Contribuição do leitor: Entre a sorte e o azar




Nas situações entre a sorte e o azar é que surgem os bons textos e é por isso que a coluna Escritos Contemporâneos contemplará hoje a contribuição de Raphael Oliveira, especialista em Políticas Públicas e Gestão Social (UFJF), graduado em História (UFJF), agente de Suporte Acadêmico (CAED-UFJF) e tutor de Espanhol (UFJF).



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Entre a sorte e o azar.


Azevedo, homem de negócio, queria logo em seu ímpeto de lucro, instalar sua companhia de bonde no velho arrabalde argentino, cujo nome fiz o favor de esquecer. Para isso, teria que fazer o bom e velho jogo de aparências: jantar com o caudilho da região, o coronel Isidoro Rosas, filho de outro caudilho famoso, L. Rosa. O acréscimo do “s” em seu nome foi devido a um erro de registro. Convidado pelo caudilho, foi ter com este, ao embalo do bom charuto cubano e de garrafas de uísque, vinte e cinco anos, uma conversa para instalação da companhia de bonde na região. Na verdade, nem introduziram o assunto, aquela noite ficou reservada aos jogos de baralho. Para uns, sorte; para outros, azar.







O caudilho Isidoro, dentre as centenas de defeitos que adquirira ao longo da vida, o pior era, certamente, a jogatina. Tal mau-humor poderia custar o azar na vida para aquele que o ganhasse. Fato, válido lembrar, que o único que o vencera numa partida em jogo de truco, nunca mais apareceu no arrabalde; dizem que foi ter com alguns parentes uruguaios, ninguém mais o viu, nemm esmo os parentes uruguaios.


Azevedo que nada sabia, exímio jogador e conhecedor de artimanhas da jogatina, só naquela noite derrotou o caudilho dezenas de vezes, o que fez a este exalar um grande suspiro, de que não estava nada gostando. Todos na mesa estavam preocupados e silenciosos. O único galhardo era Azevedo.


Depois da décima terceira rodada foi ao banheiro, seguido por um dos assessores do caudilho, eufemismo para capanga. Os dois, já dentro do mictório fétido, entre olharam-se no suspense que pairava no ar.


Azevedo percebeu, enfim, que havia algo de errado. Gentilmente, o capanga disse-lhe em tom de alerta: se você quer, realmente, instalar uma companhia de bonde aqui, comece a perder. Pensou Azevedo: se eu ganhar mais umas cinco rodadas, vou estar com tanto dinheiro que nem precisarei instalar companhia nenhuma aqui. Faço meus negócios em outros lugares.


Assim o fez. Ganhou mais cinco rodadas; estava lotado de dinheiro e ouro. Zombava, em seus pensamentos mais secretos, de como aquele caudilho era ruim com as cartas. Talvez, o que sabia fazer de melhor era gastar o dinheiro público com coisas vis.


O caudilho levantou da mesa; pigarreou; saiu sem pronunciar nada. Azevedo fez o mesmo, foi para o seu hotel mais rico de que quando chegou.

No dia seguinte, um amigo, chamado Daniel, o qual estava hospedado no mesmo hotel que Azevedo, foi ter com este. Chegando ao quarto do amigo viu-o morto. Estava baleado por toda parte. Pegou um projétil ao chão; observou que era uma arma Remington, arma nova no país que somente a elite local tinha o poder para tal armamento.

Décadas mais tarde, o neto de Azevedo, Suárez, pôde conhecer esta história por completo através de sua avó e pela carta do amigo do avô, Daniel.




Dona Maria, em seu leito de morte, beirando os noventa anos, chamou o neto. Com voz baixa, sussurrou: – não passo de uma velha morrendo muito, muito devagar. Não há nada de notável nem de interessante nisso. Logo entregou uma carta amarelada pelo tempo que carregava no bolso do paletó. Era a carta de Daniel contando minúcias do que havia acontecido com Azevedo.


Suárez leu a carta com atenção e entendeu o porquê das desgraças financeiras da família e o destino da pobreza que lhes reservou. Ficou com sede de vingança: lavar a honra e o nome da família. Afinal, o nome e memória do caudilho Isidoro Rosas ainda corria no arrabalde, através de seu filho, Martin Rosas.

Seu inimigo estava no poder. Burilou planos mirabolantes para acabar com aquele que representava o algoz do avô. Aquietou-se. Não lhe trazia prazer algum em recordar o que estava escrito na carta que sua avó lhe entregara.

