REVISITANDO MUSEUS
¨ Quando o homem alcança o processo de educação, espiritualiza a vida, liberta-se do tempo, entra triunfante na eternidade. ¨ (Leocádio J. Correia)
MUSEU – Termo de origem grega – museion – criado por Ptolomeu I, no
século III a.C. foi utilizado pela primeira vez, denominando o Museu de
Alexandria, espaço caracterizado por uma mistura do templo, biblioteca e centro
de pesquisas. Homenageava a deusa da memória, Mnemosine, e as nove Musas das ciências, artes e tesouros da
cultura. É uma palavra encontrada em várias línguas – Latim: Museum; Grego: Museion; Francês: Museé;
Inglês: Museum; Alemão: Museu. Outros termos mantêm relação
direta com o termo museu, são eles:
¨(...)
patrimônio, coleção e objeto/bem cultural nos colocam diante da dimensão do
tempo ou da memória. Isto fica claro através do termo patrimônio que pode ser
compreendido como herança ou um determinado recorte de fragmentos culturais que
se transmite de uma geração para outra.
Os
termos território, edifício e espaço/cenário colocam-nos diante da dimensão do
espaço. E os termos comunidade ou sociedade local, público e homem/sujeito,
introduzem nesta relação a dimensão humana, a consciência histórica e social.
Sem esta última dimensão a museologia e os museus perderiam a finalidade. No
entanto, é preciso não esquecer que sob os termos comunidade ou sociedade local
ocultam-se classes, grupos sociais e indivíduos determinados e diferenciados. ¨
(ICOM – Conselho Internacional de Museus).
MUSEU E TRANSFORMAÇÕES – Centro da discussão de diversos
autores, que transitam entre a poética e a ciência buscando novos conceitos, o
museu sofreu revisões. Na linguagem dos autores a amplitude da área da
museologia vem sendo revelada, os estudos se intensificam e o espaço museu se
torna mais atraente. As discussões se encaminham para a transversalidade e
contemplam a vida, propondo diferentes formatos e abrigando múltiplas coleções,
onde o patrimônio material ou imaterial se faz presente.
Durante
o Seminário Regional da UNESCO sobre a função Educativa dos Museus (1958) foi
mencionado: ¨O museu pode trazer muitos benefícios (...). Trata-se
de dar à função educativa toda a importância que merece, sem diminuir o nível
da instituição, nem colocar em perigo o cumprimento das outras finalidades
(...) conservação física, investigação científica, deleite, etc.¨
Na
América Latina foi realizada a Mesa Redonda de Santiago (Chile, 1972),
conscientizando para o uso de museus na melhoria das condições de sobrevivência
dos povos latinos.
¨
(...) o museu é uma instituição a serviço da sociedade, da qual é parte
integrante e que possui nele mesmo os elementos que lhe permitem participar na
formação da consciência das comunidades (...); que ele pode contribuir para o
engajamento destas comunidades na ação, situando suas atividades em um quadro
histórico que permita esclarecer os problemas atuais, isto é, ligando o passado
ao presente, engajando-se nas mudança de estrutura em curso e provocando outras
mudança no interior de suas respectivas realidades nacionais.¨
Gerando
um olhar sobre a instituição museu, enquanto instrumento que atenda a sociedade
em seu próprio contexto, a Declaração de Quebec (Canadá, 1984) ampliou
possibilidades, considerando que,
¨A
museologia deve procurar, num mundo contemporâneo que tenta integrar todos os
meios de desenvolvimento, estender suas atribuições e funções tradicionais de
identificação, de conservação e de educação, a práticas mais vastas que estes
objetivos, para melhor inserir sua ação naquelas ligadas ao meio humano e
físico.¨
E
no mesmo ano, no México, a Declaração de Oaxtepec celebra a participação da
sociedade junto ao museu, destacando o caráter dos conhecimentos científicos a
partir da tradição e da memória coletiva, onde a relação território -
patrimônio – comunidade é considerada indissolúvel. Enquanto, em 1992, na
Venezuela foi apresentada uma visão para a América Latina, quando a Declaração
de Caracas trata da função e do desafio de orientar museus integrados as
comunidades; as questões das relações com a comunicação, o patrimônio, a
liderança, propondo responsabilidades de gestão social, comprometida com a
realidade e com as transformações.
