A emancipação da mulher na e através da Arte



Esta semana participei de um simpósio de literatura, no qual assisti comunicações que tratavam da questão do feminino, da mulher enquanto ser social que se expressa através da Arte e que também por meio das representações artísticas se emancipa. Posso dizer que duas comunicações me tocaram neste evento e inspiraram-me nesta matéria: a primeira delas diz respeito a como algumas personagens femininas, na literatura brasileira, decidiram guiar suas próprias vidas sem ter um homem a quem “obedecer”. Como é caso de Gabriela em Gabriela, Cravo e Canela de Jorge Amado.


Gabriela possuía autonomia em relação à escolha de seus parceiros sexuais, de suas amizades, de como reger sua própria vida. Entretanto, ao receber a proposta de casamento e casar-se, esta personagem se vê privada da liberdade que antes possuía. Por exemplo, após o casamento, ela não poderia mais andar descalça como gostava, porque o marido e a sociedade condenavam uma mulher casada que tivesse certos desleixos. De alguma forma, a personagem se viu privada de suas liberdades, das maneiras que decidira viver e ser feliz, por esse motivo, ela deixa o marido e volta a viver como julgava melhor. Isso nos mostra uma mulher que emancipa-se quanto a sociedade patriarcalista, na qual mulheres deveriam se submeter aos desejos das figuras masculinas de sua família, bem como da sociedade em geral.

A segunda comunicação, que deixou-me bastante instigado a conhecer mais a fundo a obra de duas mulheres, dizia respeito à maneira como estas figuras femininas representavam a si mesmas na Arte. No caso, as artistas selecionadas foram a mexicana Frida Kahlo, exímia pintora reconhecida em todo mundo, e a poeta portuguesa Florbela Espanca, conhecida por seus poemas pessimistas em relação ao mundo, à vida e ao amor.

As pinturas de Frida representam a maneira como a mulher Frida Kahlo via-se a si mesma. Ela iniciou-se na pintura após ser atropelada por um bonde e ficar na cama por muitos meses. Sobre ela foi colocado um espelho, a fim de que se visse, o que proporcionou que ela pintasse a imagem refletida em frente a si e em sua mente. Depois da recuperação, Frida conheceu e posteriormente se casou com o famoso muralista Diego Rivera. Este casamento conturbado, lhe deu muitas alegrias inerents ao amor, mas também muita tristeza, principalmente, em relação as inúmeros casos extraconjugais de Diego. Um destes casos, em espacieal, a marcou,pelo fato de seu marido a trair com sua própria irmã:

Frida descobre que Rivera mantinha um relacionamento com sua irmã mais nova, Cristina, a muitos anos, o que [a] revoltou. Ela os flagra na cama e num ato de fúria corta todo o seu cabelo, que era bem grande, de frente ao espelho. Ela fez isso pois seu amor era tão grande por ele e tomou tanta raiva do marido que não conseguiu se vingar atacando ele e sim atacando a si mesma[1].

Neste momento delicado de sua vida, Frida pintou-se vestida com um terno gravata, com cabelos curtos e com suas famosas tranças cortadas e caídas pelo chão.
 
Essa imagem, altamente significativa, a meu ver, revela-nos uma mulher decidida a emancipar-se frente à sociedade e ao marido. Se aos homens era dado certo poder em relação à mulher, ela demonstra que a partir daquele momento era ela própria quem tomaria as rédeas de seu destino. Sabe-se que Frida teve casos extraconjugais com mulheres – o marido aceitava abertamente os relacionamentos de Frida com mulheres, mas não admitia que ela mantivesse casos com homens - e um com o russo Leon Trotsk, um dos líderes da Revolução Russa de 1917, que entre 1937 e 1939 viveu na casa da pintora em Coyoacán. 

A vida de Frida Kahlo reflete a menira como ela guiava a si mesma. Apesar de amar perdidamente Diego Rivera, ela quem decidia seu destino, seus amores, e essa liberdade por ela conquistada é também refletida em seus quadros nos quais pinta o mundo a partir de sua visão, retrata a si própria como se via, exterioriza os sentimentos que possuia latentes.

