O Modernismo em São Paulo: diferentes perspectivas
A
cidade de São Paulo foi o palco das primeiras manifestações do Modernismo
brasileiro. Pensando nisso, proponho uma breve reflexão sobre o contexto
histórico da cidade nessa época. Em primeiro lugar, pensar o modernismo é
considerar a Semana de 22 e ainda o lugar que lhe serviu de anfiteatro: São
Paulo. Na cultura brasileira parece estar arraigada a ideia de centralidade do
modernista paulista. Desvairada pelo novo e pela velocidade, a cidade parecia ideal
para a consolidação de um movimento de ruptura com o passado. No livro Cenas de um modernismo de província:
Drummond e outros rapazes de Belo Horizonte (Ed. 34, 2011) o professor Ivan
Marques aponta a visão de alguns grandes nomes do Modernismo acerca da cidade
de São Paulo. Para Drummond “É de São
Paulo, terra admirável, onde há café e grandes indústrias, que nos vem o grito
do futurismo nacional” (2011, p.10). Questionando a pouca expressividade da
cidade do Rio de Janeiro no movimento modernista, Mário afirma que a cidade
estava ao mesmo tempo “pela sua atualidade comercial e sua industrialização, em
contato mais espiritual e mais técnico com a atualidade do mundo” (2011, p.
25). Para Alfredo Bossi a cidade “já entrara na era da máquina e das relações capitalistas”
(2011, p. 10).
Na visão de Marcia Camargos, a
modernidade de São Paulo, um dos principais centros comerciais e industriais do
país desde 1910, foi configurando-se por causa das levas de imigração, da
mentalidade industrial e da pluralidade étnica advinda dessa somatória de
fatores. De fato, observou-se um crescimento vertiginoso da população em um
curto espaço de tempo e, assim, mesclavam-se traços culturais de diferentes
origens. A industrialização e a excludente urbanização mudavam a fisionomia da
cidade, revestindo-a de um caráter carnavalesco que exprimia às transformações
porque estava passando. No texto Carnaval
na Babilônia, o historiador e professor Nicolau Sevcenko mostra a inusitada
excitação que marcou desde os seus primeiros dias, o ano de 1919 das ruas de
São Paulo. Ele aponta a felicidade coletiva dos habitantes que anunciava o fim
de calamidades que os assolavam, tais como: a epidemia da gripe espanhola, as
geadas intensas, as nuvens de gafanhotos, a Primeira Guerra Mundial e as greves
de 1917 e 1918. Nesse novo cenário as pessoas manifestavam-se eufóricas e
vibrantes. O alvorecer de um novo tempo tomou novas proporções que denunciavam
como um despropósito ridículo alguns antigos hábitos. No frenesi do Carnaval e
diante de toda essa exaltação “toda uma série de hábitos, físicos, sensoriais e
mentais, são arduamente exercitados, concentradamente nos finais de semana, mas
a rigor incorporados em doses metódicas como práticas indispensáveis da rotina
cotidiana” (SEVCENKO, 1992, p. 32). A cidade desvairada surgiu como uma grande
metrópole, com um ritmo acelerado de crescimento e potencialidades
incalculáveis de progressão futura. Sevcenko acentua que “a nova metrópole
emergente era um fenômeno surpreendente para todos, tanto espacialmente, por
sua escala e heterogeneidade, quanto temporalmente, tão absoluta era a sua
ruptura com o passado recente.” (1992, p. 40).
O florescimento das inovações
estéticas modernistas se deu graças ao patrocínio da aristocracia rural de São
Paulo aberta às influências externas. Em um período de ostentação de riquezas
havia um forte jogo de interesses políticos. Na medida em que a oligarquia
local incentivava a arte e a cultura financiando artistas ela também reforçava
o seu prestígio dentro da sociedade, exercendo um tipo de mecenato. Embora São
Paulo fosse detentora de um espírito destruidor do modernismo, o coronelismo
ainda era a base das principais agremiações partidárias. Examinar o contexto
histórico de São Paulo é considerar ainda o papel desempenhado pelos salões
artístico-literários, com destaque para a Villa Kyrial, do mecenas Freitas
Valle. Esse ambiente social frequentado por jovens talentosos e pela nata da
oligarquia marcou a vida cultural da cidade.
Não é fortuitamente que a “cidade
grande mas provinciana” tornou-se palco das primeiras manifestações do
Modernismo brasileiro. A priori com uma forte economia cafeeira e, mais tarde,
com o desenvolvimento abrupto da indústria, São Paulo refletia um gigantesco
desejo de renovação. Havia um espírito cosmopolita e moderno que os tornavam
desejosos pelas novidades estrangeiras, pelas inovações.
Referências
Bibliográficas
MARQUES,
Ivan. Cenas de um modernismo de
província: Drummond e outros rapazes de Belo Horizonte. São Paulo: Ed. 34,
2011.
CAMARGOS,
Marcia. Semana de 22: entre vaias e
aplausos. São Paulo: Boitempo Editorial, 2002.
SEVCENKO,
Nicolau. Orfeu extático na metrópole:
São Paulo, sociedade e cultura nos frementes anos 20. São Paulo: Companhia
das Letras, 1992.Maikely Teixeira Colombini, graduanda em Letras com Licenciatura em Português e Literaturas de Língua Portuguesa pela Universidade Federal de Viçosa, Minas Gerais. Atualmente está pesquisando os Espaços íntimos e espaços públicos na narrativa de Joaquim Manuel de Macedo. Áreas de interesse: Linguística, Letras e Artes, e mais especificamente, Literatura Brasileira.
A Contemporartes agradece a publicação e avisa que seu espaço continua aberto para produções artísticas de seus leitores.
1 comentários:
Parabéns por mais esta publicação! Você sempre mostra que é muito capaz de alcançar seus objetivos. Vai longe...
2 de setembro de 2012 às 22:17Postar um comentário
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