Exílio e Poesia na Lírica Portuguesa Contemporânea




O poético é o estranho necessário a fim de que sejam atravessados os automatismos do cotidiano.
Mário César Lugarinho


Sabe-se que a ditadura deixou marcas profundas na população portuguesa. Durante 41 anos, de 1933 a 1974, Portugal viveu sob um regime totalitário, conhecido como Salazarismo. Esse regime, censurava, coibia, calava as vozes dos que contra ele tinham coragem de se manifestar. Muitos artistas, escritores, poetas, pensadores, políticos, enfim, muitas pessoas viram-se obrigadas a buscar exílios em outros países como França, Brasil, EUA, entre outros.


Ao exilarem-se, as pessoas deixaram para trás a pátria amada, parentes, amigos, conhecidos, sentiram-se muitas vezes sem lugar no mundo, injustiçadas, esquecidas pelos homens e deuses que fechavam os olhos para as barbaridades que contra elas eram realizadas.

Romances de autores portugueses consagrados como António Lobo Antunes, José Saramago, Lídia Jorge, entre outros, refletiram sobre as injustiças cometidas, sobre a política fracassada exercida pelos seguidores de António de Oliveira Salazar, questionaram a História de Portugal, a maneira como os portugueses relacionavam-se com o restante do mundo. Há também muitos poetas que transpareceram na tessitura de seus poemas o descontentamento, o sofrimento, perdas, anseios de mudanças, que, de alguma maneira, dialogaram tanto com a política quanto com a História lusitana.

Há dois poetas portugueses, destacados nesta matéria, que exilaram-se durante a ditadura em Portugal, são eles Manuel Alegre e Jorge de Sena. Ambos elaboraram poemas nos quais o eu-lírico relata um pouco do sofrimento exprimível que a vida de um homem andante pelo mundo pode ter, revelam também as adversidades com as quais o ser humano privado de suas raízes culturais, étnicas depara-se.

O poema de Manuel Alegre que gostaríamos de destacar é chamado “O primeiro soneto do Português errante”:

Eu sou o solitário o estrangeirado
o que tem uma pátria que já foi
e a que não é. Eu sou o exilado
de uma país que não há e que me dói.

Sou  ausente mesmo se presente
o sedentário que partiu em viagem
eu sou o inconformado o renitente
o que ficando fica de paisagem.

Eu sou o que pertence a um só lugar
perdido como o grego em outra ilíada.
eu sou este partir este ficar.

E a nau que me levou não voltará.
eu sou talvez o último lusíada.
do porto que não há.

Nesse poema, percebemos um eu-lírico que, em primeira pessoa, narra todas as suas desventuras, as consequências não só físicas, como também psicológicas que implicam uma evasão. Esse mesmo sujeito poético diz sentir-se “estrangeirado” e, paradoxalmente, fala que possui uma pátria, que não é sua. Há um sentimento um pouco contraditório de pertencimento e não pertencimento, de possuir e não possuir, e a conclusão mais iminente é a de que tudo isso “dói”.

Mesmo que em presente em algum lugar, o eu-lírico sente-se ausente, parte de si foi deixada para trás. A incompletude que ele sente dentro de si, torna-o uma “paisagem”, algo que não possui vontade, ação e somente atua perante os demais. Isso, provavelmente, ocorre de maneira totalmente involuntária, uma vez que o sentimento de não pertencimento que caracteriza esse sujeito faz com que ele sinta-se incompleto em qualquer lugar distinto de sua terra, sua casa.

Assim como na Ilíada de Homero, na qual há anos de lutas para os aqueus conquistarem a cidade de Tróia e em cujo enredo observamos que esses dez anos de luta foram de abdicação, de saudade, de distancia dos entes queridos por parte dos aqueus, no poema de Manuel Alegre, o eu-lírico diz sentir-se em outra Ilíada. Ele sente-se em outra luta, em outra situação que lhe causa sofrimentos.