Quanto à poeta Florbela Espanca, sabe-se que ela possuía certo domínio sobre suas próprias ações, uma vez que numa sociedade machista, patriarcalista e preconceituosa, como a portuguesa de finais do século XIX e início do XX, não era dado à mulher o poder de gerir sua vida. Ela não obteve sucesso em seu primeiro casamento e após o fim deste foi para Lisboa estudar direito na Universidade de Lisboa (foi uma das primeiras mulheres em Portugal a freqüentar o curso secundário e a faculdade de direito[2]). Casou-se mais duas vezes e divorciou-se. Teve casamentos infelizes, amores frustrados, uma vida marcada pela busca e não encontro da felicidade. Isso é refletido por ela nos poemas que compôs. 

Ela foi uma mulher tão contestadora da ordem vigente, ao divorciar-se, casar-se novamente, fazer um curso superior, que de acordo com Laury Maciel[3] (2008) houve muitas campanhas difamatórias acerca da poeta. Este estudioso mostra-nos que até mesmo a tese de suicídio, levantada após a morte de Florbela, pode ser algo difamatório. Isso, por que:



Há um testemunho decisivo, definitivo (colhido pelo citado Antônio Freire), sobre o assunto, que, a nosso ver, encerra o assunto: é o do padre Nuno Sanches, de Matosinhos, e que diz o seguinte: Como sacerdote católico, sei que o que a igreja estabelece para os suicidas; como coadjutor da paróquia (de Matosinhos), no cemitério da qual foi inumada a poetisa Florbela Espanca, sei que o seu enterro foi feito religiosamente, assim como o fora antes o seu casamento. Para o enterro religioso não foi pedida nenhuma dispensa ou autorização especial às autoridades eclesiásticas, o que exclui, portanto, essa tal hipótese, que tenho por caluniosa e tanto mais reprovável quando se trata de alguém que não pode defender-se (MACIEL, 2008, p. 10).

Pela história de vida, como também devido à poesia carregada de erotismo, feminilidade e certo tom confessional, Florbela Espanca é considerada a figura feminina mais importante da Literatura Portuguesa (MACIEL, 2008, p. 11). Para conhecer a poesia desta importante poeta, nos debrucemos sobre “Ser Poeta”:
Ser Poeta[4]

Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!

É ter de mil desejos o esplendor
E não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor.

É ter fome, é ter sede de infinito!
Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim...
É condensar o mundo num só grito!

E é amar-te, assim, perdidamente...
É seres alma e sangue e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda gente.

O poema florbeliano, retrata minimamente a sensualidade e erotismo “Morder como quem beija!, como também um tom confessional “É ter de mil desejos o esplendor/ E não saber sequer que se deseja!”. Especificamente, nesta composição poética, não nos depararemos com o pessimismo característico de Florbela ou ainda o desejo/atração pela morte, que figura como lugar de descanso do mundo e da vida.

Nos deparamos muito mais com uma produção que, de alguma maneira, mostra-nos que o poema era uma forma que Florbela tinha de evadir-se do mundo cruel, repressivo e que causava um sofrimento insuportável. Tecer um poema é, para Florbela, “[...] é ser maior/ Do que os homens”, é conseguir ultrapassar as barreiras humanas a caminho do encontro de uma sensibilidade que há poucos se revela, é muito mais do que morder é “[...] Morder como quem beija!”, um morder que tem a doçura, a delicadeza e, ao mesmo tempo, o frêmito do beijo. Fazer um poema é estar aquém e além da dor, da miséria humana, é simplesmente “É ter cá dentro um astro que flameja,”, algo vivo, latente, que está a ponto de sair pelo seu eterno vagar no universo, que leva a explorar mundos, elementos nunca antes vistos ou sentidos.

Construir um poema é ainda “[...] condensar o mundo num só grito” e “E é amar-te, assim, perdidamente...”, ou seja, é revelar na forma toda a poesia que o poeta sente intensamente, este sentimento é como o amar perdidamente, sem medidas, sem esperar retorno é dar-se por inteiro.

