Cultura e Pensamento em Salvador.





Edição especial da coleção “Cultura e Pensamento” será lançada em Salvador na próxima segunda, dia 12.09, com seminário sobre Juventude e Desenvolvimento

Refletir sobre grandes temas que circundam o universo da juventude e as possibilidades e desafios da aproximação cultural entre África, América Latina e Europa. Estes são alguns dos objetivos da revista Cultura e Pensamento: Juventude e Ativismo, que será lançada no dia 12 de setembro na Universidade Federal da Bahia. O lançamento acontece às 17h no auditório do Instituto de Humanidades, Artes e Ciências Professor Milton Santos (IHAC), em Ondina.
Além do lançamento, será realizado um debate sobre Juventude e Desenvolvimento, que irá contar com as presenças do Secretário de Cultura Albino Rubim, do Coordenador de Juventude do Governo do Estado Vladimir Costa, do Coordenador da ONG Contato, Vitor Santana e do Professor da UFBa, Carlos Bonfim. O lançamento da revista e o debate é uma realização da Secretaria de Cultura do Estado da Bahia, em parceria com o IHAC/UFBA e da Ong Contato.
Os jovens tiveram papel preponderante em importantes movimentos políticos e sociais como o Maio de 68, na França, os cara-pintadas, no Brasil e mais recentemente no Chile, na reivindicação por mudanças na Educação. O público principal da revista é justamente a juventude brasileira com todo seu potencial transformador. Fazem parte da publicação 14 artigos e quatro entrevistas que trazem diferentes olhares de artistas, intelectuais e pensadores sobre o tema central. O cenógrafo Gringo Cardia e o cineasta Eryk Rocha são alguns dos entrevistados. O historiador norte-americano James Green, o poeta e professor cubano Lionel Valdivia, o antropólogo José Márcio Barros, o líder indígena Gersem Baniwa, entre outros, assinaram artigos.
A Cultura e Pensamento: Juventude e Ativismo contém ainda um DVD com vídeos produzidos por realizadores independentes do Brasil, Cuba, Espanha e Senegal que trazem registros e percepções imagéticas sobre as temáticas debatidas durante o encontro. A partir do conteúdo gerado por estes textos e imagens, a revista pretende promover um intercâmio de conhecimentos e fomentar os debates sobre atualidades.
A Revista Cultura e Pensamento: Juventude e Ativismo é uma realização do Ministério de Cultura através do programa Cultura e Pensamento, numa parceria entre a ONG Contato – Centro de Referência da Juventude, o Centro Cultural Casa África (Brasil – Senegal), a Asociación Hermanos Saíz (Cuba) e a ONG CIC Batá (Espanha).
A publicação estará em breve disponível no site CULTURA E PENSAMENTO.









Fonte: SECULT-BA






SERVIÇO
O que: Lançamento da revista “Cultura e Pensamento: Juventude e Ativismo” e seminário Juventude e DesenvolvimentoOnde: Instituto de Humanidades, Artes e Ciências Professor Milton Santos – Ondina, SalvadorQuando: 12 de setembro
Horário: 17h Entrada gratuita




















Diogo Carvalho é Historiador pela Universidade Federal da Bahia e Mestre em Cultura e Sociedade (UFBA). Trabalha com os seguintes temas: História, cinema soviético, cinema, cultura digital, política, humanidades e literatura beatnik.
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Direção de Atores - Cinema e Audiovisual

O Íris também é Brasil.”

Essa coluna nasceu assim que comecei a ministrar as aulas de Direção de Atores para a Área de Concentração em Cinema e audiovisual da UFBA, em agosto último. Pelo programa iniciaria as aulas falando sobre o texto, essa máquina esburacada e preguiçosa, como ensinaria Umbeto Eco em seu “Lector in fabula”, na verdade um “entremeado de espaços brancos, de interstícios a serem preenchidos (…) porque um texto é um mecanismo preguiçoso (ou econômico) que vive da valorização de sentido que o destinatário ali introduziu (...) Todo texto quer que alguém o ajude a funcionar”.


Assim, um dos elementos constitutivos da leitura teatral é que se trata de um processo de construção de sentido. Isso quer dizer que as experiências lingüísticas e de vida, as crenças e a visão de mundo do leitor, seu conhecimento prévio do texto e até mesmo sua intenção no momento (o conhecido) vão ter uma influência direta sobre a sua compreensão do texto (o novo). E o que havia escolhido para o exercício, fora um pequeno texto de La pasta, autor que trabalhei no meu Pós-Doutoramento. O principal tema tratado pelo autor emsua produção é a cidade contemporânea e, essencialmente, o “desejo” entre pessoas do mesmo sexo.