A nau responsável por levar esse sujeito poético, de acordo com ele mesmo, “não voltará”, não retornará para buscá-lo. Ele diz ser o último lusíada de um porto inexistente, de um lugar físico que não existe, impossível de ser alcançado, mas que vive em seu coração e faz que guarde reminiscências, sentimentos em seu eu interior.




Já o poema de Jorge de Sena que desejamos destacar é o que encontra-se a seguir:

“Quem muito viu ...”


Quem muito viu, sofreu, passou trabalhos,
Mágoas, humilhações, tristes surpresas;
E foi traído, e foi roubado, e foi
Privado em extremo da justiça justa;

E andou terras e gentes, conheceu
Os mundos  e submundos; e viveu
Dentro de si o amor de ter criado;
Quem tudo leu e amou, quem tudo foi –

Não sabe nada, nem triunfar lhe cabe
Em sorte como a todos os que vivem.
Apenas não viver lhe dava tudo.

Inquieto e franco, altivo e carinhoso,
Será sempre sem pátria. E a própria morte,
Quando o buscar, há de encontrá-lo morto.


O sujeito poético de Jorge de Sena, inicialmente, aponta sentimentos e situações pelas quais uma pessoa injustiçada passou. Ela “sofreu”, trabalhou ao que parece contra a vontade, sentiu-se magoada, humilhada, traída, roubada, além de, por não possuir um porto seguro, uma terra a chamar de sua, e, por isso, viu-se obrigada a andar “terras e gentes”, a conhecer “mundos e submundos”. Essa pessoa tudo foi, o verbo ser utilizado no pretérito, indica, neste caso, que no presente esse ser não mais é, perdeu muito do que o caracterizava, constituía seu ser.

Nos deparamos com a afirmação de que “Apenas não viver lhe dava tudo” e perguntemo-nos o porquê dessa afirmação. Se pensarmos nas razões, em que alguém possa desejar a morte à vida, condizentes com a exposição feita no poema, poderemos vislumbrar que esse alguém apresentado já sente-se morto em vida, privado de vida, daquilo que lhe constituía. Esse mesmo ser “Será sempre sem pátria” e “A própria morte,/ Quando o buscar, há de encontrá-lo morto”, sem vida, sem o eu que lhe constituiu e que foi perdido injustamente.

Como observamos nos poemas apresentados anteriormente, as poéticas tanto de Manuel Alegre quanto de Jorge de Sena possuem uma reflexão sobre as difíceis situações pelas quais um eu expatriado pode deparar-se. Além disso, elas também, de alguma maneira, possuem marcas de um período de exclusão, de injustiças, de lutas e desencontros atravessados não somente por um único sujeito, mas por um povo privado de liberdade de expressão.

O leitor que interessou-se pela poética destes autores pode acessar sítios na internet que disponibilizam poemas por ele confeccionados (Manuel AlegreJorge de Sena ). Os brasileiros devem saber de antemão que no Brasil há certa dificuldade em conseguir livros destes dos poetas, quem desejar terá que importar tais obras.
Rodrigo C. M. Machado é Mestrando em Letras, com ênfase em Estudos Literários, pela Universidade Federal de Viçosa.



Ler Mais

“Serge Gainsbourg – O homem que amava as mulheres” uma cinebiografia essencial



É possível fazer filmes sobre a vida de um artista sem torná-los exaustivos e chatos, para que isto aconteça  é  preciso que o realizador tenha coragem para deixar de lado alguns fatos e ir direto ao que lhe interessa. A mão pesada do diretor irá aparecer, e isso é bom pois o espectador terá uma visão parcial porém honesta do realizador e de seu objeto, no caso a personalidade em questão. O filme de Joann Sfar “Serge Gainsbourg – O Homem que Amava as Mulheres”, (Vie Héroique, 2010)  que está em cartaz em São Paulo desde o dia 07 de julho, é um destes casos. O filme conta uma história interessante e nada enfadonha da vida do orelhudo, magricela e ousado, que se auto-intitulava "cabeça de repolho", compositor, ator, cineasta e escritor, Serge Gainsbourg. Não é nada fácil fazer uma cinebiografia. Pessoas públicas não possuem vida privada e sim midiática, são muitas informações vindas de muitos meios distintos com enfoques variados como: jornais, revistas, livros, artigos e programas de televisão. O diretor e/ou roteirista precisa entender, depurar e principalmente escolher aquilo que vale a pena ser contado e mostrado em mais ou menos 130 minutos de filme. 
Eric Elmosnino como Serge/Lucy Gordon como Jane Birkin/Laetitia Casta como Brigitte Bardot



