O Devorador de Livros




Saudações, leitoras e leitores!

Aqui quem escreve é Vinícius "Elfo" Rennó, um dos coordenadores da Revista ContemporARTES. Venho comunicar que, infelizmente, Daniele Moreira está passando por um momento difícil e não poderá mais escrever para nós, por enquanto. Esperamos que ela volte a nos brindar com seus textos quando as atribulações de sua vida acalmarem. Mas por hora, permitam-me ocupar o seu lugar e apresentar algumas tentativas minhas de crítica literária e literatura comparada (se é que eu posso denominá-las assim).

Os escritos que apresentarei a partir de agora fazem parte de um antigo projeto pessoal, chamado Devorador de Livros. O qual explico nessa minha primeira postagem aqui na ContemporARTES:

Trata-se de um eu-lírico entusiasta do Manifesto Antropófago de 1928, uma resposta às questões colocadas pela Semana de Arte Moderna de 1922. A cada livro que deglute, transforma-se em outra pessoa e escreve coisas novas; comprovando para si que nunca se é o mesmo depois que se lê uma obra literária, qualquer que seja. Acredita que uma biblioteca pode muito bem ser equiparada a uma dispensa, onde as estantes e prateleiras podem estar repletas de guloseimas saborosas ou deter apenas o essencial a sobrevivência -- afinal, é certo dizer que alguns livros são de extrema importância para se sobreviver; seja do ponto de vista profissional seja do ponto de vista social, algumas leituras são indispensáveis.

Este eu-lírico está disposto a compartilhar (com quem queira saber) o que saboreia, sente e pensa a partir dos livros que devora. Indicando o que achar de mais gostoso e alertando aos incautos a respeito das possíveis frutas podres -- sim, por fome pode acabar lendo coisas insólitas e até mesmo venenosas, mas não há razão para alarde, pois o que não o mata o fortalece. Em suma, gosta de fornecer dicas de como apreciar todo tipo de alimento, desde iguarias-poéticas-finas até um salgado-de-padaria-literário.

É com este espírito bem humorado que, nas próximas postagens, farei a degustação de alguns livros que já li.
Espero que apreciem.


Vinícius "Elfo" Rennó é graduando em Letras pela UFV. Gosta de cozer bem o que escreve. Basicamente, trata-se de um leitor glutão, amante de cinema e viciado em música. Já trabalhou com layout, diagramação e revisão de texto de sites e jornais. Atualmente é membro do corpo editorial da Contemporâneos – Revista de Artes e Humanidades e, juntamente com a Prof. Dr. Ana Maria Dietrich, coordena a ContemporARTES – Revista de difusão cultural.
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Julho, férias. Boa pedida… Dr House , inteligente, dinâmico e surpreendente...


 



Você quer assistir algo diferente nessas férias? Já foi ao cinema, uma, duas, três vezes?  Já alugou um filme, dois, três?..., então ligue a TV no Universal Channel ou vá correndo ao shopping direto a uma livraria comprar uma das seis temporadas do Dr. House ou simplesmente House. Uma famosa série médica norte-americana, criada por David Shore e exibida originalmente nos Estados Unidos pela Fox desde 2004. O protagonista é o Doutor Gregory House, interpretado pelo ator inglês Hugh Laurie, um médico pouco convencional, brilhante e manco que lida com uma dor física constante, sendo esse o motivo pelo qual usa uma bengala, peça fundamental para compor seu visual irreverente e um tanto agressivo. Seu olhar é sempre profundo e desconfiado evidenciando sua grande habilidade e disposição em procurar sinais da doença em seus pacientes no óbvio ou no improvável.
Como Sherlock Holmes, House faz da medicina diagnóstica um jogo intrigante e instigante, reativado a cada  chegada de um novo paciente desenganado por outras equipes. Ele é um médico especialista em infectologia e nefrologia, mau humorado, cético e antissocial que faz do hospital universitário fictício, Princeton-Plainsboro Teaching Hospital, em Princeton, New Jersey, sua casa, e de sua equipe médica, sua família.   




