quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

Embora




Na coluna de hoje, um poema - sem introdução, sem prosa. No pilar que sustenta a abóbada imensa dessa quinta-feira, na divisão vertical das páginas manuscritas daquele caderno puído, nos soldados em formação profunda, na série de objetos em linha, na caixa acústica - altifalante, no sustentáculo, um poema de vértebras em crescimento, um verso e outro verso e outro verso - sempre as costas das coisas, porque - agora - vamos embora e toda partida é - por natureza - uma conjunção concessiva, uma concessão.

embora

um olho vê que salga
esse mar e tomba

porque agora
vamos embora

tudo se levanta
e canta o que gemia
e o que sofria ri

e a agonia
- se existia -
já não existe

porque agora
vamos embora

] pela janela - o mar [

vela queimando a lento
no arfar de um vento leve

e o cristo passa
breve um par de bondes
e o porto lá
e a baía de guanabara

porque agora
embora seja outra vida
é a hora
- e para sempre aqui

estamos indo

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