Como desaparecer completamente apresenta dois personagens num encontro casual num cinema, mas não num cinema comum, um cinema daqueles típicos em grandes centros urbanos destinados ao sexo esporádico e isso fez uma tremenda confusão na cabeça dos alunos, que desconheciam a existência de lugares como esse. Apresentei, então, algumas características desse espaço, mas gostaria de completar aqui a tal explicação, fazendo a transcrição de trecho do livro Primeira carta aos andróginos, de Aguinaldo Silva, autor que, antes de se vender à higienização gay, contribui muito para sua cartografia da abjeção. Eis o trecho.

“O cinema fica na Rua da Carioca, uma rua meio sórdida que desemboca na Praça Tiradentes, sempre esburacada e em obras, e com prédios velhos e decadentes, a maioria sobrados dos primeiros anos do século XX, época em que o Íris foi inaugurado. Quem o vê de fora em dias de sessões contínuas imagina uma colméia: na sala de espera, pelas escadas de frisos art-nouveau que levam aos seus dois balcões, multiplicados ao infinito pelo que ainda resta de sua decoração de espelhos emoldurados em bronze, os espectadores se movimentam num vaivém constante. Os sinais, as palavras amistosas que trocam entre si, indicam que a maioria se conhece, provavelmente dali mesmo. À entrada, um funcionário permanece indiferente aos que entram e saem. Na bonbonnière uma mulher cochila, enquanto, sobre o vidro do mostruário, um gato acompanha, apenas com um olho aberto, o entra-e-sai de pessoas da sala de projeção. A decadência irreversível em que entrou o cinema vai aos poucos, tomando conta do seu hall, que já foi elegante com seus frisos e corrimãos trabalhados, e seus espelhos que o tempo esfumaçou.


Quando cheguei lá naquela noite o cartaz à entrada anunciava Kung Fu Contra os filhos do Karatê e Eu Dou o que Ela Gosta em sessão dupla. Dentro da sala de projeção o movimento era igual ao do hall: havia muitas pessoas sentadas, mas a maioria permanecia de pé, ou circulava pelos corredores. Ao tentar me acostumar com a escuridão, tateando com a ponta dos dedos na cortina que cobria a parede dos fundos, tive a primeira surpresa: por trás dela, sob o toque dos meus dedos, uma súbita movimentação indicava que ali, escondidas entre o tecido e a parede, havia duas, três, quatro, cinco, talvez uma dezena de pessoas, amontoadas umas contra as outras. Mais alguns passos pelo corredor escuro e pude ver, sob a luz avermelhada que indicava “Homens”, um homem fardado a esmagar contra a parede um vulto que gemia e praguejava palavras impublicáveis.


Mas era no banheiro que eu pretendia colher a minha preciosidade — a frase citada pelo bancário Alex. Para chegar lá, tinha que caminhar até o fim através do longo corredor, entre as filas de cadeiras e as paredes. Uma outra luz vermelha, lá no fundo, indicava a porta: “Homens”. Tentei abri-la, mas como se adivinhasse meu gesto, alguém do lado de dentro se antecipou — uma bicha alta e negra, que foi logo anunciando:

“Eu sou a porteira”.

Passei por ela, subi dois degraus que me pareceram o pórtico do próprio inferno, e no último deles divisei com esforço — através das ondas de fumaça de cigarros que o brilho amarelado da lâmpada de quarenta velas mal conseguia atravessar — o banheiro de homens do Cinema Íris.

Era apenas um corredor no qual se comprimiam umas trinta pessoas. Os três mictórios eram usados ao mesmo tempo por seis, oito, dez homens que se manipulavam friamente, que se olhavam e se apalpavam e se examinavam com uma tranqüilidade, uma curiosidade quase científica. Dos três banheiros, dois tinham as portas fechadas, e deles vinham estranhos ruídos — suspiros, lamentos, cantigas de ninar, roncos, uivos, gritos, imprecações. O terceiro, com a porta aberta, mas igualmente ocupado, era palco de uma cena que atraíra vários curiosos. A fumaça, os sons, a luz amarelada, o rosto impassível das pessoas — tudo isso me assustou, e eu já pensava em recuar, voltar ainda dos degraus e fugir dali. Mas a porteira, que acompanhava cada um dos meus passos, já se postara habilmente contra a porta, e quando me voltei ela disse numa voz sibilante:

“Pode entrar, meu bem. Não tenha medo.”