Fazia um esforço para recordar a fisionomia do avô, mas sem sucesso. Talvez, só o reconhecesse pelas fotografias; embora o rosto do caudilho a tivesse em imagem nítida. Já, menos tenso, foi afeitar a barba. Reparou que a marca da gilete era Remington, a mesma que retirou a vida do seu avô no passado. Maravilhou-se com esse fato, seguido de um desassossego.

Pela manhã, as manchetes dos jornais anunciavam que o caudilho Martin Rosas, filho de um dos maiores coronéis da história da região, o caudilho Isidoro Rosas, havia morrido na madrugada. Encontraram o corpo de Martin no banheiro de sua residência com um corte fatal na jugular. No chão uma gilete Remington.



Os jornais se perguntavam: teria sido um assassinato ou suicídio?
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Amor meus, pondus meum; illo feror, quocumque feror



(O meu amor é meu peso, por ele vou aonde quer que vá)


Tenho estudado a temática do amor na dramaturgia brasileira contemporânea há alguns anos e, por isso, tem sido natural jovens autores pedirem para que eu conheça suas incursões e tentativas. Também eu, na ânsia de ampliar repertório, sempre fico atento ao que vem escrevendo. Esse é o caso de Queria te falar, texto que Renata Thurler escreveu a partir de Eu sei que vou te amar, de Arnaldo Jabor.

Meu texto, aliás, poderia ser um texto investigativo acerca das semelhanças existentes entre os dois, feito através do aprofundamento de alguns pontos, como a questão da ação das personagens, das passagens idênticas e do tema do casamento desfeito que toma grande parte dos dois enredos, mas não. Essas semelhanças são evidentes, e em nenhum momento a autora pareceu ter tido a intenção de esconder essa matriz referencial.

Referência que não está somente em Jabor, afinal há mais de dois séculos que se fala de e sobre o amor. Todas as épocas, todos os tempos, desde Platão a Scheler, passando por Descartes e Espinosa vimos tratando sobre o amor, cada vez mais complexo, cada vez mais apurado. Assim, Queria te falar, ao devorar Arnaldo Jabor impõe um processo de ampliação de algumas informações ali contidas, que serão transformadas assumindo novos significados em diversos contextos sobre gênero e ideologias.

Se compreendermos, com Butler (1990), que gênero não é uma categoria fixa e pré-discursiva, mas algo que se constrói por atos repetidos e estilizados pelo sujeito generificado, gênero passa a ser compreendido para além da mera representação de papéis a serem desempenhados por corpos de homens e mulheres sob a hegemonia da heteronormatividade; é uma complexidade permanentemente aberta. Assim, gênero é uma representação que é vivenciada pelas performances dos sujeitos sociais que a experienciam através da vivência espacial cotidiana e concreta.

Queria te falar, através das personagens femininas Manu e Rafa, duas jovens mulheres que se reencontram para um papo-cabeça acerca das (des)razões que as fizeram romper seu casamento, comungam as idéias e as hierarquias que a heteronormatividade instituiu. Manu/homem trai, enquanto Rafa/mulher sofre. Manu/homem se apaixona por uma jovem muito jovem, enquanto Rafa/mulher, nem tão jovem, canta Chico Buarque e Maysa, se desespera, se desconcerta:

“Quando você foi embora... de repente, sem falar nada, eu morri mais que cem vezes, eu vivi de pura sorte... Até hoje ainda arrasto pedaços por aí... eu achei tantas coisas, me senti tão abandonada... E você agora vem me dizer na minha cara dizendo que se apaixonou por outra... Enquanto eu te amava, te amava tanto...voava...E nem vi você partir com a menina cor de rosa, você era o meu espinho, minha planta venenosa!”

Renata Thurler, nesse fragmento, evita pensar a desnaturalização da hegemonia dos 'laços afetivos' nascida da necessidade de perpetuação de um discurso heteronormativo e compulsório, patriarcal e machista; não quer questionar as hierarquias sexuais que precisam ser questionadas a fim de que outras subjetividades sejam visíveis, para além daquela eleita como o modelo heterossexual, branco e burguês. E também, que não há linearidade entre sexo, gênero e desejo, pois as identidades instituídas de ilimitadas configurações entre estes elementos estão em permanente transformação e sempre abertas ao novo.

