A VISIBILIDADE DOS INVISÍVEIS: A PRESENÇA NEGRA EM CURITIBA
Nesta edição,
trazemos a interessante proposta do prof. Rodrigo Vasconcelos Machado
da Universidade Federal do Paraná, que ofereceu neste ano uma
matéria optativa para o curso de Design, chamada
Afro-FotoBiografias. Ao final do curso os estudantes apresentaram os resultados de suas pequisas que consistiram na realização de entrevistas e fotos de um tema, em uma exposição na Sala de Arte e Design. Com a
palavra o professor Rodrigo:
"A Lei 10.639/03, alterada pela Lei 11.645/08, torna obrigatório o ensino da história e cultura afro-brasileira e africana em todas as escolas, públicas e particulares, do ensino fundamental até o ensino médio. Além disso, com a Lei 10.639/03, também foi instituído o dia Nacional da Consciência Negra (20 de novembro), em homenagem ao dia da morte do líder quilombola negro Zumbi dos Palmares.
Tendo em vista as implicações das leis aprovadas antes e para o combate permanente ao racismo, cabe propor a reflexão crítica permanente sobre a presença dos afrodescendentes em Curitiba e suscitar no presente momento o seu debate.
"Trans-Luzir" de Júlia Mello. |
Uma possibilidade válida é trabalhar com a representação imagética a partir de histórias que ficam fora do circuito oficial, isto é, relatos de pessoas que ficam restritos aos seus locais de enunciação, bem como imagens que revelam a sua alteridade e instauram a sua presença na sociedade.
A partir desse ponto, podemos aproximar as construções imagéticas como um elemento essencial na elaboração das biografias, pois a fotografia também tem o seu componente de ficção que começa no real e pode ir muito além dele.
"Por trás da maquiagem para mulheres negras", de Amanda Kanasiro. |
Tanto que os instantâneos também têm o seu grau de artificialidade gerado pelas exigências do aparato fotográfico. Além disso, a finalidade do uso da fotografia também descortinaria suas possíveis implicações na composição de arquivos.
Os arquivos elaborados na disciplina afro-fotobiografias buscam sugerir novas possibilidades de representação dos afrodescendentes e tornar públicas as suas histórias e imagens. Cabe ao público vedor julgar por si mesmo e re-elaborar no seu imaginário outra visão do negro na sociedade".
Os temas da exposição foram muito bem elaborados pelos estudantes, que iam de maquiagem para mulheres negras, passando pela biografia da única bailarina negra do Ballet Teatro Guaíra, a um personagem transgênero, também negro, entre outros. A seguir, destacamos um dos projetos que fez parte da exposição, "Le Fond" realizada pelo estudante Teddy Tchogninou, e a descrição feita por ele mesmo, de como idealizou e realizou seu projeto.
Introdução:
Métodos e Procedimentos
A segunda parte que intitulei como “fundo” se resume ao conteúdo, ao conjunto de informações verdadeiras a respeito de pessoas específicas, nesse caso negras. Portanto, o “fundo” pode ser considerado o interior das pessoas e o peso que elas carregam dentro de si ou seja, sua verdadeira profissão etc. que não tem nenhuma relação com o que foi julgado pelo observador na primeira parte da exposição. Esta fase teve como objetivo fazer com que as pessoas tomassem consciência de algo que não percebiam anteriormente, de pensar o quanto elas já criaram estereótipos a respeito de pessoas negras, e servindo de alerta para julgamentos futuros.
Teddy Tchogninou como é conhecido, é estudante do convênio PEC-G Brasil/Benin. Nascido em Cotonou, a maior cidade do pequeno país da África chamado Benin, entrou cedo na escola de artes e música alemã de seu país e começou a envolver-se em projetos de arte e de design. Ao terminar o ensino médio entrou no curso de Geografia na Universidade pública de Abomey-Calavi no Benin, e depois de um tempo preparou suas malas e começou a viajar, deixando o curso. Na busca do lugar perfeito para poder relacionar os estudos com o contexto de um país, seu destino final acabou sendo o Brasil. Por meio de um convênio foi mandado ao Paraná, onde inicialmente cursou seu primeiro ano de Design na cidade de Londrina, e atualmente dá continuidade ao mesmo curso em Curitiba na UFPR, Universidade Federal do Paraná.