São seis temporadas já produzidas que são transmitidas aqui no Brasil pelo  canal Universal Channel. Outras temporadas mais antigas ainda são exibidas no Brasil através dos canais de televisão abertos Record e Rede Família. A sexta temporada que está atualmente no ar, foi estreada dia 21 de Setembro de 2009 nos Estados Unidos num episódio especial de duas horas.
O fato é que, por vários motivos, vale a pena assistir os episódios de House, ou pela criação bem cuidada das histórias, criativas e bem elaboradas, ou pela construção espetacular das personagens que é evidenciada na profundidade da personalidade de cada uma e de suas interrelações.  Outro fator importante, são os vínculos que surgem entre os pacientes com a equipe médica, fato que proporciona um jogo interessante e enigmático entre passado e presente, entre a vida e a morte, mostrando conflitos existenciais e psicossociais. 

Quase todos episódios começam com um cold open, fora do hospital, uma entrada antes dos créditos com uma pequena história do(s)  futuros pacientes. Essas aberturas  apresentam aos espectadores o paciente, que será tratado por House e sua equipe,  tendo um de seus sintomas em um lugar qualquer. Bem feita, essa entrada prende a atenção do espectador e faz com que tenhamos vontade de começar a assistir o episódio. Posteriormente, as filmagens se voltam para o hospital onde é realizado a maioria das filmagens. O foco no caso do paciente faz com que o ambiente hospitalar das filmagens fique em segundo plano dando aos episódios mais dinamismo e facilidade de envolvimento do espectador com a historia.
As personagens:
Chirs Tamb (Peter Jacobson)

Allison Cameron (Jennifer Morrison)

Eric Foreman (Omar Epps)

Jesse Spencer (Robert Chase)

James Wilson (Robert Sean Leonard)

Lisa Cuddy (Lisa Edelstein)

Remy Hadley "Thirteen" (Olivia Wilde)

Laurence Kutner (Kal Penn)
Ficha Técnica:
Elenco:
Hugh Laurie (Dr. Gregory House), Lisa Edelstein (Dra. Lisa Cuddy), Robert Sean Leonard (Dr. James Wilson), Omar Epps (Dr. Eric Foreman), Jennifer Morrison (Dra. Allison Cameron), Jesse Spencer (Dr. Robert Chase), Olivia Wilde (Dra. Remy Hadley/Treze) e Peter Jacobson (Dr. Chris Taub).
Criador:
David Shore ("Hack", "Family Law", "Law & Order").
Produtores/estúdios:
Katie Jacobs ("Gideon's Crossing"), David Shore, Paul Attanasio ("Gideon's Crossing", "Homicide: Life on the Street"), Bryan Singer ("Dirty Sexy Money", "Superman - O Retorno", "X-Men"), Thomas L. Moran ("NCIS", "JAG", "Hack"), Russel Friend ("Boston Public", "John Doe", "Roswell") e Garrett Lerner ("Boston Public", "John Doe", "Roswell")/Heel and Toe Films, Shore Z Productions, Bad Hat Harry Productions e Universal Media Studios.
Musica tema:"Teardrop", Massive Attack.
Estréia:
EUA: 16/11/2004
BRASIL: 14/04/2005
Status:
Série renovada; 6ª temporada — 134 episódios.
Horários:
UNIVERSAL: quinta (23h00); sexta (02h00/06h00); sábado (21h00).)







Katia (entrevistando pessoas a respeito da Série)

 A seguir a opinião de alguns amigos sobre o seriado House:






Kátia: Porque vc gosta de House? 