Para Butler, um conceito se constrói através da repetição "estilizada do corpo, um conjunto de atos repetidos em um marco estritamente regulador que vai se sedimentando ao longo do tempo para produzir a aparência e a sensação de algo natural, permanente". Manu e Rafa poderiam ser as transgressoras da ordem compulsória heterossexual, afinal “o questionamento de condições tidas como evidentes torna-se possível, mas não se pode chegar lá através de um experimento imaginado, um epoché, um ato de vontade. Chega-se lá através do sofrimento da deiscência, de ruptura do próprio terreno” (BUTLER, 2003); poderiam desafiar suas formas de expressão e linguagem, afinal, segundo Butler (2004), é esta última quem constitui os sujeitos. 

Mas se Thurler não se aproveita de suas personagens para transgredir a nova ordem, colabora para a discussão sobre o amor e do desejo. Quando Manu começa a explicar o começo da crise, assegura que foi por causa de uma outra pessoa,

“uma menina, assim, menina, que cismou comigo, me queria, me seduzia, sem cansar, sem parar... e eu fui ficando fraca...fraca...não resisti...menina Rosa, era assim que eu chamava, assim que me foi apresentada. E eu sabia que aquela menina ia me levar... ia me tirar daqui.” 

Assim a autora começa a delinear que o desejo é em definitivo caminhar para sua posse, ou como diz Ortega Y Gasset, “possuir significa então, de uma forma ou de outra, que o objeto entra na nossa órbita e passa de algum modo a fazer parte de nós. Por essa razão, o desejo morre automaticamente quando se realiza, fenece ao satisfazer-se”.

E Manu, pouco depois, conclui: “Agora... eu voltei pra casa, não pra “nossa casa”, voltei pra cá, e queria te encontrar. (...) Simplesmente eu voltei e ela ficou, entende? Eu voltei sozinha”.  

No amor é assim, mais uma vez com Ortega Y Gasset, “em vez de esperar que o objeto venha até mim, sou eu quem vou até o objeto e me torno parte dele, (...) sou eu quem gravito em torno dele.” Em Queria te falar amor é gravitação em direção à amada mesmo que às vezes, triste como a morte.


Djalma Thürler é Cientista da Arte (UFF-2000), Professor do Programa de Pós-Graduação Multidisciplinar em Cultura e Sociedade e Professor Adjunto do Instituto de Humanidades, Artes e Ciências da UFBA. Carioca, ator, Bacharel em Direção Teatral e Pesquisador Pleno do CULT (Centro de Estudos Multidisciplinares em Cultura). Atualmente desenvolve estágio de Pós-Doutorado intitulado “Cartografias do desejo e novas sexualidades: a dramaturgia brasileira contemporânea dos anos 90 e depois”.


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A FOTOGRAFIA ABSTRATA

    
"Las obras de arte nacen desnudas como cualquier criatura : ausentes de significados y símbolos. Después los adquieren cuando crecen, o ne crecen y caen en el olvido. No se debe juzgar nunca con ligereza una obra reciente. Hay que mirarla como a un recién nacido : "Mira que ojos más bonitos. Se parecen a los de su padre".  (Alfredo Crespo - fotógrafo espanhol)

Em certo sentido, não há fotografia abstrata. A imagem sempre tem a sua origem no mundo que nos rodeia. E o fotógrafo é alguém que pode ver o que não vemos. Mas para entender aquilo que se convencionou chamar de fotografia abstrata, é preciso compreender a interpretação do real feita pelos fotógrafos através da própria história.  O olhar sobre o mundo, feito pela fotografia, em um primeiro momento, em meados do século XIX, deu continuidade ao modo com que a pintura representava não só a sociedade, como todo o mundo real que a cercava.


"Ya no puedo mas"- Alfredo Crespo


A fotografia nasce com sua linguagem associada à função social que a pintura desempenhava naquela época. Assim a linguagem, neste momento, não só se utiliza da composição originada da pintura, como também apresenta-se empenhada em representar a realidade tal qual ela se apresentava. O movimento artístico denominado pictorialismo é o maior exemplo da ligação inicial da fotografia com a pintura.


Através de várias formas de manipulação da imagem fotográfica, o fotógrafo procurava inserir a fotografia no universo das artes visuais, ao mesmo tempo distanciando da então imagem fotográfica documental e, aproximando-a da linguagem pictórica.


