Travessuras de uma Menina Má





Imagino que a grande maioria dos leitores saiba que no ano de 2010 o Prêmio Nobel de Literatura foi concedido ao escritor peruano Mário Vargas Llosa. Esse escritor, nascido em 28 de março de 1936 em Arequipa no Peru, viveu grande parte de sua infância na Bolívia, adolescência no Peru e na idade adulta, apesar de possuir um forte engajamento político no Peru, passou grandes temporadas na Espanha, França e Inglaterra. Talvez, o cosmopolitismo vivido e sentido por essa autor tenha influenciado diretamente em sua obra, tornando-o um escritor universal.

É evidente para qualquer leitor o fato de que a obra de Vargas Llosa, apesar de seu inegável cosmopolitismo, não deixa de lado os problemas sócio-políticos do Peru. O propósito da matéria de hoje está longe de contar a vida deste grande escritor. Na verdade, desejo compartilhar com os leitores as minhas impressões de leituras acerca da obra de Mário Vargas Llosa chamada Travessuras de uma Menina Má.

Iniciei a leitura desta obra em meio a uma viagem que eu fazia e em dois dias a li ininterruptamente. A narrativa dessa obra é tão rica que ascendeu ainda mais minha curiosidade, fazendo com que eu me visse impossibilitado de deixar a leitura.

Travessuras de uma Menina Má é um livro narrado em primeira pessoa pelo personagem Ricardo Somocurcio. Ele, através de suas memórias, narra a sua vida desde quando conheceu La niña mala ou a menina má.

Quando adolescente, Ricardo, cuja família pertencia a classe média alta, conheceu duas belas chilenitas e por uma delas apaixonou-se. Sempre que ele a pedia em namoro, ela desconversava, nunca deixando-o sem esperanças. Um dia descobriu-se que as duas chilenas, na verdade, eram peruanas pobres e estavam enganando a todos. Depois disso, elas desapareceram, provavelmente causa da vergonha de serem desmascaradas. Essa foi a primeira vez que a menina má saiu da presença de Ricardo. A narrativa é marcada pelos encontros e desencontros entre essas duas personagens.

Ricardo, que desde criança sonhara viver em Paris, era uma pessoa sem muitas ambições na vida, a única ambição que possuía era viver toda a sua vida na capital francesa e a menina má, por outro lado, era ambiciosa, desejava ser cada dia mais rica e poderosa.

Ele vai para Paris, consegue um emprego de tradutor da UNESCO, que lhe proporciona algumas viagens pela Europa e Ásia. Nesses dois continentes, Ricardo Somocurcio reencontra sua niña mala. Ela, a cada encontro, mostra-se com um nova identidade, com novos nomes e maridos cada vez mais ricos.

Ricardo possuía por essa personagem, em minha opinião, um amor doentio. Cada vez que por ela ele foi abandonado, traído, o amor não diminuiu, ao contrário, continuou o mesmo ou até aumentou. Houve várias tentativas feitas por parte de Ricardo para esquecê-la, no entanto, todas foram altamente frustradas.

Entremeados à narrativa vários temas são retratados com bastante maestria, como o surgimento e estabelecimento do socialismo nas URSS, na China e em Cuba, a tentativa de implantar o regime socialista no Peru, os golpes políticos ocorridos nesse país, o surgimento do amor livre na Inglaterra dos anos 70, com o movimento hippie, a Tóquio dos grandes mafiosos, Madri nos anos 80 com uma transição política, o surgimento da AIDS, a pobreza na África, o “fim” das colônias no mundo, entre muitos outros.

Cada país, pelo qual passa o narrador, tem seus problemas sociais e políticos revelados. Além disso, ele como intérprete e tradutor freqüenta importantes congressos organizados pela UNESCO a fim de discutir as principais dificuldades a afetar o mundo.

Há outros temas importantes que são discutidos. Um deles é o problema psíquico que ronda a vida da menina má. Ela demonstra durante toda a narrativa que é capaz de fazer qualquer coisa para ascender economicamente, porém, para isso, assume uma grande variedade de personalidades, deletando as demais de sua mente. Esse fato a deixa extremamente confusa e fragilizada ao mesmo tempo, uma vez que revela que a maior ligação entre ela e o mundo é Ricardo, aquele que conhece desde sua adolescência, desde os tempos que ainda vivia no Peru. Não há um nome “verdadeiro” para atribuir a essa personagem, ela é simplesmente a menina má. Todos os nomes e personalidades que ela assumiu na narrativa são falsos.

