Embora
Na coluna de hoje, um poema - sem introdução, sem prosa. No pilar que sustenta a abóbada imensa dessa quinta-feira, na divisão vertical das páginas manuscritas daquele caderno puído, nos soldados em formação profunda, na série de objetos em linha, na caixa acústica - altifalante, no sustentáculo, um poema de vértebras em crescimento, um verso e outro verso e outro verso - sempre as costas das coisas, porque - agora - vamos embora e toda partida é - por natureza - uma conjunção concessiva, uma concessão.
embora
um olho vê que salga
esse mar e tomba
porque agora
vamos embora
tudo se levanta
e canta o que gemia
e o que sofria ri
e a agonia
- se existia -
já não existe
porque agora
vamos embora
] pela janela - o mar [
vela queimando a lento
no arfar de um vento leve
e o cristo passa
breve um par de bondes
e o porto lá
e a baía de guanabara
porque agora
embora seja outra vida
é a hora
- e para sempre aqui
estamos indo
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