Amai-vos


de Gibran Khalil Gibran.

Amai-vos um ao outro,
mas não façais do amor um grilhão.

Que haja, antes, um mar ondulante
entre as praias de vossa alma.

Enchei a taça um do outro,
mas não bebais da mesma taça.

Dai do vosso pão um ao outro,
mas não comais do mesmo pedaço.

Cantai e dançai juntos,
e sede alegres,

Mas deixai
cada um de vós estar sozinho.

Assim como as cordas da lira
são separadas e,

No entanto,
vibram na mesma harmonia.

Dai vosso coração,
mas não o confieis à guarda um do outro.

Pois somente a mão da Vida
pode conter vosso coração.

E vivei juntos,
mas não vos aconchegueis demasiadamente.

Pois as colunas do templo
erguem-se separadamente.

E o carvalho e o cipreste
não crescem à sombra um do outro.

Poeta, pintor e filósofo libanês, Gibran emigrou com sua família para Boston (EUA) em 1895. Iniciou sua carreira literária escrevendo poemas e meditações para o Al-Muhajer (O Emigrante), jornal árabe local. Seu estilo novo, cheio de música, imagens e símbolos, atrai-lhe a atenção do Mundo Árabe.

Em 1910, muda-se para Nova York, onde reúne em volta de si uma plêiade de escritores libaneses e sírios que, embora estabelecidos nos Estados Unidos, escrevem em árabe. O grupo forma uma academia literária que se intitula Ar-Rabita Al-Kalamia (A Liga Literária), e que muito contribuiu para o renascimento das letras árabes.

Os primeiros livros de Gibran -- Asas Partidas, As Ninfas do Vale, As Almas Rebeldes, Temporais -- foram uma série de escritos revolucionários, com os quais esperava destruir tradições e instituições, denunciar a vilania e a estupidez, desmantelar o trono dos gananciosos, humilhar o clero que prega o que não pratica, edificar um novo estilo de vida.

Após esses livros, Gibran, o revolucionário, transformou-se em Gibran, o filósofo. Mais preocupado com a alma humana do que com as instituições sociais, convencido de que os piores inimigos do homem estão dentro e não fora dele mesmo, e que a compreensão e a compaixão são melhores instrumentos de reforma e progresso do que a condenação e a destruição. Viriam, então, os livros de mais ampla visão e de mais profunda ternura, como O Profeta, Jesus – O Filho do Homem, Areia e Espuma, dentre outros.

Gibran procura fazer do homem um homem melhor, sensível, justo, generoso, benévolo, mais apegado aos valores espirituais do que aos materiais, mais orientado pelo coração do que pelo interesse, mais feliz em dar do que receber. Seu ideal da vida: harmonizar-se com a natureza. "O amor é a única liberdade neste mundo, porque eleva a alma às alturas, além das leis e das tradições dos homens e das necessidades e imposições da natureza" (Asas Partidas). A leitura deste escritor é mais do que uma leitura, é uma saborosa renovação da alma.



Vinícius "Elfo" Rennó é graduando em Letras pela UFV. Gosta de cozer bem o que escreve. Basicamente, trata-se de um leitor glutão, amante de cinema e viciado em música. Atualmente é membro do corpo editorial da Contemporâneos – Revista de Artes e Humanidades e, juntamente com a Prof. Dr. Ana Maria Dietrich, coordena a ContemporARTES – Revista de difusão cultural.
Ler Mais

Será que um liquidificador pode refletir a respeito da existência? Se depender de André Klotzel, sim.




Banner explicativo das atracões do dia.

