quarta-feira, 28 de setembro de 2016

Berlim do avesso





O que será essa caixa? Vou descobrir...
      Hoje, dando uma volta no quarteirão na minha meia hora de almoço, vi uma das "caixas" que existem nas ruas daqui e que, às vezes, são espaço para lindos trabalhos artísticos. A de hoje tinha um super homem. Não tinha máquina e nem celular para fotografar... faço depois e vou descobrir o que são e para que servem essas "caixas" na calçada. Achei essa por aqui, no seu "estado natural".  A linha amarela é uma intervenção também, marca o espaço preferido do berlinense para mijar...



      Bom, e o super homem me causou uma enxurrada de associações até voltar ao Brasil e a situação a atual do país. Digo "voltar", porque é um pensamento constante.  Será que associação rolou quando lembrei da música de Gilberto Gil?

      E pensando no Brasil e pensando no Brasil e no que tá acontecendo, juntando com o que escrevi aqui na vez passada e ainda mais uma reportagem sobre o péssimo estado da "casa da Merkel"(Bundeskanzleramt), que já está quase caindo aos pedaços depois de apenas 15 anos de construção. Me vem a convicção  de que a doutrina política econômica coroada e posta em prática pela "Dama de Ferro" inglesa e do "Ator" americano no idos dos 80  está fazendo a Alemanha chegar mais próximo do Brasil do que o contrário.

      Na reportagem sobre  os alemães se colocam espantados, o título é "desaprendemos a construir?", e não se perguntam o que acontece. Logo dou uma risadinha e automáticamente mato a charada: "super faturamento de material de terceira...", "é com obra que se ganha muita grana..." No final do artigo há uma sutil constatação do que conhecemos muito bem.

Os Gêmeos em Berlim
      E não fica por aí a aproximação, a tesoura está se abrindo cada vez mais, e os jornais escrevem reportagens de que agora, quem nasce pobre está condenado a continuar pobre e quem nasce  rico está condenado a ficar cada vez mais rico. As filas crescem no postos de distribuição e comida - organizados por entidades beneficentes. Vejo velhinhos e não velhinhos recolhendo garrafas para pegar a grana do casco, muito mais gente pedindo no metro, e não são estrangeiros.

Caramba, há séculos e séculos o homem é o lobo do homem, e isso não muda!

É claro, a comparação entre os países é quase injusta, o que rola no Brasil já foi nomeado por especialistas como o  "capitalismo selvagem de fato".  Uma grande diferença é a escravidão, que marca até hoje as estruturas morais da nossa sociedade. Não nos causa estranhamento e não identificamos o comportamento escravocrata de ambos os lados na relação patrão e empregado, independente até do problema da cor da pele. Também não nos incomoda tanto ver gente morando na rua ou vivendo como bichos. Ver gente pobre ser espancado e mal tratado também não... Por que será?

Por que será que hoje, quando um Governo anuncia que vai jogar milhões de pessoas na miséria, sem educação, sem saúde, sem perspectiva, não são todos que vão para as ruas dizer não a tamanha barbárie? Por que será que um político não hesita em afirmar, na frente de uma câmara, que quem não tem dinheiro não estuda e ponto final e tá bom assim.
Por que será?


A reportagem sobre a casa da Merkel
http://www.sueddeutsche.de/kultur/architektur-deutschland-hat-das-bauen-verlernt-1.3198692

fotos:
http://www.berlin-du-bist-wunderbar.de/2015/05/street-art-in-berlin-35.html?m=0
http://just.blogsport.de/2010/07/27/berlin-tourism/


Ana Valéria mora em Berlim e observa a cidade há quase duas décadas, estudou história e trabalha como tradutora.

1 comentários:

Anônimo disse...

Infelizmente essa é a realidade de todas as grandes cidades, panorama do efeito do neoliberalismo mundial. Adoro seus textos, parabéns mais uma vez! abraço. Bel

28 de setembro de 2016 às 08:49

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