terça-feira, 14 de maio de 2013

Projeto Batuclagem na UFABC: 3o. ano envolvendo arte e educação ambiental



O projeto de extensão Batuclagem nas Escolas realiza oficinas de Educação Ambiental com crianças de 7 a 13 anos por meio da metodologia da Arte-Educação. Entre as práticas estão a contação de histórias, jogos e brincadeiras e a introdução de noções musicais com ensino do canto, treino de ritmo e a elaboração de instrumentos musicais com material reciclável. É fomentado pela Pró-Reitoria de Extensão da Universidade Federal do ABC desde 2011.

Herbert Read (1982) afirma que a arte e a educação são dois conceitos indissociáveis, sendo que a primeira deveria ser a base da segunda como um todo. Na mesma linha, Platão (2002) afirma que “uma educação estética é a única educação que dá harmonia ao corpo e enobrece a alma”. Tais autores não veem distinção entre ciência e arte, sendo a primeira a explicação de uma realidade e a segunda a expressão desta. Unir educando pela arte seria uma estratégia bem sucedida uma vez que há a preservação orgânica do homem e de suas faculdades mentais, respeitadas as diversas faces do desenvolvimento humano.
O resultado são indivíduos mais críticos, valorizados do ponto de vista humanístico, intelectual, moral e estético e principalmente, integrados, ao grupo social que fazem parte. No mundo atual, regido pela sociedade da informação e cultura de massa, a arte traz elementos perdidos nesse processo, ela privilegia o indivíduo, sua sensibilidade e conscientização de sentidos.
Quando se trata de crianças, a preocupação da educação pela arte deve ser ainda maior. O maior desafio da humanidade é prepará-las para a vida adulta da melhor forma possível levando-se em conta que vivemos em sociedades complexas contemporâneas. O ser humano é questionador por natureza, há que se formar alunos com capacidade de perguntar. Formular uma boa pergunta resulta de observação e compreensão do mundo.
A arte vem como poderosa arma branca. Amplia os sentidos, aguça as curiosidades. Abre janelas e portas no cérebro das crianças. Quando crescem com esses recursos, são capazes de elaborar melhor suas dúvidas, buscar explicações, demonstrar sentimentos. Trazem felicidade e alegria. É comprovado que pessoas felizes aprendem mais, são mais dedicadas e se envolvem em menos conflitos.
No presente projeto observamos tais problemáticas e pudemos partir para o segundo estágio que Freire – denomina como transformador – modificando a realidade por meio de uma ação cultural criativa e libertadora.

Histórico
No ano de criação do projeto, a ação extencionista principal foi a realização de 30 oficinas voltadas para a educação ambiental e ensino de práticas musicais ligadas a percussão na quadra da G.R.C. E. S. Tradição de Ouro do ABC (Bairro Santa Terezinha, Santo André - SP), escola de samba que atuou como parceira no projeto. O principal resultado foi a montagem de uma bateria mirim da comunidade composta de 30 crianças, em sua maioria filhas de músicos da bateria da Escola de Samba, subdivididas em grupos de acordo como os instrumentos musicais: surdos, tamborins, repiliques e caixas elaborados a partir de material reciclável.
Os instrumentos foram feitos de latões, galões de água, diversos tipos de latinhas e  panelas. Essa bateria mirim se apresentou no evento Ação para Cidadania/ UFABC em novembro de 2011 no campus Santo André da UFABC, em festa de aniversário da Escola de Samba e na Escola Municipal Evangelina Jordao Luppi Profa Emeief, localizada em frente à escola de samba.
Em 2012, com o nome Batuclagem nas escolas o projeto ganhou maior abrangência de público. Foram realizadas 32 oficinas em escolas públicas de Santo André – estaduais e municipais. O número de crianças envolvidas foi bem maior do que o inicialmente planejado, 3000, devido principalmente à grande receptividade do projeto nas escolas e pedidos da direção para que as oficinas se repetissem em outras turmas.
Os arte-educadores – discentes da UFABC e bolsistas do projeto - ensinaram noções iniciais de educação ambiental divididos entre as temáticas da 1. Reciclagem do Lixo 2. Uso racional da água 3. Uso racional da Energia 4. Biodiversidade 5. Poluição do Ar 6. Lixo Tecnológico. Ao desenvolver tais conceitos foram elaboradas seis histórias infantis que compõem a presente coleção. Os discentes também receberam treinamento para se tornarem arte-educadores em reuniões mensais e oficinas especializadas de Literatura e Contação de Histórias.
Para esses alunos da UFABC sair de dentro dos seguros muros da universidade e chegar às escolas da periferia foi uma experiência que transformou os agentes em profissionais mais seguros e tolerantes. A comunidade valorizou e respeitou uma instituição que divida um pouco de sua capacidade intelectual com os cidadãos, promovendo uma integração importante na consolidação do nome da mesma. Eles mesmos foram capazes de conduzir as oficinas transmitindo, trocando e adaptando parte do conhecimento recebido nos Bacharelados Interdisciplinares da UFABC para a comunidade.
Os resultados do projeto mostraram que as crianças assimilaram muito melhor os conteúdos  ludicamente. O contato com alunos de uma universidade que lhes parece algo tão distante, plantou a semente do desejo e do possível em cada uma delas. Essa aproximação humanizou relações e marcou quem dela experimentou.
Somos seres pensantes. Quanto mais estímulos, mais somos capazes de pensar e buscar algo positivo para nós, para a humanidade e para o mundo.

Ilustração: Homero Sanches
Autor: Thiago Ramos
Obra: O Boto Cinzento e o Encanto das Águas. Santo André: Proex/ufabc, 2013. (no prelo)

Essa experiência mostrou que todos os envolvidos, oficineiros, docentes e crianças, desenvolveram diversos tipos de habilidades como: sensibilização aos problemas sociais e ambientais, estímulo a experimentação de técnicas artísticas como teatro e música, sociabilização e desenvoltura e valorização de trabalho coletivo. Somos seres pensantes. Quanto mais estímulos, mais somos capazes de pensar e buscar algo positivo para nós, para a humanidade e para o mundo.
Em breve serão lançados seis livros infantis com as histórias contadas pelo projeto: Chapeuzinho Verde,  O vai e vem do arco-íris e o lixo tecnológico, A formiguinha sustentável e a cigarra trapalhona, O boto cinzento e o encanto das águas, A bela apodrecida e a poluição do ar, Acordei curupira! A biodiversidade na Amazônia. Os livros são de autoria de alunos da UFABC dos Bacharelados de  Ciência e Tecnologia e Ciências e Humanidades e foram organizados por mim e pela escritora e colunista da Contemporartes, Simone Pedersen.


Referências Bibliográficas
PLATÃO apud OSINSKI, Dulce. Arte, ensino e história: uma trajetória. São Paulo: Cortez, 2002.
READ, Herbert. A educação pela Arte. S. Paulo: Martins Fontes, 1982.


Ana Maria Dietrich, coordenadora da Contemporartes junto a Rodrigo Machado, é coordenadora do Projeto Batuclagem nas Escolas (UFABC).

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