Esta composição revela a visão feminina do ato de construir um poema. Uma visão singular, que permite ao leitor observar que a sensibilidade e ao mesmo tempo a explosão de sentimentos são elementos indispensáveis para a lírica. A poesia florbeliana é construída a partir de um misto de sentimentos e por uma percepção do mundo tão singular que raramente encontraremos alguém que se expressou de maneira tão viva, que demonstrou tudo aquilo que tinha dentro de si.

A Arte revela a luta, a vida, os sonhos, ajuda as pessoas a vencerem o medo, a dor e a se expressarem, o que permite que com elas compartilhemos os sentimentos expressos. Desta maneira, a Arte possibilitou que as mulheres fossem retratadas e se retratassem a fim de dar um grito de liberdade que ainda ecoa por todo o mundo e que encorajou a muitas minorias a buscar o lugar que lhes é de direito.

Rodrigo C. M. Machado é Mestrando em Letras, com ênfase em Estudos Literários, pela Universidade Federal de Viçosa.

[1] Frida Kahlo. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Frida_Kahlo Acesso em 27.mai.2011
[2] Biografia de Florbela Espanca. Disponível em: http://www.prahoje.com.br/florbela/?page_id=59 Acesso em 27. mai.2011.
[3] MACIEL, Laury. Tormento do ideal. In:ESPANCA, Florbela. Poesia de Florbela Espanca. Porto Alegre: LP&M, 2008.
[4] ESPANCA, Florbela. Poesia de Florbela Espanca. Porto Alegre: LP&M, 2008, p. 77.
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AINDA SOBRE CHICO



A última peça escrita por Chico Buarque foi a Ópera do Malandro (1978). Essa comédia musical inspirou-se na Ópera dos Três Vinténs de Bertold Brecht e Kurt Weill (1928), que por sua vez baseou-se na Ópera do Mendigo de John Gay (1728). Essas obras, que Chico usa como fonte para sua criação teatral, são obras críticas.


Brecht desenvolveu uma teoria teatral, formulada por ele durante mais de trinta anos, o teatro épico. Ele, realizando uma analogia entre o palco e a vida social, concebeu um teatro que revelava suas próprias estruturas, já que o palco dramático, em voga no período, podia ser visto como um reflexo da própria sociedade que o engendrava. A negação e a desconstrução do teatro ilusionista estaria, portanto, em consonância com a revelação dos mecanismos constituintes da sociedade burguesa.

Tal dramaturgo contrapunha-se ao ilusionismo do teatro e defendia uma cena que se assumisse enquanto arte, deixando a mostra suas causas e efeitos. Um teatro “desmontado”, que revelasse os mecanismos utilizados - refletores de luz, estrutura cenográfica etc -, retirando as tapadeiras, rotundas a tudo o que pudesse esconder a construção e o funcionamento dos objetos que compõem a cena, contrariando a vontade de espectador de que estaria diante da própria vida, assumindo, pois, a teatralidade da encenação. O palco rasga as cortinas porque quer revelar e questionar a si mesmo quer pensar a sua própria função, efetuando também a quebra da quarta parede.

O encenador épico, ao questionar o palco, fazendo com que os espectadores tomem consciência do seu funcionamento, quer, também, denunciar os mecanismos que estruturam a sociedade, pois o teatro ilusionista mantém os espectadores alienados de sua capacidade crítica e revolucionária. Ele deve, portanto, expor, através da demonstração dos mecanismos do teatro, a realidade social, criticando o capitalismo, porque este sistema, tal como o teatro ilusionista, aliena os indivíduos, afastando-os de si mesmos.

Brecht entendia, que, ao invés de incitar o envolvimento emocional do espectador, a arte teatral deveria despertar a sua atividade, proporcionando-lhe conhecimentos advindos da reflexão sobre aquilo que esta sendo apresentado em cena. O espectador estaria sendo contraposto à ação e não transportado para dentro dela.