Nada contra os filmes que estão sendo exibidos em mais de vinte salas ao mesmo tempo dos Kinoplexes e Cinemarks dos grandes Shoppings da cidade, alguns deles: “Salt”, “A Origem”, “A Saga Crepúsculo: Eclipse”, “Os Mercenários”, etc. e tal. No entanto  é necessário,  saudável e inteligente fazer também um movimento no sentido contrário e pensar naqueles outros tantos que são exibidos em apenas três, duas ou até mesmo em uma sala, àquelas raras salas de cinema de rua, nicho dos filmes nacionais. Como é difícil emplacar com um filme brasileiro em cinemas brasileiros, nefasta tradição que sempre incomodou e preocupou atores, produtores e realizadores de filmes nacionais. Ao meu ver, existem pelo menos dois fatores que são determinantes e que contribuem para empurrarem os filmes brasileiros para fora das grandes salas; primeiro, brasileiro não costuma assistir filmes nacionais que não estejam, de alguma forma, relacionados a TV, mais especificamente a Rede Globo;  segundo, não há interesse de investidores por falta também de políticas públicas que privilegiam o cinema nacional,  então os donos das grandes salas de cinema não querem “arriscar” com projetos que incluam cinema nacional pois prevêem perdas de capital. Jurássico círculo vicioso que retrata nossa triste realidade cinematográfica. A mídia televisiva continua muito forte na cabeça do brasileiro e a Rede Globo ainda é uma grande referência dos gostos e costumes dos telespectadores e conseqüentemente do público do cinema nacional. É por esse viés que se justifica, por exemplo, o motivo pelo qual os filmes de Daniel Filho: “Se eu Fosse Você” e “Se eu Fosse Você II”, se tornaram os filmes mais vistos da Retomada, com público de mais de 6.000.000 pessoas, ultrapassando “2 filhos de Francisco”, com 5.319.677 de espectadores. O que está na Globo está na mente dos brasileiros. Grandes realizadores de cinema nacional ficam fora, à margem, do grande público, e quem sai perdendo são os realizadores, o cinema brasileiro e o público, que deixa de ver grandes filmes nacionais. Dos 34 longas nacionais que chegaram neste ano às telas, apenas cinco ultrapassaram a casa dos 100 mil espectadores; 22 deles venderam menos de 10 mil ingressos.

André Klotzel
Ana Lúcia Torre
Vocês devem estar pensando o que isso tudo tem a ver com o liquidificador com capacidade de refletir, pensar e opinar? Pois é, “Reflexões de um Liquidificador”, 2010, de André Klotzel é um exemplo de um filme nacional de qualidade que está sendo exibido em apenas uma sala da cidade: Espaço Unibanco Augusta. Porém, neste caso é de propósito, tomando como base um jeito de estrear filmes americanos nos anos de 1970, “Road-show”, no qual produtores americanos colocavam o filme em uma sala de Los Angeles e em outra de New York para criar um sabor de exclusividade, a produção de “Reflexões de um Liquidificador” optou em colocar o filme apenas no Espaço Unibanco Augusta.
Outro diferencial importante são as sessões terem preços variados. Na sessão das 14h, a inteira custa 4R$,  na das 16h, R$ 8,  e assim por diante e quem for às últimas sessões, nas das 20h e 22h, terá como bônus:
·      Curta-metragem selecionado pela equipe do Festival Internacional de Curtas
·      Show de stand-up com quatro atores que se revezarão (Marcelo Mansfield, Carol Zoccoli, Murilo Gun e Criss Paiva).

Obs: Toda segunda-feira após a sessão das 22h, o diretor do curta selecionado para a semana, participará de um debate com o público.

Toda quarta-feira, o diretor André Klotzel ou outro integrante da equipe de “Reflexões de um Liqüidificador”, conversará com os espectadores no final da última sessão.
Eu não podia deixar de conferir este evento, fui com o Matias, a Gege e o Leo

No carro indo para o Espaço Unibanco
Fomos conferir o Evento - Geisly e Leo
André falando a respeito do evento
Ana Lúcia Torre e André