Com o desenvolvimento da tecnologia, os equipamentos tornaram-se mais leves e as emulsões mais rápidas, permitindo uma maior mobilidade do fotógrafo, facilitando assim, a busca por ângulos inusitados e recortes que fugissem da intenção de representação fiel da realidade.


                                                              Foto de László Moholy-Nagy

 

Com o construtivismo russo, movimento  surgido no início do século XX, nasce também a pintura abstrata. Alexander Rodchenko, e László Moholy-Nagy, principalmente, ampliaram as possibilidades da fotografia, desafiando o fotógrafo a fim de mostrar o mundo de uma forma diferente e inusitada. Modificando o imaginário fotográfico, Rodchenko e Moholy-Nagy, iniciaram propriamente a história da fotografia abstrata, propondo novos ângulos em imagens que con contribuíram para o abstracionismo na fotografia.


Os surrealistas, representados na fotografia principalmente por Man Ray, dão à  fotografia abstrata um espaço de destaque. May Ray, colaborando com Marcel Duchamp em alguns de seus trabalhos, propõe novos elementos estéticos na fotografia, saindo do figurativo e mergulhando em um universo fotográfico descompromissado com a representação da realidade. 

May Ray retoma a técnica criada por Henry Fox Talbot, no início da história da fotografia, rebatizando-a de Rayografia, técnica hoje conhecida por fotograma. A idéia é colocar objetos diretamente sobre o papel fotográfico, no laboratório, sem o uso do negativo, pesquisando composições abstratas em gradações de cinzas, luzes e sombras variadas.


                                                              "Fotograma"- Man Ray      

As fotografias aéreas, em alguns casos, são imagens abstratas, assim como fotos de água, pois as referências do mundo real se dissolvem, assim como nas fotografias feitas por microscópios. El Lissistsky e Kasimir Malévitch, segundo Phillipe Dubois, pintores do movimento artístico chamado Suprematismo, se inspiraram em fotografias aéreas para produzirem suas imagens abstratas.


Fazendo um pequeno paralelo entre a fotografia abstrata e a pintura abstrata, Meyer Schapiro, ao contrário do que alguns dizem sobre a pintura abstrata, esta não é fruto de um excesso de racionalismo e ausência de sentimentos, e sim, o auge da dimensão humana no processo criativo. É no abstrato que o artista coloca todo o seu potencial para criar uma imagem que não traga em sua percepção referência de figurativo. Existe uma comparação com a fotografia abstrata, com a ressalva que sem o referente real a fotografia não existe.


A fotografia traz consigo, sempre, um rastro do real, definida por alguns como uma imagem de natureza indicial. Isto coloca a fotografia abstrata em uma situação de ambigüidade. Ao mesmo tempo que procura negar uma representação figurativa da realidade, por outro lado, até por sua gênese por projeção luminosa sobre a material fotossenssível, não pode nascer desassociada de algo real que esteve diante da câmera.

                                                  "Nancy, Place Stanislas" - Bernadette Labadie

Há também o desafio que o fotógrafo se impõe de ser original, em função da grande quantidade não só de fotografias mas também de todos os tipos de imagens, sempre na busca de ter em suas fotografia uma abordagem diferente nunca antes vista. Isto o instiga na procura por abstrair o real, e propor imagens que mesmo geradas a partir de referentes reais negue esse mesmo real.


Muitas vezes não interessa saber a partir de qual objeto foi feita uma fotografia abstrata. Mas para o espectador, em geral, isto é importante, pois a fotografia traz esta ligação indissociável com o real. Como é fotografia então há um objeto para onde a máquina fotográfica esteve apontada por um átimo de segundo que seja. É a ambigüidade do abstracionismo na fotografia. Melhor que o julgamento do resultado não esteja condicionado ao conhecimento de qual porção do real aquela imagem partiu, mas o espectador é livre em suas considerações e julgamento.


"Água"- Izabel  Liviski

Nessas imagens, a fragmentação dos objetos dá origem a composições abstratas, que privadas do seu significado real assumem uma dimensão poética. Da mesma forma, o enquadramento é surpreendente, o parâmetro da escala, relacionada com o reconhecimento do objeto, desaparece. Na tentativa de reconhecer, identificar, o espectador começa então a imaginar, a sonhar. As metáforas que se usa para descrever estas imagens são os de pintura, desenho, caligrafia, etc. Mas está se falando sobre a fotografia, e a liberdade que ela tem tomado em sua relação com a realidade. 