É sob tal perspectiva que Chico desenvolve sua Ópera do Malandro. Ele concebe uma peça em que o teatro reflete o próprio teatro, numa criação que poderíamos chamar de metadramaturgia. O texto da peça inicia-se com uma introdução, na qual, a personagem Produtor dirige “algumas palavrinhas” ao público, com o intuito de despertá-lo para a sua realidade, assim expondo: “(...) Acredito que é tempo de abrirmos os olhos para a realidade que nos cerca, que nos toca tão de perto e que às vezes relutamos em reconhecer.”

Está formado o jogo teatral proposto por Brecht e utilizado, muito propriamente, por Chico Buarque. Nele, dá-se a perceber ao público que o que será encenado nada mais é do que realmente uma peça teatral, rompendo com a ilusão do teatro “mimético”, que se quer cópia da realidade.


O ambiente em que se passa a ação é a Lapa dos anos 40, bairro boêmio do Rio de Janeiro, local da “nata da malandragem”, onde conviviam prostitutas e marginais com intelectuais e artistas. O momento histórico de representação é o da ditadura do governo Getúlio Vargas, clima muito parecido com o vivido em 1978, durante a ditadura militar (contexto de produção da peça). Em 40, há “a modernização autoritária” e em 78 a abertura do mercado nacional aos americanos, novos “senhores da globalização”. Mais uma vez, à semelhança de Calabar, Chico usa a história do país para refletir o que está ocorrendo no presente, além de, alegoricamente, numa atitude crítica e preocupada, refletir problemas atuais (1978), tentando despertar a consciência brasileira.

E como figura central do texto de Chico temos o malandro, ou melhor, a malandragem. Ele se utiliza de um elemento representativo da identidade nacional, para criticar o capitalismo, a invasão e a valorização do elemento estrangeiro, principalmente americano, presente em nossa sociedade, em detrimento da cultura nacional, sob a prerrogativa da modernidade.

Chico Buarque foi buscar na Lapa o malandro que não existe mais, apropriando-se dele para dar uma nova feição a malandragem. Há, na peça, uma relativização da figura do malandro, aquele malandro, “indivíduo esperto, vivo, astuto, que não trabalha e abusa da confiança dos outros”, a “nata da malandragem” já não se mostra mais como antes. Esse malandro que conhecemos, ironicamente, é um trabalhador oprimido e explorado pelo sistema (“Mora lá longe e chacoalha / Num trem da Central”), no qual domina uma outra malandragem. O malandro “original” sumiu da cena urbana e se pulverizou na vida social.

A malandragem, no sentido do banditismo, da corrupção, da marginalidade está disseminada por toda a sociedade: está nos donos do capital, nas colunas sociais, na política. No entanto, esses “malandros nunca se dão mal”, não vão presos ou não tem pendengas com polícia, já que sua “malandragem” não é ilegal, muito menos explícita. Roberto da Matta enfatiza a figura do Malandro, dizendo que; “o malandro não cabe nem dentro da ordem nem fora dela: vive nos seus interstícios entre a ordem e a desordem, utilizando ambos e nutrindo-se tanto dos que estão de fora quanto dos que estão de dentro do mundo quadrado da estrutura”.

Max, o contrabandista, e Duran, o cafetão, em seus negócios escusos, são os malandros da peça. Apesar de malandro, Duran não se identifica com esse tipo, ele se vê como um homem de “negócios”, dono de uma empresa; negócio legalizado, não apenas um bordel. Max e Duran, os malandros, possuem escritórios e funcionários. A relação que vemos entre Max e seus “empregados”, contrabandistas, o de mais intimidade, Max valoriza seus “funcionários”, reflete a falta que eles fariam tanto para seus negócios quanto para toda a sociedade.


Já Duran, mantém uma relação, com seus funcionários, bem marcada pela questão empregador / empregado. Ele oprime o empregado, transformando-o num simples número, e, com isso, qualquer relação que se dá entre eles é impessoal, Isto é, qualquer relação humana desaparece.

No entanto, Teresinha, filha de Duran e esposa de Max, aparece como a mulher moderna, funcionando como agente de transformação. Ela percebe a mudança dos tempos e traz para os escusos “negócios” de Max o progresso; não há mais lugar para a malandragem tradicional, o pequeno banditismo. Agora, o banditismo é oficializado, legalizado pelo empresário que “rouba” e explora os empregados visando cada vez mais lucros, acabando assim com a relação pessoal, instaurando a impessoalidade da Empresa.

