segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Doses de Alberto



Neste mês de setembro, tempo em que a vida começa a se refazer no hemisfério sul, depois de um inverno, ao mesmo tempo em que a vida parece "descriar" os raios de sol de um verão longo, do outro lado, preparei para você, nosso leitor, doses poéticas de Alberto Caeiro.


Alberto Caeiro, mais uma pessoa de uma Pessoa incrivelmente inigualável. Mas deixo que Caeiro fale por ele mesmo, para que não digam que penso nisso.







XXIII

O meu olhar azul como o céu 
É calmo como a água ao sol. 
É assim, azul e calmo, 
Porque não interroga nem se espanta ... 

Se eu interrogasse e me espantasse 
Não nasciam flores novas nos prados 
Nem mudaria qualquer cousa no sol de modo a ele ficar mais belo... 

(Mesmo se nascessem flores novas no prado 
E se o sol mudasse para mais belo, 
Eu sentiria menos flores no prado 
E achava mais feio o sol ... 
Porque tudo é como é e assim é que é, 
E eu aceito, e nem agradeço, 
Para não parecer que penso nisso...)

*Poema publicado em "O guardador de rebanhos".


Renato Dering é escritor, mestrando em Letras (Estudos Literários) pela Universidade Federal de Viçosa (UFV), sendo graduado também em Letras pela Universidade Federal de Goiás (UFG). Realizou estágio como roteirista na TV UFG e em seu Trabalho de Conclusão de Curso, desenvolveu pesquisa acerca da contística brasileira e roteirização fílmica. Atualmente também pesquisa a Literatura e Cultura de massa.




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