Ao mesmo tempo, a menina má é uma espécie de criminosa, que falsifica documentos, rouba, trafica e que não possui uma identidade própria, a não ser a de niña mala, de mulher inconstante.

O tema da perda de identidade é também muito forte em Travessuras de uma Menina Má. O que me remete essa narrativa diretamente com os romances de António Lobo Antunes, uma vez que em ambos, o leitor se depara com sujeitos que a todo momento constroem e desconstroem a sua própria personalidade. A busca dessa identidade é constante e algo que fica em aberto.

Podemos, por exemplo, observar através de Ricardo, como ele próprio afirma muitas vezes, que ao viver tanto tempo longe de sua terra natal, não se sente mais peruano, ao mesmo tempo em que não sente-se francês, inglês, espanhol ou de qualquer outro país. Ele não nega sua origem, mas a convivência com tanas culturas, idiomas pessoas, o seu cosmopolitismo, agrega muitos novos valores a si e faz com que ele não se sinta pertencente a uma terra e a um povo.

Eu, como leitor, posso afirmar que os pontos destacados nessa matéria são apenas alguns diante da riqueza da obra llosiana Travessuras de uma Menina Má.

Aqueles que desejarem conhecer um pouco mais da vida deste Nobel peruano, acessem o site oficial.

Rodrigo C. M. Machado é Mestrando em Letras, com ênfase em Estudos Literários, pela Universidade Federal de Viçosa.
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Meia noite em Paris de Woody Allen: as badaladas da igreja faz Gil voltar no tempo.



Paris de Monet.
Ah, Paris… Difícil resistir ao encanto desta charmosa cidade. Imaginem poder voltar no tempo e conhecer pessoalmente Picasso, Hemingway, Dalí, Mondrian, Gertrude Stein, Luis Buñel, Scott e Zelda Fitzgerald? Ou quem sabe passear num carro antigo com Hemingway recitando, ao pé do ouvido, frases ácidas sobre o amor, o medo e a morte? Ficaram com vontade? Então é só assistir “Meia Noite em Paris”, 2011 (Midnight in Paris) e embarcar numa viagem pelo túnel do tempo em direção a Paris dos anos 20. Pela ótica de Gil (Owen Wilson), é possível vivenciar momentos fantásticos como uma conversa com Picasso e Gertrude Stein ou ver o jazzista norte-americano Cole Porter tocando piano e ainda, como em um bônus especial, a viagem lhe dará direito a uma passagem rápida num cabaré qualquer da “Belle Époque” para ver Toulouse Lautrec, Gauguin e Degas juntos. Imperdível !

Este Peugeot 184 Landaulet é o tunel do tempo 

“Meia noite em Paris” é mais uma obra prima de Woddy Allen que nos propõe  uma reflexão, mais filosófica do que histórica, a respeito do tempo, das conquistas e dos valores humanos. A “cidade luz” não é apenas pano de fundo da história: ela está lá, exposta, como uma encantadora personagem para contracenar com quem a visitar, em qualquer época. Fotografada por Darius Khondji e entoada por músicas de Cole Porter como “Let’s do it”, “You do something to me”  e outras do clarinetista Sidney Bechet, Paris ganha mais charme e encanto.
O Sheik Branco como em um sonho. Wanda se apaixonou por um personagem.
“Meia noite em Paris” me faz lembrar “O abismo de um sonho”, 1952 (Lo Scceico Bianco) de Fellini. O casal Ivan e Wanda vão passar a lua de mel em Roma e enquanto Ivan está preocupado com o encontro que terá com o papa, conseguido pela influência de seu tio, Wanda está ansiosa para ir ao encontro do personagem principal da fotonovela "O Sheik Branco". Wanda vai ao set de filmagem e vive um momento romântico ao lado do seu herói. Allen acredita no sonho e dá asas a ele enquanto que em Fellini a realidade é mais dura com Wanda que, após se decepcionar com o Sheik, tenta um suicídio improvável em um lago muito raso; ela volta arrependida para o marido. A história de amor de Allen é mais poética que a de Fellini.
Gil Pendler com sua noiva,  pensando em sua paixão nonsense por Adriana (Marion Cotillard)

