HIMEJI JÔ
No final de semana passado,
aproveitamos para viajar para uma cidade da região de Hyogo, próxima a Kobe e distante
de Osaka cerca 30 minutos de shinkansen: Himeji. A viagem foi o presente
de aniversário que ganhei da minha esposa. Arigatou, Paula san!
Mesmo para aqueles que não tem
muita afinidade com o Japão, a palavra “Himeji” pode soar familiar e remeter não à cidade propriamente,
mas a sua principal atração, o castelo de Himeji (jap.姫路城 ). Conhecido também como “Castelo da Garça Branca”,
devido a sua cor branca e ao seu formato
que para muitos lembra o de uma garça (jap.鷺) em pleno voo. Esta magnifica
obra da arquitetura militar nipônica povoa meu imaginário desde os tempos de
criança, quando a vi em um calendário de um bazar perto de casa, cujo o dono
era nikkey. Me lembro muito bem daquele primeiro contato visual. Na foto
colorida, o branco do castelo era complementado de forma poética pela neve que
havia caído. Naquela época (inicio dos anos 1980) poucas eram as oportunidades
de encontrar diferentes imagens deste belo castelo, por isso ela ficou gravada
na minha memória até hoje.
Assim que chegamos ao Japão,
no final de março de 2010, uma das primeiras coisas que planejamos era visitá-lo.
Para nossa decepção, o castelo havia acabado de ser fechado (e todo coberto)
para obras de manutenção e renovação. Prazo para o final das obras: março de
2015. Confesso que eu fiquei bem chateado por ter de esperar, mas algo que
aprendi aqui no Japão é ser (mais) paciente... A única certeza que eu tive, era
de que eu não iria embora daqui sem fazer uma visita a este ícone japonês. Por
isso, de vez em quando, eu checava como andavam as obras pelo site: http://www.city.himeji.lg.jp/s60/2851146/_21909/siro-weekly-photo.html. Até que no inicio deste ano,
a horrorosa cobertura foi retirada e algumas áreas do castelo foram abertas
para visitação. Não pensamos duas vezes e na primeira oportunidade viajamos
para a cidade de Himeji.
Além da sua beleza clássica e
única, a fama do castelo esta associada ao grau de conservação e originalidade
do mesmo. Um dos únicos a se manter praticamente intacto, pois nunca sofreu
nenhum ataque direto, cerco ou danos maiores. Durante a segunda guerra mundial,
uma bomba aliada caiu dentro da sua torre principal, mas felizmente não
explodiu. Além dele, outros três castelos são considerados imperdíveis para se
visitar devido a sua beleza e estado de conservação, os castelos de Kumamoto e
de Matsumoto. Este último, situado na região de Nagano, é na minha opinião o
mais belo de todo o Japão (link: http://en.wikipedia.org/wiki/Matsumoto_Castle).
A maioria destes castelos ou jô (jap. 城 ) foi construida entre os séculos XV e XVI,
dentro de um contexto de guerras entre clãs rivais. Cito aqui um trecho da
interessante obra Castles of the Samurai.
Power and Beauty que dá uma ideia da representattividade destes gigantes:
“Today there are twelve
original tenshu (main towers) left in
Japan, plus about twenty-five castles with significant original buildings. Many
more sites with stone walls and moats survive, together with a few replica
concrete tenshu. During the Edo era
(1603-1867) there were about 170 castles; during Azuchi-Momoyama era
(1575-1600), about 600; and in the Warring States period (1467 to 1568), about
3,000.” (Jennifer
Mitchelhill, Castles of the Samurai.
Power and Beauty. Japão, Kodansha International, 2007. p. 92)
E pensar que estas magnificas
obras arquitetônicas e históricas foram consideradas logo após a restauração Meiji
(1868) como representantes de um passado feudal arcaico, ultrapassado e que
deveria ser superado, leia-se: apagado.
Entre os anos de 1873-75, muitos castelos foram demolidos em nome da “modernidade”,
aqueles que sobreviveram não só a ânsia modernizadora, mas aos desastres
naturais ou aos bombardeios da segunda guerra mundial ou foram reconstruídos
(réplicas), hoje são monumentos de um passado (violento...) de samurais, cujos
nomes ecoam na historiografia japonesa de maneira quase mitológica como a
tríade Oda Nobunaga (1534-1582), Toyotomi Hideyoshi (1536-1598) e Tokugawa
Ieyasu (1543-1616), só para citar as figuras mais conhecidas.
Além do castelo de Himeji, que
atrai milhares de turistas, há o templo
Engyoji (jap.円教寺) localizado na região noroeste da cidade no
monte Shosha (jap. 書写山) O complexo que abriga o suntuoso prédio
principal e os outros edifícios históricos tem mais de mil anos! Área de
peregrinação e treinamento de monges budistas, ela também já serviu de set de
filmagem para séries de televisão japonesas e também do blockbuster hollywoodiano “O Último Samurai” (2003). Visitamos o local e ele realmente
é maravilhoso, o clima outonal dá um “charme a mais” na atmosfera calma e
silenciosa do complexo. Que belo presente de aniversário de 40 anos, não?!
Todas imagens publicadas na coluna possuem direitos autorais Copyright ©2014AkitiDezem
Rogerio Akiti Dezem é professor visitante de língua portuguesa e cultura brasileira da Universidade de Osaka, no Japão. Mestre em História Social pela Universidade de São Paulo (USP), é autor de Matizes do Amarelo - A gênese dos discursos sobre os orientais no Brasil (Humanitas, 2005) entre outros livros. Além da História sua grande paixão é a Fotografia (http://akitidezemphotowalker.zenfolio.com/).
1 comentários:
Saudades meu amigo!!!
7 de junho de 2015 às 13:19beijins
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