Joann Sfar acerta ao nos contar aquilo que mais lhe encantava na vida de Serge Gainsbourg: Fazia boa música, amava as mulheres e por  último porém não menos importante, era um fumante inveterado.  Sfar, quadrinista francês, coloca em cena dois Serges: Gainsbourg, tímido, introspectivo e Gainsberre (uma espécie de alter ego) destrutivo, beberão e mulherengo. Estes dois Serges, quase antagônicos, funcionam como   contrapondos lúdicos que arejam a trama. 
                                 Eric Elmosnino como Serge/Lucy Gordon como Jane Birkin


Momentos da vida real de Serge

Há cenas memoráveis como a que Serge e Jane cantam “Je t’aime moin non plus” nus em uma banheira, ou quando Serge entoa “Aux Armes et caetera” versão reggae para “A Marselhesa" (hino francês) em público. Nestas cenas fica evidente a beleza de uma cinebiografia:  Criar com referênciais meio “à la vonté” episódios marcantes da vida de um artista. É por este viés que o filme sobre Gainsbourg é uma aula de cinebiografia para inglês, brasileiros e para quem mais quiser, ver e aprender  a contar histórias de artistas sem caretices dispensáveis.

Gainsberre (uma espécie de alter ego) destrutivo, beberão e mulherengo


A história é contada de forma linear, alguns  flashbacks  incrementam a trama dando algumas pitadas referenciais a respeito de Serge criança. Estas cenas são viagens lúdicas em direção aos medos e aos anseios deste francês, filho de judeus russos emigrados para a França na Revolução de 1917. É possível vivenciar a precocidade de Serge para a arte, para as mulheres e também para o cigarro.
O filme tem como eixo central as relações de Serge com o pai e com as mulheres (Brigitte Bardot e Jane Birken), este triângulo orienta, organiza e "segura" a história fazendo com que ela seja verossímil e não despenque para o descrédito. O pai queria que Serge fosse pianista, como ele, e lhe ensinou o ofício. Apesar das intrigas de Serge criança com o pai, era para os braços dele que corria quando estava em dificuldades. A casa do pai está na trama como um lugar seguro para onde Serge sempre poderia voltar.
Vale muito a pena assitir esta cinebiografia recheada de cenas sensuais e encatadoras. O que ficou para mim: Cinema é magia e encanto num mundo à parte  repleto de possibilidades!!! Ótima cinebiografia.
Bom filme!!!
Serge e Brigitte (mundo real)
Serge e Jane,  muito sensuais ( mundo real)
Serge e Brigitte Bardot ( Affaire)
Casamento entre a Bela e o Feio


Kátia Peixoto é doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP. Mestre em Cinema pela ECA - USP onde realizou pesquisas em cinema italiano principalmente em Federico Fellini nas manifestações teatrais, clowns e mambembe de alguns de seus filmes. Fotógrafa por 6 anos do Jornal Argumento. Formada em piano e dança pelo Conservatório musical Villa Lobos. Atualmente leciona no Curso Superior de de Música da FAC-FITO e na UNIP nos Cursos de Comunicação e é integrante do grupo Adriana Rodrigues de Dança Flamenca sob a direção de Antônio Benega
Ler Mais