Fiz o que ela mandava. Avancei mais dois passos, enquanto os que tragavam tranqüilamente seus cigarros encostados às paredes me acompanhavam com seus olhares impassíveis. Foi aí que eu senti pela primeira vez o odor dos banheiros do Cinema Íris. Só sentira um cheiro igual uma vez, no necrotério do Recife. Era cheiro de cadáver: de morte. Na metade do caminho ainda parei, as pernas trêmulas, e olhei para trás, mas a porteira, sempre à entrada, cresceu de repente contra mim, seus olhos faiscaram num ódio súbito e ela perguntou:


“Como é? Você se decide ou não?”

Avancei. Ultrapassei a barreira esfumaçada e fétida das duas primeiras portas e cheguei, afinal, à roda de curiosos que, amontoados diante da última, assistiam ao espetáculo que eu agora também via enquanto me comprimia contra eles: lá dentro, as calças nos tornozelos, dois homens se roçavam um contra o outro, e o faziam furiosamente, quase com raiva, enquanto gemiam, gritavam, soltavam pragas e diziam palavrões, alheios á roda de curiosos que tinha os olhos fixos na cena. Enquanto a náusea, começava a crescer dentro de mim (ela viria mais tarde, para desespero da porteira, que me ajudaria a vomitar e me chamaria ternamente de debutante), eu tentava inutilmente desviar meus olhos da incrível cena. Mas meus olhos vagavam sem rumo, passavam pela privada que tinha uma parte das bordas quebrada, iam até a caixa de descarga, subiam pela parede, e no canto à esquerda, bem no alto — em letras maiores que aquelas usadas para escrever a atormentada literatura dos banheiros do cinema —, encontravam afinal a frase — que àquela altura a mim já não dizia nada: negras, enormes, escritas por uma mão firme e decidida, as letras informavam: “O Íris também é Brasil.”




Djalma Thürler é Cientista da Arte (UFF-2000), Professor do Programa de Pós-Graduação Multidisciplinar em Cultura e Sociedade e Professor Adjunto do Instituto de Humanidades, Artes e Ciências da UFBA. Carioca, ator, Bacharel em Direção Teatral e Pesquisador Pleno do CULT (Centro de Estudos Multidisciplinares em Cultura). Atualmente desenvolve estágio de Pós-Doutorado intitulado “Cartografias do desejo e novas sexualidades: a dramaturgia brasileira contemporânea dos anos 90 e depois”.

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ARTE URBANA COM CHICLETES



Ben Wilson (nascido em 1963) se tornou uma figura familiar nas calçadas de Londres, quando passou a explorar uma mídia inusitada: pinturas em miniatura sobre chicletes jogados no chão. Irritado com o lixo, os carros e resíduos industriais que se tornaram parte integrante da sociedade urbana ele se refugiou no interior, mas ainda assim tinha que enfrentar a sujeira. Começou a trabalhar com o lixo que encontrava, catando bitucas de cigarro e pacotes de batata frita para incorporá-los a suas colagens. Trabalhar com chiclete mascado, in situ, foi uma evolução natural.

Desde 2004 Wilson decidiu trabalhar em tempo integral com as pinturas em chicletes, e há anos vem tentando melhorar o ambiente urbano pintando em cima de outdoors e anúncios, mas a atividade ilegal o levou a conflitos com a lei. O uso do chiclete lhe permitiu trabalhar de forma espontânea, sem ter de pedir permissão. Nosso ambiente é muito controlado e o que mais precisamos é de diversidade. Mesmo galerias, museus e editoras são muito controlados,afirmou ele. 

Seu método é bem requintado, ele usa maçarico para aquecer os chicletes e pequenos pincéis para pintar motivos em miniaturas. Primeiro ele seleciona um chiclete velho, derrete-o com o maçarico para endurecer a superfície, cobre-o com com uma camada de esmalte acrílico branco e inicia a pintura. Com joelheiras amarradas na calça manchada de tinta, e um descanso para apoiar o cotovelo, é capaz de passar várias horas debruçado sobre suas obras. Quando a pintura está pronta, Wilson usa a chama de um isqueiro para secá-la, aumentar a clareza das linhas e evitar o pó. Depois passa mais uma camada de spray automotivo para dar um acabamento resistente. O método faz com que a obra dure cerca de seis meses.

                                                                                                                 

Ben Wilson em plena função nas ruas de Londres e suas miniaturas abaixo.



                                                                     




















Wilson adora o relacionamento direto com as pessoas, os encontros que lhe dão o tema e a inspiração para seu trabalho. As pessoas lhe dizem o que gostam e querem, e ele interpreta cada assunto com base na intuição. O desafio de condensar a história de vida de uma família inteira em um único pedaço de chiclete o anima e a intimidade do meio o inspira.
Usando esse tipo de suporte, acho que todo mundo concorda que Ben Wilson é um artista mais do que original...