A questão que se coloca diante dessas imagens deve ser " O que é isso?", que se refere ao objeto representado pela fotografia , ou "O que eu vejo?", que pára na superfície do papel, sem tentar penetrar mais além. Neste espaço definido entre o sujeito que vê como espectador, e a imagem, produto da criatividade do fotógrafo, existe uma área frágil e mal definida, com limites de deslocamento, onde surge a poesia.


                                                "Paysages matériographiques"- Jean-Pierre Sudre




Fonte:
Bibliothèque Nationale de France
Dubois, Philippe - "O ato fotográfico"





                                     
Izabel Liviski, Mestre e Doutora em Sociologia pela UFPR, é professora e fotógrafa, co-editora da Revista ContemporArtes.                                                                                      
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Memória do cangaço na “palavra cantada” de Sérgio Ricardo no filme Deus e o Diabo na Terra do Sol (parte 1)







"A fome latina, por isto, não é somente um sintoma alarmante: é o nervo de sua própria sociedade. Aí reside a trágica originalidade do Cinema Novo diante do cinema mundial: nossa originalidade é a nossa fome e nossa maior miséria é que esta fome, sendo sentida, não é compreendida". Glauber Rocha (fonte: Tempo Glauber)



A Comunidade Sonora, através das ondas eletromagnéticas do pensamento, materializada nessas linhas, continua sua programação normal. Sintonize aí direito o Mhz da nossa estação no seu dial. Hoje vocês vão ficar (atenção, aumentem o volume!) com um texto que foi publicado no 1º Simpósio de História Oral e Memória, o GEPHOM 2010. Na seqüência da primeira parte desta publicação, vocês continuem ligados pois tem a programação do Seminário Vozes da Globalização - Módulo III - Identidades e Religiões (com direito a certificado presencial de horas).



Memória do cangaço na “palavra cantada” de Sérgio Ricardo no filme Deus e o Diabo na Terra do Sol (parte 1)

Cícero F. Barbosa Jr.[1]




O tempo de Glauber




Trazer à tona a memória do cangaço por meio da análise do filme de Glauber Rocha, “Deus e o Diabo na Terra do Sol” (filmado entre 1963 e1964) representada entre outros elementos, pela canção de Sérgio Ricardo e letras do próprio Glauber. Na busca de retratar o drama social nordestino, a trilha sonora expressa por meio da “palavra cantada” – aglutinadora de lembranças e memórias – a proposta revolucionária do Cinema Novo e resume as questões do messianismo (na figura de Sebastião) e do cangaço (principalmente com Corisco). Um filme cheio de uma selvagem beleza que na época excitou a todos com a possibilidade de um grande cinema nacional (VELOSO, 1997, p.99).

Glauber Rocha tinha apenas 24 anos quando lançou Deus e o diabo na terra do sol em nossos cinemas em 1964, meses depois do Golpe de Estado que derrubou o governo de João Goulart e que colocou no poder o marechal Castelo Branco, período que iniciaria a Ditadura Militar e somente se encerraria em 1985.

No elenco do filme, nomes como Othon Bastos, Maurício do Valle, Geraldo Rey, Yoná Magalhães, entre outros. Foi considerado por muitos como o principal trabalho do cineasta e um dos que melhores representam a estética do Cinema Novo. Sendo reconhecido internacionalmente em festivais, conquistando o prêmio de melhor diretor em Cannes e sendo indicado a Palma de Ouro. Isso acontecia mesmo o Cinema Novo assumindo uma forte recusa ao que era produzido pelo cinema industrial:

“era um terreno do colonizador, espaço de censura ideológica e estética. Foi a versão brasileira de uma política de autor que procurou destruir o mito da técnica e da burocracia da produção, em nome da vida, da atualidade de criação. Aqui, atualidade era buscar uma linguagem adequada às condições precárias e capaz de exprimir uma visão desalienadora, crítica, da experiência social. Tal busca se traduziu na ‘estética da fome’, onde a escassez de recursos técnicos se transformou em força expressiva e o cineasta encontrou a linguagem em sintonia com os seus temas”(XAVIER, 1985, p. 14).


