verdadeir@s astrólog@s da ciência dos estoques) para "esclarecer" a população sobre o fato; erros, falcatruas, mal gerenciamento, e toda sorte de desculpa superficial que coloca um véu sobre os fundamentos dos problemas, terceiriza e personaliza a culpa, foram disseminados com o objetivo de sedar as mentes mais cautelosas, numa clara política de entulhamento mental. Mesmo assim, o neoliberalismo perdeu seu prestígio de salvador do mundo e o mundo ocidental passou a diversificar seus modelos de organização social. De repente, algumas pessoas se deram conta de um gigante "adormecido", o domínio do marxismo cultural em todas as esferas do cotidiano secular e seu embate profundo contra @s conservador@s.

Como balanço destes processos, e de modo a não desagradar @s noss@s iluminad@s dirigentes mundiais, tivemos a difusão de um modelo híbrido: a forte influência do marxismo na Cultura, conjugado com o neoliberalismo na Economia. Há variações deste modelo simplificado, porém, entendo que o mesmo serve como uma boa chave interpretativa de nossas vidas em sociedade, na alvorada do século XXI. De um lado temos uma certa ética e forma de regular nossos espíritos, sentimentos, desejos e ideias, do outro as ferramentas de materialização dos desejos e ideias que cremos ser nossos. Amb@s se servem e trocam favores. A Economia usa as ferramentas culturais para propor sua agenda e a Cultura faz uso da organização econômica vigente para implementar seus pressupostos éticos e estéticos. O Estado, como "nunca antes na história do planeta", passou a regular os detalhes mais íntimos de nossas vidas, a Economia, a secar as fontes materiais do que é considerado supérfluo e desnecessário.

E o ser humano como fica? Os fundamentalismos, as tensões sociais, a pobreza extrema, a destruição de princípios e valores que regularam as nossas vidas nos últimos séculos? Até quando viveremos em estado esquizofrênico, numa verdadeira Babilônia mental e sentimental? Até quando teremos nossas "liberdades" rifadas por burocratas e suas instituições que operam como linhas de produção? Até quando vamos nos contentar com o possível , o viável, o realizável?

Passemos um litro de óleo de peroba em nossas caras lisas e respeitemos o sangue e a vidas de quem lutou pelo impossível, para que hoje possamos no conforto de nossas casas, expor nossas visões e opiniões sobre o mundo, sem sermos assassinad@s pel@s censor@s.

Que nós, enfrentemos com coragem as complexidades do século XXI e paremos de nos resguardar nas teses antigas de pensador@s ilustres para referendar dogmas. A preguiça mental é a mais maldita das preguiças, ela torna qualquer esforço árduo e trabalho concreto nulo ou desnecessário. Só por isso que creio que PENSAR, REFLETIR e ANALISAR, são três atividades que devem centrar nossas vidas. E devem fazer parte de nossas rotinas assim como os cuidados diários que permitem nossa indigna e ordinária vida material.

Tatyane Estrela é graduanda no Bacharelado em Ciências e Humanidades e no Bacharelado e Licenciatura em Filosofia pela Universidade Federal do ABC. Integrante do Grupo de Pesquisa ABC das Diversidades. Atua no projeto de extensão Diversidades em Performances.

1 comentários:

Francisco Cezar de Luca Pucci disse...

A colocação da Tatyane é um convite à reflexão, pois delineia um esboço da realidade em que vivemos com bastante precisão. Apenas acrescento uma opinião pessoal: o marxismo cultural, moeda de troca corriqueira entre intelectuais, faz a mesma crítica inócua das redes sociais. Parafraseando Napoleão, enquanto os críticos discutem, a economia faz a guerra. Por isso, eu concluiria o excelente texto da Tatyane dizendo que é preciso PENSAR, REFLETIR e AGIR.
Parabéns pelo texto.

23 de agosto de 2012 às 19:16

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