AQUILES, O DESTEMOR E O FIO DA NAVALHA...
A
coluna Espaço do Leitor, traz a importante contribuição de Yasmin
Tamara Jucksch*,
em uma reflexão ao mesmo tempo profunda e sensível da condição
humana em sua dualidade paradoxal.
...de
novo ainda outra, a quarta sobre a terra que muitos nutre,
Zeus
filho de Crono fez, mais justa e valorosa,
a
raça divina dos homens heróis, que são chamados
semideuses,
a geração anterior à nossa na terra imensurável.
(Hesíodoii)
A
qualidade do tempo dos semideuses narrada em Os Trabalhos e os
Dias revela, como no trecho citado acima, o lugar fantástico e
muito delicado do herói entre a proximidade e o afastamento entre a
sua humanidade e sua natureza divinal. Tanto no mito hesiódico das
cinco raças quanto na Ilíada, o tempo e a raça dos
semideuses têm como liame entre homem e divindade a justiça
e o valor ; todavia, enquanto o poema de Hesíodo mostra-se
mais lacônico em relação a estes dois vocábulos decisivos, a
Ilíada de Homero oferece-nos sobre eles um denso tratado,
cuja eloquência poética influenciou muitos dos maiores artistas e
pensadores da História. Nos versos de Homero encontramos um
riquíssimo retrato dessa raça dos semideuses, “mais justa e
valorosa” que a raça brônzea e, sem dúvida – como dirá
Hesíodo – que a desgraçada raça de ferro.
Ora, em ambos os
poemas percebe-se a referência poética a este inquebrantável elo
entre a ideia de valor máximo para o humano e os princípios
largamente divinizados da justiça e da sensatez, como também da
coragem, da gratidão e da lealdade, o que não é pouco. No mito
hesiódico, estas medidas éticas é que dão o tamanho e o valor de
uma raça, ao compor a métrica desse arco de graus que engolfa desde
o afastamento até a maior contiguidade entre homens e deuses. Tais
medidas aparecem magistralmente narradas por Hesíodo: as diferenças
entre as raças vão gradualmente se acentuando quanto maior o
afastamento desses sacratíssimos éthos, consagrados como os
mais celestes desde a raça de ouro dos homens “que como deuses
viviam”.
Os homens dessa raça áurea “voluntária e
tranquilamente repartiam os trabalhos, tendo bens abundantes”iii,
diz Hesíodo; note-se que é a justiça, com toda a sua sacralidade
ancestral, que está na raiz da excelência divina das raças
superiores. A justa e voluntária repartição (ideia que
remete também à questão da justa medida da têmpera) é, portanto,
da maior gravidade, e por isso mesmo aparece integralmente conectada
à noção de abundância . Essa precisa distribuição é
lembrada pelo próprio Aquiles quando diz a Agamêmnon que “(...)
não é justo partir de novo o repartido”iv.
Na
raça dos semideuses – meio deuses, meio humanos – a justiça
parece figurar, portanto, como a divina medida de maior valor
possível para o homem. Ainda no mito hesiódico, lê-se que na raça
de prata (que “já não se assemelhava à de ouro em corpo nem
pensamento”), o que sobejava era uma certa iniquidade, aflorada na
insensatez e na insolência, embora ela fosse, ainda assim,
“bem-aventurada”. Já à raça de bronze, que a sucede (com seus
homens vigorosos e de “coração de aço”) segue-se a raça de
Aquiles e de outros memoráveis heróis, mais justa e valorosa
que a anterior, diz o mito. Parte dos heróis dessa estirpe imemorial
foi ceifada pela morte em Troia, mas
(...)outros,
conferindo-lhes vida e moradia à parte dos humanos,
Zeus
pai, filho de Crono, estabeleceu-os nos limites da terra.
E
eles, o coração sem cuidados, habitam
as
ilhas dos bem-aventurados, junto ao Oceano
de
fundos redemoinhos,
afortunados
heróis, para quem um fruto doce como o mel,
que
floresce três vezes ao ano, a terra fecunda traz.
(HESÍODO,
Os
Trabalhos e os Dias,
v. 174)
Deleitados
com tal “fruto doce como o mel” (imagem fecunda que dá ensejo a
diversas possibilidades interpretativas), os heróis eleitos por Zeus
desfrutam a dita de um solo rico e sagrado sobre o qual se deliciam
com a bem-aventurança dos prazeres divinos. Mas o motivo pelo qual
esses heróis afortunados foram eleitos, se é que há algum, não
nos é revelado pelo poema. Poderia a diferença destes para os
outros, “levados pelo termo da morte”, estar expressa na
sagacidade e na agudez de uma têmpera superior e no reconhecimento
natural das divindades? De qualquer modo, na Ilíada, esta
mesma capacidade de reconhecer e escutar as figuras divinas,
largamente reputada a Aquiles, é o que dá a magnânima distinção
ao herói: é ele quem afirma tacitamente que “os deuses dão
escuta a quem se curva aos deuses”v.