Opinião de Leo Dan






Leo: “ Eu gosto de House porque na série não existe o celeuma entre o bem e o mal, essa coisa da dicotomia, é tudo uma questão imediata de decisão, ali, na vida de cada um, na hora, no exato momento, com todos os fatores internos e externos. São escolhas emocionais ou racionais que constróem a história.  O louco é que o House é um chato, ninguém gostaria de ficar perto dele, teoricamente, ao mesmo tempo ele funciona como se fosse uma consciência das pessoas, às vezes essa consciência te joga pra baixo, outras vezes pra cima dependendo da situação, aquela coisa da análise um pouco fria. Ele mesmo, o House, é mal resolvido, porque se ele parasse de tomar as drogas que consome em pílulas, talvez não conseguisse agüentar tudo aquilo, poderia cair num ciclo mais emocional e pirar, como quando ele foi internado. A mente dele está por um fio e isso ajuda-o no diagnóstico pois o envolvimento com o caso é tamanho que o tira de sua própria vida e perpassa por questões sociais e psicológicas, e é legal ter em mente essa história da saúde como algo mais geral, ligada a outros fatores não só físicos mas também mentais, sociais, psicológicos e ligados a vida privada, aos hábitos de cada paciente”.

Opinião de Geisly Conca 


Geisly Conca:
Eu gosto do seriado porque ele retrata uma pessoa que teve um problema de mal diagnóstico no início do seriado, o próprio House, e que por causa desse diagnóstico errado ele pagará por toda sua vida, e por esse motivo ele ficou viciado em drogas e manco, ficou manco de uma perna, mas na verdade ele é manco não só da perna, de tudo, e a única coisa que ele é realmente bom é, engraçado (risos), parece que todos os gênios são assim, eles são muito bons em alguma coisa, no caso do House, ele é bom em diagnóstico, no resto tem dificuldades. Ele não é uma pessoa convencional, ele não tem uma vida particular, é engraçado como ele precisa da vida do outro a todo momento para conseguir fazer a vida dele, tem episódios que ele coloca detetives para pesquisar a vida das outras pessoas para poder ter motivo para viver, porque a vida dele, em si, é só a medicina. O que importa a ele são os diagnósticos e a equipe, pois ela, a equipe, é a única família que House tem, e ele faz questão de conhecer essa equipe e ficar muito perto dela. Outra coisa que acho incrível no House é que ele é grosso, muito direto às vezes, ele consegue ser bem estúpido, magoar as pessoas, mas mesmo assim as pessoas que ele magoa gostam dele, é estranho porque geralmente as pessoas tentam agradar as outras pra fazerem com que elas gostem delas, mas ele é totalmente o inverso, ele desagrada, e as pessoas gostam dele apesar do desagrado. A questão é que ele não desagrada de qualquer forma, é como um psicólogo, falando de coisas que talvez as pessoas não tinham pensado antes. Ele pensa nas desculpas das pessoas ou nas mentiras que contam para se auto-sabotarem,  e então ele joga isso na cara delas, ele é agressivo, acho que isso não se aplicaria na vida real, será que uma pessoa tão grossa seria respeitada? Apesar de ele ser muito grosso parece que se preocupa com os outros, de verdade, ele é honesto nesse sentido,  então é grosso mas nunca indiferente, ele se preocupa, e isso é bom. Se ele não se preocupasse com as pessoas  não ficaria tanto tempo pensando só naquela pessoa para que ela viva, pois uma só pessoa seria muito pouco pelo tempo que  gasta com cada caso, pois quantas pessoas morrem num dia ou em uma guerra, por exemplo? Mas ele se preocupa com aquelas pessoas que estão sofrendo e morrendo naquele episódio. Passa dias pesquisando e pensando o tempo todo na doença da mesma pessoa, para que ela não morra. Como em um episódio que House faz algo pouco convencional para que o paciente se sinta feliz. Chega a ele um caso de um homem muito doente que apresenta sintomas de intoxicação, House  descobre que ele se acha muito inteligente e por esse motivo achava a vida muito ruim, então o paciente começa a ingerir um xarope para ficar mais lerdo e menos “inteligente” e conseguir viver melhor. Ele foi desintoxicado,  ele começou novamente a ter problemas com a esposa,  com as pessoas de seu convívio, o House o incentiva a continuar  com o xarope para poder viver melhor.