¨A
função museológica é, fundamentalmente, um processo de comunicação que explica
e orienta as atividades específicas do museu, tais como a coleção, conservação
e exibição do patrimônio cultural e natural. Isto significa que os museus não
são somente fontes de informação ou instrumentos de educação, ma espaços e
meios de comunicação que servem ao estabelecimento da interação da comunidade
com o processo e com os produtos culturais.¨
As
transformações dos museus são percebidas ao longo dos tempos, e Alberto Gaspar
(1993) lembra que, ¨O intercâmbio das idéias se intensificou, os museus foram
se diversificando, refletindo as condições sociais e políticas e a evolução é das
tendências intelectuais da época.¨ Enquanto, René Ariel Dotti, lembra,
¨(...)
nós sabemos muito bem que um país não pode ganhar prestígio frente aos demais
Estados se não tiver uma história, que anime os seus homens, que faça pulsar o
coração da sociedade, e que sirva portanto de um canal de comunicação
espiritual entre o passado e o presente com vista do futuro. E é, portanto,
neste momento da referência e da importância da história que nós vemos também,
como um dos fundamentos importantes, a presença do museu.¨
Lembra,
lá na Grécia, museion, surgiu para homenagear a deusa da memória, e segundo,
Ulpiano Bezerra de Meneses, a memória não é um mero mecanismo de registro e
retenção, de informações, conhecimento, experiências
¨(...)
redutível a um pacote de recordações, já previsto e acabado (...) processo
subordinado à dinâmica social [a memória] desautoriza, seja a idéia de
construção no passado, seja a função de almoxarifado desse passado. A
elaboração da memória se dá no presente e para responder às solicitações do
presente.¨
Há
anos, com verdadeira paixão, visito museus acreditando serem espaços de
reflexões, onde de maneira organizada e contextualizada a narrativa de
inter-relações, naturais e fabricadas, científicas ou poéticas é exposta e
comunicada. Conservar a experiência da vida em sua representação simbólica ou
na própria existência elaborando as interfaces de sua própria evolução,
permitindo-se recriar, fruir e sensibilizar encaminham para uma comunicação que
integra, identifica, dialoga com os diferentes – tempos, corpos, expressões
sensíveis e multiculturalidade.
O
todo que forma uma Coleção passa pelo homem; por seu olhar, seu recorte no ato
da criação, da produção; ainda, passa pelo selecionar, documentar, resguardar,
conservar, preservar e expor. As possibilidades de coletar, identificar, gerar
função estabelecendo ou não uso, transferem ao objeto/ produto/ corpo, o
conhecimento humano; assim como, o aprimoramento técnico.
Sua
¨ memória cognitiva ¨ é universalizada na fruição. Obras produzidas ultrapassam
as fronteiras do território, onde coleções sistematizadas circulam, e do tempo,
quando aquilo que foi produzido em outros tempos é exposto. Mesmo diante do
fato de que aquele que produziu não conste ali fisicamente, a instituição
museus é uma janela aberta, onde todas as passagens, lugares, tempos e
indivíduos se presentificam.
Sem
esquecer, Lígia Martins Costa, ao afirmar que, ¨(...) uma visita
ao museu é um prazer para quem se interessa pela arte, pelo conhecimento (...).
Portanto, o museu não pode ser esquecido como produtor de prazer, de gozo, de
estímulo emocional e intelectual.¨
Você, já visitou um
Museu?
– Revista do Patrimônio, nº31 p.3 /Textos copilados de diferentes artigos e
apostilas, obtidos entre os anos 80 e 2014 /Figuras acessadas entre 2006 e
2014.
SOLANGE CHEMIN, é artista plástica, especialista em artes e museologia. Foi responsável pelo implante e manutenção do setor de ação educativa do MON (Museu Oscar Niemeyer).
SOLANGE CHEMIN, é artista plástica, especialista em artes e museologia. Foi responsável pelo implante e manutenção do setor de ação educativa do MON (Museu Oscar Niemeyer).
É também designer de produtos na área da moda, e foi responsável pela ação educativa daBienal Brasileira de Design, Curitiba, elaborando material didático, treinando monitores e preparando educadores e professores para aquela bienal.
1 comentários:
Gostei e aprendi com seu texto. Digno de quem fez do setor da Ação Educativa do MON a excelência no Brasil.
20 de março de 2014 às 23:23Sônia Gutierrez - artista visual.
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