O Enigma do Guarda-Roupa


Hoje abriremos espaço para a divulgação do recente livro de Luana McCain, da Casa da Palavra. Abaixo segue a sua resenha e outras informações:

O Enigma do Guarda-Roupa é o primeiro volume da série Horror, composta por cinco títulos independentes, cujo objetivo é proporcionar calafrios de medo no leitor, mediante histórias arquitetadas no sobrenatural e nas profundezas da mente humana.

Com enredos simples, capítulos curtos e linguagem rápida, sem rodeios, os livros pretendem alcançar o público que não dispõe de tempo suficiente para leituras áridas, menos ainda o de fazer longos exercícios de imaginação.

Pretendem, também, transformar o ato de ler em momentos inesquecíveis, de modo que estes despertem o interesse, a curiosidade e motive o leitor a encantar-se com o universo da leitura.

Em O Enigma do Guarda-Roupa, o sobrenatural comparece da primeira à última página.

A história é contada de forma nua, crua, sem requintes, por uma adolescente que terá sua vida completamente virada de cabeça para baixo quando sua família resolve mudar-se para um sinistro casarão.

Lá, depara-se com um antigo guarda-roupa que, conforme a última moradora, é mal-assombrado.

No início, atribui a história a boatos. Mas após uma sucessão de bizarros acontecimentos, começa a perceber que há uma presença macabra à espreita.

Será que a adolescente conseguirá desvendar a tempo o enigma do guarda-roupa?


Páginas: 72Edição:Ano: 2010Editora: IgluISBN: 978-85-7494-131-8Formato: 21x14cmPeso: 91g
Sérgio Simka
É professor universitário e escritor. Coordenador do curso de Letras das Faculdades Integradas de Ribeirão Pires (FIRP). Seu site: www.sergiosimka.com.

Luana McCain
Cursa Letras na UNIESP (antigo IESA), em Santo André-SP.

Seri
É jornalista e ilustrador. Trabalha no jornal Diário do Grande ABC, de Santo André-SP.
Ler Mais

Alain Resnais, mais de 144 semanas em cartaz com Medos Privados em Lugares Públicos.


Cartaz do Filme
Alain Resnais está com 87 anos e continua em plena forma. Seu filme, Medos Privados em Lugares Públicos, (Coeurs, 2006) está em cartaz há mais de 144 semanas com uma média de 130.673 espectadores no Brasil, 90.316 só em São Paulo. Atualmente o filme pode ser visto na sala Carmem Miranda do Belas Artes. Na semana passada fui conferir e constatei que a cópia está um pouco surrada e a sala não é lá essas coisas, no entanto, para quem gosta de cinema é uma ótima oportunidade de assistir ao filme em película e no escurinho do cinema. André Sturm, responsável pelo Belas Artes, garante que enquanto o filme tiver público, continuará em cartaz. Quem preferir, poderá assisti-lo em DVD. 


Thierry e Nicole


Medos Privados em Lugares Públicos foi baseado no livro "Private Fears in Public Places", de Alan Ayckbourn, aliás outra obra de Alan já inspirou Resnais em Smoking/No Smoking, 1993. Medos Privados em Lugares Públicos conta a história de seis personagens que estão de alguma forma interligados, porém nunca serão apresentados juntos em cena. O eixo central da trama está no relacionamento entre eles que acontece quase sempre de dois em dois personagens, alternando-se entre si, formando uma rede que define a trama central.







Gaëlle e Dan
Um final apoteótico, com o encontro de todos os seis personagens não é o objetivo de Resnais, que prefere oferecer a nós espectadores outras coisas como: as dores e os incômodos causados por conta desses relacionamentos. Dizendo assim, vocês podem até pensar que o filme é pesado demais, eu diria que é denso e belo, pois consegue mostrar com sensibilidade e profundidade,  seres solitários que se relacionam com alguém apenas para deixarem de serem sozinhos, aliás esse é um dos dilemas da humanidade. Esses encontros acontecem sempre em cenas internas de ambientes fechados como: um escritório imobiliário de vidro, um bar techno-kitsch, dois apartamentos pequenos e outros tantos que o corretor Thierry (Andre Dussollier), tenta encontrar para o casal, Nicole (Laura Morante) e Dan (Lambert Wilson).