Izabel Liviski é Fotógrafa e Mestre em Sociologia pela UFPR. Pesquisadora de História da Arte, Sociologia da Imagem e Antropologia Visual. Escreve quinzenalmente às 5as feiras na Revista ContemporArtes.
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Lembranças e esquecimentos de Auschwitz




Em algumas narrativas de sobreviventes do holocausto, fica-se evidente a dor que provoca o relato, porém, muitos vêem como dever relatar essa história – principalmente quando se aproximam da morte, como é o caso da húngara de origem judaica Veronika Schwartz, que deu o seu depoimento no Canadá, Montreal, em 1994. No pequeno trecho a seguir, destaca-se o fato que ela resolveu narrar essa experiência bem tardiamente, pois tentou “permanecer sã”, ou seja, para superar a magnitude de tal trauma foi preciso esquecer, como afirma Pollack, para se continuar a viver:

Memorial às vítimas do holocausto. Berlim.


Desde que retornei de Auschwitz, em maio de 1945, senti que tinha que escrever o que aconteceu com minha família e comigo – todas as minhas experiências. Só a lembrança daquilo traz-me dores e lágrimas. Tentando permanecer sã, fui adiando isto. Hoje, se passaram mais de 50 anos desde o genocídio planejado por Hitler contra nosso povo. Sinto-me forçada a registrar da forma que me lembro. O tempo está acabando. Tenho 67 anos. Meus filhos, a quem tentei educar da forma mais normal possível, e com quem tentei não falar sobre o passado, hoje são homens crescidos. E têm o direito de conhecer a história de sua família. Portanto, dedico minhas memórias a meus maravilhosos filhos e netos. (SCHARWZ, V., 1994)


Outro autor que explorou a temática da importância do silêncio e esquecimento para a memória foi Andreas Huysen. Segundo ele, toda lembrança está associada a um esquecimento, no entanto, com a fixação das sociedades contemporâneas ao dever da memória, não se problematiza as políticas de esquecimento público, ou seja, não se observa que determinados assuntos, temas, acontecimentos são esquecidos voluntariamente, na mesma linha de raciocínio de SEIXAS (2004). Ou seja, se esquece porque se quer (voluntariamente) lembrar determinados fatos e (também voluntariamente) esquecer outros. Ele afirma que se deve superar a oposição simplista entre lembrar e esquecer.
É necessário situar o esquecimento num campo de termos e de fenômenos tais como silêncio, ausência de comunicação, desarticulação, evasão, apagamento, erosão, repressão que revelam um espectro de estratégias tão complexas quanto às da memória. (Ibid, p.3)

Quais são outras linguagens que tornam a memória relativa a II Guerra Mundial ainda presente nos dias de hoje? Acredito na importância de três exemplos, que descrevo a seguir. O primeiro se refere aos processos de musealização de campos de concentração, outro, ligado a esse primeiro, se relaciona à criação de diferentes monumentos de memória em homenagem às vítimas da II Guerra Mundial. O terceiro se refere a um “fôlego” cinematográfico sobre a II Guerra, que traz narrativas fílmicas sob outras perspectivas que não ao hegemônico cinema hollywoodiano. 

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Radar Contemporartes



Senhores e Senhoras,
Investindo-me na função de prefaciador, quis o autor Raphael Reis me dar a oportunidade de escrever depois de tantos anos. Agradeço o convite. Digo que buscarei, na medida do possível, corresponder à vossa confiança e ser sucinto.
Esta é a primeira obra do nosso mais novo prosador e como me confidenciou, quer ser o primeiro brasileiro a ganhar o prêmio Nobel, apesar de eu não acreditar nisso.
Foram escritos 15 contos: uns péssimos, outros bons, como naturalmente acontece.  Não posso comentá-los, pois assim perderia qualquer graça que por ventura eles possam ter. Ou seja, caro leitor, leia você mesmo e teça suas próprias conclusões.
Está prefaciado o prefácio. Que comece a leitura!
Machado de Assis
Verão de 2009
Pontos de Venda:
Direto com o autor:
R$ 15,00 + frete
Livraria A Terceira Margem:
R$ 15,00 + frete
Livraria Cultura:
Livraria Asabeça:
(11) 3031-3056



Ana Maria Dietrich, doutora em História Social pela USP e professora adjunta da UFABC, é coordenadora da Contemporartes-Revista de Difusão Cultural junto a Vinicius Rennó.
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Tatear o mundo