Opinião de Iolanda Barros de Oliveira


Iolanda Barros:


Gosto do seriado House porque, além dos mistérios mirabolantes que são resolvidos a cada episódio, ao acompanhar o desenrolar da série é possível perceber como os personagens (e as relações entre eles) são construídos de maneira complexa. Dr. House, o personagem principal, apesar da superfície de anti-herói é alguém que envolve - e se envolve, ainda que de maneira maluca (como é o caso da sua amizade com o Dr. Wilson ou sua "paixão" pela Dra. Cuddy).
Outro aspecto interessante do seriado é que o comportamento do Dr. House costuma ser agressivo e muitas vezes preconceituoso, mas ao ocupar esse local "politicamente incorreto", a figura de House e sua relação com os outros personagens (principalmente os outros médicos/as da equipe) permite problematizar ao invés de reforçar e naturalizar relações sociais mais amplas muitas vezes marcadas pelo racismo e sexismo, por exemplo.

Opinião de Bárbara Urban



Bárbara:
O que eu mais gosto da série House é o fato da personagem título concentrar muitas características que as pessoas abominam porém que as constituem como humanas; o fato dele se permitir ter e vivenciar sentimentos muitas vezes não valorizados socialmente, como a arrogância, ódio e etc, torna-o incrivelmente humano.  Essa construção paradoxal do médico - que pode ser visto como um signo de vida - com sentimentos humanos tidos como mais obscuros, faz com que a composição desta personagem seja rica e complexa.








Publique também sua opinião sobre a série e se você não viu, vale a pena conferir,


Bom seriado!


Kátia Peixoto é doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP. Mestre em Cinema pela ECA - USP onde realizou pesquisas em cinema italiano principalmente em Federico Fellini nas manifestações teatrais, clowns e mambembe de alguns de seus filmes. Fotógrafa por 6 anos do Jornal Argumento. Formada em piano e dança pelo Conservatório musical Villa Lobos. Atualmente leciona no Curso Superior de de Música da FAC-FITO e na UNIP nos Cursos de Comunicação e é integrante do grupo Adriana Rodrigues de Dança Flamenca sob a direção de Antônio Benega.
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Férias com Anton Tchekhov


Sempre gostei do mês de julho. Luz bonita, temperaturas amenas. Guardo até hoje a lembrança das férias de colégio, as melhores férias, eu achava, já que as do verão eram muito longas. Eram como uma renovação de fôlego bem no meio do ano.
    Já há muitos “julhos” não tenho férias, mas fica nesse mês sua memória – a lembrança de um revigoramento imprescindível, que, se não pode ser vivenciado em sua “plenitude” de férias, pode e deve ser buscado em nosso cotidiano, cada vez mais atribulado. (Observação talvez óbvia,  mas muitas vezes esquecida, ao menos por mim...).
    Segunda-feira passada, dia 5 de julho, exausta ao fim do dia, e depois de muitas e muitas noites de poucas horas de sono, estava eu a esperar o ônibus que me leva para casa, em Petrópolis, no abafado terminal rodoviário do centro do Rio. E ali, naquele lugar inóspito, pude experimentar um daqueles breves – e imprescindíveis – revigoramentos. Saquei da minha imensa bolsa caderno da última Folha de São Paulo em que estava publicado um pequeno conto de Tchekhov. Com humor e ironia o escritor russo lucidamente escreve da solidão daquele homem oitocentista, há algum tempo editor de sua própria história, sem Deus tampouco o Diabo a guiá-lo. A conversa entre o bêbado e o diabo, supostamente  fantástica, se mostra no texto tão real quanto minha situação ali naquele banco do terminal de ônibus... Logo de início esboço um sorriso – o escritor me conquista ao trazer à tona o diabo como um “jovem de aparência agradável, de cara preta como botas, focinho e expressivos vermelhos olhos”. Um pobre diabo, logo ele se revela, a nós, pobres homens que, no entanto, têm a capacidade de reconhecer nossa miséria com a grandeza de um  Tchekhov. (ou de um Goeldi, artista brasileiro que retrata com precisão o Rio de Janeiro dos anos 30/40/50 através de seus personagens os mais marginais, solitários, acima de tudo, e, por isso mesmo, é capaz de exibir a realidade dessa cidade, e talvez do Brasil, hoje).