Parece-nos
– e tal é a leitura que defendemos aqui – que a essa
possibilidade de reconhecimento do divino alinha-se a questão da
justiça e da injustiça, o que quer dizer que a medida justa seria,
ela mesma, a própria abertura para a participação do homem em
certas qualidades áureas, traduzidas nos mitos e nos poemas épicos
como uma plena “aproximação dos deuses”. Ora, o problema da
medida é de fato tanto o coração da história homérica quanto o
da vida humana: a injustiça que se paga com a injustiça, a
desmedida punida num círculo infinito com uma nova desmedida – ou
com medidas justas que criam sempre novas ocasiões de injustiças –
é igualmente o motor da Ilíada e o fado da humanidade.
E se o desacordo, a cegueira e a injustiça são características próprias ao humano e a justiça e a visão são qualidades eminentemente divinas – porque desde sempre atribuídas a Zeus –, é justamente a própria arte da medida que equivaleria, para qualquer homem, a uma espécie de “contato com os deuses”.
Note-se que no poema estas medidas e desmedidas da têmpera vicejam nas oposições entre crueldade e piedade, medo e coragem, carência e saciedade que afloram nos personagens, cada qual com a sua medida própria. Mas Aquiles, o mais valoroso dentre os melhores, parece caminhar no espaço exíguo do meiovi, isto é, parece encarnar essa mesma possibilidade de medida de que falávamos: ele nunca está predisposto à contenda, é solidário e cultor da amizade, mas na refrega com o inimigo é implacavelmente cruel – já que o enfrentamento corajoso que se traduz na violência e na morte bem executada é a medida ideal do guerreiro supremo.
Aquiles nada teme, mas se encolhe perante o desbragado rio-deus Escamandro, respeitoso. Ele é também o homem pleno de areté vii, o mais destemido e o maior guerreiro, e, no entanto, é uma dor no coração – a carência do amigoviii – que o impulsiona à ação bélica mais cantada da história. Mas o problema fulcral da medida também abrange outro aspecto (do qual não trataremos aqui), manifestado na presença constante na Ilíada do problema das relações entre o que chamamos modernamente de livre-arbítrio e destino, embora tal cisão conceitual seja estranha à tradição que engendrou os poemas homéricos.
Os caprichos e dissensões que se dão logo no início do poema (e que vão determinar todo o seu curso) aparecem ainda pouco ligados às vontades determinantes dos deuses, parecendo brotar muito mais das vísceras dos próprios personagens; por outro lado, o comportamento destas figuras genialmente cunhadas mostra-se, no decurso do poema, crescentemente ligado às vontades divinasix (veja-se, por exemplo, as diversas cenas de deusas excitando os corações para a guerra, Atená abrandando os impulsos vingativos de Aquiles e Íris incutindo o “dulçor de rever parentes, pátria, esposo” em Helena).
E se o desacordo, a cegueira e a injustiça são características próprias ao humano e a justiça e a visão são qualidades eminentemente divinas – porque desde sempre atribuídas a Zeus –, é justamente a própria arte da medida que equivaleria, para qualquer homem, a uma espécie de “contato com os deuses”.
Note-se que no poema estas medidas e desmedidas da têmpera vicejam nas oposições entre crueldade e piedade, medo e coragem, carência e saciedade que afloram nos personagens, cada qual com a sua medida própria. Mas Aquiles, o mais valoroso dentre os melhores, parece caminhar no espaço exíguo do meiovi, isto é, parece encarnar essa mesma possibilidade de medida de que falávamos: ele nunca está predisposto à contenda, é solidário e cultor da amizade, mas na refrega com o inimigo é implacavelmente cruel – já que o enfrentamento corajoso que se traduz na violência e na morte bem executada é a medida ideal do guerreiro supremo.
Aquiles nada teme, mas se encolhe perante o desbragado rio-deus Escamandro, respeitoso. Ele é também o homem pleno de areté vii, o mais destemido e o maior guerreiro, e, no entanto, é uma dor no coração – a carência do amigoviii – que o impulsiona à ação bélica mais cantada da história. Mas o problema fulcral da medida também abrange outro aspecto (do qual não trataremos aqui), manifestado na presença constante na Ilíada do problema das relações entre o que chamamos modernamente de livre-arbítrio e destino, embora tal cisão conceitual seja estranha à tradição que engendrou os poemas homéricos.
Os caprichos e dissensões que se dão logo no início do poema (e que vão determinar todo o seu curso) aparecem ainda pouco ligados às vontades determinantes dos deuses, parecendo brotar muito mais das vísceras dos próprios personagens; por outro lado, o comportamento destas figuras genialmente cunhadas mostra-se, no decurso do poema, crescentemente ligado às vontades divinasix (veja-se, por exemplo, as diversas cenas de deusas excitando os corações para a guerra, Atená abrandando os impulsos vingativos de Aquiles e Íris incutindo o “dulçor de rever parentes, pátria, esposo” em Helena).
Esta ambiguidade fundamental mostra-se também
no fato de que, por um lado, não há divindade que se assemelhe à
Moira, a deusa do destino de cujos alvitres as causas não se deixam
desvelar, enquanto que, por outro, não deixamos de entrever no meio
de tamanho domínio divino discursos e inclinações que surgem das
disposições singulares de cada homem ou mulher. Seja como for,
junto com a vontade e manipulação dos deuses, também estas medidas
peculiares do caráter e do temperamento de cada personagem tomam
parte nas intensas oposições que abundam na Ilíada entre
justiça e injustiça, coragem e temeridade, prudência e insensatez.