Allen vai fundo e acredita na poética das imagens, dos sons e dos sonhos. Não tinha sentido nada parecido em seus filmes desde “A Rosa Púrpura do Cairo”, 1985 ( The Purple Rose of Cairo). É em tom de comédia, em diálogos bem preparados que Allen faz um paralelo interessante entre Gil Pendler, um escritor de roteiros de Hollywood com pretensão a se tornar escritor e o “pseudo-intelectual” Paul, representado por Michael Sheen. Paul parece viver preso a referências conceituais a respeito dos escritores, artistas e suas obras, enquanto que Gil quer vivenciar as experiências artísticas na sutileza, ao sentir a obra e seus realizadores. Bela crítica de Allen ao academicismo puro que acumula erudição apenas para despejar por ai sem propósitos. Gil é diferente de Paul, quer viver a arte, senti-la e se esbaldar num mundo fantástico e poético de uma noite em Paris chuvosa. Para mim ficou a sensação de que viver é estar lá de corpo e alma.
Bom Filme!


Kátia Peixoto é doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP. Mestre em Cinema pela ECA - USP onde realizou pesquisas em cinema italiano principalmente em Federico Fellini nas manifestações teatrais, clowns e mambembe de alguns de seus filmes. Fotógrafa por 6 anos do Jornal Argumento. Formada em piano e dança pelo Conservatório musical Villa Lobos. Atualmente leciona no Curso Superior de de Música da FAC-FITO e na UNIP nos Cursos de Comunicação e é integrante do grupo Adriana Rodrigues de Dança Flamenca sob a direção de Antônio Benega.


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Mulher, rosas e cores em Cantarilhos

Na quarta-feira passada estive na oficina Cantarilhos - Oficina de Plasticidade Musical da Casa da Palavra (Santo André) onde dançamos, recitamos poesia, ouvimos música e pintamos. Essa última atividade merece um destaque especial, pois de todas as pinturas feitas no calor do momento e sob o perfume dos incensos de Alba Brito tinham um ponto de convergência a figura da mulher - triste, alegre, pulando, sorrindo ou mesmo elaborando as obras. Faço uma homenagem a essa criação coletiva, publicando as fotos do Bruno Badain, desse dia, acompanhada da música interpretada por Ana Carolina (Rosas).





Rosas
Ana Carolina
Composição: Totonho Villeroy

Você pode me ver
Do jeito que quiser
Eu não vou fazer esforço
Pra te contrariar
De tantas mil maneiras
Que eu posso ser
Estou certa que uma delas
Vai te agradar... (2x)



Porque eu sou feita pro amor
Da cabeça aos pés
E não faço outra coisa
Do que me doar
Se causei alguma dor
Não foi por querer
Nunca tive a intenção
De te machucar...
Porque eu gosto é de rosas
E rosas e rosas
Acompanhadas de um bilhete
Me deixam nervosa...


Toda mulher gosta de rosas
E rosas e rosas
Muitas vezes são vermelhas
Mas sempre são rosas...
Se teu santo por acaso
Não bater com o meu
Eu retomo o meu caminho
E nada a declarar
Meia culpa, cada um
Que vá cuidar do seu
Se for só um arranhão
Eu não vou nem soprar...
Porque eu sou feita pro amor
Da cabeça aos pés
E não faço outra coisa
Do que me doar
Se causei alguma dor
Não foi por querer
Nunca tive a intenção
De te machucar





Porque eu gosto é de rosas
E rosas e rosas
Acompanhadas de um bilhete
Me deixam nervosa...
Toda mulher gosta de rosas
E rosas e rosas
Muitas vezes são vermelhas
Mas sempre são rosas...

Porque eu gosto é de rosas
E rosas e rosas
Acompanhadas de um bilhete
Me deixam nervosa...
Toda mulher gosta de rosas
E rosas e rosas
Muitas vezes são vermelhas
Mas sempre são rosas...
Você pode me ver
Do jeito que quiser
Eu não vou fazer esforço
Prá te contrariar
De tantas mil maneiras
Que eu posso ser
Estou certa que uma delas
Vai te agradar...







