Volta às aulas...
Após quase dois meses de recesso (leia-se “férias”), as aulas nas
universidades japonesas recomeçarão a partir da desta semana. Para mim, o
segundo semestre é sempre o mais revigorante, desde o rotineiro ato de sair de
casa e se deparar com o lindo céu azul outonal, sentir o ar fresco da manhã até
observar a mudança de moda nas ruas. Para mim, tudo isso passa a ter um colorido e um ritmo diferente,
uma sensação de nostalgia (em
jap. 懐かしい= natsukashii) toma de assalto meu espirito. Na universidade a diferença pode ser
sentida já durante as primeiras aulas, com a volta dos alunos do terceiro e
quarto ano que estiveram fazendo intercâmbio no Brasil e em Portugal. O ritmo
de algumas aulas fica diferente, mais dinâmico (animado?), pelo simples fato
destes jovem recém-chegados estarem com o português literalmente na “ponta da
língua”. Todos querem se expressar de alguma forma, falando, comentando, mesmo
os que eram mais tímidos, após um tempinho em terras brasileiras, mudam. Claro
que eu acabo por incentivar meus jovens pupilos quando os mesmos tentam demonstrar
para mim, professor brasileiro, que eles também se sentem um pouquinho “brasileiros”
após sua estadia em São Paulo (USP e UNICAMP) ou no Rio de Janeiro (UERJ).
Quase cinco anos
lecionando aqui e alguns “outonos” depois, me permitem avaliar um pouco a
validade destes jovens passarem por essa grande experiência. Tratando-se da
enorme diferença entre os dois países, sim, é uma GRANDE experiência, não só
linguística, mas de vida. Simplificando, na minha opinião, a maioria deste
jovens volta mais “humana”, “sensível” e mais “malandra” também...hehehehe A
vivência no Brasil possibilita aquilo que eles não praticam aqui: “liberdade de
expressar-se”, digo de ser “diferente” ou de “serem eles mesmos”, sem as quase
infindáveis convenções nipônicas. Parafraseando o escritor Donald Richie
(1924-2013): “ Ainda bem que VIVO no Japão, mas não NASCI japonês”. Um estatística interessante (e bem
triste!): desde de 2010, foram para o
Brasil (SP, RJ e RGS) 29 estudantes japoneses, destes, 80% foram vitimas de
furto ou de roubo, nada “muito sério”, no entanto estes acontecimentos se
configuram de maneira geral, fora dos padrões nipônicos. As duas perguntas que
sempre faço assim que as aulas voltam em outubro é: “Alguém aqui sofreu algum
tipo de violência ou foi vitima de algum crime no Brasil?” e a segunda, “Vocês
gostaram da estadia no Brasil?”. A maioria esmagadora das respostas é “sim” e a
partir dai engatamos uma breve conversa sobre as experiências da garotada na Terra Brasilis e assim retomo as nossas
aulas de Cultura Brasileira II.
Rogerio Akiti Dezem é professor visitante de língua portuguesa e cultura brasileira da Universidade de Osaka, no Japão. Mestre em História Social pela Universidade de São Paulo (USP), é autor de Matizes do Amarelo - A gênese dos discursos sobre os orientais no Brasil (Humanitas, 2005) entre outros livros. Além da História sua grande paixão é a Fotografia (http://akitidezemphotowalker.zenfolio.com/).
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