Vamos ver a banda passar?


Algumas atitudes da Ministra da Cultura causaram perplexidade nos defensores da livre circulação dos bens culturais. Estas mesmas atitudes gozaram de amplo respaldo de entidades como ECAD e de artistas que estão no TOP 10 de arrecadação. Entre as ações as quais me refiro, estão: a retirada do símbolo da creative commons do site do MINC e a nomeação de Márcia Regina para Diretoria de Direitos Intelectuais. Advogada de formação, Márcia tem posições conservadoras sobre a possibilidade de compartilhamento cultural proporcionada pela WEB. O tema central deste debate, que ainda vai gerar muitos desdobramentos, não foi a retirada da logomarca, mas sim as diversas declarações da Ministra em relação à flexibilização da propriedade intelectual e as normas que regulamentam este direito dos autores.


A ministra também declarou através da mídia, sua posição contrária à regulação pública de entidades como ECAD, mesmo sabendo de processos movidos por artistas contra o escritório, sob acusação de não repassar devidamente o capital arrecadado. Ainda com relação aos direitos autorais, a ministra, oriunda de uma nobre família com grande influência Weberiana, disse em diversas entrevistas, que o Brasil e seus cidadãos devem respeitar os acordos internacionais sobre este tema. Se isso for entendido como verdade absoluta, teremos que acabar com o programa de remédios genéricos ou a adoção em repartições públicas dos softwares livres, pois os mesmos são uma afronta a tratados internacionais, a exemplo do tratado de Berna.


Estas declarações, contrárias à normatização da flexibilização dos direitos autorais, são um retrocesso quando comparadas às posições dos antigos ministros (Gil-Juca) da cultura do governo anterior. Nestes últimos anos, o país se tornou referência mundial nas discussões sobre creative commons e outras iniciativas de licenciamento mais flexíveis.




Diversas instituições de pesquisa no Brasil debruçaram-se sobre esta temática e, atualmente, desenvolvem estudos que se tornaram incontornáveis para os interessados sobre o tema. Dentre estas instituições está o grupo de pesquisa sobre cultura livre, liderado pelo jovem professor Ronaldo Lemos na Fundação Getúlio Vargas. Graças à organização do movimento pela livre informação, algumas medidas contra o conservadorismo expresso no discurso de posse e nas declarações da ministra já estão sendo tomadas, uma delas é a carta aberta a Dilma, que fiz questão de assinar (http://culturadigital.br/cartaaberta%29mrtaaberta).


Outra iniciativa, voltada para a continuidade do processo de flexibilização da propriedade intelectual e democratização da cultura, foi a indicação do sociólogo Sergio Amadeu para o Comitê Gestor da Internet no Brasil http://www.trezentos.blog.br/?p=5438. Para finalizar, acho que os interesses de classe da ministra estão influenciando suas declarações, afinal de contas ela tem muito a ganhar com a permanência da atual estrutura normativa que cerceia o DIREITO de acesso à cultura (as). Espero que ela também critique os lucros da Warner, FOX, GLOBO, Companhia das Letras e outras empresas que monopolizam a distribuição e, na maioria dos casos, a produção de bens culturais.


Vamos ver a banda passar?



Diogo Carvalho é historiador pela Universidade Federal da Bahia. Atualmente desenvolve mestrado pelo Programa Multidisciplinar de Pós-Graduação em Cultura e Sociedade (UFBA), onde desenvolve pesquisas sobre o cinema soviético. Membro da Oficina de Cinema História da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (UFBA). Trabalha com os seguintes temas: cinema, culturas, cultura digital, política, humanidades e literatura beatnik. diogocarvalho_71@hotmail.com
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A poesia de Leandro Daniel




Com o braço direito na tipóia devido a uma cirurgia de ombro, não estou conseguindo digitar, na verdade estou catando as letrinhas com a mão esquerda. Pensando nas letrinhas e de como vagarosamente estou juntando-as para formar as palavras, pensei em como poderia escrever pouco, mas colocar coisas legais na coluna, então me surgiu uma idéia: fazer um homenagem a um poeta jovem que desde que se entende por gente gosta de escrever poesias. Esse poeta eu conheço muito bem pois convivo com ele desde seu nascimento, Leandro Daniel, meu filho.