Ana Maria Dietrich é coordenadora da Contemporartes- Revista de difusão cultural.



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11o Festival de Paranapiacaba tem Milton Nascimento nesse fim de semana



No 11o. Festival de Inverno de Paranapiacaba haverá as apresentações de Milton Nascimento (dia 23), Jorge Vercíllo (24), Teatro Mágico (30) e Lenine (31). Estes shows serão às 20 horas no palco do campo, na Avenida Fox, s/n. Os ingressos, gratuitos, serão distribuídos uma hora antes do início de cada atração.

  
Novos nomes e veteranos da Música Popular Brasileira também marcarão presença no festival. No Antigo Mercado se apresentarão Jair Oliveira e Beto Guedes (23, respectivamente às 14 horas e 17 horas), os pernambucanos do Mombojó e Pedro Mariano (24, respectivamente às 14 horas e 17 horas), Marcelo Jeneci (30) e Rita Ribeiro (31).
Neste ano, o Sesc, parceiro da organização do festival, será o responsável pelas atrações do Clube União Lyra-Serrano (Rua Antonio Olyntho, s/n). Estão confirmados shows de Liquidus Ambientus e Cidadão Instigado (23); Go do Trombone Jazz e Nasi (24); Karallarga e Oswaldinho do Acordeon (30), e Ari Borges e Blues Etílicos no encerramento, dia 31.

Artistas da região também terão espaço garantido. É o caso de Éder Palmieri, o Coro de Santo André, João Cristal e a Banda Lira, com apresentações no Antigo Mercado e na Padaria do Mens (Rua Schnoor, 405), espaço que será destinado também à literatura. Para o público infantil, as atividades acontecerão na biblioteca (Rua Rodrigues Alves, s/nº).
O 11º Festival de Inverno de Paranapiacaba integra o calendário de atividades do Departamento de Turismo de Santo André. A programação será realizada nos dias 16, 17, 23, 24, 30 e 31 de julho, a partir do meio-dia. Mais informações podem ser obtidas pelo telefone 11 4433-0339. Ou no site www.santoandre.sp.gov.br.

  
  Serviço:

  
11º Festival de Inverno de Paranapiacaba

Dias 16, 17, 23, 24, 30 e 31 de julho, a partir do meio-dia

Locais: Palco do Campo (Avenida Fox, s/nº), Espaço Sesc (Clube União Lyra-Serrano Avenida Antonio Olyntho, s/nº), Antigo Mercado (Rua Campos Salles, s/nº), Padaria do Mens (Rua Schnoor, 405) e na Biblioteca (Rua Rodrigues Alves, s/nº), todos na Parte Baixa da Vila.

Apresentações musicais, literatura e atividades infantis, entre outras atividades

Os ingressos, gratuitos, serão distribuídos uma hora antes do início de cada atração

Mais informações: (11) 4433-0339

Site: www.santoandre.sp.gov.br





Fonte: SECOM PSA

Assessoria de Imprensa

Marcos Imbrizi

Email: mlimbrizi@santoandre.sp.gov.br

Telefone: + 55 11 4433-0137

13/06/2011

Acompanhe os acontecimentos da Prefeitura de Santo André no twitter: http://twitter.com/stoandre


Ana Maria Dietrich é coordenadora da Contemporartes-Revista de Difusão Cultural

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ROSAS VERMELHAS




De todos os amores na vida, nenhum é tão traiçoeiro e adorável ao mesmo tempo como o amor romântico.  De todas as flores, a rosa. De todos os perfumes, o da rosa. De todas as cores, o vermelho da rosa. De todos os veludos, o das pétalas de uma rosa. Os enamorados se transformam em botões de rosas que se encontram, seus espinhos caem por terra, suas folhas tornam-se braços que se procuram; a pele tem perfume rosado; o rosto se avermelha em tímidos suspiros, corados de amor. Acidente ou destino? Conquista ou bênção? Os caminhos para se chegar ao amor verdadeiro nunca foram totalmente  desvendados.
Sabe-se, apenas, que quem sofre de amor romântico e é retribuído tem o sofrimento mais doce dos mundos e nunca quer sarar. A dor da saudade é uma dor amiga. A dor das lembranças quando longe é uma ansiedade com a certeza que o encontro fará com que o mundo pare para os dois. Afastar-se de um amor que une dois universos e os transforma em um céu bordado de estrelas, desenhando uma vida de único sentido, é impossível. Felizes são os que encontram seu par cedo na vida. Muitos procuram a vida toda e não percebem quando ele passa fantasiado, escondido sob olhares que buscam o chão, envergonhados por traírem o maior dos segredos... Um amor verdadeiro pode se esconder em um jardim repleto de coloridas flores, impedindo que você o identifique, até que ele murche de solidão. 