Na quarta-feira, dia 11 de agosto fomos conferir esta, digamos, “mini-maratona cult”. Chegamos antes das 22h, o Espaço Unibanco estava numa noite privilegiada com muitos banners do filme e a presença de Ana Lúcia Torre, André Kotzel, Criss Paiva, Fábio Yamaji e convidados. As apresentações iniciaram com a fala de Klotzel contando-nos o propósito do evento, depois veio a fala de Yamaji sobre seu curta, seguida das considerações de Ana Lúcia Torre, que por sinal estava lindíssima e se mostrou muito simpática. Na seqüência entrou Criss Paiva com o Stand up leve, engraçado e criativo que conseguiu arrancar algumas gargalhadas da platéia, incluindo a minha. Assistimos o curta de Yamaji de 6 minutos, com repentes de Ubiraci Crispim de Freitas, o “Divino”, que contou sua vida num espirituoso documentário repleto de desenhos animados que deram um charme todo especial ao curta. Depois, assistimos ao filme “Reflexões de um Liqüidificador”, logo após a exibição, tivemos a oportunidade de trocar algumas palavras com os realizadores e atores do evento.

Adorei a experiência, uma coisa de esquete teatral com direito a debate e tudo que um espectador de cinema gosta. Não foi nada pesado, tudo teve um tom de 'belo sorriso', foi, sem dúvida, uma noite agradável.

Quanto ao filme de André, posso dizer que é leve, engraçado e ao mesmo tempo filosófico e fantástico. Um liquidificador que fala, reflete, tem memória e ainda tem a voz do Selton Melo, isso dá ao liqüidificador um tom acolhedor de confiança e paz. O liqüidificador contracena com Elvira, Ana Lúcia Torre, uma dona de casa aparentemente comum, casada há 40 anos e que se vê as voltas com o sumiço de seu marido de 67. Bela encenação da atriz que coloca em Elvira as dores e as insatisfações oriundas de uma vida pacata marcada pelo marasmo e pela falta de prazeres, denunciando muitas das angústias existenciais humanas. O liquidificador, um cúmplice perfeito, tem uma potente hélice que o faz pensar e moer. Moer é pensar.... pensar é moer.... , esses dizeres estão em um dos banners do filme. O sorriso do espectador surge da surpresa ao vivenciar dois sentimentos opostos porém muito bem articulados pelo diretor: O macabro está fazendo um belo par com a tranqüilidade dos monges budistas. Vale muito a pena assistir o filme e participar desse evento fantástico de André Klotzel..... Super recomendado!


Bom filme


Kátia Peixoto é doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP. Mestre em Cinema pela ECA - USP onde realizou pesquisas em cinema italiano principalmente em Federico Fellini nas manifestações teatrais, clowns e mambembe de alguns de seus filmes. Fotógrafa por 6 anos do Jornal Argumento. Formada em piano e dança pelo Conservatório musical Villa Lobos. Atualmente leciona no Curso Superior de de Música da FAC-FITO e na UNIP nos Cursos de Comunicação e é integrante do grupo Adriana Rodrigues de Dança Flamenca sob a direção de Antônio Benega.
Ler Mais

Além do Horizonte


Canção: Além do Horizonte (1975)
(Erasmo Carlos e Roberto Carlos)
Fotos: O [ in ] finito
(Duda Woyda - jan/jun 2010)


Além do Horizonte

Existe um lugar
Bonito e tranquilo
Pra gente se amar...

La LaraLaraLaraLara Lala...

Além do horizonte deve ter
Algum lugar bonito
Pra viver em paz
Onde eu possa encontrar
A natureza
Alegria e felicidade
Com certeza...
La nesse lugar
O amanhecer é lindo
Com flores festejando
Mais um dia que vem vindo...
Onde a gente pode
Se deitar no campo
Se amar na relva
Escutando o canto
Dos pássaros...


Aproveitar a tarde
Sem pensar na vida
Andar despreocupado
Sem saber a hora
De voltar...
Bronzear o corpo
Todo sem censura
Gozar a liberdade
De uma vida
Sem frescura...
Se você não vem comigo
Nada disso tem valor
De que vale
O paraíso sem o amor...
Se você não vem comigo
Tudo isso vai ficar


No horizonte esperando

Por nós dois...
Além do horizonte
Existe um lugar
Bonito e tranquilo
Pra gente se amar...