Conversa de um bêbado com um diabo sóbrio, por Anton Tchekhov (tradução Paulo Bezerra)


                                                              [BÊBADO SONHANDO]
                                                              sem título, circa 1930, assinado, nanquim e aguada
                                                              23,5 x 21,5cm, título atribuído por Béatrix Reynal
                                                              Coleção Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro


    Lakhmátov, ex-funcionário de intendência e secretário de colegiado aposentado, estava à mesa em sua casa bebendo o 16º cálice e pensando na fraternidade, na igualdade e na liberdade. Súbito, de trás de uma lâmpada, olhou para ele o diabo ... Mas não se assuste, leitor. Você sabe o que é o diabo? É um jovem de aparência agradável, de cara preta como botas, focinho e expressivos vermelhos olhos. Tem chifres na cabeça, embora nem seja casado. Usa penteado 'a la Kapul'1. Tem o corpo coberto por uma lã verde e cheira a cachorro. Abaixo da espinha balança o rabo, que tem uma seta na ponta... Em vez de dedos tem unhas, em vez de pés, cascos de cavalo. Lakhmátov ficou meio confuso ao ver o diabo, mas logo se acalmou quando se lembrou de que diabos verdes têm o tolo hábito de aparecer a todos aqueles que tomaram um trago.
    - Com quem tenho a honra de falar? - perguntou ao intruso.
    O diabo ficou confuso e abaixou os olhinhos.
    - Não fique acanhado – continuou Lakhmátov. - Chegue-se mais perto ... Sou um homem sem preconceitos, o senhos pode ser sincero comigo... Fale como amigo ... Quem é o senhor?
    O diabo chegou-se indeciso a Lakhmátov e, encolhendo o rabo, fez uma reverência cortês.
    - Sou o diabo, ou capeta ... - apresentou-se. - Sou funcionário de missões especiais junto à pessoa de Sua Excelência Satanás, diretor da chancelaria do inferno.


[NOTURNO]
sem título, circa 1950, assinada; xilogravura, sem numeração
20,8 x 26,9cm; gravura premiada na I Bienal de São Paulo, 1951; Coleção Museu Nacional de Belas Arte
s
  
- Ouvi falar, ouvi falar. Muito prazer. Sente-se! Não aceitaria uma vodca? Estou muito contente ... E o que o senhor faz?
    O diabo ficou ainda mais confuso ...
    - Propriamente falando, não tenho ocupação definida ... - respondeu ele pigarreando e assuando o nariz na folha de um “Rébus”2. - Antes nós tínhamos ocupação efetiva. Tentávamos as pessoas ... desviávamos do caminho do bem para as sendas do mal ... Hoje em dia essa ocupação, “entre nous soit dit”3, não vale uma cusparada. E, além disso, as pessoas ficaram mais espertas do que nós. Procure você tentar um homem que já aprendeu todas as ciências na universidade, estudou o fogo, a água e os tubos de cobre! Como posso ensiná-lo a roubar um rublo se, sem minha colaboração, você já afanou milhares?
    - É verdade.... Mas, não obstante, você tem alguma ocupação, não?
    - Sim... Hoje nossa antiga função pode ser apenas nominal, mas mesmo assim temos trabalho ... Tentamos damas de classe, impelimos os rapazinhos para a poesia, levamos comerciantes bêbados a quebrarem espelhos. Já em política, em literatura e em ciências não nos metemos há muito tempo ... Nesse campo não entendemos patavina. Muitos de nós são colaboradores de “Rébus”, há até aqueles que largaram o inferno e se tornaram gente... Esses diabos reformados, que se tornaram gente, casaram-se com comerciantes ricas e hoje levam uma vida ótima. Uns se dedicam à advocacia, outros editam jornais, são pessoas muito ativas e respeitadas!
    - Desculpe a indiscrição: quais são os seus vencimentos?
    - Nossa situação continua a mesma ... - respondeu o diabo. - O quadro de funcionários efetivos não mudou ... Continuamos tendo casa, luz e calefação por conta do erário ... vencimentos não recebemos, pois todos somos extranumerários e porque ser diabo é uma função respeitável ... Para ser franco, em linhas gerais se vive mal, ainda que a gente peça esmolas ... Somos gratos aos homens; eles nos ensinaram a aceitar propina, senão já teríamos esticado as canelas há muito tempo.... E assim vamos vivendo de rendas ... A gente fornece provisões aos pecadores e aí ... mete e mão... Satanás envelheceu, está sempre saindo para contemplar a Zucci4, não liga mais para prestação de contas...
    Lakhmátov serviu um cálice de vodca ao diabo. Ele o bebeu e soltou a língua. Contou todos os segredos do inferno, abriu a alma, desabafou, e agradou tanto a Lakhmátov que este o manteve em sua casa para pernoitar. O diabo dormiu no forno e passou a noite inteira delirando. Ao amanhecer escafedeu-se.


