Grito de revolta, o povo nas ruas
Com o movimento mais massificado pela Revolta das Tarifas, os gritos do povo nas ruas ecoou no mês de junho e julho de 2013. Em meio a esta agitação conhecemos oportunistas, lideranças populares, partidários, pessoas com acumulo teórico que na prática deixou muito a desejar, P2 infiltrados, ativistas autônomos, etc. Sem contar que alguns só colavam nas reuniões, outros que iam somente nos atos, outros que frequentavam esporadicamente os encontros e acabavam deixando massante o diálogo.
Contudo, vimos que existia uma pauta concreta do cotidiano que era tangente a grande maioria: o "direito à cidade", isso fez com que alguns se fortalecessem e, assim, seguimos com a pesquisa para entender afora das aparências imediatas e em luta para a construção de dias melhores.
Nos meses seguintes as vozes das periferias continuaram a soar com vigor e constatamos mais uma vez que o papel de fortalecimento desta base para luta é crucial.
Eis que chega o ano 2014, no Brasil teremos o megaevento da Copa, em pleno ano de Eleição (Presidência, Governador e Deputados Federal, Municipal e Distrital).
Para reflexão, ouça um Rap que aborda a questão da Copa:
"Nosso Plano" - Tábata Alves e Nocivo Shomon
Estes vídeos abordam sobre as Grandes obras, as Remoções e as violações de direitos:
Constatamos aqui as construções de rodovias, centros empresariais, shoppings, prédios, etc, em pleno vigor. A cidade segue se verticalizando e o antigo subúrbio industrial (o "ABC das indústrias") passo a passo muda sua configuração com o crescimento dos setores de serviços!
Em paralelo a este (re)fluxo, os dados apontam que a especulação imobiliária e a gentrificação dificultam a moradia da massa, que sofrem também com a gradual inflação dos preços, que encarece cada vez mais o consumo até das necessidades básicas!
Em paralelo a este (re)fluxo, os dados apontam que a especulação imobiliária e a gentrificação dificultam a moradia da massa, que sofrem também com a gradual inflação dos preços, que encarece cada vez mais o consumo até das necessidades básicas!
A população das áreas periféricas sendo despejadas para locais mais distantes ainda, a Rede Extremo Sul tem algumas pertinentes publicações a respeito deste advento, se tiverem interesse, recomendo a leitura:
Ainda falando dos despejos e da organização espacial, também indico que assista vídeo feito pelo Movimento dos Trabalhadores Sem Teto para o Seminário Pela Ocupação Digna de 2013, em São Paulo, disponível no Youtube:
Outro caso recorrente é a truculência da PM e o genocídio que sofrem a população das áreas periféricas, estão sendo perseguidas e exterminadas pelos mecanismos de repressão do Estado, os números das prisões e carnificinas nos levam a concluir que vivemos numa bárbarie, com direitos restritos, poucos espaços de convivência, um escasso acesso a arte, ao lazer entre outros equipamentos sociais (transporte, saúde, educação, etc.).
Montagem disponível na internet. |
Mais um som para reflexão da conjuntura do país:
Em relação aos aparatos de repressão, notícia que aborda a grande falácia e manobras que comumente são feitas:
http://blogs.estadao.com.br/sp-no-diva/pm-diz-que-jovem-algemado-com-mao-para-tras-se-suicidou-dentro-da-viatura/
Esta reportagem também é valida para a reflexão da urgente necessidade da Desmilitarização da polícia no Brasil:
Alunos foram algemados e obrigados a se ajoelhar no chão.
Conheça a história completa: http://bit.ly/escolaPM
via Revista Fórum - Foto:Milena Aurea / Jornal A Cidade)
Aproveito tópico para divulgar a campanha: "Por que o senhor atirou em mim?", dizeres de Douglas Rodrigues ao ser atingido por um tiro de um policial.
"Travestida de acidente a violência policial é dirigida. Tem cor e endereço, assim como Douglas, são jovens negros e de periferias. A campanha "Por que o senhor atirou em mim?" é uma campanha permanente contra a violência policial nas periferias e a favor da desmilitarização da polícia."
Entre o período de 2002 a 2010, tivemos o registro de 418.414 vítimas de violência letal e mais da metade delas - 65,1% - eram negras.
Caso queiram se inteirar mais sobre o tema, recomendo o Mapa da Violência - A cor dos homicídios no Brasil, organizado por Julio J. Acobo Waiselfisz publicado em 2012. Sugiro uma poesia:
PODER DE VIDA E DE MORTE
Dois policiais
Em ronda
Provocam nos miseráveis ais
Vêm violentos como uma onda
São apenas dois
Um se faz de bom e outro de mau
Autoritários
Disparam
Tiros nos que consideram otários
E não param
Quase nunca punidos
Abusam do poder
Dificilmente são banidos
Plantam ódio a se colher
[pelos pretos pobres das periferias]
Falando agora de saúde, vocês já viram o quanto demora o atendimento no SUS? No geral, se não tiver $ para se alimentar passará o dia com fome no "pronto atendimento", podendo até agravar sua enfermidade pela tempo gasto na lista de espera.