Desde muito pequeno ele gostava de livros e ficava horas e horas sentado lendo. Quando tinha por volta de 12 anos começei a emprestar meus livros para ele, pois até então lia mais romances e seu autor preferido era Machado de Assis. Primeiro livro que emprestei foi Caminhada, Herman Hesse, depois A metamorfose, O Processo de Kafka e ele foi cada vez mais se apaixonado pela leitura. Estudou Ciências Sociais na FFLCH e não se cansou de ler, atente para o detalhe, ele realmente gosta de ler, agora faz Relações Internacionais na UNIFESP Osasco e continua com seu prazer inexorável pela leitura. Para ele, as letrinhas são suas companheiras e a poesia seu modo de revelar seu mundo.

Essa poesia, logo abaixo, ele fez para o Nacho, nosso querido cão que viveu apenas dois anos e morreu no mês passado. O Leandro também tem uma grande obra, seu filhinho Ítalo, que amava muito o Nacho. Logo que Ítalo chegou em casa e não o viu perguntou pra mim: "Vovo, cadê o Nacho?" Eu disse que ele tinha morrido que a gente não mais o veria. E ele disse: "Queria estar aqui quando ele morreu para ver quem veio buscá-lo."

Ítalo e Nacho


Ítalo e Nacho

O fim
Fim de uma linha
de uma reta
de um sabor que se esvai nas papilas
Fim de um pedaço
de um fio de vida
de uma imagem que se espraia nas pupilas
carrega consigo senões
os porvires e os viveres
Fim de um calor
de um presente
de uma presença
que se aconchega nas lacunas
Vive na lembrança
travessa criança
brincando de esconde esconde

Nacho, fique bem com o Sebastian, a Gabi e a Natasha
obrigado pelas lambidas e alegrias!

Fronteiras


Fronterias
serão barreiras
ou esteiras de congraçamento?
Espaços de presença meia
inteira
ou parte daquilo que prometera?
Saber de si o que do outro é alheio

mistura entre a lágrima e o globo
medo que separa a lebre do lobo
distância que percorre os olhares

equilibrei-me nos entreatos

pisei do outro lado
fui atacado como um bicho
excomungado de uma crença
que pertencia a outrém

amei do outro lado
fui um deus acossado
pelos versos loucos de paixão
que eram meus próprios

um complexo nexo
dessa terra de ninguém
onde defronte de si
nada mais
que o constante início
de um novo contato


Longe do Alvorecer



Longe do alvorecer
Vou te encontrar em um arrebaldo
num balacobaco daqueles
que esquece-se o juízo
em um copo untado de álcool

descerá goela abaixo essa prima da razão
que insiste em voltar no dia seguinte

mas só no dia seguinte

porque na noite anterior tu surgirás como uma santa
caída em meio a chuva
expulsa do estômago de um Deus rebordoso
vinda direto pra mim
zumbizar sacanagens em meus ouvidos trêmulos
lamber o vinho transbordante de minha boca
engolir-me em goles curtos
e precisos

uma vez dentro de ti
esqueceria de mim
dissolver-me-ia em teu sangue alcoólico
pra flutuar pra rua
pegar o próximo trem
pra longe, pra onde ninguém possa ver
o alvorecer que se apluma


O improvável
(inspirada no filme Vagas estrelas da ursa de Luchino Visconti)