Sobre o fim da malandragem tradicional e o começo da malandragem “em escala industrial”, institucionalizada, nos fala Fernando Barros e Silva: “Esse malandro por assim dizer ‘artesanal’ irá sucumbir sufocado pela institucionalização da malandragem, pelo aparecimento de suas formas modernas e anônimas multiplicadas em escala industrial pelas elites.”

Como já sabemos, o mundo da desordem está representado por Max e Duran, e o mundo da ordem por Chaves. O mundo da desordem é o submundo, a prostituição, o contrabando, no qual os seres estão à margem da sociedade. Já o outro está, na peça, demonstrado pela polícia, que deveria combater o mundo da desordem.

No entanto, o que vemos é uma relação, na qual o autor destrincha a engrenagem do sistema social, de intimidade e cumplicidade entre o mundo da ordem e o da desordem. Ambos vivem numa relação que poderíamos chamar de “política de favores. O favor é a base da sociedade entre Chaves e Duran e Chaves e Max. Quando Duran percebe que Teresinha irá se casar com um malandro, pede ao policial que acione a “operação detergente”, que “elimina a gordura”, em troca do perdão das dívidas que este tem com ele. Chaves então passa por um dilema, pois é amigo de Max, mesmo assim, ele prende o contrabandista. No entanto, o mundo da ordem não é restabelecido, porque Chaves está apenas cumprindo ordens do outro lado do mundo da desordem.


Chico traz á tona as mazelas da nossa sociedade, criticando sua estrutura e o sistema capitalista, partindo do submundo, daqueles seres que “disputam trocados”. Critica o capitalismo voraz, que corrompe um país subdesenvolvido. Essa crítica está presente em toda a peça, bem como a relacionada à política de favores e à corrupção.

O que são os contrabandos de Max, em relação às multinacionais e suas sonegações de impostos? E o crime de Chaves comparado a política de influências pessoais em nosso país? Como se dão esses altos crimes de corrupção? A temática da peça de Chico é bem atual e nos faz refletir realmente sobre a nossa sociedade.

É importante ainda ressaltar, em termos das temáticas secundárias, o amor, que vêm a tona no triângulo amoroso Max - Teresinha - Lúcia, além da prostituição, da homossexualidade etc, que não iremos abordar neste escrito. Há ainda, o que fica claro em todo o texto, a questão do americanismo e da desvalorização do nacional: os nomes dos contrabandistas que são relacionados aos objetos importados que eles “comercializam”, como Phillip Morris, General Eletric, Johnny Walker etc; os objetos como náilon, prataria de Portugal, cristais da Boêmia, cerâmica inglesa etc. E pertinente também uma análise mais detalhada dessa invasão estrangeira como uma das temáticas da peça.




Djalma Thürler é Cientista da Arte (UFF-2000), Professor do Programa de Pós-Graduação Multidisciplinar em Cultura e Sociedade e Professor Adjunto do Instituto de Humanidades, Artes e Ciências da UFBA. Carioca, ator, Bacharel em Direção Teatral e Pesquisador Pleno do CULT (Centro de Estudos Multidisciplinares em Cultura). Atualmente desenvolve estágio de Pós-Doutorado intitulado “Cartografias do desejo e novas sexualidades: a dramaturgia brasileira contemporânea dos anos 90 e depois”.
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acho que rio é baiano, ou não



CANÇÃO: Onde o Rio é mais baiano (1998)
Caetano Veloso
FOTOS: uma visão de uma Bahia imaginada, ou não!!
estradas avenidas praças (maio/2011)


A Bahia,
Estação primeira do Brasil
Ao ver a Mangueira nela inteira se viu,
Exibiu-se sua face verdadeira.


Que alegria
Não ter sido em vão que ela expediu
As Ciatas pra trazerem o samba pra o Rio
(Pois o mito surgiu dessa maneira).


