quarta-feira, 5 de março de 2014

A ARTE NO SILÊNCIO...



O que Clarissa Grassi nos propõe é um olhar sobre a A arte no silêncio. Pesquisadora em tempo integral da pouco conhecida arte tumular, ela nos fala aqui um pouco sobre o seu trabalho que resultou em livro e que também rendeu o tema de sua dissertação em Sociologia, na UFPR.




 Fundado em 7 de dezembro de 1854, o Cemitério Municipal São Francisco de Paula é um dos campos santos mais antigo e tradicional de Curitiba. Reunindo um vasto acervo de esculturas e manifestações artísticas, abriga marcas e indícios da história da sociedade, política e economia paranaense. Mais que ornamentação de túmulos, suas obras de arte traduzem a evolução histórica de Curitiba, assim como simbolizam a visão de nossa população acerca da morte, revelada através da arte tumular.



Com grande valor e representatividade patrimonial para a população curitibana, o cemitério abriga jazigos de personalidades influentes e de grande importância para a história local, regional e quiçá nacional. Políticos, intelectuais e pensadores, artistas, personagens de relevância pública e econômica, anônimos (muitas vezes eternizados em túmulos suntuosos ou pitorescos), todos compartilham de um espaço público com potencialidade de visitação aberta.

 


Mas, como cativar o olhar da população para essas obras de arte, quando estão recobertas do sentimento interdito de morte, finitude? Foi em busca de uma aproximação entre a beleza presente na arte tumular e a simbologia que essa produção escultórica abarca que surgiu a ideia da confecção do livro “Um olhar... A arte no silêncio”. O projeto, realizado através do Mecenato Subsidiado da Fundação Cultural de Curitiba, tinha como objetivo maior mostrar que existe sim beleza no cemitério e que acessá-la era uma questão apenas de ponto de vista.



Para esse intento foi na fotografia preto e branco que se buscou o suporte de apresentação de esculturas provindas das mais diversas localidades além de nosso país, incluindo França, Uruguai, Portugal e Itália. Clicadas em seus mínimos detalhes, sem a contextualização de pertencimento a túmulos, cinquenta e quatro esculturas foram selecionadas para fazer parte do livro. As mais de 3 mil fotos realizadas, resultaram em um olhar detalhista, desfocado do restante do cemitério, privilegiando as texturas do bronze, do mármore e a sutileza de expressões nos detalhes escultóricos.



Mas a intenção não era somente cativar o olhar do outro. Buscou-se também uma compreensão do discurso simbólico presente na arte tumular, de forma a explicar o que significam essas peças. Alegorias, santos e personagens retratados em cenas que antecederam suas mortes foram pesquisados e descritos em textos por meio da pesquisa junto aos familiares proprietários dos túmulos e a produção bibliográfica sobre cemitérios, arte tumular e simbologia. Somando 152 páginas, o livro traz mais de 300 imagens, além de abordar de forma breve a história do próprio cemitério.



Prestes a completar 160 anos de história o Cemitério Municipal São Francisco de Paula tem muito mais a nos contar. Aqueles que se despem do preconceito e caminham por essa necrópole têm a chance de resgatar o passado e admirar a beleza no silêncio do único museu de arte a céu aberto de Curitiba. Esse trabalho representou o início de uma grande paixão, o ingresso efetivo na área dos estudos cemiteriais e a vontade de produzir mais publicações sobre o tema. Em breve, mais uma vez esse campo santo será tema de livro: agora de um Guia de Visitação, contemplando trajetos temáticos com grandes personalidades curitibanas e paranaenses. 

Capa do livro, publicado em 2006
Serviço: O livro "Um olhar... A arte no silêncio" retrata 54 esculturas presentes em túmulos do Cemitério Municipal São Francisco de Paula, em Curitiba/PR. Utilizando fotografias em PB, a autora detalha essas esculturas, além de realizar uma leitura sobre a simbologia e história destes túmulos.

Textos e Fotos: Clarissa Grassi.






Bassano, 1912.



Izabel Liviski é fotógrafa e doutoranda em Sociologia pela UFPR. Edita quinzenalmente a coluna INCONTROS, enfocando artes visuais e, principalmente, Fotografia.

1 comentários:

Francisco Cezar de Luca Pucci disse...

Em muitos lugares do mundo, como em Buenos Aires, visitar o cemitério é parte da visita turística.

5 de março de 2014 às 13:17

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