Vagas estrelas da ursa
extensas memórias elefantes

ultrapassar os segredos incubados
grafados em sangue e odor
pode ser incompreensível
um fim de linha
dos antigos que viam no horizonte infinito dos mares
o abismo
uma garganta de trevas a engolir os loucos navegantes

temor
do amor diferente
da brincadeira infantil
solidificada em horror
em moral

reme nas águas frias das lembranças
doces, com tão alto teor de sacarose
que pode cariar a razão
despedaçar a idéia de si

incompreensão
incompleto ser
por natureza

“Ficar dentro da coisa é a loucura”
Frase de A Paixão segundo G.H., Clarice Lispector



Velocidade Estonteante


Fardos de fardos em quilos
múltiplos exponenciais
em um trajeto oblíquo
horas em sonhos não dormidos
pulsam, marcam o compasso
desse amálgama de tango e teatro burlesco

desvio desse montante
que, em queda livre
atinge a velocidade da luz
e decompõem em um prisma
uma vida de sete faces

os olhos espelham o desejo
de um ser inábil com o dom da liberdade

Rebbot


Nunca inventaram
a panacéia em lata
grafada com data de fabricação e validade
ou uma caixa de Pandora
confeccionada por máquinas produtoras
um emplastro salvador
feito de babosa
ou baba de baleia
a fragilidade dos instantes
contém a fortaleza
um curso a distância
para aprender seus mistérios
talvez seja conveniente
ou, se faltar o tempo
ainda há opção
de sentar-se
e fechar os olhos

Ctrl + Alt + Del


sumidouro


Segue o outro, que não tem direção
pegue o troco, pague a conta do viver
saia à esquerda, ultrapasse a contramão
negue o risco, a pena não vale ter
escorregue os olhos, evitando o antiderrapante
entre de rompante com seu ar bufante
e diga as baboseiras decoradas de antemão
que a verdade do ser é o sermão
rodeie sobre si duas vezes e meia
olhe para o chão, pro céu e o horizonte
sinta o que a gravidade semeia
quando um sumidouro de incerteza
acomoda-se em sua frente


Na próxima edição da Coluna AS HORAS, já estarei sem a tipóia e continuarei escrevendo sobre as maravilhas do Cinema. Beijos a todos!



Kátia Peixoto é doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP. Mestre em Cinema pela ECA - USP onde realizou pesquisas em cinema italiano principalmente em Federico Fellini nas manifestações teatrais, clowns e mambembe de alguns de seus filmes. Fotógrafa por 6 anos do Jornal Argumento. Formada em piano e dança pelo Conservatório musical Villa Lobos. Atualmente leciona no Curso Superior de de Música da FAC-FITO e na UNIP nos Cursos de Comunicação e é integrante do grupo Adriana Rodrigues de Dança Flamenca sob a direção de Antônio Benega
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A FOTOGRAFIA CONCEITUAL DE KEVIN


O jovem fotógrafo norte-americano Kevin Van der Elst possui um extenso currículo e uma rica produção como ilustrador e publicitário. Seus trabalhos têm um estilo "clean", são elegantes e cerebrais. Sua originalidade está em usar criativamente objetos do cotidiano de forma inusitada, como na série "Eat me daily" elaborados com alimentos, porque como ele mesmo diz as prateleiras de supermercado são uma grande fonte de inspiração.


Para Kevin, suas obras são uma desmistificação do processo artístico e da idéia de que arte só pode ser feita por pessoas que estudaram para isso, quando, é apenas uma questão de quem conseguiu pensar naquele conceito primeiro, segundo ele.




Kevin nasceu em Elmira, Nova York e morou grande parte de sua vida na Pensilvânia. Obteve bacharelado em Psicologia pela Universidade de Cornell em 2002 e pós pela Universidade de Hartford, em 2005. Atualmente vive e trabalha em New Haven, Connecticut. Lecionou fotografia na Universidade de Hartford Art School, Middlesex Community College, e na Escola de Artes.




Seus trabalhos ilustraram o New York Times Magazine entre 2007 e 2011, e também as revistas Scientific American, Money Magazine, Wired e Time, entre outras. Atualmente dedica-se principalmente a seus projetos artísticos pessoais.

