Imagem e Fúria: a mitificação do rock através da fotografia


É a partir dos anos 60 que a imprensa musical dará vida para a mitificação de músicos e bandas, tornando-os verdadeiros heróis de uma geração. Um das influências para esse processo ocorrerá pelas lentes de fotógrafos especialistas em documentar o rock.
John e Paul por David Bailey
David Bailey é o grande nome dessa fase de “profissionalização” da imprensa musical. Os trabalhos realizados por Bailey com as bandas Rolling Stones, The Beatles e The Who são destacados até os dias atuais. Além de Bailey, outros fotógrafos irão definir a estética rocker através das décadas. Jim Marshall será o equivalente ao fotógrafo inglês na hippie São Francisco dos anos 60.
Nos anos 70, com o rock já “institucionalizado” e proporcionando milhões de dólares aos ídolos da década anterior, uma nova geração de fotógrafos terá a sensibilidade de flagrar a essência de um movimento que nascera no underground nova-iorquino na primeira metade dos anos 70, e que terá seu auge no verão de 1977: o punk.
Sex Pistols em ação: registro de Roberta Bayley

Bob Gruen e Roberta Bayley talvez sejam os principais fotógrafos que registraram a ascensão e queda do movimento punk. Ambos tinham como característica retirar do banal, seja a tradicional imagem do músico no palco ou no estúdio, uma expressividade intensa que ia até aos flagrantes da rotina do dia-a-dia dos músicos.
White Stripes por Annie Leibovitz
A Rolling Stone contava com alguns dos melhores fotógrafos da imprensa musical como: Bob Gruen, Roberta Bayley, Mick Rock e Pennie Smith, todos chefiados pela editora de fotografia Annie Leibovitz, uma das fotógrafas mais conceituadas dos EUA e que tem no currículo diversas capas emblemáticas da revista Rolling Stone.
Portanto, com o passar do tempo, a revolução provocada pelo estilo musical nos anos 50, levada à condição de ideologia política e transgressora nos tumultuados anos 60, virou produto cultural na década posterior, fazendo com que o caminho fosse aberto para que no início dos anos 80 surgisse a MTV.
A MTV institucionalizava o videoclipe como ferramenta essencial para o êxito de uma banda. A partir dos anos 80, quem não tivesse um videoclipe com freqüente exibição, estaria fadado a vendas baixíssimas de discos. Hoje, em temos de internet, a própria indústria musical precisa se adequar à “aldeia global” Contudo, é inegável a importância da fotografia no universo musical, cuja influência gerou um imaginário que se mantém vivo por mais de cinco décadas.




Marcelo Pimenta e Silva é graduado em jornalismo pela Universidade da Região da Campanha, Bagé/RS. Como pesquisador atuou por três anos no Núcleo de Pesquisa da História da Educação, pela Urcamp, tendo produzido diversos trabalhos multidisciplinares. Tem como temas de pesquisa a imprensa alternativa brasileira; a contracultura e suas implicações na sociedade brasileira, além de temas como o ativismo na cibercultura. Conta com experiência em colunas sobre cultura, em jornais, em sites e em revistas. Atualmente, trabalha com jornalismo, assessoria de imprensa e pesquisa free-lance, além de cursar pós-graduação em comunicação mercadológica na Fatec Senac de Pelotas/RS.  







Ler Mais

Do Cinza ao Dark: Comemoração 10 anos ELCV e exibição Doc - Ocupa.Fique a vontade!







Hoje dedico à coluna para escrever sobre o evento que acontecerá entre os dias 01 à 21 de agosto chamado Cinema: Sínteses e Multiplicidades no ABC. Para comemorar o aniversário da Escola Livre de Cinema e Vídeo de Santo André não poderia ser diferente! Várias opções de curtas de diversos gêneros, além de workshops e bate-papos, o evento contará também com a exibição de um curta muito especial, em que participei da produção e direção de fotografia. No entanto, para mim são apenas nomenclaturas, participei de algo muito maior. E não tenho palavras para descrever como foi gratificante participar deste projeto, com todas as amizades que fiz.