La Laralaralaralara Lala...

Se você não vem comigo
Nada disso tem valor
De que vale

O paraíso sem amor...
Se você não vem comigo
Tudo isso vai ficar
No horizonte esperando
Por nós dois...
Além do horizonte
Existe um lugar
Bonito e tranquilo
Pra gente se amar...

La LaraLaraLaraLara Lala...





DUDA WOYDA, ator, com experiências no Paraná e Rio de Janeiro, cidade com a qual mantem contatos profissionais. Integra a CIA Ateliê Voador e a CIA Teatro da Queda. Pesquisa questões relacionadas ao teatro físico e a sua relação entre dramaturgia corporal e teatralidade, priorizando a multidisciplinaridade.
dudawoyda@yahoo.com.br
Ler Mais

Contemporartes no Enearte

 
           A equipe Contemporartes teve uma ótima notícia essa semana. Ela foi aprovada para o XIV Enearte, encontro que acontecerá em Ouro Preto entre os dias 19 e 25 de setembro. O trabalho que levaremos é a mostra científica 14 vezes Arte: Contemporartes no XIV Enearte - Ouro Preto - 2010. Serão apresentados banners com melhores textos da Contemporartes privilegiando a expressão e análise de diferentes linguagens artísticas: cinema, teatro, música, fotografia, literatura e outros.
           Além da exposição, os integrantes da revista farão saraus literários, performances e debates de filmes. Haverá também a mostra de um curta inédito A Santinha do Vau Açu de Felipe Menecucci e do radiodocumentário Sintonia do Silêncio de Ana Paula Nunes e Maristella Paiva. Haverá também uma palestra sobre as pinturas do Muro de Berlim.
           As inscrições para ouvintes já estão abertas. Confira no site:



          Lembramos os colaboradores que o recebimento de artigos, resenhas e ensaios para o próximo dossiê da Contemporâneos-Revista de Artes e Humanidades termina no fim do mês (30 de agosto).

Nr. 7 - Dilemas da Contemporaneidade

Confira as normas no site.


Ana Maria Dietrich, doutora em História Social, é coordenadora da Contemporartes - Revista de Difusão Cultural, junto a Vinicius Rennó.
Ler Mais

ARTE e/na Rua, Inclusive



Aline Serzedello Vilaça
Era fim de tarde cinzenta, de uma sexta- feira levemente fria. Saia da saída, do lado ímpar da Paulista, da estação Brigadeiro, sentido Brigadeiro Luís Antonio, estava indo para aula de espanhol, do Projeto Espanhol para São Paulo com professores licenciados pela USP, projeto este, que é uma das várias coisas que realmente funcionam com qualidade, a preço popular, na capital paulista.
Com o frenético vai e vem das milhares de pessoas que corriam na hora do Rush, parecia mais um dia comum na cidade que não dormi, quando...
Ao sair do subsolo do metrô vejo ao fim da escada rolante, um belo jovem, com libertário cabelos Black Power para cima, um elegante blazer, e o case de seu violino, com bons trocados, trazendo em suas cordas um pouco do calor do xote para o cinza gélido da capital, alguns atenciosos assistiam, outros milhares apenas passavam.
Olhei, parei um pouco e continuei andando. Alguns metros dali, parei e pensei, “como eu iria deixar passar essa entrevista? E mais, semanas atrás morri de remorso de não estar com minha câmera fotográfica quando surpreendentemente encontrei e conversei muito sobre Cats e ser mulher e negra neste país, com a maravilhosa cantora Paula Lima na Livraria Cultura, ou quando perdi de entrevistar Tito Matino e sua Jazz Band, também na Livraria Cultura, ou quando mais uma vez não estava com a câmara e perdi cenas (fotografias) de verdadeiro horror poético nas ruas sujas da cidade da garoa.
Assim, voltei para ouvir o jovem músico, e logo que ele parou para respirar pedi a honra de entrevistá-lo, pois teria mais uma chance de continuar refletindo sobre o fazer artístico diante do contexto que cerca, envolve, abraça ou engole o artista.
“Sou Antonio de Souza, Músico de Rua, e estudante de violino, morador de Niterói, Rio de Janeiro. Estou por aqui, (São Paulo) pois foi onde iniciei este trabalho de rua. Eu sou um ser humano que procura trabalhar com a sensibilidade, por que vejo que é esse o caminho, não gosto desta palavra, mas acho que é a salvação da humanidade.”