Como depoimento pessoal de seu trabalho, Kevin diz que, "Minha arte é uma tentativa de conciliar o meu ambiente físico com os medos, fascínios, as curiosidades e devaneios que ocupam minha mente. As fotografias e construções consistem em artefatos comuns, materiais e cenas da vida cotidiana, os quais foram reorganizados e reagrupados em várias formas, padrões e ilustrações. Este trabalho sugere como criar ordem onde esperamos encontrar aleatoriedade, e também que as minúcias em torno de nós são capazes de comunicar idéias muito maiores."
                                                                    **********


Izabel Liviski é Fotógrafa e Mestre em Sociologia pela UFPR. Pesquisadora de História da Arte, Sociologia da Imagem e Antropologia Visual.  Escreve quinzenalmente às 5as feiras na Revista ContemporArtes.
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MAOU, 6º ocupação artistica: Conhecimento concreto.



O MAOU - Movimento Artístico de Ocupação Urbana - surgiu 2006, no seio do Coletivo Artístico Dialéticas Sensoriais (CADS), ambos coletivos são uma iniciativa sem fins lucrativos que propõe e executa estudos; pesquisas e ações nas áreas da arte contemporânea, estabelecendo parcerias e prestando serviços junto a órgãos governamentais, instituições culturais, organizações não governamentais e comunidades.



As ações do MAOU priorizam reunir e expor os diversos pensamentos e atuações que norteiam a arte e o espaço urbano. Nesta trajetória percebemos que existem muitos locais subutilizados, ociosos e abandonados, tanto públicos como privados. Paradoxalmente, a maioria destes espaços estão em locais carentes de equipamentos de uso publico, voltados ao lazer, às artes, à cultura e à formação do cidadão critico e consciente.

Foto de Moises Patricio, equipe e artistas reunidos no final de uma das vistorias

Os integrantes do movimento produzem sistematicamente um vasto material voltado às expressões periféricas das diferentes linguagens artísticas para difundir o conhecimento da arte contemporânea, da arte educação e da valorização das historias locais. Outro segmento fundamental é a gestão cultural coletiva, onde atuamos para qualificar e trocar conhecimentos com os atores locais que contribuem para materializar a conjuntura atual.



O MAOU bem como as seguintes entidades da sociedade civil de Perus, comunica aos moradores do distrito que no dia 3 de abril de 2011 artistas, pensadores, educadores, comunicadores, críticos, agentes sociais e cidadãos curiosos no geral fizeram uma intervenção no interior e arredores da Companhia Brasileira de Cimento Portland Perus – CBCPP.

Alguns dos trabalhos desenvolvidos no local

O objetivo da manifestação é chamar a atenção das autoridades e da mídia para o descaso com um patrimônio histórico e cultural que, ao invés de ser utilizado como equipamento público de lazer, cultura e educação, encontra-se em estado de completo abandono e deterioração acelerada.




Eric Marechal, fotografo frances que colou diversas obras de artistas do mundo inteiro.

Em Perus, o MAOU tem como objetivo, em parceria com as entidades locais e apoios disponíveis, estimular a reflexão coletiva, propor a utilização consciente, a preservação do patrimônio material e imaterial do espaço, cuja historia tem fundamental importância. A intervenção busca somar com a sociedade civil organizada de Perus e, a partir do diálogo, propor a sensibilização da comunidade para a valorização social do significado da fabrica no contexto nacional. Também tratamos com grande relevância o histórico de lutas promovidas pelos trabalhadores, conhecidos como “Queixadas”, que realizaram a greve mais duradoura do país. Denunciamos o estado de abandono que se encontra este patrimônio que, apesar de parcialmente tombado, carece de uma imediata e consistente restauração. Interferimos na arquitetura abandonada e em avançado estado de degradação, utilizando-a como suporte para as manifestações artísticas contemporâneas em suas diversas formas. Acreditamos ser esta uma das possibilidades de estimular o debate e chamar a atenção da comunidade e do poder público.

