domingo, 19 de maio de 2013

Pontes



Olá, caros leitores!


Inicio aqui as minhas publicações neste ano de 2013. Logo estarão minhas publicações na nova Coluna intitulada “Planetário”. Por hora, enquanto dá-se a finalização dos detalhes, continuo minhas reflexões textuais em As Horas.  Neste domingo apresento um texto resultante de uma feliz e importante parceria intelectual, teórica e emocional. As percepções que primeiro provocaram-me são na verdade o reflexo sensível de longas horas de longos diálogos, de uma simbiose de ideias e emoções. “Pontes” permite-me um mergulho interior, uma viagem existencial. Creio que a caminhada na imprevisível e incomum trajetória acadêmica que vivencio, algo tanto como um passeio de bêbado, me possibilitou por sua face positiva ver outros ângulos, apreciar outros devaneios e, de modo caro, enxergar espaços, paisagens, lugares, com a sensibilidade da arte. Andar pela cidade, e ver-lhe os traços, revela-se cada vez ser mais que uma decodificação de variáveis quantificáveis e qualificáveis. Meus passos e olhares a cada dia pelas ruas, praças e esquinas ressoam-me fundo, pulsando um permanente sentir.

Adriano Almeida


Pontes



Gosto de poder ser um humano imperfeito. Porque o imperfeito não tem obrigação alguma com a perfeição. Gosto de pensar bobagens e me inquietar com tolices. As tolices, estas, me tomam boa parte dos pensamentos. Tenho perdido momentos importantes observando coisas corriqueiras, como as pontes e os rios. Não! Não insinuo que queira me jogar de alguma delas... Me perco vendo-lhes a fixidez, analisando-lhes a continuidade, muito embora as águas que lhes perpassam jamais voltem a ser as mesmas. Acredito ser exatamente essa novidade, sempre constante, o que me intriga e me atrai nas pontes...


As pontes são um vinho doce e inebriante ao mostrar-me o tempo, mostrar-me que depois de águas turvas e turbulentas vêm passagens de águas claras e mais calmas... As pontes me fazem um mergulho. Sim! Um mergulho... E não sou eu quem mergulha tomando-as como trampolim, são elas próprias a mergulharem... Acredito hoje que somos todos, eu e os outros paranóicos, os urbanóides pós-modernos que se deixam por tempos a observarem pontes, todos nós oceanos profundos. Ao nos fixarmos fitando uma ponte e suas águas, permitimos que elas nos mergulhem tão longinquamente quanto o longo leito que suas águas irão percorrer até a foz. 


Por estas pontes já se foram muitas inquietudes, inúmeras incertezas. Foram medos e desencantos. Foram, também, águas que eu desejava, por um instante, que voltassem... Sobre as pontes eu despejei já muitas raivas, muitos elos, malditos! Pesos que jamais deveriam ter estado e que as águas tranqüilas levaram para muito além, onde eu jamais pudesse ver. Sobre as pontes e vendo as águas, ao pôr-do-sol, já saciei a minha sede, já banhei-me de novas ideias, me reergui e me apaixonei. Posto que as pontes são, elas próprias, elos, entre o que se foi e o que virá, entre o que entregamos ao destino e o que recebemos dele. Pontes são mais que caminhos, são o início e o fim, de um eterno recomeço.





Adriano Almeida é pesquisador na área de cultura, imaginário e simbologia do espaço. Mineiro, tem se dedicado a escrever poemas, crônicas e contos. Seus escritos, de caráter introspectivo, retratam as incertezas, os conflitos, a melancolia e os encantos da existencialidade humana.


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