O filme é uma livre interpretação da peça teatral O diabo e o bom Deus, de Jean-Paul Sartre. Repercutiu muito bem entre os cineastas estrangeiros: Fritz Lang disse, depois de ver o filme: “é uma das mais fortes manifestações cinematográficas que já vi”. Enquanto Luis Buñuel declarou: “é a coisa mais bela que vi nos últimos anos” (SILVA NETO, 2002, p. 258).

Uma época em que o cinema ainda não era visto como parte de uma industrial cultural, conquista que se efetivará concretamente na economia do país durante a década de 1970, com “a implementação de uma política institucional ditada por agências governamentais voltadas para o mercado e centralizados pelo regime” (ABREU, 2006, p. 16).

Glauber Rocha também usou para compor o filme, além da peça do Sartre, lendas populares para mostrar outro aspecto do drama nordestino:

Manoel, vaqueiro miserável, mata o patrão e parte com a mulher em busca da salvação mística aos pés do Santo. Perdendo o Santo, segue em busca da verdade e acaba cabra de um cangaceiro. Morrendo o cangaceiro perde a fé em tudo, enlouquece, larga a mulher e corre para um mar entrevisto em delírio libertário (ROCHA, 2004, p. 141).


Glauber então escreveu algumas letras para Sérgio Ricardo musicar e interpretar. As músicas seguem basicamente o roteiro do filme: 01. Abertura; 02. Manuel e Rosa; 03. Sebastião; 04. Discurso de Sebastião; 05. A Mãe; 06. Antonio das Mortes; 07. Corisco; 08. Lampião; 09. São Jorge; 10. Monólogo; 11. A Procura; 12. Reza de Corisco; 13. Perseguição/Sertão Vai Virar Mar.



[1] Mestrando em História na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, bacharelando em Letras na Universidade de São Paulo, possui graduação em História pela Universidade Ibirapuera (2001). Atualmente leciona na Rede de Ensino do Governo do Estado de São Paulo, também participo como professor da atividade de extensão universitária na Escola Livre de Literatura de Santo André/SP. Email: cicerofbj@gmail.com.




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Seminário Vozes da Globalização - Módulo III - Identidades e Religiões (com direito a certificado presencial de horas)




Uma série de oito palestras que analisam a diversidade religiosa na contemporaneidade e sua interface com a Literatura, História e Teologia. Privilegiaremos o diálogo da questão religiosa com questões socioculturais. Especialistas - professores universitários e literatos - farão incursões sobre grandes problemáticas como o antissemitismo moderno, a representação de minorias religiosas na sociedade, a herança hegemônica católica do Brasil colonial, manifestações de espiritualidade na poesia e interelação das múltiplas diversidades de gênero, sexual e religião. Propõe-se uma reavaliação das representações religiosas em uma sociedade globalizada e plural sempre em mutação.

Apoio
Associação Cultural Morro do Querosene
Realização:
Casa da Palavra - Escola Livre de Literatura
Prefeitura Municipal de Santo André

Local - Praça do Carmo, 171, Santo André - SP.
Sábado das 10h30 às 12h30
31 de julho a 25 de setembro de 2010








1.

31/07
Nancy Cardoso
Teóloga e Profa. Dra. Universidade Severino Sombra - RJ

O sexo dos anjos: identidades de gênero e religiosidade
2.
07/08
Cláudio Willer
escritor


Poesia e Ocultismo.
3.
14/08
Fernanda Lopes Torres
Doutora em História da Arte/ PUC - RJ

Michelangelo e a “busca ansiosa de Deus na alma humana”
4.
21/08
Vanessa Molnar
historiadora e poeta


A literatura libertina do século XVIII. Marquês de Sade contra a religião
5.
28/08
Micheliny Verunsckh
escritora

Religiosidade e Erotismo na Poesia Contemporânea.
6.
11/09
Verah D’Osún
escritora


Religião africana – faces do candomblé
7.
18/09
Ana Maria Dietrich
Historiadora e Profa. Dra. Universidade Federal do ABC
Profa. Colaboradora do Mestrado em História - Universidade Severino Sombra (RJ)


Judeus e o anti-semitismo moderno: a continuidade na descontinuidade
8.
25/09
William Martins
Historiador e Prof. Dr. Universidade Severino Sombra - RJ

Modelos e práticas de santidade feminina na época colonial

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Bienal do Livro de São Paulo - 2010

 