                                                          [A MORTE DO GUARDA-CHUVA]
                                                          sem título, circa 1937; xilogravura, 2/3; 25 x 24,5cm
                                                          impressão póstuma por Reis Júnior, 1976; Coleção Banco do Estado do Rio de Janeiro


1 Penteado usado na Rússia no século 19, que deixava as madeixas caindo sobre  a testa. A expressão se deve a Joseph Kapul, tenor francês que cantou na Ópera de São Petersburgo na época de Tchekhov e foi um criador de moda entre os russos.
2 Revista espiritualista  publicada em São Petersburgo na época de Tchekhov.
3 “Cá entre nós”, em francês.
4 trata-se da bailarina italiana Virginia Zucci (1849-1930). Zucci chegou a São Petersburgo em 1885, atuou e, balés de Marios Petipa, nome fundamental na história do balé clássico russo, tornou-se muito popular e, entre 1885 e 1888, integrou o corpo de balé do teatro Mariinski de São Petersburgo, dançando também em Moscou e Odessa.

Fernanda Lopes Torres é pesquisadora e historiadora da arte. Graduada em Desenho Industrial pela ESDI (Escola Superior de Desenho Industrial) da UERJ, tem mestrado e doutorado em História Social da Cultura pela PUC-Rio. Atua hoje como pesquisadora de arte da Multirio (Empresa Municipal de Multimeios) e professora do Instituto de Artes da UERJ, tendo publicado artigos em revistas universitárias e na revista Novo Estudos do CEBRAP.
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Mostra Científica e cultural é parte do Festival de Inverno de Paranapiacaba

          Entre as atrações do Festival  de Inverno de Paranapiacaba de 2010, inicia-se no próximo dia 17 a Mostra Científica e Cultural do Centro de Estudos e Formação Sócioambiental de Paranapiacaba. Serão apresentados trabalhos realizados por professores, alunos, ex-alunos do Centro Universitário Fundação Santo André e pela comunidade, em busca da conservação do patrimônio cultural e natural de Paranapiacaba.

            A Universidade Federal do ABC fará parte da Mostra com um trabalho desenvolvido em parceria com a Fundação que tem como título Transformação Sensível - Neblina sobre Trilhos. O projeto prevê a realização de um documentário com depoimentos de ex-ferroviários e suas famílias, assim como de estudiosos, turistas e moradores da Vila de Paranapiacaba tendo como foco a memória ferroviária e sua identidade. Nessa primeira exposição enfocam-se os resultados parciais dessa pesquisa privilegiando-se os bastidores do trabalho que se iniciou em janeiro de 2010. Já foram entrevistados 10 ferroviários e feitas diversas filmagens na vila.


Equipe do documentário em ação.
Arte: Demócrito Nitão Ferreira Jr.