Medidas
e desmedidas
Logo
no Canto I salta aos olhos, nas cristalinas diferenças de caráter
entre Aquiles e Agamêmnon, a síntese literária dessas complexas
relações opositivas, uma vez que o conflito entre os dois heróis
parece ser um lócus privilegiado de abordagem do valor do
caráter humano. Mesmo com personalidades multifacetadas, os dois
guerreiros têm bem demarcada a diferença que traz consigo o
problema da medida da participação do humano no divino: predomina
em Agamêmnon a arrogância e o destempero, enquanto que no discurso
de Aquiles vigora a beleza e sensatez.
No
entanto, embora ambos os personagens tenham grande status entre os
seus, Agamêmnon é superior a Aquiles no âmbito secular da guerra:
ele é o chefe supremo da coalizão dos numerosos exércitos e
detentor do poder máximo, dentre todos os Aqueus, de convocar a
ágora e arbitrar sobre os desdobramentos da batalha, sendo, além de
tudo, da progênie do próprio Zeus. Por outro lado, Aquiles é o
melhor e mais hábil de todos os milhares de guerreiros que se
perfilam para a guerra, aquele a que todos os homens gostariam de se
assemelhar – o mais belo, másculo e veloz dentre os maiores, e
ainda, a um só tempo, rei dos Mirmidões e filho de uma deusa.
No
entanto,o traço comum entre ambos – a superioridade bélica que em
um caso é política e em outro é guerreira – contrasta com as
diferenças de têmpera que já sensivelmente se delineiam, logo no
Canto I, na cena que culmina no ataque de Agamêmnon a Aquiles:
...Caso
os aqueus um dom, magnânimos, me deem,
grato
a meu coração, por igual me compenso; caso não deem,
meu
prêmio eu pessoalmente o tomo:
O
quinhão que te coube, o de Odisseu, o de Ájax,
Termino
por levar, deixando o dono em cólera!
(HOMERO,
Ilíada, Canto I, v. 135-139)
Agamêmnon,
forçado a devolver Criseide ao pai, ameaça tomar uma das mulheres
dos demais guerreiros e acaba por apossar-se da amante do próprio
Aquiles, o que já prenuncia a sua gana insaciável: “ó ávido de
ganhos!”x
diz-lhe o Peleide. O próprio discurso de Tersites em resposta à
ameaça de Agamêmnon, embora sufocado na ágora,é também
sintomático:
Filho
de Atreu, de que reclamas, que te falta?
Tendas
repletas de bronze, repletas de escravas,
fina
flor, que os Aqueus te dão a primazia
da
escolha.
...Queres
outra cativa, para, a teu prazer,
apartá-la,
possuí-la? Não te cabe, chefe
dos
filhos dos Aqueus, cumulá-los de males!
(HOMERO,
Ilíada, Canto I, v. 225-234)
Aquiles
exalta ainda por duas vezes na Ilíada a danosa desmedida do
Átrida:
...
No tumulto da luta o legado mais duro
Compete
às minhas mãos; quando vem a partilha,
Teu
prêmio é bem maior; o meu, de pouco preço,
O
prezo e levo às naus, cansado da batalha.
(HOMERO,
Ilíada, Canto I, v. 165-168)
...Doze
pólis minhas naus tomaram,
E
onze apresei por terra em Ílion, férteis-plainos
A
todas despojei de esplêndidos tesouros,
Copiosos,
que a Agamêmnon como dom portava;
Permanecendo
atrás, junto das naus velozes,
Ele
os recolhia: muito para si, bem pouco
Para
a partilha.
(HOMERO,
Ilíada, Canto IX, v. 328-334)
Agamêmnon,
o retrato homérico do puro descomedimento, também não hesita em
desdenhar os méritos de Aquiles: “o valor que apregoas é favor
divino”xi,
diz-lhe. É emblemático, portanto, que seja ele quem provoca a
primeira ofensa à divindade, e que homens e animais pereçam pelas
ofensas ao sacerdote e ao próprio Apolo. Agamêmnon, diz Aquiles,
não guarda gratidão pela solidariedade entre os reisxii,
e por conta da grave ofensa causada a Aquiles– e da consequente
ausência do herói na guerra – os Aqueus enfraquecem na batalha e
morrem aos milhares. Tais excessos não deixam de ser repulsivos: é
“a contragosto”xiii
que Briseide é levada ao supremo, este que insiste na discórdiaxiv
e transborda arrogância: “A mim não me dá pena /Desdenho teu
rancor”xv,
diz a Aquiles).
De
outro lado, o retrato de Aquiles é o do herói injustiçado cujos
ímpetos violentos e sanguináriosxvi
mostram-se, por outro lado, intensamente afetivos – afetividade
que, ultrajada, torna-se a causa da ira (ménis) que mais
assustadoramente irrompe na Ilíada. O amor devotado a
Pátroclo ressalta o valor excelso da philía no peito do
herói, e o sofrimento pela desdita do amigo mantém-se na tensão
com a fúria violenta e o desejo de vingança da sua honra. Note-se a
força dramática da cena em que o guerreiro lamenta a morte de
Pátroclo: a dor “nuvem-escura”
...eclipsou
o herói. De ambas as mãos toma esfúmeas
cinzas
e as lança sobre a cabeça, encardindo
o
rosto belo; a túnica nectárea, tinta
de
fuligem, sujou-se; jaz no pó, estendido,
grande,
grande e espaçoso, arrancando os cabelos.