Vinte e dois artistas exibiram seus trabalhos dentro da exposição Novíssimos, realizada no Rio de Janeiro, na Galeria de Arte IBEU, entre os dias 28 de julho e 2 de setembro. Como o próprio nome anuncia, o evento (nem tão novo, já na sua 41ª edição) tem por objetivo exibir produções de “novas gerações” de artistas contemporâneos, não exatamente no que diz respeito à sua faixa etária, mas sim ao caráter de “novidade” no contato com a instituição galeria/museu. 
Mais do que isso, trata-se da oportunidade de lidar diretamente com a figura de um curador externo, ou melhor, de um grupo de curadores (composto por Cezar Antonio Elias, Fernanda Pequeno, Humberto Farias, Ivair Reinaldim, Marcos Nogueira e Toyoko Lepesqueur), que estabeleceu um “tema”, um mote para a exposição (“Mergulhos”) e dentro deste outros pequenos universos poéticos em que os trabalhos foram agrupados e expostos em conjunto. Os artistas tiveram suas obras distribuídas em sete blocos que tangenciavam questões latentes da produção contemporânea, tais quais “Marcas e escrituras”, “Gêneros e comportamentos” e “Paisagem e construção”. Subtítulos plurais que mais sugeriam uma proposta inicial de leitura para as obras do que as aprisionavam em gavetas.


Somando ao salão e à publicação de um catálogo distribuído gratuitamente (impresso ou por download), no website da galeria é possível encontrar entrevistas com alguns dos artistas participantes. É interessante constatar em seus discursos que o salão, aparentemente, cumpre seu papel de dar oportunidade a estes de exibir seus trabalhos dentro de um espaço institucionalizado não apenas no Rio de Janeiro, mas dentro do cenário cultural brasileiro.
Não é de surpreender, por exemplo, que o trabalho de Bianca Bernardo esteja dentro de “Tempo e registro” e também possa ser interpretado como parte de “Paisagem e construção”, vide sua relação com a ficção da paisagem através de um vídeo que tem o corpo como protagonista ou junto do registro de uma ação nas ruas de Copacabana. Esses conceitos constituem uma colcha de retalhos que sugerem, como o título da proposta expográfica, que o espectador “mergulhe” dentro das experiências artísticas, nade, seja empurrado e quase afogue nestas sete ondas, de diferentes intensidades, que dão uma amostra das direções da arte contemporânea no Brasil.

Oceano ou aquário? Dos vinte e dois selecionados, mais da metade é do estado do Rio de Janeiro e apenas dois são do Centro-Oeste, indicando que a maior representatividade nesta exposição, assim como em outros salões e eventos baseados em editais públicos, é do Sudeste e do Sul. A que podemos atribuir esse fato? Uma maior tradição universitária dentro das Artes Visuais nestas regiões? Ficariam os artistas fluminenses, obviamente, mais estimulados a enviar seus trabalhos devido à proximidade geográfica? Haveria uma “coincidência geográfica”, ou seja, os trabalhos da região Sudeste foram considerados melhores do que os trabalhos de outras regiões pelo comissão cultural do evento? 
Mesmo sem respostas exatas, importante esse dado quantitativo em vista. Não se trata, claro, de estabelecer “cotas” geográficas para o salão; creio que a “qualidade” (aquele conceito cruel, subjetivo, mas presente) deve vir em primeiro lugar no momento de montagem de uma exposição desse porte. De todo modo, não custa desejar que Novíssimos cada vez mais seja divulgado e receba propostas das mais diversas localidades do Brasil, possibilitando que o seu leque geográfico seja mais amplo.

Ao ler as entrevistas dos artistas participantes, é claro o modo como o Rio de Janeiro é enxergado e valorizado como pólo do mercado de arte contemporânea. Ivan Grilo, por exemplo, diz:

Vejo ‘Novíssimos’ como um ponto importante na minha trajetória, principalmente por uma questão geográfica. Por estar baseado numa cidade do interior de São Paulo, via uma dificuldade em iniciar um diálogo com a produção carioca, e a exposição trabalhou muito bem isso, proporcionando um diálogo não só com cariocas, mas com artistas de todo o país.

Expor é ser institucionalizado e nada melhor do que sê-lo no eixo Rio-São Paulo. Não se trata apenas de ter mais um nome de espaço cultural em seu currículo, mas sim de participar do processo único e criativo de se montar uma exposição em conjunto. Mesmo tendo em vista que os trabalhos exibidos foram projetados anteriormente e enviados para a comissão, o processo de torná-los concretos, “reais”, faz com que os artistas alterem suas próprias percepções sobre suas obras. Explicar com palavras e esboços é o lado oposto da longa ponte que leva à adequação ao cubo branco, à iluminação e à interação e discurso dos outros expositores. Podemos comparar aqui com o processo cinematográfico, do roteiro à montagem e sonorização de um filme.
Futuras pesquisas artísticas e institucionalizações irão dar pistas ao público e à crítica sobre a potência das poéticas demonstradas em Novíssimos. De todo modo, tal qual as obras de Virgílio Neto, um dos selecionados para o projeto, por enquanto temos uma amálgama de formas, mídias e percursos; como esta sua série de obras se intitula, são “rastros” da arte contemporânea. É possível colocá-los em diálogo direto dentro de uma galeria, mas faz-se necessário esse espaço vazio entre as imagens, o tempo em si, a fim de que estas respirem e ecoem.
Como este artista diz na entrevista sobre o seu processo artístico, “ainda estou ‘tateando’ o mundo”. Que os trabalhos destes vinte e dois artistas tateiem e sejam tateados pelos constituintes do fenômeno da arte contemporânea no Brasil.