Quando: entre os dias 17 de julho a 1 de agosto

Onde: CEFS, na Rua Direita nº 371, Paranapiacaba, Santo André, SP, Brasil
Veja a programação completa da Mostra Científica e Cultural do CEFS de Paranapiacaba

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Ainda, a décima edição do Festival de Inverno de Paranapiacaba traz a volta o trem turístico que fará o percurso estação da Luz - Santo André pelo valor de 25 reais (ida e volta). Veja abaixo em notícia retirada do Site da prefeitura:

Expresso Turístico

Durante o festival, a viagem no Expresso Turístico funcionará aos domingos, com saída pela manhã e retorno no final da tarde. Depois do evento, os passeios serão quinzenais, também sempre aos domingos, com saída pela manhã da estação da Luz, com parada na estação de Santo André, seguindo à vila ferroviária, onde os visitantes poderão passear durante o dia. O retorno será no final da tarde, com parada em Santo André e chegada na estação da Luz.

Estação ferroviária de Paranapiacaba. A composição contará com locomotiva a diesel e dois carros que transportarão 174 passageiros. Estes dois carros foram reformados pela CPTM e cedidos pela Associação Brasileira de Preservação Ferroviária. A iniciativa é uma parceria entre a Prefeitura de Santo André, a Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), o Instituto Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e a MRS Logística.
Para receber os turistas está sendo construída uma plataforma próxima ao Viradouro, na Parte Baixa. Após o desembarque, eles serão recebidos no prédio da antiga padaria, cujo restauro foi concluído em 2009. A intenção da Prefeitura é restaurar o antigo galpão, que funcionará como estação.
A décima edição do Festival de Inverno de Paranapiacaba é uma realização da Prefeitura de Santo André em parceria com o Sesc. Mais informações podem ser obtidas no site da Prefeitura (www.santoandre.sp.gov.br) ou pelo telefone 0800-019-1944.



 
 
 
 
 
Ana Maria Dietrich é historiadora e coordenadora da Contemporartes- Revista de Difusão Cultural junto a Vinicius Rennó. contemporartes@gmail.com
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O Modernismo Brasileiro: Mário de Andrade



Leitores, como estou cursando uma disciplina a respeito do Modernismo na Literatura Brasileira, procurei algo acerca deste período para falar a vocês. No entanto, em meio a tantos grandes autores e obras, confesso que me senti perdido até me deparar com um poema que muito me chama atenção, “Paisagem N.4”, poema da Mário de Andrade que se situa na obra Paulicéia Desvairada, publicada em 1922:

Os caminhões rodando, as carroças rodando,
rápidas as ruas se desenrolando,
rumor surdo e rouco, estrépitos, estalidos...
E o largo côro de ouro das sacas de café!...
(ANDRADE,1922:115)

Este poema é interessante, principalmente, por apresentar as características da nova sociedade que nascia no Brasil em processo de modernização. Com a repetição constante do r (uma aliteração) e com a utilização da forma verbal do gerúndio, o poema já indica, de certa forma, a rapidez do desenrolar de ações que acontecem neste novo ambiente social. Além disso, como podemos observar em São Paulo, que se modernizava, estão marcados elementos aparentemente antagônicos no tocante à modernidade, como caminhões e carroças. No entanto, Mário de Andrade, muito perspicaz, aponta com o assinalar destes elementos, que na sociedade paulista de início dos anos 20 havia ainda a convivência de elementos novos – caminhão - com outros conotados com a idéia de passado – carroça.

O desenrolar rápido das ruas de uma cidade que se expandia, também de maneira acelerada, é assinalado, bem como a descrição de sons que remetem a ações em desenvolvimento, como “Rumor surdo e rouco, estrépitos, estalidos...”. De acordo com Maria Inez Machado Borges Pinto (2001), “A ‘Paisagem nº4’ conclui o livro com uma frase de deboche, que ressalta o caráter diversionário do empenho de arregimentação do orgulho cívico paulista”, a frase referida é: “E o largo côro de ouro das sacas de café!...”. Este último verso pode se referir ironicamente à idéia de uma sociedade que se moderniza e ainda vivia à custa e de acordo com a oligarquia rural cafeeira.