Tudo começou no curso Santo André Documenta, ministrado por Bruno Carneiro na ELCV. O melhor aprendizado que obtive neste curso foi entender que trabalhar com vídeo primeiro: depende da sua real vontade, segundo, é achar o que realmente você gosta de fazer dentro do ramo e por fim tomar cuidado com a linguagem que você utilizará em seu documentário. Além disso aprendi na prática como realizar um bom enquadramento, como utilizar minha câmera, escrever um roteiro, se atrever a abrir um programa de edição e montar meu próprio filme. Neste curso senti a liberdade de errar,perguntar,arriscar e ousar. Outro ponto positivo do curso foi a escolha das pessoas, acredito que o objetivo era colocar diversas áreas do conhecimento juntas, a parte teórica com a parte técnica. No caso do nosso grupo acredito que esta interação aconteceu. Aliás acredito que no nosso grupo a interação foi tanta que dela nasceu grandes amizades, regadas à muitas risadas, afinidades e prazer em produzir.




Escolhi entrar no grupo primeiramente pelo tema, ocupações artísticas em Santo André. Mas ao olhar alguns rostos já vi que teríamos muito a aprender juntos e afinidades. Além disso sabia que poderia contribuir na produção, pois como já foi escrito em diversas colunas do Neblina e da Ana Maria Dietrich, Soraia Oliveira Costa e o Coletivo MAOU realiza ações de ocupação com intuito de disseminar a arte e alertar a população dos locais sem função social alguma. Não teria como ser diferente, sem perceber antigas e sólidas amizades se juntaram com as novas. E desta interação surgiu algo muito bonito, fruto de muito trabalho.



Doc - OCuPa - fique a vontade! é fruto da interação entre pessoas de diversos lugares do Brasil (Santo André, Ermelino Matarazzo, Itaquera, Guaianazes e Salvador) com um objetivo na cabeça: fazer de um lugar abandonado o palco, a tela, o muro, a galeria de arte. Do cinza de um esqueleto urbano de 10 andares conseguimos a cada visita proporcionar a cor. A cada pincelada do artista, o barulhinho do spray, a risada do clow, o bater do martelo para pendurar a foto, o sorriso estampado no rosto fez de um lugar abandonado o despertar de idéias, da arte, da troca de conhecimento, da transformação.


Sinceramente estou me dedicando muito para colocar o que senti por meio das imagens. Mas hoje tenho certeza que a frase "movimento gera movimento" é real. Por meio de um curso aprendi muito, fiz novas amizades e das antigas e nunca menos importantes realizei algo diferente.
Ficou curioso para assistir o nosso documentário? Então divulgo para vocês o dia da exibição que contará também com dois outros ótimos filmes realizados por alunos do Curso Santo André Documenta:

06 de agosto – sábado – 15h

LOCAL: Teatro do Sesc Santo André


Exibição dos trabalhos produzidos pelo Núcleo: Santo André Documenta, da ELCV, e bate-papo com os produtores e com o orientador Bruno Carneiro.


SEXO, GAIARSA E EU

(documentário / 15 ‘/ 2011 / ELCV / classificação: 12 anos)

O resgate de alguns aspectos da obra de José Angelo Gaiarsa, no tocante a sexualidade, e a pergunta: a revolução sexual iniciada na década de 60 já se concretizou?

realizadores: Wellington Darwin – Tony Shigueki Nakatani – Cristina Assunção


PERNOITE

(documentário / 15’ / 2011 / ELCV / classificação: 12 anos)

Toda noite, a cidade esconde e revela personagens, desejos reprimidos, fetiches, vontades, dualidades. Uma volta no carro com a travesti Sheyla, pelas ruas do centro de São Paulo, conta um pouco de sua história e penetra neste curioso universo.

direção – fotografia e roteiro: Cibele Appes – Eduardo Alves / montagem: Cibele Appes / música original “Esquinas”: Eduardo Alves (letra e música) – Didi Monteiro (voz) / depoimento: Sheyla Sayson / voz off: Wesley Ursão / performance: Evelyn Ligocki.


OCUPA. FIQUE A VONTADE!