Dan e Nicole
Os noivos, Dan e Nicole, vivem em crise e seus encontros são tão interessantes quanto os de Nicole e Thierry, o corretor de imóveis. Somente em poucos momentos do filme contracenam os três juntos, Nicole, Dan e Thierry. A opção do Fotógrafo, Eric Gautier, em filmar os apartamentos com uma grua chapada, expondo a planta dos cômodos que são divididos por paredes finas e inexpressivas, dá ao ambiente uma enorme sensação de frieza e desaconchego. Essa frieza dos apartamentos é reforçada também pelas cenas que mostram o inverno de Paris, pela neve que cai constante nas ruas (vista nos contra- planos). Os relacionamentos distantes e efêmeros das personagens contribuem com esse clima distante.



Gaëlle, Lionel e Dan no Bar

Gaëlle (Isabelle Carre), irmã de Thierry, é uma jovem solitária que consegue ser ao mesmo tempo carente e pudica. A personagem está sempre em dois lugares: chegando ao apartamento que divide com o irmão ou  sentada sozinha em um bar à espera de uma pessoa. Essas cenas do bar me fizeram lembrar Esperando Godot de Beckett.

O barman Lionel (Pierre Arditi) se relaciona com Dan, noivo de Nicole sempre no bar techno-kitsch em que trabalha Lionel. Esses encontros são meras conversas de bar e Lionel, o barman,  fala pouco com uma expressão quase congelada, como a dos jogadores de pôquer, ou seja,  imutável. Na verdade Lionel padece do mesmo problema todos os dias: precisa alguém para cuidar de seu pai doente enquanto trabalha.



Charlotte e Lionel

Lionel acaba contratando a cristã com ar misterioso, Charlotte (Sabine Azéma), que também trabalha com Thierry na imobiliária. Thierry e Charlotte trabalham juntos na imobiliária e Charlotte também trabalha para o barman Lionel. Dan, freqüenta o bar de Lionel que é noivo de Nicole e que conhece o corretor Thierry que trabalha com Charlotte. O ciclo se fecha quando Lionel contrata Charlotte para cuidar de seu pai. Charlotte trabalha na imobiliária durante o dia e cuida do pai de Lionel durante a noite. Outras relações serão formadas a partir desses encontros. O filme possui imagens expressionistas e surreais  e se passa em Bercy, uma área de Paris que foi grandemente renovada e modernizada, apesar de que esse fato não muda muito as cenas do filme, porém fortalece a idéia da Paris Moderna.

Enfim Viúva
Vale muito a pena assistir Medos Privados em Lugares Públicos, mas se saírem do cinema um tanto amargurados sugiro que se dirijam para o próximo cinema e assistam Enfim Viúva, (Enfin Veuve, 2007) uma comédia romântica francesa com direção e roteiro de Isabelle Mergault, em cartaz nos cinemas. Enfim Viúva é para vocês, leitores, aliviarem a tensão e ficarem com a sensação de que filme francês também pode ser leve e à toa. Também um bom filme.

Enfim Viúva

Assistam os Trailers:

Medos Privados em Lugares Públicos



Enfim Viúva



Assistam aos filmes franceses, Medos Privados em Lugares Públicos e Enfim Viúva.
Bom Filmes!


Kátia Peixoto é doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP. Mestre em Cinema pela ECA - USP onde realizou pesquisas em cinema italiano principalmente em Federico Fellini nas manifestações teatrais, clowns e mambembe de alguns de seus filmes. Fotógrafa por 6 anos do Jornal Argumento. Formada em piano e dança pelo Conservatório musical Villa Lobos. Atualmente leciona no Curso Superior de de Música da FAC-FITO e na UNIP nos Cursos de Comunicação e é integrante do grupo Adriana Rodrigues de Dança Flamenca sob a direção de Antônio Benega.