Fique atento. Permita-se amar. Observe as rosas. A rosa simboliza o amor dos casais enamorados, a perfeição que Deus criou, o encontro, as almas que se atraem ignorando fronteiras, distâncias, idade, sexo, classe social, cultura e idioma.  O reconhecimento pela íris que ilumina a ponto de cegar seu par, que nada mais enxerga além da pessoa amada. Se as paixões são estrelas, lindas, fortes, piscantes e limitadas, o amor é o cometa que rasga o nosso céu e nos mostra o desconhecido em nós mesmos. Estrelas se apagam. Os cometas são eternos porque mesmo quando não mais os vemos, deixam nossa história marcada para sempre. Mesmo quando idos, continuam a passar em nossa frente, como flashbacks involuntários, e não tenho dúvidas de que na hora de partirmos, não são as paixões que nos receberão do outro lado, somente os amores genuínos, do amor cristão ao amor romântico. 


A coroa de flores representa nossa despedida da vida, da vida de solteiro, da vida de estudante: flores do campo, lírios, alfazemas, pequenas margaridas, tulipas, rosas brancas, amarelas ou cor-de-rosa... Mas cada pessoa tem a sua rosa vermelha, aquela pela qual anseia e deseja segurá-la na mão na sua última viagem, a que representa o amor romântico, o encontro do par, o companheiro eterno, o fim da procura.
Os enamorados vivem duas vezes. O tempo funde-se nos seres enamorados, misturando passado, presente e futuro. Como em um jogo de videogame, ganham uma vida extra. Uma é a vida normal, a da rotina, a do mundo material. A outra é uma vida bônus, um acréscimo, uma ampliação da consciência universal em cada um de nós, uma luz que denuncia as cores do mundo tornando o céu mais azul, anunciando o entardecer como uma aquarela de tons arroxeados beijando o morno do alaranjado solar e os pássaros que cantam em harmonia com sua coreografia de balé no palco azul do mundo – asas esticadas, bico levantado e pés alinhados -.  Nosso olhar se torna seletivo e as flores se sobressaem as ervas daninhas. 
Nossos sentidos todos ficam transtornados, exacerbados e involuntariamente mapeiam as belezas que antes despercebidas se escondiam quando passávamos. Quando amamos, levitamos, e mesmo assim, enxergamos o que está rasteiro e o que está no alto. Passamos de mero figurante a personagem principal de um filme em 3D. O amor nos torna uma pessoa melhor, mais saudável, mais caridosa, mais tolerante e acessível. O amor nos transforma naquilo que é o nosso melhor. Nesse outro ser que inala pausadamente o perfume das rosas e expira boas intenções.



O Dia dos Namorados não é somente o dia doze de junho. O Dia dos Namorados é todos os dias em que acordamos e, ao pensarmos no nosso par, sorrimos. Porque o amor saudável não dói. O verdadeiro amor é uma benção.




Elvis, o eterno namorado, com sua voz marcante, gravou Let it be me, dizendo exatamente isso. Gostaria que a tecnologia houvesse evoluído ao ponto dessa música tocar enquanto o leitor lesse essa crônica. Já existe algo parecido que em futuro breve será lançado, o jornal em papel com acesso ao mundo virtual em um computador próximo. Os milênios passam, a tecnologia evolui, mas o amor é o mesmo do começo dos tempos. Os que o encontram e são retribuídos, são mesmo abençoados.



“God bless the day I found you/I want to stay around you/And so I beg you/Let it be me…”
Tradução livre: Deus abençoe o dia em que te encontrei, eu quero sempre estar perto de ti, então eu te imploro, deixe que seja eu...


