LOLA ÁLVAREZ BRAVO: A FOTÓGRAFA DE UMA ERA
“Uma razão para a escassez de material histórico sobre
mulheres é que sempre foi difícil de ser encontrado. Frequentemente as próprias
mulheres, refletindo as atitudes das épocas em que viviam, não consideravam as
suas imagens como suficientemente importantes para serem catalogadas e
arquivadas. A menos que fossem guardadas em segurança por maridos ou
descendentes, as fotografias de mulheres eram sempre descartadas, jogadas no
sótão ou mantidas em uma lata embolorada na associação de história local.” (Rosenblum, Naomi; 2000)
Auto-retrato |
Felizmente esse não foi o destino do
corpus fotográfico produzido pela artista que destacamos nesta edição. Embora
ela tenha sido ofuscada pelo marido e outros fotógrafos famosos da sua
época, ainda assim, seu trabalho é inovador e criativo, além da crítica social
que destila de suas imagens.
Lola nasceu en Jalisco, México en
1907, de uma família de classe média alta. Com 13 anos, perdeu sua mãe, e
passou a ser cuidada juntamente com seu irmão, por familiares. Em seguida, vai
para um colégio de freiras e com 20 anos casa-se com Manuel Álvarez
Bravo.
"Sonho de pobre I" |
Seu nome de batismo era Dolores
Martínez de Anda, mas conservou o nome do marido, mesmo depois de separar-se. É
através dele, que Lola se aproxima da fotografia: espiando, observando,
aprendendo em silêncio, porque, segundo ela mesma conta, o marido não facilitava
as coisas para ela. Em meados dos anos 30, conseguiu estabilidade como
fotógrafa na revista El maestro rural, uma publicação da Secretaria
de Educação Pública. Lola retratou a vida rural, percorrendo o país com uma
“mirada” própria.
Detalhe |
Em 1936, conseguiu seu primeiro encargo importante: a documentação de uma obra feita em pedra colonial que havia sido parte do coro de uma igreja, e que nesse momento fazia parte de um salão da Escola Nacional Preparatória.
Este antecedente também serviu para que fosse convocada por revistas ilustradas e pelo Instituto Nacional de Belas Artes e Literatura, e permitiu que pudesse realizar fotografias de temas tão variados como criativos. Morreu em 1993, aos 90 anos, já reconhecida como artista e como mestra de outros fotógrafos.
Pueblo |
Lola foi uma
das mais importantes fotógrafas pioneiras do México, no século XX, e é considerada
uma artista moderna que desafiou as normas vigentes. Tornou-se uma figura chave, juntamente com Tina Modotti,
Frida Kahlo, Diego Rivera e Manuel Álvarez Bravo no renascimento
artístico pós-revolucionário no México.
"Sonho de pobre II" |
Embora
com uma carreira consistente que durou quase cinquenta anos, ela permaneceu
historicamente ofuscada pela fama de seu marido, Manuel Álvarez Bravo e outros
fotógrafos importantes de seu tempo, como Edward Weston, Cartier Bresson (que
morou no México por um tempo) e Tina Modotti. Lola trabalhou com fotografia
comercial e no ensino de fotografia, além de perseguir seus interesses
artísticos pessoais, fazendo ensaios autorais.
Fotomontagem
Sua
experimentação com técnicas inusitadas como a fotomontagem e colagem de fotos e
o uso da fotografia para expor as questões sociais e políticas de seu
tempo, contribuiu muito para o desenvolvimento da moderna fotografia
mexicana .
"Tríptico de los martírios", 1950. |
Uma exposição de seu trabalho foi
organizado entre 2012 e 2013, chamada Lola Álvarez Bravo: a fotografia
de uma era, organizado pelo Museo Casa Estudio Diego Rivera y Frida Kahlo,
na Cidade do México, em colaboração com o Conselho Nacional de para la Cultura
y Las Artes e Instituto Nacional de Bellas Artes.
Luz e Sombra |
Essa exposição incorpora uma
parte significativa do arquivo de Lola que foi adquirida de seu filho pelo Center
for Creative Photography, em Tucson, Arizona. No entanto, uma
parte até então desconhecida dos arquivos de Lola permaneceu no México na
coleção da família Rendón. Agora essa mostra trouxe a público, o grupo recentemente descoberto
de fotografias da Coleção Rendón, que inclui negativos inéditos e material de
arquivo do trabalho de Lola.
"Indiferença" |
Essa descoberta recente traz ainda um grupo de imagens realizadas por estudantes de Lola na Academia de San Carlos, incluindo Mariana Yampolsky e Raúl Conde. A coleção é notável e está bem preservada, revelando a amplitude complexa da carreira de Lola a partir da formação de sua estética na câmara escura em 1920, e sua influência sobre o trabalho de seus alunos na década de 1950 .
Experimento |
Lola fez ainda uma série de fotografias
de Frida Kahlo, talvez as mais difundidas, na Casa Azul en Coyoacan, entre 1944 e 1946
(abaixo). Um de seus últimos empreendimentos foi instalar um Atelier de
Fotografia e Galeria de Arte Contemporânea na rua de Amberes no que é hoje a
Zona Rosa na Cidade do México. Nesta galeria Lola organizou a primeira e única
exposição em vida, da obra de Frida Kahlo.
A coluna INCONTROS é editada por Izabel Liviski. Fotógrafa e doutoranda pela UFPR, pesquisa História da Arte, e Sociologia da Imagem e da Fotografia. |
7 comentários:
Que bela coluna izabel! Parabens! Belo resumo biografico de uma das fotografas que admiro muito, mas que infelizmente (ainda...) pouco "falada" ai no Brasil. Aqui no Japao ela eh bem conhecida no meio dos amantes da Fotografia. Um abraco! Rogerio
11 de dezembro de 2013 às 07:36Muito obrigada por esta reportagem, Izabel. Estou divulgando!!!
11 de dezembro de 2013 às 21:39Adorei as fotos... a da mulher nua há um aspecto naturalizada do corpo feminino que parece brotar da terra como as folhagens... parabéns pela sensibilidade das suas reflexões.
12 de dezembro de 2013 às 15:24Recebido por e-mail:
14 de dezembro de 2013 às 12:53Parabéns, Izabel.
É importante chamarmos a atenção sobre aqueles que estão invisíveis. Assim eles passam a existir e começam a fazer parte da história.
Ricardo Carneiro.
Recebido por e-mail:
19 de dezembro de 2013 às 13:21Uma palabro so WOW
Kimberley Zimmerman, Rotterdam, NL.
Recebido por e-mail:
19 de dezembro de 2013 às 13:22Muito lindo de ver e de receber. Grato por ter enviado.
José Oliva, Curitiba.
Recebido por e-mail:
19 de dezembro de 2013 às 13:31MARAVILHOSA MATÉRIA DA NOSSA AMIGA IZABEL!
Silvete Crippa, Curitiba.
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