Ler Mais

PARALELAS - BELCHIOR (1990)


PARALELAS - BELCHIOR (1990)


Dentro do carro, sobre o trevo a cem por hora, oh! meu amor
Só tens agora os carinhos do motor
E no escritório em que eu trabalho e fico rico
Quanto mais eu multiplico diminui o meu amor
Em cada luz de mercúrio vejo a luz do seu olhar
Passas praças, viadutos, nem te lembras de voltar
De voltar, de voltar
No corcovado quem abre os braços sou eu

Copacabana esta semana o mar sou eu
Como é perversa a juventude do meu coração
Que só entende o que é cruel e o que é paixão
E as paralelas dos pneus n'água das ruas
São duas estradas nuas em que foges do que é teu
No apartamento, oitavo andar, abro a vidraça e grito
Grito quando o carro passa: teu infinito sou eu
Sou eu, sou eu
No corcovado...








DUDA WOYDA, ator, com experiências no Paraná e Rio de Janeiro, cidade com a qual mantem contatos profissionais. Integra a CIA Ateliê Voador e a CIA Teatro da Queda. Pesquisa questões relacionadas ao teatro físico e a sua relação entre dramaturgia corporal e teatralidade, priorizando a multidisciplinaridade.
dudawoyda@yahoo.com.br
Ler Mais

Chegou a hora: Contemporartes vai a Ouro Preto!


           No próximo domingo (19) começará o ENEARTE, Encontro Nacional dos Estudantes de Arte, que se realizará na Universidade Federal de Ouro Preto. A equipe da revista Contemporartes estará presente com a MOSTRA CIENTÍFICA INTERATIVA - 14X  ARTE - Contemporartes no XIV Enearte - Ouro Preto -2010, que acontece no Auditório da UFOP nos dias 20, 21 e 22 de setembro das 8h às 12h.
            A equipe mostrará uma exposição de banners de 2X2m com os melhores textos publicados nas colunas da revista em 14 formas de arte/ difusão artística que são: dicas culturais, humanidades, cinema, teatro, crítica humanística, poemas, crônicas, palavras do autor, contos, análise literária, música, fotografia, artes plásticas, bibliofagia. A ideia é mostrar como a revista dá diferentes tonalidades de cores ao imenso universo artístico privilegiando sua difusão eletrônica por diferentes formas de expressão.
           A mostra terá também: saraus literários, mostras de filmes, radiodocumentários e documentários inéditos, debates sobre temas da humanidades. Para elaborar/ criar / participar dessas atividades, estarão presentes os colunistas Yone Ramos e Rodrigo Machado, os editores-assistentes da Revista Contemporâneos Talita Araujo e Filipe Batalha, os colaboradores da faculdade de Letras da Universidade Federal de Viçosa Gislene e Daniel Vecchio e a autora do documentário Sintonia do Silêncio Maristela Paiva. Na coordenação das atividades, Ana Maria Dietrich e Vinicius Rennó.
            A mostra interativa acontece no plano de objetivos da Contemporartes - levar sua proposta artística para outros lugares do Brasil e angariar leitores e colaboradores em nível nacional. Nesse mesmo sentido, foi feito o lançamento da Contemporartes e Contemporâneos na Anpuh/Salvador em julho e no Encontro Nacional de Integralismo em abril desse ano.
              A Mostra teve apoio institucional da Pró-Reitoria de Extensão da Universidade Federal do ABC.
                Confira abaixo a programação completa. Esperamos vocês por lá!


MOSTRA CIENTÍFICA INTERATIVA - 14X  ARTE - Contemporartes no XIV Enearte - Ouro Preto -2010
Local: Auditório da UFOP


1º Dia - 20.9 - 9h às 12h –
1. Sarau de poemas – Apresentação de poemas publicados na Contemporartes e mostra visual em datashow. O  público interessado também poderá trazer suas produções (responsáveis Vinícius Rennó  com ajuda de Yone Ramos). 