Julho está se despedindo e agosto é o mês do maior evento literário no Brasil, a Bienal do Livro de São Paulo, com uma estimativa de público de 700.000 visitantes. São inúmeros expositores, eventos, artistas e autores famosos circulando por essa feira. Eu estarei por lá todos os dias, entre 12 e 22, com vários lançamentos solos e em antologias. Gostaria de dividir as datas com vocês, no aguardo de sua visita.
São seis livros infantis e uma coletânea de textos selecionados em concursos literários, “Fragmentos & Estilhaços”, com contos, poesias, crônicas e minicontos.
Todos os infantis foram ilustrados pelo consagrado artista plástico Paulo Branco, professor há trinta anos, que aquarelou cada página com muito amor e talento, como vocês podem conferir abaixo:

Ah, já estava me esquecendo, o Prof.Paulo Branco estará fazendo caricaturas ao vivo durante os lançamentos!

Mas antes, em Campinas, terei o lançamento do Vila Felina, um livro que conta a história de um lugar onde os animais são respeitados, amados e bem tratados. Acima de tudo um lugar onde é possível conviver pacificamente com as diferenças entre deficientes, fortes, fracos, gordos, magros, feios, bonitos ou carentes e abastados. E mesmo com tanta diversidade, é sempre muito bem vinda a chegada de um novo bichinho de estimação para fazer parte da Vila Felina, que é conduzida por dona Tuca, uma senhora muito esperta que ensina seus animais e as crianças a respeitarem o próximo e o meio ambiente. O ilustrador Paulo Branco estará fazendo caricaturas ao vivo. este livro leva o selo da Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo, através do ProAc.

O lançamento do livro será realizado na Livraria Cultura do Shopping Iguatemi Campinas, dia 7 de agosto de 2010, das 16h às 18h30. Maiores informações na Editora Horizonte (19) 3876-5162, com Eliane.





E na Bienal...



Dia 13/8 – sexta-feira (trezeeeee.....) CONDE VAN PIRADO – EDITORA IN HOUSE



*PROMOÇÃO ESPECIAL! Entrada gratuita para quem comparecer ao evento fantasiado do seu personagem favorito.

Para validar a sua entrada na Bienal do Livro é obrigatório apresentar uma foto do personagem representado.

Conde Van Pirado

A história se passa em "Percisvania", uma cidade diferente e que fica escondida entre os vales das "Terras de Culadrá", onde habitam pessoas quase normais. O prefeito da cidade Conde Van Percis é casado com Condessa Van Vânia e juntos tiveram Van Pirex (uma menina) e Van Pirado. Lá em Percisvania eles vivem do cultivo de uvas, pois elas contêm uma vitamina sem a qual a raça Pirados não sobreviveria: a vitamina Vp. Se todo esse universo rico de detalhes dessa cidade fictícia já chamou sua atenção, então você vai se surpreender com a história do único vampiro albino da cidade e que faz parte da banda de rock local. Nessa envolvente história, de Simone Pedersen, você descobrirá mistérios - como, por exemplo, o por que de os vampiros de outrora evitarem o sol -, e se aventurar junto de Van Pirado, que descobre que sua espécie sofre o risco de extinção por causa de uma fábrica de refrigerantes



Dia 14/8 – sábado – 12hs – Coleção Fuá – Riscando os animais – In House



A Coleção Fuá é destinada as crianças de 3 a 99 anos. Além de incentivar o gosto pela literatura com seus poemas sobre animais, os desenhos são apresentados de forma lúdica, em duas etapas, provando que qualquer um pode aprender a desenhar. Formato: 20 x 20
24 páginas Ilustrações de Paulo Branco

Poesia e desenhos em duas etapas

Dia 15/8 – domingo – Fragmentos & Estilhaços 16 hs– In House



Descrição:

"O escritor pinta o papel com palavras. O poeta pinta o papel com as cores de sua alma". Assim são as palavras iniciais e provocantes de Fragmentos e estilhaços, de Simone Pedersen. A simplicidade das frases soltas no ar, feito "balões coloridos" que ganham o céu, com significados do tamanho da imensidão estão em seus fragmentos, ou mesmo a "força da presença da ausência infinita", que encontra nas reticências o silêncio, num grito da alma de seus estilhaços Os textos sensoriais - feitos para tocar você, para que sinta o cheiro daquele local descrito e veja a poesia discreta nas paisagens reveladas - são "pólen para florescer a alma". Em Fragmentos e estilhaços, "o leitor vai entender que o escrito não está, mas que nas entrelinhas se esconde".