Raphael Fonseca é crítico e historiador da arte. Bacharel em História da Arte pela UERJ, com mestrado na mesma área pela UNICAMP. Professor de Artes Visuais no Colégio Pedro II (RJ). Curador de mostras e festivais de cinema como “Commedia all’italiana” (realizada na Caixa Cultural de Brasília e São Paulo, 2011), o Festival Brasileiro de Cinema Universitário, a Mostra do Filme Livre e o Primeiro Plano – Festival de Cinema de Juiz de Fora.  Membro da Associação Nacional de Pesquisadores em Artes Plásticas (ANPAP). Realizador de curtas-metragens como "Boiúna" (2004), "A respiração" (2006) e "Preguiça" (2009).
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A poesia de Antônio Carlos Secchin.

O Poeta Antônio Carlos Secchin!
por Altair de Oliveira


Esta semana apresentamos um pouco da poesia e do pensamento deste grande poeta, crítico literário e professor de literatura na UFRJ, o carioca Antônio Carlos Secchin, que saiu das fileiras da poesia marginal na década de 70 (onde participou do livro "26 Poetas Hoje", de Heloisa Buarque de Hollanda) e veio a tornar-se um imortal da Acadêmia Brasileira de Letras, no século XXI, onde ocupa desde 2004 a cadeira de número 19.

Grande apaixonado pela leitura e pelo estudo da literatura e vencedor de vários prêmios, como crítico Secchin escreveu importantes ensaios sobre a obra de poetas como Álvares de Azevedo, Cruz e Sousa, Cecília, Drummond, Quintana, João Cabral, Ferreira Gullar ou de ficcionistas como Machado de Assis ou cronistas como Rubem Braga. O poeta, que é considerado também um grande bibliófilo e colecionador de livros raros, organizou ainda antologias de importantes poetas como as de João Cabral de Melo Neto, Cecília Meireles (edicão do centenário), Mário Pederneiras,dentre outros. Além disso, ele escreveu em 2003, um livro chamado "Guia de Sebos" para orientar os amantes e colecionadores de livros e os frequentadores de sebos pelo Brasil, que é hoje considerado uma obra essencial aos interessados no assunto.

Reunindo suas características de crítico, de professor e de poeta, a poesia do autor configura-se como um raro exemplo de que a poesia contemporânea pode ser ao mesmo tempo culta, inteligível e divertida, sem perder o sabor tradicional da boa e velha poesia. Pena que ele escreve pouco e que os livros de poesias são tão poucos difundidos no país, mas vale muito a pena garimpá-lo. Para todos vocês, uma ótima semana e uma deliciosa leitura!

***

Livros do Autor:

- A ilha (1971);
- Ária de estação (1973);
- Movimento (1976);
- Elementos (1983);
- Diga-se de passagem (1988);
- Poesia e desordem (1996);
- Todos os ventos (2002);
- Escritos sobre poesia e alguma ficção (2003);
- Guia de sebos (2003, 4ª edição);
- 50 poemas escolhidos pelo autor (2006);
- Memórias de um leitor de poesia (2010).


O que o Poeta já Disse:


" Ler o máximo, escrever o mínimo - em geral, tende a ocorrer o contrário..." - sobre "Dicas para quem quer ingressar no meio literário", numa entrevista a Ademir Pascale para o site Cranik.


"Poesia é confissão? Diria que é con-ficção. Uma ficção partilhada entre os vários eus do poeta e os inúmeros e incontroláveis eus dos leitores. De tanto fingirmos que dizemos a verdade, acabamos por dizê-la, em meio a mil e duas mentiras. Os mais sagazes saberão pinçar o fio "verdadeiro" emaranhado a muita ficção. Mas, ainda assim, não saberão muito bem o que fazer com ele, não saberão onde ele começa, nem perceberão seus desdobramentos... Talvez - menos do que fio - de mim e do outro estejamos condenados a só saber um fiapo de verdade." - sobre o caráter confessional da poesia, numa entrevista na comunidade "Discutindo Literatura".