2. Apresentação do Cinejornal Matraca – Santinha do Vau Açu seguido de debate com o diretor Felipe Menecucci. (responsável - Felipe Menecucci/Ana Maria Dietrich)

3. Exposição iconográfica - 14 X ARTE - Contemporartes no XIV Enearte - Ouro Preto- 2010.

2º Dia - 21.9 | 9h às 12h
1. Arte no Muro de Berlim – debate comandado pela Profa. Dra. Ana Maria Dietrich.

2. Sarau de crônicas – Apresentação de crônicas e contos publicados na Contemporartes e mostra visual em datashow. O público interessado também poderá trazer suas produções. (responsável Yone Ramos com ajuda de Rodrigo Machado, Gislene e Daniel Vechio)
3. Exposição iconográfica - 14 X ARTE - Contemporartes no XIV Enearte - Ouro Preto- 2010.
3º Dia | 22.9 | 9h às 12h
1. Apresentação e crítica cinematográfica do filme Edifício Master (2002) de Eduardo Coutinho (responsáveis Filipe Batalha e Talita Araújo).http://www.youtube.com/watch?v=f3ixpEjj2D0
2. Apresentação do radiodocumentário Sintonia do Silêncio de Maristella Paiva Cota e Ana Paula Nunes seguido de debate (responsável Maristella Paiva Cota)
3. Exposição iconográfica - 14 X ARTE - Contemporartes no XIV Enearte - Ouro Preto- 2010.
     









Ana Maria Dietrich, doutora em História Social e profa. adjunta da UFABC, prof. colaboradora do Mestrado em História da USS, é coordenadora junto a Vinicius Rennó, da Contemporartes-Revista de Difusão Cultural.
contemporartes@gmail.com
Ler Mais

Tempestade de Poética


Aline Serzedello Vilaça.

A cidade nos espreme, quase engole, o cinza, a sujeira, a poluição, o cheiro metropolitano de não- natureza, o corre- corre, os filhos e mães do crack, o Metrô lotado, o ônibus abarrotado, as buzinas, sirenes, o corta- atravessa das motos, os assaltos, seqüestros, tudo nos hiper- sensibiliza, estressa, fragiliza.
O olhar vazio e distante dos transeuntes sempre atrasados, nos assusta. A beleza sofisticada dos grandes aranhas- céu a lá Paulista nos confunde, o cheiro do expresso nos encanta, a garoa umidamente nos permite melancolia. O Muni

cipal em reforma, nos engana esperançosos. O voltar para casa nos garante alívio em êxtase.

Ahh, Sampa!!!
[...]
É que quando eu cheguei por aqui eu nada entendi
Da dura poesia concreta de tuas esquinas
Da deselegância discreta de tuas meninas
[...]
Quando eu te encarei frente a frente
não vi o meu rosto
Chamei de mau gosto o que vi, de mau gosto o mau gosto
[...]
E quem vem de outro sonho feliz de cidade
Aprende depressa a chamar-te de realidade
Porque és o avesso
 do avesso do avesso do avesso
[...]
Do povo oprimido nas filas, nas vilas, favelas
Da força da grana que ergue e destrói coisas belas
Da feia fumaça que sobe apagando as estrelas

    
Eu vejo surgir teus poetas de campos e espaços...
Caetano Veloso
Em meio ao caos economicamente vantajoso desumano, ameaçador e tecnologicamente fantástico da megalópole, do “mau gosto”, do “mau gosto”, do “avesso”, continuei a procura...
Palavras como sensibilidade, engajamento ideológico, político, artístico, entrega de corpo e alma, devoção, paixão, desespero criativo. Tesão, doação, gentileza, maturidade cênica, e poética, pareciam cada vez mais distantes de realmente qualificar algo, nesta “hemorragia inestancável de novidades”¹ que nem mesmo às Artes perdoa. Mas mesmo assim, buscava preencher-me, encontrar estas palavras em estado concreto constituindo algo que pudesse ser apreciado...
Precisava de algo que emocionasse, precisava ver verdade, sinceridade, liberdade. Precisava esquecer por alguns minutos a realidade que pressiona, a partir de um corajoso escapismo para além do desconhecido misterioso da Arte. Precisava de momentos de entretenimento. Mas sobre tudo apreciar em alta fruição, elementos que me descem munição pra bem refletir e transformar o que nos rodeia.
Buscava inspiração para no porvir, Arte também parir...

