quarta-feira, 26 de agosto de 2015

ESCRITAS: O IDIOMA SURPREENDENTE DE DENISE ABUJAMRA


Entrega e intensidade são muito mais que palavras no vasto dicionário de recursos da artística plástica paranaense Denise Abujamra. São a essência de seu trabalho, como poderá ser constatado em sua nova exposição individual – “ESCRITAS” – que teve abertura no dia 23 de agosto, na Sala do Artista da Galeria de Arte do Solar do Rosário, onde a exposição ficará em cartaz até 06 de setembro. “ESCRITAS é verso puro”, define Denise Abujamra. “São palavras importantes, às vezes importunas, que teimam, denunciam, mas são veladas. O vermelho é a palavra em cor, que grita versos sussurrados”.

Obra da série Escritas

A exposição amarra, com a costura coerente da palavra – tomada aqui como forma, como símbolo e imagem, e não apenas como texto discursivo –, uma década de trabalhos da artista. “As três obras mais antigas datam de 2004, da série Ruídos, em acrílica sobre tela 50x60 cm”, revela Denise Abujamra. Ela informa que a exposição trará mais de 30 obras entre trabalhos de pintura (acrílica sobre tela), desenhos e nanquim. “A exposição dessas obras, que estão disponíveis para comercialização durante a exposição, parte de uma seleção muito cuidadosa, que contemplou mais de 50 trabalhos”, explica. A curadoria da exposição é assinada pelo artista plástico Edilson Viriato, com quem Denise Abujamra iniciou seu aprofundamento na área artística, no ano de 2003.



Simultaneamente à exposição, aconteceu também o lançamento do catálogo ESCRITAS, com apresentação assinada pela também artista plástica Uiara Bartira. “Nem caligráfica ou gráfica, mas num idioma pessoal e único, desenha cada letra como caracteres visuais codificados um a um, num idioma que não quer ser compreendido nem desvelado, e sim surpreendido”, diz Uiara Bartira a respeito de ESCRITAS em sua apresentação.




ARTE QUE CONVERSA

Alguns dias antes da abertura da exposição “ESCRITAS” no Solar do Rosário, quem esteve no Largo da Ordem pôde conferir mais um expressivo trabalho da artista, presente na mostra coletiva “Arte 725”, no Memorial de Curitiba. A mostra coletiva no Memorial, encerrada em 16 de agosto, teve entre as peças em exposição a obra “Impunidade”, em que a artista plástica dá voz à indignação brasileira, e também universal, em relação às exacerbadas atitudes de corrupção e desrespeito à cidadania que hoje vêm à tona, em escala global.



Para realizar a obra, a artista levou a público algo que lhe é muito caro: o manequim Franc. “Famoso” personagem no meio artístico, foi adquirido em 1995 no Brás, em São Paulo, quando a artista fazia pesquisas de Doutorado em Psicologia na Bélgica – “compartilhando” posteriormente o espaço do ateliê de Denise Abujamra com vários artistas. “Ele participou nesses 20 anos de muita história. Levá-lo para o Memorial de Curitiba em uma exposição sobre um tema tão importante, tem para mim um sentido de entrega pessoal”, enfatiza Denise.



Em Impunidade, o manequim teve seus braços articulados retirados e perdeu também seu suporte. O manequim, pintado totalmente de amarelo foi instalado em frente a uma parede pintada de azul, com escritas no rodapé. A obra trouxe a palavra “impunidade” escrita em 32 idiomas. “Franc esteve lá como cada um de nós, exposto, sem braços, sem o suporte estável, amarelo, denunciando a impunidade. A ausência de braços espelha a impotência que sentimos diante da falta de seriedade que percebemos operar nas diversas instâncias de poder”, observa a artista plástica. “Franc não é um objeto inanimado. Para mim, ele pediu para sair do ateliê e manifestar sua indignação, é como se eu mesma, completamente despida de proteções ou máscaras, estivesse lá, expressando uma revolta que é universal. A impunidade está aqui no Brasil, nos corroendo, mas também está em toda parte. É uma denúncia global”, salienta.

Sobre a artista

No trabalho de Denise Abujamra o estudo da psique humana e a arte se relacionam de maneira intrínseca. Psicóloga por formação, dedicada exclusivamente às artes plásticas desde 2010, ela atuou na área de psicologia clínica durante quase 30 anos. Em 1983, aos 23 anos de idade, se mudou para São Paulo, onde iniciou a trajetória como psicóloga clínica. Após 20 anos, entre análise pessoal, cursos, mestrado e doutorado, optou por redefinir uma busca que era também pessoal. O caminho escolhido foi a arte. Hoje, vivendo em Curitiba, ela percebe esta como uma jornada natural, e inevitável. “Na nossa existência, caminhos se entrecruzam. Cada início é a continuidade do todo, mesmo que de forma diferente”.

Denise Abujamra em seu atelier, com obras da série Escritas (2015)
O primeiro contato com a arte foi durante o extinto curso de Decoração na Escola Técnica Federal do Paraná (hoje Universidade Tecnológica Federal do Paraná – UTFPR) em 1975, com os estudos, especialmente, da disciplina de História da Arte. O exercício clínico da psicologia deu vivência e alimento à vocação sensível e exploratória da artista, que em 2003 iniciou estudos em pintura no Centro de Arte Contemporânea Edilson Viriato. Em outubro de 2014 ingressou no Atelier de Pintura Uiara Bartira, no Solar do Rosário, onde dá continuidade ao seu desenvolvimento artístico até os dias atuais, em paralelo às atividades com Edilson Viriato.

Denise Abujamra já participou de cinco exposições individuais – “ESCRITAS” é a sexta. A primeira foi “Ciclo”, em 2008, na Casa João Turin, atualmente fechada para reformas, em Curitiba. Participou também de mostras coletivas no Brasil e na Europa. Encerrada a exposição “ESCRITAS” terá novamente suas obras expostas fora do país, em coletiva programada para setembro, na Espanha.

Fotos: Guilherme Pupo

Serviço:

Exposição Escritas – Denise Abujamra
Abertura: 23/8 – 11h às 14h
Em cartaz: 23/8 a 06/9
Horários: segunda à sexta-feira, 10h às 19h; sábados, 10h às 13h; domingos, 10h30 às 14h.
Local: Sala do Artista – Galeria de Arte Solar do Rosário
Endereço: Rua Duque de Caxias, 4, São Francisco, Curitiba (PR)
Telefone: (41) 3225-6232
E-mail: galeria@solardorosario.com.br
Site: www.solardorosario.com.br




Izabel Liviski é Professora e Fotógrafa. Doutoranda em Sociologia pela UFPR, escreve a coluna INCONTROS desde 2010 e é também co-editora da Revista ContemporArtes.


1 comentários:

Francisco Cezar de Luca Pucci disse...

A psicologia, conduzindo ao mais íntimo do ser, encontra-se não raras vezes com a arte, que é expressão simbólica desse íntimo.

26 de agosto de 2015 às 20:20

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