· REVISTA CONTEMPORARTES _ Você começou aprender a tocar violino com quantos anos?

Com 17 anos, comecei por intermédio de uma entidade religiosa, e depois continuei em busca, pesquisando, no interior do Pará, Marabá, cidade a qual nasci, (deliciosa, grifo meu) dois rios, praia de água doce, sai de lá, meus pais já moravam aqui, vim tentar a sorte, como nunca consegui entrar em uma escola, a partir da rua as coisas mudaram. Um dia, da necessidade, faltou grana pra pagar a condução, como eu sempre andava com o violino nas costas, resolvi tocar, e as coisas começaram a virar, conheci uma galera que tocava na rua, fizemos um projeto juntos, que não deu certo, mas abriu portas. E a partir da rua que realmente tive um incentivo, consegui um bom professor, fiz aula com dos Santos que é um violinista da OSESP. Depois fui peregrinar para o Rio e lá foi bem legal pra mim, tem dado mais certo, mais oportunidades de estudar.

· E você compõe?

Componho, não me acho exatamente um compositor, mas somos um canal, então tem hora que vem alguma coisa, mas para a área que eu realmente procuro estudar é a interpretação, sonho em ser um bom intérprete. Mas componho, escrevo algumas poesias, textos em prosa, verso, e já fiz algumas coisas em teatro, então acabo criando algumas coisas.

· Pará, São Paulo e Rio de Janeiro, há uma diferença completa de meio, de pessoas, de cultura, culinário, hábitos, isso influência no seu trabalho?

Bastante, por que assim, da forma com que trabalho, eu acho que não consigo viver sem o clima próprio, preciso de um local com fluxo grande de pessoas, automaticamente a grande variedade de conhecimento encontrado em cada pessoa, pessoas com gosto mais apurado, mais refinado, e pessoas que realmente queiram saber entender o que você faz, talvez necessário seja na metrópole. A influência de cada lugar é o seguinte, brasileiro de forma geral é muito parecido, solidário, só que em alguns locais há um hábito maior, não conheço o nordeste, mas dizem que o pessoal é mais aberto, eu comecei aqui em São Paulo, que são vistos como mais fechados, mas fui criado em São Paulo então talvez eu já tinha a manha para me virar aqui, e tenho pessoas que me incentivam até hoje. No Rio o Carioca é mais aberto e curioso para vir e conhecer o trabalho do artista, para incentivar, conheço Curitiba também trabalhando com arte de rua, e destes três lugares, acredito que o Rio tem mais abertura.

· Você toca erudito também?

Estudo um pouco de erudito, música barroca. Toco na Orquestra de Cordas da Grota, em Niterói, que é de um projeto social, e a Orquestra é regida por um violista, Pessanha da Orquestra Sinfônica Brasileira.

· Coragem! Realmente costumo dizer que mesmo sem opção, pois não somos nós que escolhemos, ser artistas ou trabalhar em prol da arte, mas mesmo assim é fundamental tê-la, sem coragem não se entrega corpo e alma a arte. Qual é o papel da coragem em sua vida?

Ela concretiza, com a coragem você olha nos olhos do seu medo, e vai em frente, para superar esse homem que você é, e tornar-se algo além, por que o artista vive em outra dimensão, se transformando em um ser humano melhor, interagindo melhor com a sociedade.

· E Racismo? Você passou por alguma situação?

