Educação de Jovens e Adultos: Pupo 2015
Ano passado comecei a lecionar Sociologia para o supletivo (EJA) no período noturno na Escola Estadual Prof. Ariovaldo Pupo Amorim. Quando entrei tinham dois 3º anos, um 2º e um 1º do Ensino Médio. Infelizmente, a evasão é enorme e também a baixa procura se levanta como um problema para a sua continuidade. Então, sabíamos que tendência era a de, gradativamente, fechar o período noturno.
No primeiro semestre deste ano, apesar de ter chegado uma listagem de possíveis ingressantes, foi realizada uma análise de perfil por perfil para ver se compensava de fato abrir uma nova turma e resultado... não abriu! Sem turma ingressante em 2015.
E o que aconteceu? O período noturno nesta escola, ficou apenas com duas salas, o 2º e o 3º ano. Além das aulas de Sociologia, assumi também as de Filosofia. Lógico que há dificuldades de trabalhar teorias com algumas pessoas que interromperam os estudos há muitos anos... Contudo, o desafio de trabalhar com estas pessoas mais velhas, cheias de vontade de estudar e com várias experiência para somar foi enriquecedor. Hoje vejo que o ensino-aprendizagem foi validado pelo resultado dos trabalhos que tenho corrigido...
Apesar de saber o quanto é difícil trabalhar e estudar, somado aos rasos privilégios de transporte e de educação superior público nas periferias do subúrbio paulista, incitei discentes a seguir nos estudos e além da teoria, este bimestre decidi partir para a prática.
Em filosofia, realizamos um projeto de iniciação científica, orientei-os dos passos a passos e das normas para elaboração.
Em sociologia, elaboramos um projeto de Etnografia na Escola realizado em grupo. Algumas pessoas me surpreenderam com a seriedade e dedicação na sua elaboração.
Em filosofia, realizamos um projeto de iniciação científica, orientei-os dos passos a passos e das normas para elaboração.
Em sociologia, elaboramos um projeto de Etnografia na Escola realizado em grupo. Algumas pessoas me surpreenderam com a seriedade e dedicação na sua elaboração.
A aceitação dos transgêneros nas escolas
Esta pesquisa foi motivada com a ideia de saber a opinião sobre a questão do terceiro banheiro em escolas e locais públicos voltados pessoas trans e, também, a respeito da homoafetividade. Fiquei muito contente com a pertinência do assunto que é pouco tratado nas escolas e mais interessada ainda com a apresentação onde apenas os homens héteros que se apresentaram! Foi colocado o quanto deve ser respeitado este grupo minoritário, algumas pessoas evangélicas e tradicionais na sala de aula levantaram um importante debate, o qual fiz a mediação com apoio deste grupo de educandos. No fim, pelo que percebi todas pessoas na sala de aula ficaram reflexiva e entenderam o que seria identidade de gênero, bigênero, transgênero e, sobretudo, que a intolerância é um grande problema e é um direito da pessoa ser aceita na sociedade, assim como qualquer outra.
Uma das educandas escreveu na prova que a experiência de fazer esta pesquisa foi boa, por ter mostrado à ela que a população brasileira não é mais tão preconceituosa como antes.
Uma das educandas escreveu na prova que a experiência de fazer esta pesquisa foi boa, por ter mostrado à ela que a população brasileira não é mais tão preconceituosa como antes.
O preconceito com os nordestinos
O tema foi pesquisado na escola, mas houve um esforço de algumas pessoas nordestinas de trazer a questão da xenofobia para discussão na apresentação. Levantando a polêmica que é um absurdo achar que alguém seja melhor que o outro, apesar das culturas e costumes, algumas vezes, serem diferentes. Os nordestinos são seres humanos e não deveria haver tanta violência no mundo, porém enfatizaram que no capitalismo a discriminação acontece em todos os lugares.
Forró: Dança popular de origem nordestina
A partir das entrevistas as pesquisadoras perceberam diferentes tradições culturais. Também foi relatado a questão da influência da religião para moldar opiniões e gostos musicais. Por fim, a discente fez uma demonstração da dança no pátio para toda a escola.
Culinária brasileira
O grupo realizou a entrevista na escola com pessoas de diferentes Estados: Bahia, São Paulo, Minas Gerais e Piauí. O resultado foi que a culinária no país é muito ampla, com qualidade e aroma superior. Notaram que em cada Estado os cardápios são feitos seguindo a tradição familiar e que existem alimentos originários da região.
Semana passada recebi esta carta da educanda Rita:
Foi enriquecedor para a minha profissão trabalhar com esta turma e é muito gratificante ler os trabalhos, as provas e ver o resultado das aulas. Valeu!
Parabéns à maioria... torço muito por vocês!
Foto: Letícia G. Camillo. |
Soraia Oliveira Costa, mestre em História da Ciência pela UFABC e graduada em Ciênciais Sociais pelo Centro Universitário Fundação Santo André (CUFSA). Professora de Sociologia na Educação Básica e na Educação de Jovens e Adultos no Estado de São Paulo. Trabalha também com audiovisual desde meados de 2007. Produtora do documentário "Transformação sensível, neblina sobre trilhos", que trata da história vila de Paranapiacaba, feito com incentivo do MEC/SESu, UFABC e FSA. Nas horas vagas estuda música, toca acordeon e joga futebol.
3 comentários:
Parabéns Soraia, seu trabalho é admirável e demonstra que o professor, independente da realidade em que atua, se tiver vontade e competência, consegue realizar um bom trabalho! Parabéns também aos alunos e alunas que aceitaram embarcar nesta grande aventura pedagógica!
2 de dezembro de 2015 às 12:30Parabéns Pro você é 10 !
2 de dezembro de 2015 às 21:51Vamos sentir saudades ❤️❤️
Beijos Nayara Moura
Grata pelas palavras de incentivo, Simone!
10 de dezembro de 2015 às 11:09Nayara, vocês também farão falta. Espero que as aulas tenham contribuído com o desenvolvimento crítico de vocês!!
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