Ruinas da igreja na Vila Operaria, que tambem esta em estado decadente.

Em meio ao estado do local nesta 6º edição desenvolvemos um Manual de Segurança na buscar de garantir uma ocupação segura para todos.


Foi com enorme satisfação que realizamos a Primeira Ocupação Artística “Conhecimento Concreto”. Agradecemos pela efetiva colaboração de todos que estiveram presente ou de alguma forma contribuiram, sem esta participação efetiva o M.A.O.U. não teria chegado a 6º Edição com a legitimidade e o reconhecimento público conquistados. Abaixo alguns artistas e coletivos que nos apoiaram nesta empreitada:



Trabalhos do Cavera Uov

http://atelierlivresp.blogspot.com/ e http://www.dasding.org/coletores/
http://www.flickr.com/photos/weslost/sets/72157623537718612/
http://www.flickr.com/photos/felipeguimaraes/
http://www.flickr.com/photos/entreaspas/
www.flickr.com/grupoopa


Coletivo Ocupeacidade
http://www.flickr.com/photos/ocupeacidade

www.flickr.com/alexsenna
www.leonardtlauenstein.tk
www.azzan.com.br
cinestesicos.wordpress.com, www.flickr.com/aquiloquevejo, rabiscoscafeinados.blogspot.com, www.twitter.com/lucosmos, www.youtube.com/ocinestesico
http://www.fotolog.com.br/killerz_is_back
http://barulho.org/
http://www.renatabarros.com.br/
http://www.azucrina.org/
http://www.flickr.com/photos/toconaescuta
http://www.flickr.com/photos/9polar



Tche Rugg e suas obras, artista e integrante do MAOU e do Coletivo 132

Ficamos lisongeados, principalmente, com o apoio da Comunidade Cultural Quilombaque e dos moradores locais.



Pretendemos continuar com as intervenções artísticas, periodicamente e, na medida em que as áreas de risco forem sendo isoladas, convidaremos a população à participar e desfrutar deste espaço que, por direito, pertence a todos moradores e moradoras de Perus.


Soraia O. Costa graduada em Ciênciais Sociais pelo Centro Universitário Fundação Santo André (2009). Pesquisadora e documentarista do projeto "Transformação sensível, neblina sobre trilhos" sobre a memória ferroviária de Paranapiacaba - apoio institucional Centro Universitário Fundação Santo André (CUFSA), Universidade Federal do ABC (UFABC) e Ministério de Cultura e Educação MEC/SEsu. Integrante do Movimento Artístico de Ocupação Urbana.
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2 Poemas de Viviane Mosé!





DOIS POEMAS DE VIVIANE MOSÉ

por Altair de Oliveira

Apresentamos hoje 2 deliciosos poemas da filósofa, psicanalista e poeta capixaba Viviane Mosé, radicada no Rio de Janeiro desde 1992, que se tornou bastante conhecida entre nós após apresentar o quadro Ser ou não Ser, no programa Fantástico (Rede Globo), onde numa linguagem simples ela traduzia para o dia a dia alguns dos mais intrincados assuntos da filosofia.



Independentemente do curriculum impressionante da poeta, o que nos comoveu primeiramente nela foi a própria leitura de seus poemas. Tem como ver neles o sentimento da própria vida pulsando, um testemunho de quem realmente vive com a intensidade necessária para deixar com arte as marcas de seus espantos nas palavras. A poeta bate bola, (um bolão eu diria!), entre Filosofia, Psicologia e Poesia, estas três oficinas de libertários, de loucos e de sonhadores, sem nenhum tratado assinado com a verdade. E, com a força e a simplicidade de suas palavras, ela consegue extrair daí uma beleza que, ainda que triste, é bem mais aceesa ecompromissada com a vida do que o último lançamento literário exposto e festejado no mais recente “Salão da Palavra.”