E agora estamos aqui
Do outro lado do espelho
Com o coração na mão
Pensando em Jamelão no Rio Vermelho


Todo ano, todo ano
Na festa de Iemanjá
Presente no dois de fevereiro
Nós aqui e ele lá
Isso é a confirmação de que a Mangueira


É onde o Rio é mais baiano.







DUDA WOYDA, ator, com experiências no Paraná e Rio de Janeiro, cidade com a qual mantem contatos profissionais. Integra a CIA Ateliê Voador e a CIA Teatro da Queda. Pesquisa questões relacionadas ao teatro físico e a sua relação entre dramaturgia corporal e teatralidade, priorizando a multidisciplinaridade. dudawoyda@yahoo.com.br
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Documentário do Neblina se encontra em edição



A partir de entrevistas dos ferroviários e seus parentes uma transformação sensível é dada. A neblina que esconde os trilhos da ferrovia é finalmente descortinada perante as lentes de nossas câmeras. Histórias, contos, cantos, lembranças queridas e adormecidas – esse legítimo material humano emerge do encontro entre pesquisador e ferroviário.


Identidades feitas de técnica, trabalho, idealismo e solidariedade.


A Vila de Paranapiacaba é cenário e agente desse processo. Ao olhar indiferente da maioria das pessoas ela se transforma. Pioneiros ingleses chegam no século XIX e passam a recortar a a Mata Atlântica com seu maquinário. A ferrovia chega como símbolo de modernidade. Aos poucos o que era verde, vai se tornando cinza, reflexo da ação humana, das indústrias, do desenvolvimento.

Hoje - o cinza virou dark. O dark se mostra na falta de preservação, no descaso, no turismo mal planejado e os vagões são esquecidos na sua ferrugem e na sua história.

Nosso documentário busca unir passado e presente destacando histórias de vida dos ferroviários na Vila de Paranapiacaba (SP). Questiona os motivos que levaram ao descontentamento, desemprego e desencanto dos antigos e atuais moradores da Vila. Mesmo sendo considerada um Patrimônio Histórico, pouco se conhece da rica história desse lugar. Busca-se gerar tais reflexões e, ao mesmo tempo, homenagear esses homens que, com seu trabalho no passado, transformaram o mundo que anteviam no futuro.
Ana Maria Dietrich*

*Texto retirado da exposição  Neblina sobre trilhos - do verde ao dark. Universidade Federal do  ABC, julho de 2011.


Ferroviários reunidos em Paranapiacaba. O documentário, agora em fase de edição, busca dar visibilidade  às suas inúmeras histórias de vida.

O patrimônio ferroviário traz tristes marcas de abandono. Apenas o turismo não é capaz de reverter  esse capítulo da história da vila. Ações tanto governamentais quanto da sociedade civil se fazem cada vez mais necessárias.

O relógio é marca e monumento da vila. Faz lembrar sua origem inglesa.
Maquinário, vagão - patrimônio industrial que se encontra ao relento.
A neblina que cobre quase religiosamente as tardes em Paranapiacaba inspirou o nome do documentário Neblina sobre trilhos
A equipe, alunos e professores da UFABC e Fundação Santo André, passaram muitos finais de semana no ano passado gravando as entrevistas e recolhendo suas impressões da vila. Em breve teremos os resultados desse trabalho para ser  exibido ao público.



Ana Maria Dietrich é editora-chefe da Contemporâneos-Revista de Artes e Humanidades e coordenadora junto a Rodrigo Machado da Contemporartes-Revista de Difusão Cultural. Profa. Dra. Adjunta da UFABC. Coordena o projeto Neblina sobre Trilhos junto ao Prof. Dr. Claudio Penteado.
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"Pela Pela"





