quarta-feira, 22 de outubro de 2014

HIMEJI JÔ

 O outono talvez seja a melhor estacão do ano para se viajar dentro do Japão. A mudança da paisagem, o ar fresco, o clima ameno que aos poucos vai esfriando, a mudança da coloração da folhagem das árvores, o céu azul e límpido – que eu mencionei em outra coluna – enfim, uma atmosfera que nestes últimos quatro anos espero sempre com avidez quase infantil!
No final de semana passado, aproveitamos para viajar para uma cidade da região de Hyogo, próxima a Kobe e distante de Osaka cerca 30 minutos de shinkansen: Himeji. A viagem foi o presente de aniversário que ganhei da minha esposa. Arigatou, Paula san!
Mesmo para aqueles que não tem muita afinidade com o Japão, a palavra “Himeji” pode soar  familiar e remeter não à cidade propriamente, mas a sua principal atração, o castelo de Himeji (jap.姫路城 ). Conhecido também como “Castelo da Garça Branca”, devido a sua cor branca  e ao seu formato que para muitos lembra o de uma garça (jap.) em pleno voo. Esta magnifica obra da arquitetura militar nipônica povoa meu imaginário desde os tempos de criança, quando a vi em um calendário de um bazar perto de casa, cujo o dono era nikkey. Me lembro muito bem daquele primeiro contato visual. Na foto colorida, o branco do castelo era complementado de forma poética pela neve que havia caído. Naquela época (inicio dos anos 1980) poucas eram as oportunidades de encontrar diferentes imagens deste belo castelo, por isso ela ficou gravada na minha memória até hoje.


Assim que chegamos ao Japão, no final de março de 2010, uma das primeiras coisas que planejamos era visitá-lo. Para nossa decepção, o castelo havia acabado de ser fechado (e todo coberto) para obras de manutenção e renovação. Prazo para o final das obras: março de 2015. Confesso que eu fiquei bem chateado por ter de esperar, mas algo que aprendi aqui no Japão é ser (mais) paciente... A única certeza que eu tive, era de que eu não iria embora daqui sem fazer uma visita a este ícone japonês. Por isso, de vez em quando, eu checava como andavam as obras pelo site: http://www.city.himeji.lg.jp/s60/2851146/_21909/siro-weekly-photo.html. Até que no inicio deste ano, a horrorosa cobertura foi retirada e algumas áreas do castelo foram abertas para visitação. Não pensamos duas vezes e na primeira oportunidade viajamos para a cidade de Himeji.
Além da sua beleza clássica e única, a fama do castelo esta associada ao grau de conservação e originalidade do mesmo. Um dos únicos a se manter praticamente intacto, pois nunca sofreu nenhum ataque direto, cerco ou danos maiores. Durante a segunda guerra mundial, uma bomba aliada caiu dentro da sua torre principal, mas felizmente não explodiu. Além dele, outros três castelos são considerados imperdíveis para se visitar devido a sua beleza e estado de conservação, os castelos de Kumamoto e de Matsumoto. Este último, situado na região de Nagano, é na minha opinião o mais belo de todo o Japão (link: http://en.wikipedia.org/wiki/Matsumoto_Castle).
A maioria destes castelos ou (jap.  ) foi construida entre os séculos XV e XVI, dentro de um contexto de guerras entre clãs rivais. Cito aqui um trecho da interessante obra Castles of the Samurai. Power and Beauty que dá uma ideia da representattividade destes gigantes:

“Today there are twelve original tenshu (main towers) left in Japan, plus about twenty-five castles with significant original buildings. Many more sites with stone walls and moats survive, together with a few replica concrete tenshu. During the Edo era (1603-1867) there were about 170 castles; during Azuchi-Momoyama era (1575-1600), about 600; and in the Warring States period (1467 to 1568), about 3,000.” (Jennifer Mitchelhill, Castles of the Samurai. Power and Beauty. Japão, Kodansha International, 2007. p. 92)



E pensar que estas magnificas obras arquitetônicas e históricas foram consideradas logo após a restauração Meiji (1868) como representantes de um passado feudal arcaico, ultrapassado e que deveria ser superado, leia-se: apagado. Entre os anos de 1873-75, muitos castelos foram demolidos em nome da “modernidade”, aqueles que sobreviveram não só a ânsia modernizadora, mas aos desastres naturais ou aos bombardeios da segunda guerra mundial ou foram reconstruídos (réplicas), hoje são monumentos de um passado (violento...) de samurais, cujos nomes ecoam na historiografia japonesa de maneira quase mitológica como a tríade Oda Nobunaga (1534-1582), Toyotomi Hideyoshi (1536-1598) e Tokugawa Ieyasu (1543-1616), só para citar as figuras mais conhecidas.



Além do castelo de Himeji, que atrai milhares de turistas,  há o templo Engyoji (jap.円教寺)  localizado na região noroeste da cidade no monte Shosha (jap. 書写山) O complexo que abriga o suntuoso prédio principal e os outros edifícios históricos tem mais de mil anos! Área de peregrinação e treinamento de monges budistas, ela também já serviu de set de filmagem para séries de televisão japonesas e também do blockbuster hollywoodiano “O Último Samurai” (2003). Visitamos o local e ele realmente é maravilhoso, o clima outonal dá um “charme a mais” na atmosfera calma e silenciosa do complexo. Que belo presente de aniversário de 40 anos, não?!


Todas imagens publicadas na coluna possuem direitos autorais Copyright ©2014AkitiDezem




Rogerio Akiti Dezem é professor visitante de língua portuguesa e cultura brasileira da Universidade de Osaka, no Japão. Mestre em História Social pela Universidade de São Paulo (USP), é autor de Matizes do Amarelo - A gênese dos discursos sobre os orientais no Brasil (Humanitas, 2005) entre outros livros. Além da História sua grande paixão é a Fotografia (http://akitidezemphotowalker.zenfolio.com/).




1 comentários:

Naomi Sagara disse...

Saudades meu amigo!!!
beijins

7 de junho de 2015 às 13:19

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