Imagens da internet. |
E a educação? Os resultados apontam o quanto precarizados ainda estamos... tanto no âmbito público como privado. Lembrei do movimento estudantil que denunciávamos que a educação não é mercadoria. Já hoje vos pergunto, o que dentro da estrutura que vivemos não é mercadoria?
Lembremos também que professores foram as ruas, fizeram atos e greves na luta por melhores condições de trabalho.
Lembremos também que professores foram as ruas, fizeram atos e greves na luta por melhores condições de trabalho.
Recomendo que analisem os indicadores e façam vocês mesmos suas próprias conclusões em relação a distribuição territorial e os indicadores brasileiros:
Índice de Desenvolvimento Humano Municipal - Longevidade Fonte: http://atlasbrasil.org.br/2013/pt/destaques/longevidade_e_renda |
Indice de Desenvolvimento Humano Municipal - Renda Fonte: http://atlasbrasil.org.br/2013/pt/destaques/longevidade_e_renda |
Indice de Desenvolvimento Humano Municipal - Educação Fonte: http://atlasbrasil.org.br/2013/pt/destaques/educacao/ |
De modo geral, conseguimos visualizar que houve uma melhoria ao longo dos últimos 20 anos, porém sua efetivação é ainda discrepante e muitas áreas dentro do país ainda possuem grandes dificuldades de existência. E quando avaliado em nível mundial a última posição do Brasil no IDH foi a de 85º enquanto a dos nossos vizinhos latinos: Chile 40º, Argentina 45º, Uruguai 51º, Venezuela 71º, Peru 77º, abaixo de nós e também não muito distante, somente estão o Peru e o Paraguai:
O preocupante é que com esta educação deficitária, a desigualdade social e a precariedade das condições subsistência agrava-se com a falta de participação popular na formação do senso crítico e analise do modo como estão as coisas. Tal limitação constrói uma população que não questiona os mecanismos de informação e viram facilmente massa de manobra.
Quem se lembra das apelações ufanistas? A Operação Condor?
Imagens da internet. |
É importante também (re)pensar na história e lembrar que as grandes mídias brasileiras favoreceram as crueldades impostas pelo sistema ditatorial. Na próxima atualização da coluna, aprofundaremos mais tal temática com algumas questões da atualidade.
"O que é que tem na caixa preta?
o que é que tem?
A verdade foi comprada
Pelo cara da maleta
Rabo preso é que domina
A notícia no planeta
/.../
CPI da imprensa quem é que vai qrer
Essa caixa d pandora se abrir só vai feder
CPI da imprensa quem é que vai querer
Essa caixa d pandora se abrir só vai feder
Quem que pagou?
Quem se calou?
Quem é que financia?
Quem se benificia? Quem que pagou?
Quem se calou?
Quem é que financia?"Curumin
Imagens da internet. |
Nesta vicissitude dos acontecimentos, não quero levantar bandeiras para lado nenhum e sim provocar a reflexão que os atos não são uma festa ou um fim em si, neles temos a voz de denúncia do povo que vive sufocado e grita nas ruas, nas praças, nas escolas... para denunciar as condições precárias ainda vivenciadas e o vandalismo que tem demonstrado o Estado com a ferocidade dos seus mecanismos para silenciar as vozes dos que clamam.
5 comentários:
ficou ótimo soraia. Gostei dos questionamentos e da pergunta central que gira em torno da cidadania em nossa cidade. Parabéns.
18 de fevereiro de 2014 às 13:46Ana,
19 de fevereiro de 2014 às 10:27Agradeço palavras, espaço na Revista e confiança depositada nestes quase 4 anos de trabalho.
Forte abraço.
Vivi a ditadura militar a partir de meu primeiro emprego em 1977 em um banco. Entrei para a luta de classes e para o Sindicato dos Bancários em 1978,algo antes das Ciências Sociais e da força da academia,vivi com sonhadores que produziram as primeiras grandes greves gerais em São Paulo. A cidade que não para de girar. Alguns termos de seu texto me fizeram voltar no tempo e momentaneamente tive um déjà vu: são os mesmo do enfrentamento e da necessidade da conquista de direitos. Para todos. Tínhamos o vilão,os governantes militares. Hoje temos estas condições que você expõe e eu fico cá arquitetando formas de luta, veja, ...
21 de fevereiro de 2014 às 20:38É um grande prazer estar trabalhando junto com esta guerreira!
21 de fevereiro de 2014 às 21:56Regina, agradeço por dividir parte de sua vivência conosco aqui na Revista. Estou motivada para, a partir de julho, somar ainda mais com vocês na Vila de Paranapiacaba.
24 de fevereiro de 2014 às 12:03Josué, você é um ser que também admiro. Mesmo com sua eficiência na criação das ilustrações não deixa de ter profundidade crítica. Tamo junto, avante!
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