sexta- feira 13
13 de Maio
Des-comemoração,
Abolição,
Sexta- feira 13
Onde a Pele, a Carne, e o sangue
derramado representam meu povo...
por: Aline Serzedello Vilaça
Ahh!!!
Minha negra pele fez-se iluminada
Minha negra pele que como a de muitos
Foi violada, rasgada, ferida
Ahhh!!!
Bela pele Negra
Bela raça Negra
Bela Etnia Negra
Afro- descendente
África parente
Ahh!!! Minha pele Negra
Tanto sangue derramado pelas suas diversas cores
Ahh!!! Melanina segregada
Ahh!!! Etnia abandonado!
Pela Pele, pelo cabelo, pelo sorriso
Muitos morreram,
Muitos morrem,
Muitos frente a meus olhos,
sob minhas lágrimas ainda
morrerão,
Ahh, minha nação tão negra
Também sinto o cheiro de magnólia no ar
também sinto
Cheiro de fruta estranha
Cheiro de corpos condenados ao racismo
cheiro de intolerância,
cheiro de ausência,
cheiro de segregação,
Ahh, minha Bela pele...
Pela sua bela pele Negra
Pela Pele
Apenas pela Pele,
Somos e
Fomos açoitados
Acorrentados
Pendurados feito fruta,
dependurados feito nada
Pela Pele
fomos torturados
Fomos feridos,
APENAS Pela Pele

Que fique aqui registrado que nossa sexta-feira 13,
13 de maio de 2011
foi um dia de lembrar com lágrimas, com sangue
e com esperança de tempos melhores
tudo que foi feito
Apenas Pela Pele
Dica:
III ENUNE - Encontros de Negros, Negras e Cotistas da UNE
O Brasil após expansão das políticas de ações afirmativas: Desafios e novas perspectivas
2o a 22 de Maio - Salvador - BA
Certamente discutiremos tudo que é sentido Pela Pele

por: Aline SerzeVilaça

Primeira Foto: Reiner Araújo - Espetáculo "Terra Preta" do Grupo Gengibre



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ALGUNS APANHADOS DA MINHA ÁRVORE LITERÁRIA


Mais um pouquinho de mim mesmo e de minhas incursões literárias.
Espero que gostem.



"Clandestinos" é um excelente livro de crônicas do amigo Edweine Loureiro, que vive no Japão desde 2001. O escritor está revertendo o dinheiro arrecadado com a venda aos que estão desamparados naquele país. Além disso, a obra também está concorrendo ao 2º Prêmio Clube de Autores da Literatura Contemporânea.
Participem, votem e divulguem por uma bela causa.

Abraços literários e até+.



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Bate mas não LEVA


Teria sido uma sexta-feira comum, se eu não tivesse ido ao teatro com uma grande amiga. Ela já tinha assistido a peça, mas vez questão de assisti-la mais uma vez, falou-me que valeria a pena. Confesso que os alertas  dizendo que a peça era muito forte, principalmente porque vinham dela, me deixaram curiosa.

Bate. Bate mas não leva. Bate mas não leva. É esse o coro que inicia a peça “120 dias de Sodoma” que eu assisti na última sexta-feira, no Espaço dos Satyros. A peça de Rodolfo García Vázqez é baseada na obra do Marquês de Sade e, ao contrário do que minha amiga disse, ela não é forte, ela é muito mais que isso.

O espetáculo, que faz parte de uma trilogia, “a trilogia libertina”, faz com que o espectador mergulhe numa nação esfacelada onde crimes e corrupções são os protagonistas. As semelhanças com o nosso país são acentuadas em cada nome citado, em cada dossiê mencionado.

Durante toda a peça há uma inversão de valores, assim como a desconstrução do que de fato é a democracia representativa que vivemos em nosso país. A sujeira e a podridão são esfregadas em nossos rostos, não tem como fingir que não entendemos. Nem fingir que aquilo não está falando diretamente a nós, a mensagem é clara e dolorosa.

No fim, a platéia permanece calada, a dúvida entre aplaudir ou não é evidente. O incômodo que experimentei dentro daquele teatro permanece, reviro e reflito as cenas na minha cabeça, como eu disse, a peça é muito mais que forte. Ela é uma cutucada nas feridas de todos os brasileiros, uma cutucada onde mais dói. Mas sinceramente, prefiro sentir essa dor durante muito tempo, porque antes essa dor que a apatia do conformismo.





Ana Paula Nunes é jornalista e pós-graduanda em Mídia, Informação e Cultura pela Universidade de São Paulo - USP. Escreve aos domingos, quinzenalmente, na ContemporARTES.
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