Bem melhor que falar de nossas várias impressões sobre seus poemas é poder ter o prazer de degustá-los e também poder ouvir um pouco da poeta falando sobre alguns de seus assuntos. Uma boa leitura e uma semana grandiosa para todos vocês.




***




Quem é Viviane Mosé?:


É capixaba e vive no Rio desde 1992. É psicóloga e psicanalista, especialista em “Elaboração e implementação de políticas públicas” pela Universidade Federal do Espírito Santo. Mestra e doutora em filosofia pelo Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro. É autora do livro Stela do Patrocínio -Reino dos bichos e dos animais é o meu nome, publicado pela Azougue Editorial e indicado ao prêmio Jabuti de 2002, na categoria psicologia e educação. Organizou, junto com Chaim Katz e Daniel Kupermam, o livro Beleza, feiúra e psicanálise (Contracapa, 2004). Participou da coletânea de artigos filosóficos, Assim Falou Nietzsche (Sette Letras, UFOP, 1999). Publicou em 2005, sua tese de doutorado, Nietzsche e a grande política da linguagem, pela editora Civilização Brasileira. Escreveu e apresentou, em 2005 e 2006, o quadro Ser ou não ser, no Fantástico, onde trazia temas de filosofia para uma linguagem cotidiana.





Como poeta, publicou seu primeiro livro individual em Vitória, ES, Escritos, (Ímã e UFES, 1990). Publicou, no Rio, Toda Palavra, (1997), e Pensamento Chão ( 2001), ambos reeditados pela Record em 2006 e 2007. E Desato (Record, 2006). Participou em 1999 do livro Imagem Escrita (Graal, 1999), coletânea de artistas plásticos e poetas, em parceria com o artista plástico Daniel Senise. Seus poemas foram tema da Coleção Palavra, de estilistas de O estudio Costura, que desfilou no Fashion Rio de 2003. É autora dos textos poéticos da personagem Camila no filme Nome Próprio de Murilo Salles, (2008). Tem alguns de seus poemas musicados, é parceira da cantora Martinália em duas músicas, “Contradição” e “Você não me balança mais”, que foram gravadas por ela e por Emílio Santiago, em seu último disco. Participou de diversos eventos de poesia como a Bienal Internacional do Livro do Rio de Janeiro, Feira do Livro de Fortaleza, Feira do Livro de Porto Alegre, Festival de Inverno de Ouro Preto, Festival de Teatro de São José do Rio Preto, Rio Cena Contemporânea, Festival Carioca de Poesia, Bienal Internacional de poesia de Brasília, entre outros.


Atualmente é sócia e diretora de conteúdo da Usina Pensamento e apresenta diariamente na Rádio CBN, junto com Carlos Heitor Cony e Artur Xexéu, em um dos programas de maior audiência da rádio, o Liberdade de Expressão. Ao mesmo tempo, como palestrante e consultora, dedica-se a pensar os desafios das novas lideranças e as novas relações de trabalho na sociedade do conhecimento. (Dados biográficos transcritos do site da poeta).





***





O QUE ELA JÁ DISSE:





Sobre o Tempo e o Poema: "O tempo não se cristaliza. Ele é sempre adiante. E o poema, por ser vazio, aberto, por não ser um conceito, é uma moldura vazada onde o tempo flui. Então o poema é um tipo de retrato do tempo. Um retrato móvel, indefinido. Acho que todo bom poema é um ato de amor com o tempo. Ou um namoro. Ou um tipo qualquer de relação. O poema nos permite ver o tempo no espelho. E não a nós mesmos. É mais ou menos assim que penso." - Em entrevista ao poeta Rodrigo de Souza Leão /autores/rodrigosouzaleao.shtmlpara o site "Balacobaco".





Sobre a Pscicanálise: "A psicanálise é uma atividade clínica que exerço há bem mais de dez anos. Acho que o que mais aprendi em consultório foi conviver com a dor. Sem dramas. Sem novelas mexicanas. No mais as histórias humanas são muito parecidas umas com as outras. " - na supracitada entrevista ao poeta Rodrigo de Souza Leão.