"Mas acho que ser poeta - independentemente dos cidadãos - é estar, primordialmente, fora de si mesmo, nas inúmeras máscaras que velam o rosto do escritor, simulando demonstrá-lo. Esse jogo de ser outro é dos maiores fascínios da aventura poética. Quando alguém se exaspera, dizem que está fora de si. O poeta é um exasperado profissional." - sobre "Ser Poeta", numa entrevista na comunidade "Discutindo Literatura".



O Que Já Disseram dele:


"Lendo Todos os ventos, assistimos ao encontro de uma aturada leitura da poesia brasileira de ontem e de hoje (Secchin é um dos nossos mais afiados leitores de poesia) com um ethos despojado e às vezes abertamente biográfico. Uma situação cultural e existencial pós-moderna, sem dúvida. Desse encontro nasceu a glosa paródica pela qual o eco de antigos significantes lastreia a inversão dos significados. Acontece que também a paródia satírica é gênero vetusto: daí o curioso revival moderníssimo de uma antiga forma de escarnecer palavras e coisas que a usura do tempo já desgastara." - Alfredo Bosi, para a orelha do livro "Todos os Ventos".


"O autor é desses poucos que conhecem a arte poética a fundo. Não só é rico de sopro lírico como domina a técnica de maneira exemplar. É, assim, um poeta não só amado pelas musas quanto culto. " - do poeta Ruy Espinheira Filho, sobre o livro "Todos os Ventos".


"Poesia e desordem nos mostra, enfim, um crítico na posse de sua maturidade e no uso desinibido, mas não excessivo, de sua prerrogativa de escritor, que não comete o ridículo de entrar em competição com os poetas analisados, mas prova ter sobre o instrumento comum, a linguagem, um domínio equivalente. Crítica dessa qualidade lê-se com o mesmo prazer e proveito com que se lê um bom poema. " - Carlos Felipe Moisés, sobre o livro "Poesia e Desordem".


"Não sei se o professor admirado, o agudo analista do acontecimento literário, o ensaísta sagaz, conseguiram, mesmo que involuntariamente, ocultar o poeta que existe em Antonio Carlos Secchin. Espero que não. E estou certo de que, se alguma dúvida persistir, ela se dissipará a partir deste Todos os Ventos." - de Eduardo Portella, sobre o livro "Todos os Ventos".


***


Poemas de Antônio Carlos Secchin:

ARTE


Poemas são palavras e presságios,
pardais perdidos sem direito a ninho.
Poemas casam nuvens e favelas
e se escondem depois no próprio umbigo.
Poemas são tilápias e besouros,
ar e água à beira de anzóis e riscos.
São begônias e petúnias,
isopor ou mármore nas colunas,
rosas decepadas pelas hélices
de vôos amarrados ao chão.
Cinza do que foi orvalho,
poema é carta fora do baralho,
milharal pegando fogo
pelo berro do espantalho.



***


OU


você pode me pisar
que nem confete

você pode me morder

que nem chiclete

você pode me chupar

que nem sorvete

você pode me lanhar

que nem gilete

só não pode proibir

que nem piquete

se eu quiser escapulir

que nem pivete



***

ESTOU ALI...


Estou ali, quem sabe eu seja apenas
a foto de um garoto que morreu.

No espaço entre o sorriso e o sapato
há um corpo que bem pode ser o meu.


Ou talvez seja eu o seu espelho,

e olhar reflete em mim algum passado:
o cheiro das goiabas na fruteira,

o barulho das águas no telhado.

No retrato outra imagem se condensa:

percebo que apesar de quase gêmeos

nós dois somos somente a chama inútil


contra o escuro da noite que nos trai.

Das mãos dele eu recolho o que me resta.

Chamo-lhe de menino. E é meu pai.



***


POEMA DO INFANTE



É a noite.
E tudo escava tudo

na língua ambígua que desliza

para o esquivo jogo.


Amargo corpo,

que de mim a mim se furta,

não recuso teu percurso
no hálito das pedras

que me existem em ti

— estéril dorso entre águas

estancadas.


O nada, o perto, o pouco,

não posso dividir

do que se espera o que me habita,

ao fazer fluir a via antiga

de um menino que mediu o lado impuro.


Operário do precário,

me limito nesse corpo amanhecido,

asa e gozo onde a morte mora.

Minha vida, mapeada e descumprida,

está pronta para o preço dessa hora.



***

SONETO DAS LUZES


Uma palavra, outra mais, e eis um verso,
doze sílabas a dizer coisa nenhuma.

Trabalho, teimo, limo, sofro e não impeço

que este quarteto seja inútil como a espuma.


Agora é hora de ter mais seriedade,

para essa rima não rumar até o inferno.

Convoco a musa, que me ri da imensidade,

mas não se cansa de acenar um não eterno.