E sem desistir, porém cansada da procura;
No dia 25 de junho de 2010, me encontro pela primeira vez no Memorial da América Latina em São Paulo, arquitetura magnífica de Oscar Niemeyer, ambiente respeitoso, digno e belo.
Encaminho-me até o teatro para acompanhar e ajudar no que fosse necessário no ensaio do Ballet Stagium que maravilhosamente às 21hrs daquele dia iria compartilhar o palco com a deslumbrante Amelita Baltar.


Mesmo certa que seria uma noite estupenda e ciente da beleza do espetáculo, por ter tido o privilégio de acompanhar os ensaios para essa remontagem. Mesmo ciente de que o Ballet Stagium² carrega em sua ideologia e práxis artística as palavras que tanto procuro, mesmo sentindo no ar que não se tratava de mais uma noite de espetáculo. Sinceramente não imaginei que o arrebatamento seria tamanho...
Eis o final Feliz...
A Grande dama do tango Amelita Baltar, cantora, argentina, ex- esposa do magnífico Astor Piazzolla se apoderou do palco com todo seu domínio, elegância, paixão, devoção visceral e seu entendimento de cada sílaba que cantava, arrepiando meu corpo, invadindo minha alma sem pedir permissão. Inundando-me de lágrimas, como eu já derramava diariamente nos ensaios, mas com a intensidade multiplicada exponencialmente...
E como se não bastasse tamanha e
xplosão de sensibilidade que acometia meu Ser, eis que surgem os bailarinos, mesmo os conhecendo e conhecendo a coreografia, fui sucumbida pelo prazer, deleite como quando somos surpreendidos...
Eram corpos entregues em movimentos de proposta e lapidação estética primorosamente planejados pelo coreógrafo Décio Otero e cuidadosamente dirigidos pelo olhar experiente e sagaz de Márika Gidali diretora do Ballet Stagium.
Os queridos Paula Perillo e Marcus Veniciu, que fizeram parte do elenco de 1996 (primeira montagem de Tangamente), Márcia

Freire, Eduardo Mascheti, Poty Ara Botzan, John Santos, Olívia Maciel, Marcos Palmeira, Camila Lacerda, Edilson Ferreira, Catherine Kodama e Rafael Carrom em agradável sintonia com a maravilhosa Amelita, proporcionaram a platéia (com 1000 lugares ocupados), momentos de verdadeira inspiração...

Sei,
Que alcancei as palavras que procurava em desespero, ao fruir a partir do desespero poético que permeia a obra, aliás, outra característica do Stagium é alcançar o status de Arte e o concreto real palpável de Obra. Desespero este que ilumina os corpos em cena e os corpos que apreciam, desespero que inundou meu rosto de lágrimas, que arrepiou meu corpo, que me deu desejo incontrolável de subir no palco e dançar/cantar também. Desespero, que preciso esclarecer que o juízo que lhe aplico não é pejorativo como pensam e categorizam aqueles que sobre- vivem sob as regras da falsa estabilidade mono- polar emocional. Pelo contrário, é o DESESPERO que me encanta no fazer, que me impulsiona, é o que dá o sabor da precisão da volúpia do realizar imediato pela necessidade...
Assim,
Ballet Stagium e Amelita Baltar, naquele dia 25 nos proporcionou, momentos de desespero entregue de alma, momentos de verdade, sinceridade, devoção, Arte, Obra, Dança, Música e POÉTICA!!!!
Agradeço a Dona Márika e Maestro Décio Otero, à Cia, e à Amelita Baltar por tamanho privilégio,
Ahhh!!! Próximo assunto "Bando de Teatro Olodum" e o ensino de história Afro- Brasileira a partir da Literatura.
Aline Serzedello Vilaça
¹ Helena Katz, O Estado de S. Paulo. 6 de Julho de 2010.
² Ballet Stagium, Cia de Dança brasileira divisora de águas na história da dança do país. Dirigida por Márika Gidali e coreografias de Décio Otero completará em 2011, 40 anos de atividades ininterruptos. Até 2009, o Stagium havia realizado 3.359 espetáculos, que foram vistos por 1.851.692 pessoas.
Confira vídeos do Espetáculo Tangamente 2010 nos endereços http://videolog.uol.com.br/video.php?id=553462 e http://www.youtube.com/watch?v=h8AuZAK_L-Y