Ele existe, mas a arte tem esse papel de transformar, e quando você faz arte você toca nas pessoas, e sempre haverá críticas, sempre haverá preconceitos, mas quando você faz alguma coisa que está além do discurso, além das palavras, vai diretamente do sentimento verdadeiro da sua alma, para o sentimento verdadeiro de outras almas, esses preconceitos todos são quebrados. Que eu me recorde, assim diretamente não, talvez, desdenhas na rua, às vezes de outros músicos, por eu estar tocando na rua, mas diretamente não, não me recordo agora, prefiro guardar os gestos de carinho das pessoas que passam pela rua, do sorriso das crianças, do agradecimento dos mais velhos quando me vêem tocando. Outro dia vi o Saramago no Roda Viva, e ele foi questionado, “O que você fala para a crítica” Saramago responde, “eu fico em silêncio, só vou me estarrecer e eles vão continuar criticando, então permaneço em silêncio” e neste assunto também dou meu silêncio. Por que nesta área estamos sozinhos.

Antonio agradeceu a entrevista e afirmou que
“Fico contente de poder contribuir de alguma forma para a valorização cultural dos artistas deste país”.
E eu terminei aquela sexta-feira após a aula de espanhol, a apreciação de um espetáculo de dança no SESC Vila Mariana e está pequena entrevista, encantada com as milhares de possibilidades que uma cidade daquele tamanho oferece, mas ainda tomada pelo desconforto, desespero, raiva que quase me engole ao lembrar que a grande maioria das maravilhosas obras, pessoas, criações, locais (museus, teatros, cinemas, cafés, livrarias, sebos, e etc) ficam limitados e acessíveis a grande minoria que economicamente pode se inserir nos belos acontecimentos (bons espetáculos, bailarinos, bons músicos, bons escritores, cineastas, mostras, festivais, etc) da metrópole.
Este foi mais um dos ocorridos nesta vivência paulistana do meu primeiro semestre de 2010, espero compartilhar mais algumas histórias com vocês, agradeço, pois não foi fácil trabalhar com tamanha sensibilidade artística (da Cia que eu estagiava), diante de tanta fumaça, congestionamento, e tanta arte, pois São Paulo também nos oferece arte, e também nos oferece outros e os mesmos vocabulários, instrumentos, ferramentas para buscar um caminho próprio e entregue suficiente para ser considerado caminho artístico!
Daqui alguns dias contarei meu encontro com Amelita Baltar!!!

Obrigada,
Atenciosamente
Serze Vilaça
Ler Mais

"A Duração do Dia" - de Adélia Prado.



NOVA DELÍCIA DE ADÉLIA PRADO

por Altair de Oliveira


Minha melhor notícia da semana foi saber que a poeta e educadora mineira Adélia Prado lançou recentemente, pela editora Record, o seu novo livro de poemas "A Duração do Dia", depois de mais de 10 anos sem publicar (Oráculos de Maio, em 1999). Adquirido, este livro de uma de nossas maiores poeta viva, se tornou o meu mais novo e precioso tesouro.

Primeiramente foi impacto da capa, onde um trabalho do surrealista René Magritte estampa uma vela acesa e ereta entre os ovos de um um ninho, que me fez reencontrar o signo da oscilação entre o sagrado e o erótico, tão bem trabalhado pela poesia interessantíssima de Adélia. Esta mesma oscilação que às vezes sentimos também ao ler os versos de grande santa Tereza de Ávila, a quem a poeta faz referência no livro, num poema chamado "Santa Tereza em Êxtase". Depois foi o próprio título "A duração do Dia", que pareceu-me ressaltar um certo "carpe diem", como se veladamente nos alertasse sobre a brevidade ou a transitoriedade da vida.