Simone Alves Pedersen nasceu em São Caetano do Sul e hoje mora em Vinhedo, SP. Formada em Direito, participa há três anos de concursos literários, tendo conquistado inúmeros prêmios no Brasil e no exterior. Tem textos publicados em dezenas de antologias de contos, crônicas e poesias. Escreve para jornal, revista e diversos blogs literários. Escreveu o primeiro livro infantil em 2008, o “Vila felina” seguido de Conde Van Pirado, Vila Encantada, Sara e os óculos mágicos, Coleção Pápum e Coleção Fuá. Para adultos lançou “Fragmentos & Estilhaços” e “Colcha de Retalhos” com poemas, crônicas e contos: http://www.simonealvespedersen.blogspot.com



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DE OUTROS TEMPOS

Apresento hoje aqui um pouco mais do meu uni.verso: alguns versos do passado publicados no meu primeiro livro “Transparecer a Escuridão – produção independente de poesias e crônicas”.

O lançamento aconteceu no dia 28 de março de 1981, em frente ao “Bié Lanches” – uma lanchonete superfamosa na época, em pleno calçadão central de Americana, São Paulo.

Em meio a tantas pessoas consultadas, apenas duas, eu disse duas, foram 100% receptivas ao meu projeto e incentivadoras na realização do meu sonho, a quem tenho muito a agradecer: António Zoppi (jornalista e escritor) e Walther De Faé (professor, escritor e crítico literário).

Destaco trecho da matéria “Livro obteve sucesso”, veiculada no Domingo Jornal após o evento: “Fato interessante de notar é que o livro de Geraldo é o terceiro do gênero, num prazo de aproximadamente um ano, a ser editado pelos próprios autores, casos de António Zoppi e Waldemar Tebaldi. Isso, claro, constitui-se num dado alentador, principalmente numa cidade onde o trato com a literatura é raro hábito entre seus habitantes. Aliás, também interessante de ser ressaltado foi o comportamento das pessoas que foram atraídas ao local devido à aglomeração junto à mesa onde o escritor autografava seus livros. Curiosos se aproximavam mas evitavam tocar nos livros ou mesmo manuseá-los. Essa inibição deve-se, na certa, à falta do hábito de leitura de livros ou mesmo do desconhecimento do que seja o lançamento de um livro. Principalmente se é feito sob animação, música à vontade e farta presença de público jovem, na porta de um bar do convívio.”

Só para complementar: fizemos um tacho gigantesco de caipirinha que era distribuída à vontade entre os presentes e passantes. Na ocasião, em apenas duas horas de lançamento, foram vendidos mais de 100 exemplares.

Produzido nos tempos do linotipo e do clichê, a capa de “Transparecer a Escuridão” foi uma criação conjunta com o amigão e também publicitário Antonio Silvio de Andrade, que, com muita arte e carinho, cuidou da sua finalização. Como costumava brincar com ele: “Impossilvio” não reconhecer seu talento! Valeu, Silvião!



ÁGUAS ORIENTAIS


Você, que é fonte da volúpia,
Persiste sobre o meu mais profundo ser.
E, das suas águas, quero que saiba,
Eu quero beber.

Nada adianta esconder os sentimentos.
Suas águas sequiosas não resistirão.
E, nas cataratas dos nossos pensamentos,
Nada de solidão.

Eu quero deslizar sobre seu corpo.
Descer a cachoeira do prazer.
Sentir o padecer das turvas taras.
E, ao mesmo tempo, seu corpo esvaecer.

Eu quero sentir as suas água
Inebriadas a seguir pelo meu leito
Numa incessante queda de desejos
Em nossos momentos íntimos de pleito.

DE SÚBITO, AMARILIS


E lá vinha ela
Seus passos a desfilar poesia,
Alindando ambientes.
Seu corpo trajando alegria,
Bem o quero.
Seus olhos retocados de romance,
Cantigas de amor.

E aqui estava ela
Seus lábios sedentos brilhavam pureza,
Dádiva dos seus.
Sua cútis macia rubra de ruge,
Enfeitiçando coração.
Seus olhos retocados de romance,
Fartura angelical.

E lá ia ela
Sua cabeça refletindo aventuras,
Gatinha siamesa.
Seus traços delineando ternura,
Harmonia edênica.
Seus passos arrastando ranhuras,
Indizível sensação.

