segunda-feira, 1 de outubro de 2012

As faces de um Fernando, de uma pessoa.




Bem vindo a nossa última dose de Fernando Pessoa. Esse que foi um dos grandes nomes da Literatura de Língua Portuguesa. Na postagem que antecede esta, falávamos de Soares, pois bem, continuemos com o livro que este assinou e com pinceladas de Reis e Campos, e claro, menção ao mestre Caeiro.

O Livro do desassossego carrega consigo o estigma de ser uma obra sempre provisória, indefinida e em transição. Já no primeiro trecho que abre o livro, podemos nos deparar com a afirmação de que nenhuma obra é perfeita, bem como nenhum poente será tão belo. Tudo é realmente imperfeito. É interessante que observemos esse posicionamento de Bernardo Soares, pois é justamente o que explicita um conto do escritor argentino Jorge Luís Borges “A biblioteca de babel”. Borges propõe em seu conto uma visão elucidante de não existir um texto único e finito, pronto e acabado, capaz de absorver tudo com perfeição e nitidez.

Analogias de lado, a obra pessoana foi um aglomerado de riquezas e peculiaridades que transpassaram questões sociais e filosóficas. Fernando Pessoa não apenas trouxe seu mundo e de seus outros às claras, como o transcreveu singularmente e de forma perspicaz. Se ora Soares dizia que nada pesava tanto quanto o afeto alheio, Ricardo Reis, em uma de suas odes, propunha que o amor é um modo de opressão. O Livro do desassossego, de Bernardo Soares e de muitos outros nele presentes, teve apenas 12 trechos publicados em vida, por Pessoa. Os demais trechos foram por ele organizados, porém só vieram a ser publicados como um todo no início da década de 1980, quase 50 anos depois da morte do poeta. E, ao que corre por línguas literárias, muito há se descobrir do baú de Pessoa.


Tomo a liberdade da postagem dessa foto. (2008)

Seus heterônimos ainda hoje permeiam as esferas das artes e do senso estético. Em sua obra “Aviso por causa da moral e outros textos de intervenção de Álvaro de Campos”, é chamada a atenção, ao final do texto, no que se refere à sinfonia da arte. Isto é, toda e qualquer arte tem algo a dizer, seja falando ou permanecendo calada. Revela que é preciso ouvir o que elas dizem, ou procurar seu silêncio. Na mesma obra, revela que é preciso ser honesto, acima disso, ser sincero. De forma irônica, diz que até Camões não foi de todo sincero, caso contrário não teria usado de sonetos. Para ele, o único que obteve a façanha da sinceridade foi o poeta Alberto Caeiro, seu mestre. 



Renato Dering é escritor, mestrando em Letras (Estudos Literários) pela Universidade Federal de Viçosa (UFV), sendo graduado também em Letras pela Universidade Federal de Goiás (UFG). Realizou estágio como roteirista na TV UFG e em seu Trabalho de Conclusão de Curso, desenvolveu pesquisa acerca da contística brasileira e roteirização fílmica. Atualmente também pesquisa a Literatura e Cultura de massa.



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