(HOMERO,
Ilíada, Canto XVIII, v. 135-139)
E
Aquiles não é somente o amigo devotado, mas também o filho saudoso
do pai morto: “(...)e uma ânsia de pranto surgiu/no herói, que
recordou o pai”xvii.
Também é ele quem protege Calcas quando este vacila ante a fúria
de Agamêmnonxviii,
e que é ferido no ânimo pelo sequestro de Briseide:
...só
das minhas retomou–
Cara
ao meu coração – a esposa, e a goza agora
Na
cama. Lutar contra os Tróicos, por quê: Por
Que
o Atreide trouxe aqui seu exército? Não
Foi
por Helena, lindos-cabelos? Atreides,
Eles,
apenas, amam entre os mortais? Não!
Todo
homem reto, merecedor do nome, ama
Sua
esposa e a ampara, como eu de coração,amo
A
minha, ainda que a tendo conquistado à lança.
(HOMERO,
Ilíada, Canto IX, v. 336 a 344)
Em
suma, Aquiles, capaz de grande fúria, é também o herói de grande
sensibilidade afetiva. Essa têmpera concorda com a sua precisa
medida: seu primeiro discurso já apresenta de cara a sua disposição
para a justiça, quando tenta incitar Agamêmnon à reparação da
ofensa à honra de Apolo. Além do mais, Aquiles recebe muitos
favores divinos, é o que vê e ouve a divindade (e disso os exemplos
são fartos), e o que se mantém na guerra por pura solidariedade aos
Átridas – além disso, ele reconhece e respeita o poder do chefe
supremo, mesmo sendo Agamêmnon muito frágil ante o “divino
homicida”.
A
justiça, a diplomacia e a afetividade de Aquiles contrastam, como se
vê, com a desmedida e o egoísmo de Agamêmnon, cujo ímpeto ainda
não foi freado no Canto I. No entanto, a oposição diametral entre
os dos dois personagens não anula a sua composição em nível mais
amplo, uma vez que o seu inimigo é comum e que, no plano maior do
poema, seu objetivo comum é a conquista de Troia. Nesta composição
essencialxix
o que transparece é o lugar de proximidade e afastamento que ambos
respectivamente ocupam em relação aos deuses, traduzido no tempero
da phronesis xx
e na qualidade da poíesisxxi
respectiva.
Estariam estas duas figuras emblemáticas ocupando, cada
uma em um degrau existencial próprio, um arco que indica a
aproximação possível entre o divino e o humano? Agamêmnon também
tem estirpe divina e possui a virtude da palavra e da liderança, ou
seja, é quase tão grande quanto o melhor dos melhores, mas a
qualidade do seu relacionamento com os deuses está muito aquém da
de Aquiles. Nesse âmbito o semideus plana mais acima de Agamêmnon,
em cuja arrogância e cegueira se manifesta uma exuberante vaidade.
Aquiles
precisa, então, restituir sua superioridade sobre o demasiadamente
humano Agamêmnon. De fato, no frigir dos ovos, o Átrida obriga-se a
admitir a sua inferioridade perante o semideus, suplicando o perdão
do guerreiro supremo e reconhecendo a dependência da força
aquílicaxxii
e a própria arrogância (“[...] mutuamente nos ferimos. Eu
comecei”xxiii).
A
desmedida que caracteriza a humanidade de Agamêmnon é dominada,
portanto, pelo poder magno de Aquiles –este que tem a prerrogativa
da participação no divino. Poderia essa imagem dar azo à idéia de
que ao divino cabe sempre o restabelecimento do domínio sobre esse
resquício de caos que pulsa na desmesura e no desacordo do homem? No
decurso da Ilíada, Aquiles acaba por fazer prevalecer sua
superioridade sobre Agamêmnon e Heitor, aqueles que mexeram com a
sua timéxxiv,
perfazendo a restituição do seu lugar próprio, o lugar sempre
altivo da superioridade divina do mais excelente dentre os melhores.
A
tarefa da restituição, portanto, não é para muitos: não é
acidental que as qualidades de Aquiles sejam únicas em meio às dos
incontáveis hoplitas. Ele é o bom strategós – sabe
esperar, jamais claudica e quando se levanta, é implacável; por
outro lado exibe, de forma surpreendente, um delicado refinamento no
caráter e no discursoxxv.
O
guerreiro entre a guerra, a morte e o destemor
A
glória do melhor dos guerreiros não se sustentaria sem um empenho
incansável, fluente, e nem se não estivesse sempre no encalço do
télosxxvi
da obra glorificada e finalmente perfeita – no sentido daquilo que
finalmente se perfaz. Essa glória é o ápice dos duros trabalhos da
guerra, isto é, uma saciedade que é necessariamente frutificada de
um labor: a guerra, nesse sentido, é tão boa quanto má, porque é
só mediante a batalha atroz que a honra e a glória coroam o herói.