Sobre O que é mais importante para ela: "Transformar a intensidade em signo. É o mesmo que viver. Viver é transformar a vibração em palavra, signo. O que importa é manter os poros abertos para continuar sentindo. A coisa mais importante do mundo é ser um filtro. Recebo o tempo inteiro da vida." - Em entrevista a Ramon Mello, no site Click21.





Livros de Poemas de Viviane Mosé:



- "Escritos" - Poemas - Editora Imã - 1990 -Esgotado; "Receita para lavar palavra suja" - Coletânea de Poemas escolhidas pela autora - Arteclara - 2004; "Desato" - Poemas - Editora Record - 2006; "Toda Palavra" - Poemas -Editora Record - 2008; "Pensamento chão" - Poemas -Editora Record - 2007.





***





OS DOIS POEMAS





VIDA/TEMPO





Quem tem olhos pra ver o tempo


soprando sulcos na pele soprando sulcos na pele


soprando sulcos?


O tempo andou riscando meu rosto


com uma navalha fina


sem raiva nem rancor


o tempo riscou meu rosto com calma


(eu parei de lutar contra o tempo ando exercendo instantes


acho que ganhei presença)


Acho que a vida anda passando a mão em mim.


A vida anda passando a mão em mim.


Acho que a vida anda passando.


A vida anda passando.


Acho que a vida anda.


A vida anda em mim.


Acho que há vida em mim.


A vida em mim anda passando.


Acho que a vida anda passando a mão em mim


e por falar em sexo quem anda me comendo é o tempo


na verdade faz tempo


mas eu escondia porque ele me pegava à força


e por trás


um dia resolvi encará-lo de frente e disse:


tempo se você tem que me comer


que seja com o meu consentimento


e me olhando nos olhos


Acho que ganhei o tempo


de lá pra cá ele tem sido bom comigo


dizem que ando até remoçando.





Viviane Mosé, In: "Pensamentos do chão – poemas em prosa e verso" Ed, Record





***





TUDO O QUE VEJO





Era tarde nas janelas da sala,


Um gosto de tarde que eu queria lamber.


Tenho vontade de lamber as coisas que gosto,


Mesmo as que não gosto costumo lamber sem querer.


Às vezes com a língua mesmo.


Molhada e escorrida.


Outras vezes uso a língua da palavra,


Quando tem cheiros ruins


Ou asperezas estranhas ao paladar de minha pessoa,


Ou por nada mesmo por gosto


Passo a língua nas coisas que vejo


E passo as coisas que vejo pra língua.



Um Poema de Viviane Mosé.





***




Um pouco mais sobre Viviane Mosé:





Para saber um pouco mais sobre esta excelente poeta, sugerimos conferir uma entrevista dada a Ramon Mello no site Click21 (veja abaixo) e ver também um vídeo de uma palestra sua no programa Café Filosófico (Rede Cultura) onde a poeta, entre outros temas, fala do "poder da palavra" e declama alguns poemas seus:





- Entrevista a Ramon Mello, no site click21: http://wwwb.click21.mypage.com.br/Myblog/visualiza_blog.asp?site=clickinversos.myblog.com.br&primpost=w06Eui2TTo7Ry73OxjS18101520378IRYHH3H0PF&inframe=T - Vídeo "O que pode a palavra", no programa Café Filosófico: http://vimeo.com/8230433 - Veja também o site de Viviane Mosé: http://www.vivianemose.com.br/






***





Ilustrações: 1- foto da poeta Viviane Mosé; 2- foto da capa do livro "Escritos", de Viviane Mosé; 3- outra foto de Viviane Moisé; 4- capa do livro de poeams "Pensamento Chão".





Altair de Oliveira (poesia.comentada@gmail.com), poeta, escreve quinzenalmente às segundas-feiras no ContemporARTES a coluna "Poesia Comovida" e conta com participação eventual de colaboradores especiais.





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