Para conhecer a versão virtual da Exposição "Le Fond", e o making of:
https://www.youtube.com/watch? v=Nm21mLpzK9E
"Meu nome é Nina/meu nome é Catarina" de Thati Ferreira. |
Os temas da exposição foram muito bem elaborados pelos estudantes, que iam de maquiagem para mulheres negras, passando pela biografia da única bailarina negra do Ballet Teatro Guaíra, a um personagem transgênero, também negro, entre outros. A seguir, destacamos um dos projetos que fez parte da exposição, "Le Fond" realizada pelo estudante Teddy Tchogninou, e a descrição feita por ele mesmo, de como idealizou e realizou seu projeto.
Introdução:
Este
projeto teve como objetivo trazer um olhar obviamente pessoal sobre o
negro Curitibano, ressaltar e apoiar uma imagem melhor para este,
exaltando sua visibilidade por meio da fotografia para uma
conceituação diferente a respeito da comunidade afro de Curitiba.
Entretanto
busquei nesse trabalho, apontar a questão de divisão não
equivocada de espaço entre indivíduos-negros e não-negros,
abordando a desconstrução da ideologia de supremacia e do
pensamento meritocrático. Assim, trazer para o olhar do observador um novo
pensamento pacifista, crítico e orientado para a resolução de
problemas de alteridade, tais como o preconceito, racismo, machismo,
fascismo, etc.
Métodos e Procedimentos
Penso
que para alcançar um máximo de observação, o método mais
adequado para um bom controle e uma boa divulgação da mensagem é a
exposição. Esta não se resume a exposição de um conjunto de
imagens para alimentar os olhos, ela serve também como um elemento
crítico, gerador de polêmicas, de desmistificação de ideologias,
que retrata a minha opinião a respeito de um objeto de pesquisa. A
ideia principal foi dividir a exposição em duas partes:
Yohanne, "Le Fond" |
Parte
1:
A primeira parte consistiu na disposição sobre um suporte do
conjunto de fotos de pessoas negras “que eu considero negras do meu
ponto de vista” que foram fotografadas de costas todos em um mesmo
ângulo. Essas fotos tinham um espaço na parte de baixo, como
referência a uma foto “Polaroid”, com a finalidade de que os
observadores da exposição, pudessem escrever seus sentimentos e
pensamentos a respeito de uma foto individual ou do conjunto de
fotos, sobre um papel “post it” e posteriormente colassem nas
fotos. Ou ainda que escrevessem uma profissão que eles imaginavam
que essa pessoa ocupava, ou ainda que escrevessem o grau de
escolaridade dessas pessoas.
Débora, "Le Fond" |
Parte2:
Na
segunda parte da exposição os observadores passaram a um outro setor
da sala, para tomar contato com as mesmas fotos que
eles viram de costas, agora com o intuito de descobrir os verdadeiros rostos
das pessoas que foram marcados por eles no início. Ao chegar nessa segunda etapa, foi gravado um
pequeno vídeo de 1 minuto e 30 segundos, com o consentimento do
observador para recolher a sua opinião sobre que tipo de
interferência as duas fases da exposição fizeram em sua forma de pensar.
Alan, "Le Fond" |
Como
parte do projeto, foi feito um “Making of” do processo de
desenvolvimento do mesmo. Também foi oportunizada a liberdade aos
participantes das fotos, para que eles pudessem experimentar e fossem
retratados segundo seus ângulos de visão fotográfica. Por fim foi
intentado, guardadas as devidas proporções, explorar globalmente
os ângulos de “Empoderamento” da fotografia ao longo do processo
para o desenvolvimento desse trabalho que considero inédito.
Isabel, "Le Fond" |
Resultados
e/ou produtos esperados
Em
função de que a exposição foi composta de duas partes, ela tinha
obviamente dois objetivos principais, em primeiro lugar
considerando-as “Figura e Fundo”, uma relação assim
considerada: A
primeira parte representa a “figura”, um elemento com qual temos
contato diariamente, e esse elemento é a imagem do negro
estereotipado, criado por indivíduos não negros, ou por
cada pessoa por meio de suas referências básicas.
Esse
elemento é a imagem construída “pelo outro” e a única coisa
com que as pessoas têm contato a respeito de alguém é o julgamento
que se atribui a uma pessoa, em particular negra, desconhecendo sua
história, suas dores e sofrimentos, ou sua situação social,
psicológica e moral. Entretanto essa fase teve como objetivo fazer
com que os observadores utilizassem sua função cognitiva a fim de
que começassem a pensar e observar melhor antes de marcar as fotos,
ou seja, de fazer seus julgamentos.