E, de fato, observamos Aquiles entregando-se de bom grado ao seu destino, decidindo mover-se, nos domínios do tabuleiro homérico, no sentido da glória e para a morte. Fora a própria Tétis, divindade marinha e mãe de Aquiles, quem comunicara ao filho as suas duas únicas escolhas possíveis: a vida longa e pacata das ovelhas ou a brevidade da vida que cumpre e plenifica a obra que precisa se efetivar.
Ora, ao preferir justamente a luta à frouxidão de ânimo
e ao retorno a Ftia, Aquiles sabe que a aceitação pacífica da
própria humanidadexxvii
– a vida corrente e adormecida para a qual a guerra é um fardo a
ser refugado – só posterga a batalha. É neste exíguo ponto que o
guerreiro se distingue radicalmente do homem médio, cujo lugar comum
é sempre a fuga do elmo e da couraça, e não à toa, pois a guerra
é mesmo só para uns poucos; é muito doloroso o que se vê ali.
E, de fato, observamos Aquiles entregando-se de bom grado ao seu destino, decidindo mover-se, nos domínios do tabuleiro homérico, no sentido da glória e para a morte. Fora a própria Tétis, divindade marinha e mãe de Aquiles, quem comunicara ao filho as suas duas únicas escolhas possíveis: a vida longa e pacata das ovelhas ou a brevidade da vida que cumpre e plenifica a obra que precisa se efetivar.
As netas da Noite, filhas de Éris – Olvido, Dores, Massacres, Disputasxxviii – vicejam tanto no poema quanto em meio aos homens porque a guerra é sempre má, atroz, é o flagelo e o estrago-de-homensxxix, diz Homero; em contrapartida, Ájax fala da “alegria da guerra” e Paris lança-se à luta exultante, como também o fazem Diomedes e o próprio Aquiles. A guerra e a vida, sob esse aspecto, compartilham a ambiguidade da violência no sentido de que quanto maior o desafio, maior é o guerreiro que o enfrenta, e a melhor possibilidade nesse seu arco da strategía é a medida precisa do strategós que não precisa pensar para agir, como Aquiles com toda o seu frescor e velocidade sobre-humanos.
Da mesma forma, cabe ao bom guerreiro –
como também ao filósofo, dirá Sócrates mais tarde – um corajoso
convívio com a iminência da morte. Afinal, mesmo que os versos não
revelem diretamente, Homero não deixa que o leitor se esqueça de
que a brevidade da vida de Aquiles está pulsando a cada linha: sob
esse ângulo, o valor mais suntuoso do guerreiro parece estar, de
fato, na lembrança e no destemor da morte e do desconhecido – o
que parece se traduzir na maior destreza de todas.
Aquiles não é um
suicida (veja-se a sua brava resistência ao rio Xantoxxx),
mas também não hesita em enfrentar a morte inelutável; ao
contrário, ele a encara fresca e ardentemente ao invés de
decidir-se pela vida comum – na qual a desmedida preponderante é o
medo da guerra (como obra) e o esquecimento da morte, isto é, da
própria vida. Destarte, ao entregar-se à morte na guerra pela
restituição da honra e da justiça, Aquiles encarna a chance da
mobilidade para fora do lugar do erro e do desacordo tão próprios à
condição humana.
A elevada posição dos degraus que o herói ocupa nessa escala da humanidade exalta a própria relação de oposição com o lugar naturalmente medíocre do homem, e então medo, esquecimento, cegueira e desacordo contrastam magnificamente com as áureas qualidades dos bons: intrepidez, lembrança, visão e audição, traduzidas na indizível superioridade que os mantêm nos píncaros.
A elevada posição dos degraus que o herói ocupa nessa escala da humanidade exalta a própria relação de oposição com o lugar naturalmente medíocre do homem, e então medo, esquecimento, cegueira e desacordo contrastam magnificamente com as áureas qualidades dos bons: intrepidez, lembrança, visão e audição, traduzidas na indizível superioridade que os mantêm nos píncaros.
A
escolha pela morte certa e iminente, isto é, o destemor diante do
desconhecido imensurávelxxxi
é, ao que parece, a justa medida do mais hábil guerreiro e a maior
excelência de Aquiles. Ora, se é assim, o esquecimento da morte em
que recai o homem comum só pode ser, em contraste, reflexo do puro
medo daquilo que se desconhece completamente, medo que mantém os
homens entretecidos na ilusão de um pretenso saber e de uma pretensa
independência daquilo que misteriosamente os transcende – o que
parece ser concorde com Heráclito, que “(...) diz ser o cosmo,
para os acordados, uno e igual, enquanto dos que estão deitados,
cada qual se volta para seu cosmo particular”xxxii.
De
qualquer modo, no contexto da Ilíada o descomedimento dos
homens manifesta-se sempre como uma ofensa ao divino; o rapto de
Helena (isto é, a violação da sagrada lei da hospitalidade) e as
ameaças de Agamêmnon ao sacerdote de Apolo (a megalomania do rei
que pensa igualar-se aos deuses) são os exemplos mais pujantes.
Percebe-se, em contraste, a virtuosidade máxima da justiça, do
remédio, porque enquanto a desmedida que se manifesta como
injustiça faz o homem adormecer na ilusão de uma pretensa
independência dos deuses, a perícia na medida abre à participação
nos valores divinos.