(documentário / 15’ / 2011 / ELCV / Classificação: 12 anos)


A vontade de fazer arte, seja qual for a linguagem, é sempre latente. Vamos mostrar o quanto isto é real e, desta forma, estimular diversos outros artistas a analisar a cidade como um instrumento, a galeria de arte perfeita para quem quer produzir, passar a mensagem, mas sempre é “barrado” por não ter um espaço para isso. Um local abandonado pode ser apenas um local abandonado, mas a cidade para nós é o espaço perfeito para mostrar que a democratização da arte começa na rua, no asfalto, no urbano. Então, você quer ocupar também?


direção: Eduardo Gabriel Alves – produção: Mariana Pardo / Jeniffer Souza / Marina Rosmaninho – direção de fotografia: Mariana Pardo e Marina Rosmaninho / edição: Vinicius Souza – Natália Angeotti– Guilherme Genereze.


Aqui a programação completa do aniversário da ELCV:


E claro os agradecimentos a todos que fizeram acontecer:

Da ELCV:

Bruno Carneiro: "Pior do que ter problemas técnicos é afastar o espectador do seu filme" - Lição para a vida!
Sérgio Pires: "Estou ansioso para ver o trabalho de vocês" - obrigada pelo Apoio!

Do grupo - Ocupa. Fique a Vontade!Direção, produção,fotografia e muita camaradagem!

Eduardo Alves: Valendo! Aprendendo o que é dirigir! humildade e talento.
Jennifer Souza: "Bora produção!" Você é o prazer em fazer estampado no rosto!
Mariana Pardo: " Bora produção!" Ansiosa como eu, correria, amiga. Lugar em especial no coração!
Laurindo Gadoti Neto: devidos créditos ao garoto! Obrigada pela ajuda!
Casal Natália Angelloti e Guilherme Genezere: Valeu!
Vinícius Souza: de Atibaia para o ABC agradeço sua vontade em nos ajudar!

Organização Ocupação Dupli-Cidade e entrevistas:

Coletivo MAOU - dialéticas Sensoriais



Moisés Patrício: Entrevistado, amigo, pintor, artista.



Nem tenho como agradecer...O trabalho, a organização da ocupação Dupli-Cidade, o seu depoimento em relação à arte realmente fez com que brotassem as sementes. A semente da esperança e da amizade! Obrigada e conte conosco sempre! "movimento gera movimento". Compartilhar, somar e transformar.



Soraia Oliveira Costa: Entrevistada, amiga, artista e amante dos trens e trilhos:

Sua entrevista nos ajudou a entender e explicar ao espectador os reais motivos de ocupar locais abandonados. Existem ações que vão além da arte e creio que isto ajudará e muito a desmistificar ações como esta, taxadas de vandalismo. Inverter os papéis é preciso, vândalo é aquele que mantém locais como enormes latifúndios urbanos! Obrigada pela entrevista e grata pela amizade, sempre!

Agradeço a cada traço, a cada tinta, a arte, o arsenal de cores e a expressão de felicidade de dedicar tintas,talento e compartilhar experiências na ocupação Dupli - Cidade, os verdadeiros artistas estão na rua, nos muros, na cidade:

Artistas da ocupação Dupli-Cidade:

Todyone:

Renato Ursine - MaKaKitos.

Alan Alvico - Alvico

COLETIVO ARTE PRA VIDA


Edson Barros - Fotógrafo

Letícia Shimoda - Artista MAOU

Vander Guedes- Che

Douglas -Doug:


Thomaz Lima Rosa:

Marcos Vinícius - Coletivo esquadrão Anti-Cinza

Shirlei Oliveira -Gata Xis Salvador -Bahia

Lane Lopez - Atriz

E agradecimento especial à minha Mãe, Marli de Oliveira , filha de peixe peixinho é!
E também à Luciana Rosmaninho, peixinha, uma pessoa que não tive que reconhecer como amiga pois quando nasci já estava predestinado a estar ao meu lado. É a prova que o Universo conspira à meu favor!
Amo vocês incondicionalmente!