Nessa breve e simples leitura, devo ressaltar o fato de que a poesia moderna brasileira, principalmente se observarmos poemas produzidos por Mário e Oswald de Andrade, utiliza da confluência de recursos imagéticos e musicais, por isso, vários estudos se debruçam sobre a questão da proximidade existente entre a poesia de Mário de Andrade e a pintura e/ou a música. Principalmente as primeiras obras do Modernismo no Brasil têm o caráter de retratar a sociedade paulista, para isso que isso ocorresse de maneira minimamente fiel à realidade são utilizados de um lado das imagens (vocábulos que remetem às imagens) e de outro lado recursos musicais, como a utilização da aliteração do r.


Outro ponto importante a ser destacado, a meu ver, é o valor histórico presente nos poemas modernistas de Mário e Oswald de Andrade. Existem trabalhos que se debruçam sobre o retrato da cidade que se moderniza, a modificação dos costumes e da maneira de se viver em sociedade. Desta maneira, os poemas podem também servir de material histórico para desvendarmos os acontecimentos e revoluções que ocorreram na década de 20 no Brasil.


Nas próximas matérias que publicar aqui no Bar Contemporartes, desejo continuar essa breve discussão acerca de obras do Modernismo português e brasileiro, principalmente. Esse fato se dá, obviamente, pela minha fascinação por essa escola literária que definiu toda uma época de revoluções na escrita e na maneira de ver a arte.














Rodrigo C. M. Machado é Graduando em Letras pela Universidade Federal de Viçosa e, neste momento, pesquisa a representação dos corpos na poesia de António Botto.
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Férias!


Já que estamos no começo do mês de julho, a coluna Drops Cultural aproveita para divulgar as dicas drops que poderão fazer a diferença nessas férias.
Que tal aproveitar as férias para fazer cursos, oficinas ou mesmo assistir um filme legal sem ter que gastar muito?

Se você acha que seria uma boa idéia, anote essas dicas na agenda!

Oficina Faça você mesmo: Um Robô
Com Radames Ajna. Nessa oficina o participante poderá construir um robô joaninha com mecanismo simples de funcionamento, com materiais como clips, pilhas e mini motores. Indicação: a partir de 8 anos.
Local: SESC Ribeirão Preto
Dias: 10 e 11 de junho

Oficina Arte Programação

Processing é uma poderosa ferramenta de programação visual, utilizada no desenvolvimento de figuras, animações, jogos e interatividade, que possui uma linguagem de programação própria. Nesta oficina será possível aprender como utilizar e programar com este software. Não recomendado para menores de 14 anos. 20 vagas.
Local: SESC Pinheiros
Dias: 13 a 23 de junho / Terça à sexta

Oficina de Histórias em Quadrinho
A oficina apresenta os aspectos teóricos e práticos na produção de uma revista de história em quadrinhos, permitindo aos participantes conhecer modelos e estilos variados (realista, cartum, mangá) do universo das HQs. Idade mínima: 10 anos.
Local: SESC Interlagos
Dias: 07, 08, 14, 15 e 16 de junho.
 
E para aqueles que preferem desfrutar do tempo livre assistindo um bom filme, a programação do mês de julho do Cineclube Adamastor está bem interessante:


O Cineclube continua com o projeto ‘O que é Cinema” o ciclo desse mês fala sobre “o Ator no Cinema”. Assim, a temática estará centralizada na Interpretação em Cinema. Antes da exibição dos filmes haverá uma introdução sobre o trabalho do ator em um filme.

10 de junho – Crepúsculo dos Deuses de Billy Wilder

17 de junho – Ricardo III – Um ensaio de Al Paccino

24 de junho – O filho da noiva de Juan Jose Campanella

31 de junho – Touro Indomável de Martin Scorcese

Local: Cineclube Adamastor - Av. Monteiro Lobato, 734 - Macedo - Guarulhos
informações: 2087-4171 - Todas as exibições são sempre às 16h e tem a Entrada Franca.



Ana Paula Nunes é jornalista, Pós-graduanda em Mídia, Informação e Cultura pela Universidade de São Paulo/USP. Coordenadora de Comunicação da Contemporâneos, revista de Artes e Humanidades. Escreve aos domingos no ContemporArtes.
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