Nos poemas, o dia a dia ou o próprio dia da poeta e sua prodigiosa brevidade. A mesma doce Adélia, simpática e brincalhona executando o seu cotidiano com perplexidade, fé e fino humor. (Como boas senhoras brincam as marrecas,/ falsas mofinas debicando nos filhos." ou "Olho grande deve ter Deus/ para enxergar num só lance....") Como em outros livros da autora, os poemas são anunciados por epígrafes biblicas. Mas a poeta fala a partir de sua casa, de seus interiores e, como diria Quintana, a poeta mora em si. Seus arredores são apenas matéria-prima que ela molda em palavras para compor com insólita simplicidade as suas impressões. O dia do poeta é feito de imagens, de olhares, de lembranças, de suposições... Plena de religiosidade e de humanidade, aos 75 anos a poeta continua belamente cuidando de seu "si" (corpo e alma) como queria santa Tereza, que construíssimos nossa própria alma como um castelo interior. Mas neste livro a poeta parece ter voltado-se também para o seu corpo (Meu coração/ é a pele esticada de um tambor./ Como tentação a dor percute nele,/ travestida de dor, para que eu desista,/ duvide de que tenho um pai." ou "Meu corpo me ama e quer reciprocidade."). Mas ela guarda em si a menina arguta e de bem com a vida que, com muita poesia, soube um dia explorar o lado engraçado e poético para aplacar as contrariedades. Um livro delicioso de ler, sem dúvida nenhuma! Custa menos de 30 reais e realmente vale cada um deles.

Do mesmo grande rio onde foram encontrados outros grandes mineiros, como Guimarães Rosa e Carlos Drummond, surgiu a poeta Adélia Prado em 1976, aos 40 anos, com um livro de poemas chamado Bagagem que, com uma poesia moderna e brejeira, falava dos assombros e alumbramentos de uma mulher interiorana de uma cidade média do meio do Brasil. Adélia nasceu em Divinópolis-MG, cidade média localizada no início do cerrado brasileiro, em 1935. O livro já trazia na bagagem a experiência poética daquela dona de casa que revalorizou a poesia feminina brasileira e que foi saudada por Drumond como fenomenal e, em seguida, encantou os apreciadores da boa poesia no país.



O QUE JÁ DISSERAM DELA:



"O erotismo, a liberação feminina e as peculiaridades da poesia são outros temas constantes nos textos de Adélia. A abordagem é a da dona de casa que trata tudo com a mesma simplicidade das tarefas cotidianas. Ela se auto-afirma sem medo, com a força que viria de Deus. Em seu provincianismo, não há tédio ou melancolia, como em Drummond. Pelo contrário: as pequenas coisas são cheias de significado, tornando-se universais. Segundo o professor José Helder Pinheiro Alves, o veio popular também se faz presente em poemas de caráter narrativo, como a prosa tradicional mineira. O caso e a conversa constituem a estrutura da poesia, que faz uso da fala coloquial para criar a vitalidade das imagens. Nesse ponto, ressalta-se a força que a sonoridade assume na poesia de Adélia. As vozes e os sons são matéria importante para transmitir aos versos as sensações que emanam do ambiente e das coisas." - Revista Bravo.

***

"Adélia é lírica, bíblica, existencial, faz poesia como faz bom tempo: esta é a lei, não dos homens, mas de Deus. Adélia é fogo, fogo de Deus em Divinópolis". - Carlos Drummond de Andrade.




POEMAS:




HARRY POTTER

Quando era criança

escondia-me no galinheiro

hipnotizando galinhas.

Alguma força se esvaía de mim,

pois ficávamos tontas, eu e elas.

Ninguém percebia minha ausência,

o esforço de levantar-me pelas próprias orelhas,

tentando o maravilhoso.

Até hoje fico de tocaia

para óvnis, luzes misteriosas,

orar em línguas, ter o dom da cura.

Meu treinamento é ordenar palavras:

Sejam um poema, digo-lhes,

não se comportem como, no galinheiro,

eu com as galinhas tontas.



***


DEVE SER AMOR

É preciso fé para cortar as unhas,

cuidar dos dentes como bens de empréstimo.

O cobrador invisível bate à porta.

Não durmo, ele também não.

Deve ser amor o que nos deixa unidos

neste avesso de mística.

Por orgulho de pobre

dou por bastante a pouca claridade

eprefiro a vigília

antes que ter repouso.