Marina Rosmaninho é formada em Ciências Sociais no Centro Universitário Fundação Santo André(2008). É socióloga, amante da linguagem audiovisual, documentários, ferrovias, indústrias e escombros e procura juntar todas suas paixões para analisar a sociedade. Convida a embarcar neste trem sem descarilhar! "movimento gera movimento".




Ler Mais

Crítica Fílmica: Os Famosos e os Duendes da Morte




"Estar perto não é físico". É essa a frase que marca o filme brasileiro Os Famosos e os Duendes da Morte. Apesar de o título remeter em primeiro momento aos filmes da Xuxa, a comparação é totalmente equivocada. O filme de Esmir Filho trabalha de forma sutil e bem temperada temas comuns à vida, sem cair na mesmice e no grave erro de inúmeras obras, brasileiras e internacionais, a ênfase nos estereótipos e caricaturas.

A sinopse divulgada pela produtora do filme relata acerca de um garoto de 16 anos, fã de Bob Dylan, que tem acesso ao restante do mundo apenas por meio da internet. E assim ele vê os dias passarem em uma pequena cidade rural de colonização alemã no sul do Brasil. Até que uma figura misteriosa o faz mergulhar em lembranças e num mundo além da realidade.

O resumo dado à história pode até parecer desinteressante, ou ainda fraco. Mas não julgue o livro pela capa, ou o filme pela sinopse, o filme vai muito além. A película traz questões como os desejos do ser - humano, as vontades inconscientes, o medo, a coragem, metas, conquistas e o desejo de liberdade... Liberdade de ser e sentir o que se quer.

A temática, aparentemente adolescente, parece ser facilmente transposta a qualquer outra realidade e em qualquer roteiro de cinema. Mas percebemos ao longo do filme como essa não é uma tarefa fácil. Afinal, quem nunca se viu perdido em alguma etapa da vida? No filme é possível perceber esse ‘sufocamento’ da sociedade atual imposto ideologicamente e, ainda sentir como somos incompletos e nos acomodamos. A transposição desses ícones é feita de forma sublime.

O filme de Esmir Filho conta com um elenco de atores desconhecidos pelo grande público, inclusive porque não eram atores profissionais, até então. Este, talvez, tenha sido um triunfo para o filme, pois conseguiu fugir da questão de figurinhas repetidas e ainda pode fazer uma excelente obra. Porém, um ato falho da produtora do filme, a Warner Brasil, foi não divulgar o filme por todo o Brasil. Ainda assim, a produção ganhou dois prêmios no Festival do Rio em 2009 e mais outros 3 no Festival Internacional de Guadalajara.
Para ser bom não precisa ser uma produção milionária com propagadas "pregues" e milionárias. Redundante falar isso? Mas trata-se de uma verdade: muitos filmes são sucesso por terem um alto teor de qualidade na propaganda, o filme nem tanto. Como exemplo, cito Avatar, um filme de imagens boas, mas que peca em todos os outros aspectos, principalmente em um roteiro clichê, repetitivo, extenso e fraco, o que resume tudo o que já disse.

Logo, afirmo que Os Famosos e os Duendes da Morte, mesmo não sendo uma produção de Hollywood, e ainda se quer tendo um nome bonito e chamativo, preza e chama a atenção pela qualidade fílmica da obra, deixando diversos outros filmes no chinelo. Estou sendo bem enfático, pois uma produção dessas não deveria ser esquecida pelo Cinema Nacional Brasileiro.





Renato Dering graduou-se em Letras pela Universidade Federal de Goiás (UFG) e atualmente é mestrando em Literatura, pelo Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal de Viçosa (UFV). Desenvolve pesquisa na área de Literatura e Cultura de Massa, além de estudos sobre o contística e cinema. Contato: renatodering@gmail.com


A Contemporartes agradece a publicação e avisa que seu espaço continua aberto para produções artísticas de seus leitores.
Ler Mais