segunda-feira, 3 de março de 2014

REVISITANDO MUSEUS



¨ Quando o homem alcança o processo de educação, espiritualiza a vida, liberta-se do tempo, entra triunfante na eternidade. ¨ (Leocádio J. Correia)


MUSEU – Termo de origem grega – museion – criado por Ptolomeu I, no século III a.C. foi utilizado pela primeira vez, denominando o Museu de Alexandria, espaço caracterizado por uma mistura do templo, biblioteca e centro de pesquisas. Homenageava a deusa da memória, Mnemosine, e as nove Musas das ciências, artes e tesouros da cultura. É uma palavra encontrada em várias línguas – Latim: Museum; Grego: Museion; Francês: Museé; Inglês: Museum; Alemão: Museu. Outros termos mantêm relação direta com o termo museu, são eles:

¨(...) patrimônio, coleção e objeto/bem cultural nos colocam diante da dimensão do tempo ou da memória. Isto fica claro através do termo patrimônio que pode ser compreendido como herança ou um determinado recorte de fragmentos culturais que se transmite de uma geração para outra.
Os termos território, edifício e espaço/cenário colocam-nos diante da dimensão do espaço. E os termos comunidade ou sociedade local, público e homem/sujeito, introduzem nesta relação a dimensão humana, a consciência histórica e social. Sem esta última dimensão a museologia e os museus perderiam a finalidade. No entanto, é preciso não esquecer que sob os termos comunidade ou sociedade local ocultam-se classes, grupos sociais e indivíduos determinados e diferenciados. ¨ (ICOM – Conselho Internacional de Museus).




MUSEU E TRANSFORMAÇÕES – Centro da discussão de diversos autores, que transitam entre a poética e a ciência buscando novos conceitos, o museu sofreu revisões. Na linguagem dos autores a amplitude da área da museologia vem sendo revelada, os estudos se intensificam e o espaço museu se torna mais atraente. As discussões se encaminham para a transversalidade e contemplam a vida, propondo diferentes formatos e abrigando múltiplas coleções, onde o patrimônio material ou imaterial se faz presente.

Durante o Seminário Regional da UNESCO sobre a função Educativa dos Museus (1958) foi mencionado: ¨O museu pode trazer muitos benefícios (...). Trata-se de dar à função educativa toda a importância que merece, sem diminuir o nível da instituição, nem colocar em perigo o cumprimento das outras finalidades (...) conservação física, investigação científica, deleite, etc.¨



Na América Latina foi realizada a Mesa Redonda de Santiago (Chile, 1972), conscientizando para o uso de museus na melhoria das condições de sobrevivência dos povos latinos.

¨ (...) o museu é uma instituição a serviço da sociedade, da qual é parte integrante e que possui nele mesmo os elementos que lhe permitem participar na formação da consciência das comunidades (...); que ele pode contribuir para o engajamento destas comunidades na ação, situando suas atividades em um quadro histórico que permita esclarecer os problemas atuais, isto é, ligando o passado ao presente, engajando-se nas mudança de estrutura em curso e provocando outras mudança no interior de suas respectivas realidades nacionais.¨


Gerando um olhar sobre a instituição museu, enquanto instrumento que atenda a sociedade em seu próprio contexto, a Declaração de Quebec (Canadá, 1984) ampliou possibilidades, considerando que,

¨A museologia deve procurar, num mundo contemporâneo que tenta integrar todos os meios de desenvolvimento, estender suas atribuições e funções tradicionais de identificação, de conservação e de educação, a práticas mais vastas que estes objetivos, para melhor inserir sua ação naquelas ligadas ao meio humano e físico.¨




E no mesmo ano, no México, a Declaração de Oaxtepec celebra a participação da sociedade junto ao museu, destacando o caráter dos conhecimentos científicos a partir da tradição e da memória coletiva, onde a relação território - patrimônio – comunidade é considerada indissolúvel. Enquanto, em 1992, na Venezuela foi apresentada uma visão para a América Latina, quando a Declaração de Caracas trata da função e do desafio de orientar museus integrados as comunidades; as questões das relações com a comunicação, o patrimônio, a liderança, propondo responsabilidades de gestão social, comprometida com a realidade e com as transformações.