Ler Mais

Dos Poemas Reunidos de Geraldo Carneiro


Um Manipulador de Palavras
por Altair de Oliveira

Para o deleite de nossos leitores, trouxemos hoje alguns poemas do genial Geraldo Carneiro, mineiro radicado no Rio de Janeiro, poeta, ensaista, tradutor, dramaturgo, roteirista de cinema e TV e letrista de músicas. Enfim, um artísta contemporâneo de importância capital para o nosso país, autor que está desde o início da década de 70 compondo poemas de qualidade e que tão bem soube aproveitar os espaços da mídia moderna para viver com poesia.

Nascido em Belo Horizonte em 11 de junho de 1952, Geraldo Carneiro mudou-se para o Rio aos 3 anos de idade e iniciou seus trabalhos poéticos com a publicação de "Na Busca do Sete-Estrelo", em 1974. Desde então o poeta já publicou mais de quinze livros e, em 2002, publicou o livro "Lira dos 50 Anos" para celebrar o seu meio século no mundo. Neste nosso ano de 2010, a editora Nova Fronteira publicou seu "Poemas Reunidos de Geraldo Carneiro", reunindo escritos de mais de 36 anos de poesia, deste que é por muitos como um dos principais poetas de língua portuguesa. Culto, moderno, musical e muitíssimo bem-humorado, o poeta é um apaixonado pela poesia e pela língua portuguesa e, para o nosso bem, ele é um grande manipulador da palavra. Para aqueles que ainda não conhecem o trabalho do bardo, recomendamos fortemente a leitura deste seu livro de "Poemas Reunidos". Para todos uma grande semana e uma leitura deliciosa!



Os Poemas



aquarela dela

quem é minha saúde, minha rosa
meu jajá, meu quindim, minha overdose
quem é minha verdade, meu caô
meu tamborim, meu surdo e agogô
meu Che, meu Fidel Castro, meu palanque
meu ângelus, meu caos, meu baile funk
quem é minha orixá, minha maçã
minha odalisca de Cubanacan
quem é a minha, a minha foice
a minha Capitu, meu James Joyce
quem é minha iaiá e meu ioiô
minha Naomi Campbell de maiô
quem é minha nação iorubá
meu samba, rock'n'roll e chachachá
quem é a minha flor, a minha ave
a minha idolatrada salve, salve?
(Deus pode até ter cometido enganos,
mas em você acertou todos os planos)


Geraldo Carneiro, In: "orfeu contra odisseu"

***

recado no avião


busco em você o sol do meu sistema

eu circulando sempre ao seu redor.
busco em você o bem e o mal de amor
o sonho o carnaval e a dor maior

não sei em que sessão, em que cinema
você nasceu do mar como sereia,
desde que encarnação você passeia
na Ipanema da imaginação

só sei que é cedo sempre que te vejo
e acendo o sol de que o desejo é feito
e fico aqui pairando e percebendo
que até agora o mundo era imperfeito


Geraldo Carneiro, In: "orfeu contra odisseu"


***

quem diria

ser cético era sonho de consumo
quando eu me consumia sendo jovem,
ser joyce, guimarães ou ser vinicius
no trânsito das musas musicais,
naquele tempo ainda não sabia
que a mim só me cabia ser eu mesmo.
hoje mudei, Ulisses de mim mesmo,
procuro minha ilha em Tordesilhas,
uma sereia que me faça bem,
me faça mal, me faça quase tudo.
eu que só tinha credo dos ateus
quero que a vida voe sempre assim
no piloto automático de Deus



Geraldo Carneiro, In: "Caindo do Céu."