E lá se foi...

 
HUMOR DO AMOR


Enquanto que
O canto que-
Ente
O pássaro assovia,
Aço via
Penetrar no peito.
E no deleite,
Assim no leito,
Que seja com quem for,
Desde que se arda
Em fruto-fulgurante amor,
A queimadura
Ferva as mais
Sensíveis partes
Inerentes.
Enquanto
O encanto
Do canto
Vibra delicioso as cordas vocais,
O pássaro alado
Bica fascinado
O assinado
Do peixe assim a nado.
E o nado
Do nada
Vertente como fada
Na cabeça camuflada
Das pétalas,
Margarida prazerosa,
Esfolheadas,
Vivem a acidez
Do aço.
Vivem a placidez
Da gravidez.
Vivem o amor
E jamais ocultam
E esquecem.
Nunca apagam
Os vestígios
Com os vestidos,
Nem tencionam carcomer
As cicatrizes
Que as cicas atrizes
Atrozes
Pincelaram,
A TROTES,
Pela consubstanciada
Essência das carnes
A se enxertarem,
Carne a carne,
Olho a olho,
Canto a canto,
Órgão a órgão.
Não negam jamais
A cuspida do humor
Do humor do amor.


O ECOSSITEMA

A poluição do ar intoxicou.
A poluição das águas envenenou.
A poluição do solo contaminou.
A poluição acústica perturbou,
                                  surdificou.
A poluição da mente condicionou,
                                    massificou e
                                             agrediu.
A poluição dos alimentos oxidou, cancerizou.
A poluição radioativa (o lixo atômico) invalidou.
A poluição térmica febricitou.
A poluição energética paralisou, perigou.
O meio ambiente desequilibrou. Morreu!



Abraços literários e até +.






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Pronome não definido


Recentemente eu li uma notícia na Globo.com que me fez refletir sobre assuntos que debatíamos muito durante as aulas de Sociologia na faculdade e que de alguma forma se encaixam nas minhas recentes pesquisas sobre a questão do gênero. 


A notícia era sobre um casal canadense pais de um bebê de quatro meses, mas que preferiram não revelar o sexo da criança. Depois de uma busca pela internet descobri numa reportagem da Revista Época, outro caso divulgado pela mídia semelhante. Um casal sueco, pais de uma criança de dois anos de idade ainda não tinham revelado o sexo da criança, apenas amigos ou familiares mais próximos que ajudaram a cuidar do bebê é que sabiam essa informação.

De acordo com a matéria, os pais de Pop resolveram adotar esse comportamento acreditando que o gênero é uma construção social, e assim sendo, optaram por não forçar a criança a um gênero que a moldará sociologicamente. O bebê veste-se tanto com vestidos quanto com calças compridas, sendo ele que escolhe a roupa ou o penteado que quer usar. Dessa maneira, os pais acreditam que caberá a ele decidir se é homem ou mulher e no tempo dele.

A notícia também foi postada em um fórum e foi muito interessante perceber nos tons dos comentários feitos pelos usuários o quanto a relação de gênero é um assunto muito polêmico. Muitos ainda se referem como a “natureza feminina” e a “natureza masculina”, tornando o assunto muito mais biológico do que social. E sempre quando vejo uma inversão de valores, quando vejo um problema social sendo apresentado como algo biológico lembro de algo que meu professor sempre fala. A questão biológica é muito mais definitiva, ela é dada, não aceita mudanças. No âmbito social, apesar de complexo, há possibilidades de alterações.

Assim, esse discurso biológico extremamente perigoso, mas que ainda hoje se apresenta  como senso comum, é uma ideologia que impede mudanças socioculturais. Apesar de perceber o quanto é errôneo pensarmos na identidade feminina e masculina como algo biológico. Não estou aqui defendendo a postura adotada por esses pais, afinal a questão é muito mais complexa do que simplesmente supormos que ao deixarmos uma criança escolher suas roupas e penteados estaremos acabando os conflitos da relação de gênero.



Ana Paula Nunes é jornalista e pós-graduanda em Mídia, Informação e Cultura pela Universidade de São Paulo - USP. Escreve aos domingos, quinzenalmente, na ContemporARTES.
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