No entanto, esse tomar parte – enquanto
possessão do homem pela divindade – nunca aparece como algo
facilmente realizável. Para a tradição de pensamento grega, a
participação nas augustas ordens divinais é natural e
testificável, mas apenas para certos sacerdotes, poetas, iniciados e
pitonisas – cujo papel não é secundário na tradição –
capazes de tomar parte em um delírio extraordinário e divino,
possuídos por palavras e sentimentos indescritíveis que não
poderiam brotar da sua humana idiotiaxxxiii.
O próprio Homero exibe claramente a sua parte ao suplicar às
Musas: dizei através de mim, porque eu próprio não poderia
dizerxxxiv.
E Aquiles, enquanto guerreiro cuja excelência não está apenas na
destreza, mas na justiça e na superioridade do temperamento, também
contrasta (tanto quanto os aedos e pítias) com o homem radicalmente
alijado da divindade, este que em nada se assemelha à raça cuja
humanidade era banhada a ouro e que se mantém,
desgraçadamente, apartado da chance do delírio e da possessão.
Afinal, a crer em Hesíodo, a característica primordial da raça de
ferro é um radical exílio do divino, isto é, uma estadia perene do
homem na idiotia e na errância tão intrínsecas ao humano.
Ora,
se o bom para os viventes é o que lhes dá capacidade de
realização máxima, não é a vida corrente e comum que
proporcionará essa realização: a obra é mais importante do que o
apego à vida, e Aquiles efetiva essa justa avaliação ao entregar a
vida para a obra. E embora a hýbris, a desmedida de
Aquiles no que se refere à violência leve-nos a considerá-lo uma
verdadeira besta, seu princípio (i.e., a sua arché) é
sempre a medidaxxxv
ou a justiça (a ira de Aquiles é a mesma de Apolo, ambos sedentos
pelo triunfo sobre o feito injusto), e é por ela que ele oferece a
sua vida e a sua morte.
O caráter intensamente trágico da Ilíada manifesta-se, por conseguinte, no fato de que a morte está no pescoço do semideus como uma segunda pele e o seu maior valor, não obstante, é um autêntico e destemor diante do desconhecido – o que parece ser de fato a aguda ponta da flecha iliádica: o caminho ideal do herói é sempre um fio de navalha especialmente cortantexxxvi entre a coragem e o que não se espera nem imagina.
O caráter intensamente trágico da Ilíada manifesta-se, por conseguinte, no fato de que a morte está no pescoço do semideus como uma segunda pele e o seu maior valor, não obstante, é um autêntico e destemor diante do desconhecido – o que parece ser de fato a aguda ponta da flecha iliádica: o caminho ideal do herói é sempre um fio de navalha especialmente cortantexxxvi entre a coragem e o que não se espera nem imagina.
Se a honra e a
excelência modelar do homem-medida são a glória épica do que fica
dito e é digno de ser redito, o que parece nunca ser esquecido no
poema é a trágica ideia de que o que se compõe com a vida,
o tempo todo, é a mortexxxvii,
e que a questão da medida da relação direta entre o caráter justo
ou injusto da intenção humana e a proximidade ou afastamento
daquilo que é tido como divino, áureo ou modelar manifesta-se não
apenas como fio condutor da poesia homérica e hesiódica, mas
principalmente como problema humano par excellence.
***
i Revisado
por André Luiz Braga da Silva.
ii HESÍODO.
Os
Trabalhos e os Dias,
v. 156-160. Tradução: Alessandro Rolim de Moura Curitiba: Segesta,
2012.
iii Ibidem,
118-119.
iv HOMERO.
Ilíada,
Canto I, v.126. Aquiles manifesta seu desagrado quando Agamêmnon
anuncia que pretende tomar uma das mulheres dos guerreiros
(conquistadas como espólio de guerra) para compensar a perda de
Criseide.
v HOMERO.
Ilíada,
Canto I. V.218.
AIlíada
revela uma forte característica da cultura grega:os deuses
confundem-se fortemente com a natureza. De cara, salta aos olhos o
intenso protagonismo poético da natureza, que, incrivelmente,
transpira discursos justamente ao vira ser o que é; note-se no
poema as similitudes que aproximam (com grande riqueza literária) o
humano e o natural. O seu caráter mágico manifesta-se com tal
pujança que o encontro entre essa ideia de natureza divina e o
nosso moderno espírito, tão instrumentalizador e utilitário, é
sem dúvida chocante. A natureza não é plano de fundo, mas porta
discursos que não se distinguem da própria carne divinal, já que
ela não existe à parte, como objeto, mas sim na vivacidade do todo
.
vi Não
queremos, com isso, deixar de lado a questão da hýbris
própria dos heróis que protagonizam as tragédias e poemas épicos
gregos, Aquiles inclusive. Nesse ponto, seguimos Leite (Cf. LEITE,
Isabela Fernandes Soares. Criação,
Hybris e Transgressão na Mitologia Heróica.