***


ALCATÉIA

Você reza demais, Luzia.

Que aborrecimento esta sua pressa

em fugir pro jardim com seu rosário.

Quem me dera, mesmo, dia e noite rezar,

estou oca de medo.

É admirável que com palpitação e boca seca

eu suba escada para ver do muro

quem fala tanto palavrão.

Rezar demais é ter rezado nada.

Invejo o bruto,

o que enfia no de todo mundo

e não tem medo de Deus.

Quem me dera os lobos fossem fora de mim,

bastava um pau e os afungentaria.

Mas seus fantasmas é que uivam inalcançáveis.

Só a oração os detém,

a que ainda não sei como fazer.


***

ESPLENDORES

Toda compreensão é poesia,

clarão inaugural que névoa densa

faz parecer velados diamantes.

Em pequenos bocados,

como quem dá comida às criancinhas,

a beleza retém seu vóetice.

São águas de compaixão

e eu sobrevivo.


Poemas de Adélia Prado, In: "A Duração do Dia", editora Record, 2010.

***

Para ler mais sobre Adélia: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ad%C3%A9lia_Prado



Ilustrações: 1- foto de Adélia Prado; 2- capa do livro "A Duração do Dia"; 3 e 4- trabalhos da pintora Maria Leontina.



Altair de Oliveira (poesia.comentada@gmail.com), poeta, escreve às segundas-feiras no ContemporARTES. Contará com a colaboração de Marilda Confortin (Sul), Rodolpho Saraiva (RJ / Leste) e Patrícia Amaral (SP/Centro Sul).
Ler Mais

Dicas para os cinéfilos


A coluna Drops Cultural, prestigia os cinéfilos e traz dicas de eventos e festivais imperdíveis para os apreciadores da sétima arte.


O grande destaque do III Festival de Paulínia, o filme “5x Favela – Agora Por Nós Mesmos”, escrito, dirigido e realizado por jovens cineastas moradores de favelas do Rio de Janeiro, treinados e capacitados a partir de oficinas profissionalizantes de audiovisual ministradas por grandes nomes do cinema brasileiro, como Nelson Pereira dos Santos, Ruy Guerra, Walter Lima Jr., Daniel Filho, Walter Salles, Fernando Meirelles, João Moreira Salles e muitos outros, será exibido nesta terça-feira (17). Após o longa, acontecerá um debate com produtores, elenco e a participação do diretor, Cacá Diegues.

Local: Espaço Unibanco de Cinema – Rua Augusta,1475/Consolação – São Paulo







Outro evento imperdível, dessa vez para os fãs de Hitchcook, é a comemoração dos 50 anos do filme Psicose. Em homenagem ao longa-metragem que ainda hoje é lembrado por sua trilha sonora, a cinemateca promove uma programação especial entre os dias 17 e 19 de agosto que envolve desde o Making of até a exibição do trailer original.

Local: Largo Senador Raul Cardoso, 207/ Vila Mariana.
Saiba a programação completa: http://www.cinemateca.com.br/




Ainda para os cinéfilos, acontece nesse mês a 21ª edição do Festival Internacional de Curtas-Metragens de São Paulo - Curta Kinoforum, principal evento dedicado ao formato curto da América Latina. O festival apresenta uma programação com obras premiadas, seminários, documentários animados, entre outros. Na programação três mostras dos programas especiais: Documentários Animados, Cinema de Galeria e Imagens Narrativas. O evento acontece entre os dias 20 e 26 de agosto.

Local: Cine SESC – Rua Augusta, 2075/ Consolação
Confira a programação: http://www.kinoforum.org.br/curtas/2010/



Ana Paula Nunes é jornalista, Pós-graduanda em Mídia, Informação e Cultura pela Universidade de São Paulo/USP. Editora assistente e Coordenadora de Comunicação da Contemporâneos - Revista de Artes e Humanidades. Escreve aos domingos na ContemporARTES.
Ler Mais