***

os fogos da fala


a fala aflora à flor da boca
às vezes como fogos de artifício
fulguração contra os terrores do silêncio
só espada espavento espelho
ou pedra ficção arremessada
ou canção pra cantar as graças
as virilhas as maravilhas da amada
a deusa idolatrada de amor:
essa outra voz quase jazz
que subjaz ventríloqua de si mesma


Geraldo Carneiro, In: "Folias metafísicas."


***

o solipsismo


só lida
com sua sólida
solidão


Geraldo Carneiro, In: "Novo Planglossário."

***

os anjos não têm sexo


o sexo é o guarda-chuva da felicidade
a felicidade é o guarda-chuva do sexo
o guarda-chuva é a felicidade do sexo
o sexo é a felicidade do guarda-chuva
o guarda-chuva é o sexo da felicidade
a felicidade é o sexo do guarda-chuva


Geraldo Carneiro, In: "Almanaque de Espetáculos."

***

fortuna crítica

sonhou sonhos de poder & glória
pavoneou-se: espalhou jactâncias
pensou que era um profeta angelicaos
o penacho como um sol de solidão
no céu de deuses marginais;
foi morar no palácio do Parnaso
entre líricos & burlescos
nem penthouse pra lá de suas posses:
não passava de um novo-rilke


Geraldo Carneiro, In: "Desinvenção de Orfeu."


***

Para Ler mais:
http://www.geraldocarneiro.com


***

Ilustrações: 1- foto do poeta Geraldo Carneiro; 2- capa do livro Poemas Reunidos de Geraldo Carneiro; 3- Trabalho do pintor matogrossense Adir Sodré; 4- Detalhe do quadro "Flores", de Adir Sodré.


Altair de Oliveira (poesia.comentada@gmail.com), poeta, escreve às segundas-feiras no ContemporARTES. Contará com a colaboração de Marilda Confortin (Sul), Rodolpho Saraiva (RJ / Leste) e Patrícia Amaral (SP/Centro Sul).
Ler Mais

OI VITOR, BOM DIA!


Por Ivan Bilheiro.

Não ousaria dizer que essas coisas só acontecem comigo. O mundo é louco mesmo, todo mundo já aceita essa verdade. Logo, esse tipo de coisa já deve ter acontecido com você. Porém, comigo, essas coisas têm ocorrido muito frequentemente, e num lugar especial: o ônibus que me leva para a faculdade. Entre os mais variados acontecimentos, esse chama a atenção pelo desespero que me gerou. Provavelmente, familiar a muitas pessoas.

Era uma segunda-feira. Torço sempre para chegar segunda-feira, pelo retorno à rotina, às atividades. Gosto de descansar no final de semana, mas gosto muito da minha vida corrida que volta a se iniciar nas segundas-feiras.

Entrei no ônibus. Sempre consigo lugar para sentar. Nos pontos seguintes é que ele se torna o verdadeiro inferno, ou uma lata de sardinha (o que dá quase no mesmo). Eram (ainda) sete horas da manhã. Escolhi um banco e me sentei. Corredor ou janela? Janela, claro. Não curto as pessoas acertando suas mochilas em mim logo de manhã. Puxei meu livro de filosofia (Thomas Hobbes, pra ser preciso) e me enfiei na leitura. Minha missão era simples: concentrar-me na leitura, desligado do mundo (o ônibus) que me rodeava, até a hora de descer no ponto da faculdade.

Tudo normal, aparentemente. Mas, um ponto depois de eu pegar meu livro, entram várias pessoas. Eu ainda enfiado no livro. Eis que, de repente (claro!), uma pessoa que acabara de se sentar ao meu lado, me cutuca freneticamente no ombro e diz, imensamente feliz:
– Oi Vitor, bom dia!!!
– Olá! Bom dia! – respondi, sem a menor pretensão de alongar conversa. Mas só depois da resposta e de voltar os olhos para as páginas do livro percebi a ironia da cena, um detalhe quase insignificante: eu não me chamo Vitor! Quase no mesmo instante em que eu tive esta percepção, novo cutucão e, junto de um sorriso, a pergunta:
– Você está estudando onde, Vitor?
– Na UFJF, senhora.
– Olha! Você já está na faculdade, Vitor?