Anais do XVIII Congresso da AJB. Curitiba-PR, 2010), que entende que
a hýbris
é a transgressão que resulta da canalização de forças divinas e
que possibilita a renovação e a criação. Buscamos aqui
afastar-nos de uma leitura maniqueísta (Cf. nota 18) que retire a
desmedida do caráter de Aquiles, apenas propondo, ao contrário,
que há diferenças qualitativas entre a hýbris
de Aquiles e de Agamêmnon. Defendemos (embora não haja espaço
para tal defesa) que a desmedida como consequência da restituição
da justiça, em oposição à desmedida enquanto resultado do desejo
pelo prazer individual, deixa de ser um descomedimento (enquanto
resultado de uma afetação ou impudência) para se tornar a própria
medida legítima e imprescindível à reparação da injustiça pelo
herói. Quanto a isso seguimos Junito Brandão, em relação a
Hesíodo: “Lendo-se com atenção o que diz Hesíodo acerca dos
heróis, nota-se logo que os mesmos formam dois escalões: os que,
como os homens da idade de bronze, se deixaram embriagar pela
hýbris,
pela
violência e pelo desprezo pelos deuses e os que, como guerreiros
justos, reconhecendo seus limites, aceitaram submeter-se à ordem
superior da díke
(justiça)”
(BRANDÃO, J. Mitologia Grega. Petrópolis: Vozes, 1991, p. 176.
Vol. I). Cf. também a tragédia de Ésquilo, Os
Sete contra Tebas.
vii A
areté
é
a “virtude” no sentido propriamente grego de excelência
e de perfeição ou cumprimento do propósito a que algo ou alguém
se destina.
viii Falta
que também se manifesta, em menor medida, mas de forma igualmente
fundamental para a poíesis
aquílica,
na distância da amante e na saudade do pai.
ix Em
Homero, como na cultura grega de modo geral, o divino não é só o
que se traduz para o homem como o agradável; contenda, batalha e
disputa são deusas (o que é surpreendente para o pensamento
judaico-cristão). Deuses que pregam peças nos homens e que se
fantasiam à vontade das formas mais inusitadas e fantásticas
parecem carrear consigo a ideia de que todo acontecimento é divino,
não no sentido de
uma
sempre longínqua e perene providência, mas de que as divindades
literalmente aparecem nos acontecimentos e estão também à mercê
do temperamento, na palavra e na ação. Cf. frase atribuída a
Tales, “tudo está cheio de deuses”. (ARISTÓTELES, De
Anima,
A 5, 41 1a7-8).
x Ibidem.
Canto I. v.149.
xi Ibidem.
Canto I. v.178.
xii Ibidem,
Canto
I, v152-153 e158-160: “Até aqui não vim guerrear os Troianos /
Lanceiros excelentes. Não me queixo deles (...) /Sem–Pudor,
olho-de-cão, viemos / Seguir, satisfazer, salvar a honra em Troia,
/E a Menelau. Não cuidas disso, não te ocorre”.
xiii Ibidem,
Canto
I, v. 347-348: “E os dois, de volta, junto /às naves – e a
mulher a contragosto – vão”.
xiv Ibidem,
Canto I, 319-325: “Agamêmnon insiste na discórdia e
chama/Euríbates, Taltíbio, e a ambos, seus arautos,/Prestimosos
acólitos, ordena: “Ide/À tenda do Peleio Aquiles; pela mão/Tomai
Briseida, belo rosto. Se por bem/Não lhes for dada, eu próprio a
tomarei, eu com/Meus homens: isso vai-lhe dar mais calafrios!”
xv HOMERO.
Ilíada,
Canto I, v. 181.
xvi Homero
assim descreve a ingenuidade de Alastóride Trós,que suplica pra
que Aquiles o poupe da morte:/“(...)Tonto!
Não sabia /Que o herói não/lhe daria ouvidos; não era homem/De
coração-de-açúcar, compassivo de ânimo,/Mas tomado de fúria.
Abraçava-lhe os joelhos,/Súplice. Mas Aquiles, no fígado,
enterra-lhe/A
espada e o extirpa; sangue negro o peito inunda-lhe(...).” (Canto
XX, v. 466-472).
xvii Ibidem.
Canto XXIV, v.507-508.
xviii Ibidem,Canto
I, v.80-84: “Furioso contra um fraco um rei se excede em força:/Se
no momento engole a cólera e a cozinha,/Perdura-lhe o rancor, até
que se sacie,/Concentrado no peito. Diz que me proteges”.
xix Note-se
como Agamêmnon e Aquiles são tipos que transitam, embora em níveis
diferentes, pelo jogo de oposições que definem suas personalidades
caleidoscópicas; qualquer interpretação pretensamente maniqueísta
dessas figuras seria rasa e improfícua, assim como o seria no
tratamento da relação entre pureza e impureza no contexto
mitológico grego. Para isso, Cf. VERNANT, J.P. 1999. Mito
e Sociedade na Grécia Arcaica.
Rio de Janeiro, José Olympio, P 110: “Há, ao lado do sagrado
essencialmente puro, um sagrado radicalmente impuro. Aliás, não há
deuses do sagrado puro, e outros do sagrado impuro. Os mesmos
deuses, segundo as circunstâncias e os lugares, reinam sobre as
máculas ou sobre as impurezas (...). É o mesmo Apolo quem cura e
quem causa a doença, quem purifica e que macula. Esse duplo aspecto
(...) traduz a presença, no divino, de duas qualidades opostas,
experimentadas como complementares”.
xx “Sensatez”,
“prudência”, “compreensão”.
xxi Poíesis
é
o substantivo que denota a ação relativa ao verbo poieîn.
