O nono passageiro
Noite dessas tirei duas horinhas para assistir ao Alien de Ridley Scott. Filme visto há muitíssimo tempo. Satélite quase esquecido nos confins da memória. E foi bom – assustadoramente bom – embarcar na Nostromo outra vez, percorrer seus corredores perigosamente quietos, revisitar o planeta LV-426 e explorar seus mistérios.
Melhor ainda – assustadoramente melhor – foi recordar uma história cuja narrativa privilegia o silêncio, em detrimento dos trocentos efeitos sonoros de tantos e tantos blockbusters atuais, que supostamente seriam imprescindíveis para levar o espectador a sentir aquele friozinho básico na espinha e gelar na poltrona.
O roteiro de Dan O’Bannon não tem pressa de apresentar seus personagens e, em especial, sua protagonista, a tenente Ellen Ripley, interpretada com segurança por Sigourney Weaver. Vamos descobrindo quem – e o quão forte – ela é gradualmente, à medida que o medo toma conta da tripulação e o terror se espalha pelas artérias da nave.
Da mesma forma, os segredos guardados pelo cientista Ash, vivido por Ian Holm, são revelados aos poucos, surpreendendo simultaneamente seus companheiros de viagem e o público – como se este também fizesse parte do grupo e estivesse sob o risco iminente de travar contatos mais que imediatos com aquela criatura repleta de ácido nas veias.
Por falar em contatos imediatos (e hi-per-ten-sos), a sequência em que Ripley se acha sozinha – absolutamente vulnerável – com a fera no módulo auxiliar da Nostromo, no ato final do longa, é a síntese perfeita de uma obra que constrói sua atmosfera de pavor progressivamente, que deixa a plateia com a respiração ofegante sem precisar fazer uso de um festival epiléptico de berros.
O que se mostra, enfim, bastante coerente com aquele universo: como bem diz a frase no pôster do filme, no espaço ninguém pode ouvir você gritar.
Fábio Flora é autor de Segundas estórias: uma leitura sobre Joãozito Guimarães Rosa (Quartet, 2008), escreve no Pasmatório, tem perfil no Twitter e no Facebook.
Fábio Flora é autor de Segundas estórias: uma leitura sobre Joãozito Guimarães Rosa (Quartet, 2008), escreve no Pasmatório, tem perfil no Twitter e no Facebook.
0 comentários:
Postar um comentário
Seja educado. Comentários de teor ofensivo serão deletados.