Eu não saberia dizer se aquela simpática e sorridente mulher repetia constantemente o nome da pessoa com quem achava que estava conversando simplesmente por repetir ou se ela também tinha alguma desconfiança de que eu não era o tal Vitor. Talvez ela tivesse a intenção de confirmar. Ou não.
– Sim, já estou.
– Estudando o quê?
– Filosofia.
– Ah.

Essa foi a única parte familiar da conversa. Sempre que digo meu curso, a reação das pessoas não costuma passar de um “Ah, legal”. Desta vez veio em sua versão resumida “Ah”.

Depois disso, voltei os olhos para o livro mais uma vez. Foi aí que caí na reflexão: este movimento automático de voltar os olhos para o livro pode estar demonstrando que eu não quero papo. Ora, mas eu realmente não quero papo. Aliás, não tenho nada contra em levar um papo com esta simpática senhora. Ela é que deveria ter algo contra, já que não sabe quem sou eu. Ou pensa que sabe.
O desespero então tomou conta de mim: meu Deus! Ela pensa que eu sou o Vitor. Quem será esse Vitor? Ora, de que interessa isso. Só me interessa que eu não sou o Vitor, e qualquer assunto mais pessoal sobre a vida do Vitor ou algo que o Vitor saiba pode criar a situação mais constrangedora a que este ônibus já assistiu. Imaginei:
– Mas então, Vitor, como foi a festa de aniversário da sua irmã? Infelizmente não pude ir, contrai dengue, como você sabe.
– Er... senhora, me desculpe, mas eu não sou o Vitor.

Como eu poderia dizer uma coisa dessas, depois de já ter, de certa forma, respondido como se fosse o Vitor?! Melhor começar a torcida para que essa senhora chegue logo ao destino dela e salte do ônibus.

Percebi então que ainda estava olhando para o livro. Fingi mudar de página, como quem realmente estivesse lendo. E no mesmo instante, gelei ao ser, mais uma vez, cutucado (aliás, ainda bem que eu não sou o Vitor! Que mulher chata, só fala cutucando!):
– Olha minha filha, Vitor! – e apontou uma guria loira, sentada no banco da frente, que se virou.
– Oi, tudo bem?! – perguntei, sem saber se dizia “muito prazer”, “há quanto tempo”, ou... “não sou o Vitor!!!!”.

A garota acenou com a cabeça. Será que ela percebeu? Ah, não... lá se foi meu disfarce! Disfarce? Não! Eu não estou me passando pelo Vitor. Ou estou?!

Antes de qualquer outra atitude de fuga de minha parte, voltando a olhar (sem ler) para o livro ou para a janela, a simpática senhora cutucou-me (!!!) mais uma vez e, com o maior dos sorrisos, aliviou-me:
– Tchau, Vitor! Um beijo para sua vó!
– Ah, claro. Até mais!!!

E o banco ao meu lado ficou vazio. Olhei, com satisfação, a mulher e a filha descendo do ônibus. Que tipo de sentimento ela terá quando perguntar ao verdadeiro Vitor como vai a faculdade e ele disser que ainda está no Ensino Médio?

Não deu nem tempo de pensar sobre isso. Alguém sentou-se ao meu lado e, imediatamente:
– Ô rapaz, quanto tempo!
Ih, vai começar tudo de novo... Por sorte, ao olhar, achei familiar. Mas como será o nome desse garoto mesmo?! Decidi entrar na brincadeira e, sem hesitar:
– Faaala, Vitor! Quanto tempo! Como vai sua avó?

E assim começou a semana. Os mais puros atos de tortura psicológica, naquela rotina tranquila do mundo moderno.


Contribuição do leitor Ivan Bilheiro, que é graduando em História pelo Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora (CES/JF), tendo cursado também disciplinas na faculdade de Teologia do Instituto Teológico Arquidiocesano Santo Antônio (ITASA). Graduando em Filosofia pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Escritor, tem textos publicados em jornais, sites, revistas e periódicos científicos. Fez curso na área de contação de histórias e recebeu prêmios por produções literárias.
Ler Mais