¨A função museológica é, fundamentalmente, um processo de comunicação que explica e orienta as atividades específicas do museu, tais como a coleção, conservação e exibição do patrimônio cultural e natural. Isto significa que os museus não são somente fontes de informação ou instrumentos de educação, ma espaços e meios de comunicação que servem ao estabelecimento da interação da comunidade com o processo e com os produtos culturais.¨


As transformações dos museus são percebidas ao longo dos tempos, e Alberto Gaspar (1993) lembra que, ¨O intercâmbio das idéias se intensificou, os museus foram se diversificando, refletindo as condições sociais e políticas e a evolução é das tendências intelectuais da época.¨ Enquanto, René Ariel Dotti, lembra,
¨(...) nós sabemos muito bem que um país não pode ganhar prestígio frente aos demais Estados se não tiver uma história, que anime os seus homens, que faça pulsar o coração da sociedade, e que sirva portanto de um canal de comunicação espiritual entre o passado e o presente com vista do futuro. E é, portanto, neste momento da referência e da importância da história que nós vemos também, como um dos fundamentos importantes, a presença do museu.¨




Lembra, lá na Grécia, museion, surgiu para homenagear a deusa da memória, e segundo, Ulpiano Bezerra de Meneses, a memória não é um mero mecanismo de registro e retenção, de informações, conhecimento, experiências

¨(...) redutível a um pacote de recordações, já previsto e acabado (...) processo subordinado à dinâmica social [a memória] desautoriza, seja a idéia de construção no passado, seja a função de almoxarifado desse passado. A elaboração da memória se dá no presente e para responder às solicitações do presente.¨




Há anos, com verdadeira paixão, visito museus acreditando serem espaços de reflexões, onde de maneira organizada e contextualizada a narrativa de inter-relações, naturais e fabricadas, científicas ou poéticas é exposta e comunicada. Conservar a experiência da vida em sua representação simbólica ou na própria existência elaborando as interfaces de sua própria evolução, permitindo-se recriar, fruir e sensibilizar encaminham para uma comunicação que integra, identifica, dialoga com os diferentes – tempos, corpos, expressões sensíveis e multiculturalidade.




O todo que forma uma Coleção passa pelo homem; por seu olhar, seu recorte no ato da criação, da produção; ainda, passa pelo selecionar, documentar, resguardar, conservar, preservar e expor. As possibilidades de coletar, identificar, gerar função estabelecendo ou não uso, transferem ao objeto/ produto/ corpo, o conhecimento humano; assim como, o aprimoramento técnico.

Sua ¨ memória cognitiva ¨ é universalizada na fruição. Obras produzidas ultrapassam as fronteiras do território, onde coleções sistematizadas circulam, e do tempo, quando aquilo que foi produzido em outros tempos é exposto. Mesmo diante do fato de que aquele que produziu não conste ali fisicamente, a instituição museus é uma janela aberta, onde todas as passagens, lugares, tempos e indivíduos se presentificam.

Sem esquecer, Lígia Martins Costa, ao afirmar que, ¨(...) uma visita ao museu é um prazer para quem se interessa pela arte, pelo conhecimento (...). Portanto, o museu não pode ser esquecido como produtor de prazer, de gozo, de estímulo emocional e intelectual.¨

Você, já visitou um Museu?

Referências Bibliográficas
 – Revista do Patrimônio, nº31 p.3 /Textos copilados de diferentes artigos e apostilas, obtidos entre os anos 80 e 2014 /Figuras acessadas entre 2006 e 2014.




SOLANGE CHEMIN, é artista plástica, especialista em artes e museologia. Foi responsável pelo implante e manutenção do setor de ação educativa do MON (Museu Oscar Niemeyer).
É também designer de produtos na área da moda, e foi responsável pela ação educativa daBienal Brasileira de Design, Curitiba, elaborando material didático, treinando monitores e preparando educadores e professores para aquela bienal.

1 comentários:

Anônimo disse...

Gostei e aprendi com seu texto. Digno de quem fez do setor da Ação Educativa do MON a excelência no Brasil.
Sônia Gutierrez - artista visual.

20 de março de 2014 às 23:23

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