Falar de amor, oh pastor, é o que eu queria,

porém os fados já perseguem teu poeta,

deixando apenas a promessa da poesia,


matéria bruta que não coube no terceto.

Se o deus frecheiro me lançasse a sua seta,

eu tinha a chave pra trancar este soneto.



***

DESARMO O RUMO DE MEU DIA FINDO



Desarmo o rumo de meu dia findo,
escura fonte que guardou meu sono,

e pressinto os lábios de uma noite vindo

nas âncoras quebradas pelo som do outono.


Eu quero um campo em que as sílabas do vento

me tragam o espaço da manhã tombada.

Quero um tempo novo além do tempo

distraído pelas mãos da madrugada.


E não impeço a terra que já se prepara

num silêncio curvo que anuncia as naves.

E me arremesso a essa praia clara

como um domingo pousado sobre o voo das aves.




***



Para ler mais:


- Biografia de Antônio Carlos Secchin: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ant%C3%B4nio_Carlos_Secchin
- Entrevista de Antônio Carlos Secchin para a comunidade do orkut "Discutindo Literatura" e posteriormente compilada pela poeta e professora Luciana Pessanha Pires para o site Cronópios: http://www.cronopios.com.br/site/artigos.asp?id=2052
- Mais poemas do autor: http://www.revista.agulha.nom.br/asecchin.html
- Página de Secchin no site da ABL: http://www.academia.org.br/abl/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?sid=217


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Ilustrações: 1- foto do poeta Antônio Carlos Secchin; 2- foto da capa do livro "Todos os Ventos", de Secchin; 3- foto do poeta Secchin com o fardão da ABL.


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Altair de Oliveira (poesia.comentada@gmail.com), poeta, escreve quinzenalmente às segundas-feiras no ContemporARTES a coluna "Poesia Comovida" e conta com participação eventual de colaboradores especiais.

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Dicas da semana: leituras, concursos e autores




A Drops não é uma coluna temática de literatura, mas vocês já devem ter reparado que nós gostamos muito disso por aqui, não é? E as dicas de hoje continuam nessa linha:




No último dia 20, o autor Raphael Reis lançou seu livro “Contos que Machado de Assis e Borges Elogiaram”, pela Scortecci Editora.
O criativo prefácio do livro foi escrito por ninguém menos do que o próprio Machado! Deixo que ele faça o convite à leitura:

“Senhores e Senhoras,
Investindo-me na função de prefaciador, quis o autor Raphael Reis me dar a oportunidade de escrever depois de tantos anos. Agradeço o convite. Digo que buscarei, na medida do possível, corresponder à vossa confiança e ser sucinto.
Esta é a primeira obra do nosso mais novo prosador e como me confidenciou, quer ser o primeiro brasileiro a ganhar o prêmio Nobel, apesar de eu não acreditar nisso.
Foram escritos 15 contos: uns péssimos, outros bons, como naturalmente acontece.  Não posso comentá-los, pois assim perderia qualquer graça que por ventura eles possam ter. Ou seja, caro leitor, leia você mesmo e teça suas próprias conclusões.
Está prefaciado o prefácio. Que comece a leitura!
                                                                              Machado de Assis
                                                                                   Verão de 2009”

O livro pode ser adquirido diretamente com o autor, pelo e-mail  r.reis23@oi.com.br, ou nas livrarias Cultura, A Terceira Margem e  Livraria Asabeça.

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E se, além de ler, você também gosta de escrever, a dica é o VII Concurso Literário Poesias sem Fronteiras.
As inscrições custam R$ 8 estão abertas até o dia 20 de dezembro. Mais informações no site www.poesiassemfronteiras.no.comunidades.net 
O concurso tem o apoio da Academia Cabista de Letras,  Artes e Ciências ; União Brasileira dos Escritores/BA; Revista Artpoesia. 

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Na segunda-feira (5), o Sempre um Papo tem edição especial em Belo Horizonte, pra comemorar os 25 anos do projeto.  Os autores Fernando Morais, Frei Betto, Ruy Castro e Heloisa, Leonardo Boff, Zuenir Ventura e Luis Fernando Veríssimo participam de uma conversa, que será mediada pelo jornalista Zeca Camargo. 
O encontro estrelado acontece às 19h30, no Palácio das Artes (Av. Afonso Pena, 1537, Centro), em Belo Horizonte. A entrada é gratuita. 






Mônica Bento é jornalista, formada pela Universidade Federal de Viçosa (MG). Em seu trabalho de conclusão de curso estudou a função social das salas de cinema e desenvolveu a reportagem multimídia CineMemória. Pertence a equipe de Comunicação da Contemporartes-Revista de Difusão Cultural


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