Sérgio, "Le Fond" |
A segunda parte que intitulei como “fundo” se resume ao conteúdo, ao conjunto de informações verdadeiras a respeito de pessoas específicas, nesse caso negras. Portanto, o “fundo” pode ser considerado o interior das pessoas e o peso que elas carregam dentro de si ou seja, sua verdadeira profissão etc. que não tem nenhuma relação com o que foi julgado pelo observador na primeira parte da exposição. Esta fase teve como objetivo fazer com que as pessoas tomassem consciência de algo que não percebiam anteriormente, de pensar o quanto elas já criaram estereótipos a respeito de pessoas negras, e servindo de alerta para julgamentos futuros.
O
impacto esperado por essa exposição foi o de direcionar os
observadores a uma autocrítica, para que estes pudessem se engajar
em um processo de questionamento interior e exterior a si mesmos e
influenciar outras pessoas a respeito de que os estereótipos podem
significar um “falso julgamento”.
O objetivo intentado foi o de que, depois de passar por essas duas fases da exposição o observador termine por ser de alguma forma influenciado por esse processo, levando-o a mudar sua forma de pensar ao tomar contato com um olhar novo e diferenciado, independentemente de seu posicionamento anterior a respeito dos fatos observados. Assim, esse projeto buscou inserir-se nas ações sociais do 'olhar' e do 'ver', desmistificando estereótipos e conceitos pré-estabelecidos.
Fernanda, "Le Fond" |
O objetivo intentado foi o de que, depois de passar por essas duas fases da exposição o observador termine por ser de alguma forma influenciado por esse processo, levando-o a mudar sua forma de pensar ao tomar contato com um olhar novo e diferenciado, independentemente de seu posicionamento anterior a respeito dos fatos observados. Assim, esse projeto buscou inserir-se nas ações sociais do 'olhar' e do 'ver', desmistificando estereótipos e conceitos pré-estabelecidos.
Teddy Tchogninou como é conhecido, é estudante do convênio PEC-G Brasil/Benin. Nascido em Cotonou, a maior cidade do pequeno país da África chamado Benin, entrou cedo na escola de artes e música alemã de seu país e começou a envolver-se em projetos de arte e de design. Ao terminar o ensino médio entrou no curso de Geografia na Universidade pública de Abomey-Calavi no Benin, e depois de um tempo preparou suas malas e começou a viajar, deixando o curso. Na busca do lugar perfeito para poder relacionar os estudos com o contexto de um país, seu destino final acabou sendo o Brasil. Por meio de um convênio foi mandado ao Paraná, onde inicialmente cursou seu primeiro ano de Design na cidade de Londrina, e atualmente dá continuidade ao mesmo curso em Curitiba na UFPR, Universidade Federal do Paraná.
Para conhecer a versão virtual da Exposição "Le Fond", e o making of:
https://www.youtube.com/watch?
6 comentários:
Uma iniciativa importante para o resgate de nossa História. Parabéns.
8 de dezembro de 2016 às 08:23Só tenho à agradecer a você Teddy,foi uma honra participar do seu trabalho, e ainda poder contribuir no processo de vizibilização da população negra da cidade de Curitiba- PR,um abraço irmão.
9 de dezembro de 2016 às 01:35Parabéns pelo trabalho! Precisamos de mais trabalhos nessa linha, que traz um olhar sobre o negro a partir do próprio negro. Penso que isso valoriza e empodera o nosso povo e ajuda a refletir sobre o racismo e combatê-lo.
9 de dezembro de 2016 às 11:07Parabéns aos autores pelo belíssimo trabalho realizado.
21 de dezembro de 2016 às 14:42Lindo trabalho, aqui está a necessidade de educar ou educação em direitos, direitos humanos e diversidade. Só com estes conteúdos as pessoas, talvez passarão a respeitar e aceitarem os outros ou outras como são, sem julgamento e pensamento sem base.
6 de agosto de 2024 às 13:49Gostei!
Meu muito obrigado pela oportunidade de ler
Mensagem ou comentário acima de Fernando Agostinho Dzeco. Obrigado
6 de agosto de 2024 às 13:50Postar um comentário
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