Portanto,
ao passo que poieîn
significa
“fazer”, “executar”, “produzir”, poíesis
significa
“execução”, “produção”, e, num sentido mais específico,
“produção literária” ou “poesia”.
xxii Ibidem,
Canto II. 379-380: “(...)se “[...] nos unirmos, Troia nem por um
átimo terá descanso.”
xxiii HOMERO.
Ilíada,
Canto II. V.378-379.
xxiv “Honra”,
“valor”, “dignidade”.
xxv Disso,
aliás, a guerra na Iliada
é plena: sobeja o contraste extraordinário entre os requintes de
crueldade e de cavalheirismo; diálogos respeitosíssimos se dão
entre adversários prestes a matarem-se e discursos incríveis,
cheios de genealogias valiosas, são pronunciados no entretempo de
um ataque e outro. De fato, tamanha reverência à honra é de
saltar aos olhos. O espelhamento homérico e a questão da medida aí
se refletem todo o tempo, uma vez que o respeito ao valor da honra
do opositor é vertebral tanto na ágora humana quanto na divina.
xxvi No
sentido mais amplo do que leva “(...)à plenitude. (...) Com muita
frequência, traduz-se télos
por “fim”, entendido como meta, e também por “finalidade”,
entendida como propósito, interpretando-se mal essa palavra grega”.
InHEIDEGGER, Martin. A Questão da Técnica. In:
Ensaios
e Conferências.Petrópolis:
Vozes, 2002, p.14.
xxvii Veja-se,
sobre isso, o Fr. DK 29 de Heráclito: “Uma só coisa dentre todas
as outras escolhem os melhores, a glória eterna dos mortais; a
massa está empanzinada como os animais”.
xxviii Cf.
HESIODO, Teogonia.
Trad. J.A.A. Torrano (com modificações). São
Paulo: Iluminuras, 1995.
xxix HOMERO.
Ilíada.
Canto XIV, v.43.
xxx O
rio Escamandro (o seu epíteto Xanto significa “louro,
avermelhado”) é mais importante deus-rio de Troia. Farto pelo
excesso de cadáveres mortos por Aquiles, quis lutar com o herói,
ameaçando afogá-lo.
xxxi Veja-se,
a título de exemplo, o discurso de Idomeneu: “Furta-cor, o
vil/Muda sempre de cor; trêmulo, o coração/O infirma e faz dobrar
o joelho; ora num pé,/ora noutro recai; palpita forte o peito,/Ao
pressentir a Moira (...)” (Canto XIII, v. 278).
xxxii Conforme
fragmento DK 89 de Heráclito, in
COSTA,
Alexandre. Heráclito:Fragmentos
Contextualizados.
RJ: Difel, 2002, p.137.
xxxiii A
palavra “idiotia” é aqui utilizada no sentido estrito do termo
grego ídios
(“individual”, “privado”).
xxxiv E
também em Hesíodo:
“Musas um dia a Hesíodo ensinaram belo canto quando pastoreava
ovelhas ao pé do Hélicon divino.(Cf. TORRANO, J. A. A.O conceito
de Mito em Homero e Hesíodo. In: Boletim
do Centro de Pensamento Antigo – Revista de Estudos Filosóficos e
Históricos da Antiguidade, no.
4 [1997], p. 29).
xxxv Cf.
nota n. 5.
xxxvi Cf.
HOMERO. Ilíada,
Canto
XXIV, v. 525-526:“Assim os deuses urdem o fadário dos infaustos
mortais: um viver agoniado (...)”.
xxxvii Em
muitos momentos encontramos o princípio de ambiguidade (tão caro a
essa tradição poética e trágica) traduzido nas formas literárias
de Homero; sem dúvida, a mais eloquente dessas imagens é a da
ambiguidade do lugar ocupado pelo herói homérico, nesta sua medida
muito equilibrada de proximidade e de afastamento de ambos os
domínios, já que ele é a um só tempo semideus e semi-homem.
Obs.: As imagens aqui postadas, são
representações da obra Ilíada feita por artistas clássicos, e foram retiradas da
internet para ilustração, sem finalidade comercial.
***
*Yasmin Tamara Jucksch possui bacharelado e licenciatura pela Universidade Federal do Paraná desde 2012, e é mestranda na área de Filosofia Antiga na Universidade Federal Fluminense. Atualmente é professora de Filosofia pela Secretaria de Estado de Educação do Paraná.
*Yasmin Tamara Jucksch possui bacharelado e licenciatura pela Universidade Federal do Paraná desde 2012, e é mestranda na área de Filosofia Antiga na Universidade Federal Fluminense. Atualmente é professora de Filosofia pela Secretaria de Estado de Educação do Paraná.
1 comentários:
Comentar um trabalho dessa profundidade e rigor em poucas palavras seria cometer uma injustiça imperdoável pelos deuses. Limito-me a parabenizar a autora e a ensejar que outros trabalhos sigam-se a esse. Afinal, como já afirmou Campbell, o mito é mais verdadeiro que a História.
30 de novembro de 2015 às 12:47Postar um comentário
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