Vila Encantada – 18hs – DOMINGO – 15/8 – In House






A Vila encantada ficava numa floresta distante, lá os animais se encontravam para aprender sobre a vida, desenvolver suas capacidades. Aprendiam também a dançar, cantar, pintar, além de ler, escrever e contar. Para chegar até esse lugar mágico os animais tinham de percorrer diferentes caminhos. Havia animais especiais, mas todos eram respeitados e aprendiam a viver com suas limitações e se destacavam em outras áreas. A preocupação com o meio ambiente, a preservação da natureza e o carinho com os seres humanos circundava aquele lugar. A autora traz à tona, em uma trama envolvente e divertida, temas transversais como o convívio com a diferença e a consciência sócio-ambiental, visto que alguns personagens possuem certas deficiências físicas, e todos se preocupam em preservar a floresta que habitam. A ilustração do renomado Paulo Branco aguça ainda mais a imaginação e dá vida àquele mágico lugar.

DIA 18/8 QUARTA-FEIRA – VILA FELINA – 19 HS - SCORTECCI




Dia 20/8 sexta-feira – Coleção Pá-Pum – Poetando e desenhando – 12hs - Komedi


A Coleção Pá-pum é destinada as crianças de 3 a 99 anos. Além de incentivar o gosto pela literatura com seus poemas sobre animais, os desenhos são apresentados de forma lúdica, em duas etapas, provando que qualquer um pode aprender a desenhar. Formato: 20 x 20
24 páginas Ilustrações de Paulo Branco

Dia 22/8 domingo - Sara – 16 hs


Sara era uma menina espevitada e que gostava de ler, mas sempre quando lia sentia fortes dores de cabeça. Sua mãe a levou num médico muito bom, um tal de "Oftalmo", e que dizia que "os olhos eram a porta da alma". Ficara assustada quando soube da noticia, revelada através de nomes estranhos, que teria de usar óculos. Sara foi com a mãe até uma loja comprar seus óculos novos. Lá havia uma infinidade deles, mas a menina escolhera um cor de rosa. No outro dia, quando estava a caminho da escola, descobriu que seus óculos eram mágicos, e passou a ver um mundo bem mais colorido, diferente. Mas o arco-irís de sara se tornaria monocromático novamente com o preconceito dos coleguinhas de classe, que não entendiam sua necessidade daquele objeto. O final dessa envolvente história de Simone Pedersen e de ilustração do renomado Paulo Branco vale a pena conferir. Com ou sem óculos, o que vale é a magia dos olhar de cada um de vocês.Espero você!




Simone Alves Pedersen, nasceu em São Caetano do Sul, viveu anos no exterior e hoje mora em Vinhedo, SP. Mãe do Dennis e da Natalie, se apaixonou pela literatura de Monteiro Lobato ainda criança. Formada em Direito, participa há dois anos de concursos literários, tendo conquistado inúmeros prêmios no Brasil e no exterior.Tem textos publicados em dezenas de antologias de contos, crônicas e poesias. Escreve para jornal, revista e diversos blogs literarios. Autora dos infantis Vila Felina, Conde Van Pirado, Vila Encantada, Sara e os óculos mágicos e Coleção Fuá. Para adultos lançou uma coletânea de textos premiados “Fragmentos & Estilhaços” e em Portugal o “Colcha de Retalhos” com poemas.


Blog: http://www.simonealvespedersen.blogspot.com/







Paulo Branco, artista plástico, cartunista, ilustrador e professor de desenho e técnicas de pintura.

Leciona Aulas de Arte, Desenho e Pintura há trinta anos.

Ilustrou para Editora Abril (Playboy), Revista Bundas e Jornal Pasquim (coordenado pelo Ziraldo), também para o Livro “É mentira Chico!” (em homenagem a Chico Anísio), para Rubem Alves ilustrou 2 livros (Quando eu era menino, Agenda 2000 – Edit. Papirus). Pelo Mapa Cultural Paulista, foi considerado o melhor desenhista de Humor do Estado de São Paulo (caricaturas).

Expôs em todos os espaços oficiais de Campinas. Trabalhou com caricatura ao vivo em grandes eventos.

Blog: http://www.paulo-branco.blogspot.com/
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