quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Um pint de Caracu, ao som de Irish Punk Rock

       
Irish Punk Rock, ou Celtic Rock, são os nomes utilizados para identificar uma cena musical de bandas que mesclam elementos da musicalidade tradicional popular irlandesa com elementos do Punk Rock. O resultado é uma música com muita energia, marcada por refrões estilo sing a long – “cantem junto” -, que estimula o público a cantar junto com a banda, e acordes de guitarras distorcidos contrastando com a leveza da sonoridade de Pennywhistle, também conhecida como flauta irlandesa. Nesta mistura, incluem se ainda, instrumentos tradicionais como o violino, bandolin, acordeão, banjo, bodhrán, (instrumento de percussão) e a gaita de fole. Nesta edição de vozes, inspirada pelo memorável show da banda Flogging Molly, que se apresentou aqui em São Paulo, no último sábado, pretendo apresentar algumas bandas desta cena.
Influenciadas pela literatura do autor irlandês James Joyce ( autor de bestsellers como Ulisses, The Dubliners e Finnegans Wake) canções populares irlandesas e, claro, pelo punk rock e o hardcore, estas bandas cantam o cotidiano da classe trabalhadora, como os "porres" alcoólicos nos Pubs, a paixão pelo futebol e o espírito aguerrido, rude e laborioso dos irlandeses de ontem e hoje. Cantam também, canções de amor dedicadas a pessoas ou a sua terra natal, no caso daqueles que possuem alguma descendência.
Uma das primeiras bandas deste estilo é o The Pogues, que originalmente era conhecido como Poghe Mahone (nome proveniente da expressão gaélica Póg Mo Thóin”, algo como “beije minha bunda”, em português), que surgiu na Inglaterra, na década de 1980. Tendo o alucinado Shane Mac Gowan na posição de frontman da banda, o Pogues era influenciado tanto pelas bandas de punk rock do final da década de 1970, como o Sex Pistols e o Ramones, como por bandas de músicas populares irlandesas, como o Dubliners. Politicamente, a banda assumiu uma posição anti-intervenção inglesa na Irlanda. Como exemplo, cito a canção Streams of Whiskey, composta em homenagem ao poeta e militante do Exército Republicano Irlandês (IRA) Brendan Behan. Na sequência, apresento um videoclipe da canção Irish Rover, interpretada pelos Dubliners e o Pogues.

Outra banda relevante nesta cena, é a Flogging Molly que, como já havia dito, se apresentou, no último sábado, na casa de shows Via Funchal, aqui em São Paulo. Fundada na California, em 1997, pelo carismático vocalista Dave King, um irlandês natural da cidade Dublin, esta banda, nas palavras do próprio King canta o “exílio e rebelião, de luta, história e protesto. É a música de um país dividido ao meio, um país profundamente belo e ferido”. Mas estas palavras não caracterizam a Flogging Molly como uma banda conservadora, defensora de um nacionalismo exacerbado, aliás, a maioria das bandas desta cena não compactuam com ideais desta natureza. A Flogging Molly, por exemplo, participou com a canção Drunken Lullabies de uma compilação de canções intitulada Rock Against Bush vol. 2, lançada em 2004, com o objetivo de mobilizar a juventude contra a reeleição de George W. Bush.
Capa da compilação Rock Against Bush, Fat Wreck Records, 2004



Algumas canções recorrem à memória coletiva para enaltecer a postura combativa dos irlandeses. A versão para canção Molly Maguires, executada pela banda sueca Finnegan´s Hell, é um belo exemplo. Ela foi composta em homenagem a uma sociedade secreta de carvoeiros do século XIX formada por irlandeses emigrados para os Estados Unidos que se opunham a exploração utilizando greves como forma de combate.


Há também canções que enaltecem os Pubs, um dos patrimônios culturais da Irlanda e tema frequentemente visitado pelas bandas. A canção An Irish Pub Song, da banda australiana The Rumjacks, trata exatamente disto. Notem que o vocalista toca um bodhrán.


Com uma cena tão internacionalizada, claro que o Brasil não poderia deixar de ter o seu representante de Irish Punk Rock. O nome da banda é Ketamina, oriunda de São Paulo. Em 2010, ela lançou, pela gravadora Ataque Frontal,  um CD single intitulado Whiskey you´re the Devil, contendo três canções, sendo a canção título um cover de uma música popular irlandesa que se refere à luta contras as tropas napoleônicas na península ibérica.


Resta agora a você, caro leitor, apreciar estas canções, acompanhado de um belo pint de cerveja Guiness, ou , como alternativa, a nossa “Guiness” nacional: a Caracu!

Cheersss...

Alexandre de Almeida é graduado em Historia e mestre em Antropologia, ambos pela PUCSP. Sua pesquisa tem como foco os grupos juvenis urbanos e seus posicionamentos políticos/partidários. Também realiza pesquisa na área de Arquivologia, com ênfase em documentos audiovisuais e sonoros. Foi radialista na Patrulha FM, em Santo André (SP), especializada no gênero Rock, no final da década de 1990, onde além de apresentar a programação comercial noturna, produziu e apresentou o programa “Expresso da Meia Noite”. Trabalha, há mais de dez anos, com patrimônio histórico arquivístico, atuando em instituições como o Arquivo Público do Estado de São Paulo e Centro de Memória Bunge. Atualmente, coordena a área de Arquivos Sonoros e Audiovisuais do Acervo Presidente FHC e trabalha como professor na rede pública de ensino de São Paulo.

1 comentários:

Fábio disse...

Ótima vertente musical da cena punk, ainda pouco conhecida por aqui. Parabéns pelo texto, e pelo tema.

19 de novembro de 2012 às 16:19

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