quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

LOLA ÁLVAREZ BRAVO: A FOTÓGRAFA DE UMA ERA



“Uma razão para a escassez de material histórico sobre mulheres é que sempre foi difícil de ser encontrado. Frequentemente as próprias mulheres, refletindo as atitudes das épocas em que viviam, não consideravam as suas imagens como suficientemente importantes para serem catalogadas e arquivadas. A menos que fossem guardadas em segurança por maridos ou descendentes, as fotografias de mulheres eram sempre descartadas, jogadas no sótão ou mantidas em uma lata embolorada na associação de história local.” (Rosenblum, Naomi; 2000)

Auto-retrato
Felizmente esse não foi o destino do corpus fotográfico produzido pela artista que destacamos nesta edição. Embora ela tenha sido ofuscada pelo marido e outros fotógrafos famosos da sua época, ainda assim, seu trabalho é inovador e criativo, além da crítica social que destila de suas imagens.

Lola nasceu en Jalisco, México en 1907, de uma família de classe média alta. Com 13 anos, perdeu sua mãe, e passou a ser cuidada juntamente com seu irmão, por familiares. Em seguida, vai para um colégio de freiras e com 20 anos casa-se com Manuel Álvarez Bravo.



"Sonho de pobre I"

Seu nome de batismo era Dolores Martínez de Anda, mas conservou o nome do marido, mesmo depois de separar-se. É através dele, que Lola se aproxima da fotografia: espiando, observando, aprendendo em silêncio, porque, segundo ela mesma conta, o marido não facilitava as coisas para ela. Em meados dos anos 30, conseguiu estabilidade como fotógrafa na revista El maestro rural, uma publicação da Secretaria de Educação Pública. Lola retratou a vida rural, percorrendo o país com uma “mirada” própria.

Detalhe

Em 1936, conseguiu seu primeiro encargo importante: a documentação de uma obra feita em pedra colonial que havia sido parte do coro de uma igreja, e que nesse momento fazia parte de um salão da Escola Nacional Preparatória. 
Este antecedente também serviu para que fosse convocada por revistas ilustradas e pelo Instituto Nacional de Belas Artes e Literatura, e permitiu que pudesse realizar fotografias de temas tão variados como criativos. Morreu em 1993, aos 90 anos, já reconhecida como artista e como mestra de outros fotógrafos.

Pueblo

Lola foi uma das mais importantes fotógrafas pioneiras do México, no século XX, e é considerada uma artista moderna que desafiou as normas vigentes. Tornou-se uma figura chave, juntamente com Tina Modotti, Frida Kahlo, Diego Rivera e Manuel Álvarez Bravo no renascimento artístico pós-revolucionário no México.

"Sonho de pobre II"

Embora com uma carreira consistente que durou quase cinquenta anos, ela permaneceu historicamente ofuscada pela fama de seu marido, Manuel Álvarez Bravo e outros fotógrafos importantes de seu tempo, como Edward Weston, Cartier Bresson (que morou no México por um tempo) e Tina Modotti. Lola trabalhou com fotografia comercial e no ensino de fotografia, além de perseguir seus interesses artísticos pessoais, fazendo ensaios autorais.

Fotomontagem


Sua experimentação com técnicas inusitadas como a fotomontagem e colagem de fotos e o uso da fotografia para expor as questões sociais e políticas de seu tempo, contribuiu muito para o desenvolvimento da moderna fotografia mexicana .
"Tríptico de los martírios", 1950.

Uma exposição de seu trabalho foi organizado entre 2012 e 2013, chamada Lola Álvarez Bravo: a fotografia de uma era, organizado pelo Museo Casa Estudio Diego Rivera y Frida Kahlo, na Cidade do México, em colaboração com o Conselho Nacional de para la Cultura y Las Artes e Instituto Nacional de Bellas Artes. 

Luz e Sombra

Essa exposição incorpora uma parte significativa do arquivo de Lola que foi adquirida de seu filho pelo Center for Creative Photography, em Tucson, Arizona.  No entanto, uma parte até então desconhecida dos arquivos de Lola permaneceu no México na coleção da família Rendón. Agora essa mostra trouxe a público, o grupo recentemente descoberto de fotografias da Coleção Rendón, que inclui negativos inéditos e material de arquivo do trabalho de Lola.

"Indiferença"


Essa descoberta recente traz ainda  um grupo de imagens realizadas por estudantes de Lola na Academia de San Carlos, incluindo Mariana Yampolsky e Raúl Conde. A coleção é notável e está bem preservada, revelando a amplitude complexa da carreira de Lola a partir da formação de sua estética na câmara escura em 1920, e sua influência sobre o trabalho de seus alunos na década de 1950 .

Experimento

Lola fez ainda uma série de fotografias de Frida Kahlo, talvez as mais difundidas, na Casa Azul en Coyoacan, entre 1944 e 1946 (abaixo). Um de seus últimos empreendimentos foi instalar um Atelier de Fotografia e Galeria de Arte Contemporânea na rua de Amberes no que é hoje a Zona Rosa na Cidade do México. Nesta galeria Lola organizou a primeira e única exposição em vida, da obra de Frida Kahlo.















A coluna INCONTROS é editada por Izabel Liviski. Fotógrafa e doutoranda pela UFPR, pesquisa História da Arte, e Sociologia da Imagem e da Fotografia.



7 comentários:

Rogerio disse...

Que bela coluna izabel! Parabens! Belo resumo biografico de uma das fotografas que admiro muito, mas que infelizmente (ainda...) pouco "falada" ai no Brasil. Aqui no Japao ela eh bem conhecida no meio dos amantes da Fotografia. Um abraco! Rogerio

11 de dezembro de 2013 às 07:36
Miriam Adelman disse...

Muito obrigada por esta reportagem, Izabel. Estou divulgando!!!

11 de dezembro de 2013 às 21:39
Unknown disse...

Adorei as fotos... a da mulher nua há um aspecto naturalizada do corpo feminino que parece brotar da terra como as folhagens... parabéns pela sensibilidade das suas reflexões.

12 de dezembro de 2013 às 15:24
colégio_loureiro.fernandes_oficinas disse...

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Parabéns, Izabel.
É importante chamarmos a atenção sobre aqueles que estão invisíveis. Assim eles passam a existir e começam a fazer parte da história.
Ricardo Carneiro.

14 de dezembro de 2013 às 12:53
izabel liviski disse...

Recebido por e-mail:
Uma palabro so WOW

Kimberley Zimmerman, Rotterdam, NL.

19 de dezembro de 2013 às 13:21
izabel liviski disse...

Recebido por e-mail:
Muito lindo de ver e de receber. Grato por ter enviado.

José Oliva, Curitiba.

19 de dezembro de 2013 às 13:22
colégio_loureiro.fernandes_oficinas disse...

Recebido por e-mail:
MARAVILHOSA MATÉRIA DA NOSSA AMIGA IZABEL!

Silvete Crippa, Curitiba.

19 de dezembro de 2013 às 13:31

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