Conferências Setoriais de Cultura.



Fonte:FUNCEB.

Depois de realizadas as etapas municipais, nas cidades baianas, e territoriais, nos 26 Territórios de Identidade do estado, é chegada a hora de debater a Cultura da Bahia sob um olhar setorial. No dia 5 de novembro (sábado), na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal da Bahia (Federação – Salvador), a partir das 8 horas, as Conferências Setoriais de Cultura focam nas linguagens artísticas – Artes Visuais, Audiovisual, Circo, Dança, Literatura, Música e Teatro – e nas áreas de Livro e Leitura, Bibliotecas, Arquivos, Arquitetura e Urbanismo, Patrimônio Cultural, Estudiosos e Pesquisadores da Cultura, Serviços Criativos e Cultura Digital. O evento é aberto ao público e intenciona mobilizar uma expressiva participação da sociedade, representada por seus artistas e profissionais da Cultura, para um diálogo construtivo em parceria com o poder público.








As Conferências Setoriais são etapas que compõem a IV Conferência Estadual de Cultura (cujo encontro final acontece entre 30 de novembro e 3 de dezembro, em Vitória da Conquista) e se justificam pela necessidade da contribuição da sociedade civil na discussão das políticas públicas para os diversos setores da Cultura. Com a qualificação deste debate, busca-se reunir os subsídios para instruir as ações governamentais em consonância com as demandas das classes e, assim, estabelecer propostas efetivas para a construção do Plano Estadual de Cultura.

A Fundação Cultural do Estado da Bahia (FUNCEB), órgão vinculado à Secretaria de Cultura do Estado (SecultBA) cuja missão é criar e implementar políticas e programas para as artes, será responsável pela instrução dos debates a respeito das linguagens artísticas. Para tanto, os coordenadores que respondem pelas áreas de Artes Visuais, Audiovisual, Circo, Dança, Literatura, Música e Teatro, bem como a diretoria geral e assessores técnicos da Fundação, se farão presentes.

Cada coordenador de linguagem integrará os grupos com os representantes de suas áreas para esta importante consulta, que vai resultar no registro de propostas de projetos estaduais para cada setor. Uma das ferramentas a serem utilizadas é a análise das propostas provenientes das Conferências Setoriais de 2009 (disponíveis para consulta em www.fundacaocultural.ba.gov.br/conferenciassetoriais2011). As questões prioritárias que sejam consideradas elementares e estruturantes para o desenvolvimento da Cultura baiana, beneficiando não apenas os profissionais da área, mas também todos os cidadãos do estado, vão ser apresentadas à composição de um Plano Estadual que oriente políticas de longo prazo, dando à gestão cultural da Bahia as consolidações que a sociedade solicita.

Após este encontro, ainda serão realizadas as Conferências Setoriais de Culturas Indígenas (6/11 e 7/11, no Centro de Cultura de Porto Seguro), Culturas Populares (8/11 e 9/11, na Casa do Samba, em Santo Amaro), Cultura Cigana (10/11, na Cidade do Saber, em Camaçari) e Culturas Afrobrasileiras (16/11, na Biblioteca Central, em Salvador). Além disso, a Conferência Setorial de Museus já foi realizada, em 21/9, no Teatro de Ilhéus.

Mobilização prévia – Desde agosto passado, a FUNCEB vem realizando ações que, na prática de diálogo e transparência, objetivaram mobilizar a sociedade civil para as Conferências Setoriais 2011. Com o projeto FUNCEB ITINERANTE, os dirigentes da Fundação visitaram os seis macroterritórios de identidade baianos, representados pelas cidades de Alagoinhas, Senhor do Bonfim, Itaberaba, Barreiras, Vitória da Conquista e Ilhéus, promovendo Encontros Setoriais para discutir as políticas públicas para as artes. Foram 12 dias de viagem, entre 24 de agosto e 4 de setembro, com eventos que atraíram, no total, cerca de 330 pessoas, inclusive cidadãos do entorno das cidades visitadas. Depois disso, foram feitos Encontros Setoriais na capital, conduzidos pela coordenação de cada linguagem artística, para fortalecer a articulação e orientar o posicionamento da Fundação Cultural nas Conferências.

Conferências Setoriais de Cultura – Linguagens Artísticas
Artes Visuais | Audiovisual | Circo | Dança | Literatura | Música | Teatro
Quando: 5 de novembro (sábado), a partir das 8 horas
Onde: Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal da Bahia (UFBA)
Rua Caetano Moura, 121 – Federação
Aberta à participação pública | Entrada gratuita

Informações:
www.fundacaocultural.ba.gov.br/conferenciassetoriais2011
www.culturabahia.com
www.cultura.ba.gov.br
Ler Mais

VIVER NA FRANÇA



Nesta semana compartilho com vocês o  relato da minha querida amiga Sonia Mara  da  UFPR,  que retornou da França onde cursou Mestado em Biblioteconomia. Foi muito bonito ver o sonho dessa moça se concretizar e agora conhecer a experiência que teve, vivendo, estudando e conhecendo pessoas do mundo todo, durante esse tempo privilegiado.

A VONTADE DE IR MAIS LONGE
Viver fora do país é uma escolha, principalmente se a opção é estudar ou trabalhar. Partindo deste princípio, toda opção requer decisão:  Ficar ou ir. E essa questão comporta toda a motivação, contentamento e vontade. A vontade nos impulsiona a superar as dificuldades, porque  elas  existem em todos os aspectos. Sair do nosso país exige, sobretudo, paciência para seguir os caminhos administrativos exigidos e indispensáveis para a vida futura. Obter um visa para a França é obrigatório, para quem pretende ficar mais de três meses, abrir uma conta corrente em um banco, também, assim como alugar um apartamento ou stúdio. Todas estas tarefas, que em nosso país parecem coisas tão simples, lá se agigantam.


Rio Rhone, na cidade de Lyon
Não é simples, não é fácil, não é rápido e custa caro. Por isto é importante, se você pretende estudar fora, estar preparado financeiramente, com um valor mínimo de 1800 reais ao mês  para viver modestamente. Porém, mais importante que tudo isso, é a sua vontade. Crescer, sair do seu ambiente tranquilo e acolhedor, do seu conforto, da sua comodidade e se lançar rumo à um desconhecido tempo, que  trará a você experiências maravilhosas. É tentador e vale a pena, porém, é uma decisão individual. Em termos administrativos, todo o processo é importante. O mais importante, é que você será identificado pelos organismos de imigração, será reconhecido, terá a sua identidade francesa temporária e será benvindo à França. (Depois da burocracia, vem a bonança).

                                                        Praça  em Villeurbanne
ÉTICA
Ao chegar na França com toda essa papelada, você precisa ainda solicitar o seu “titre de sejour” Mas aí é outra história... cumprir todas as formalidades e exigências para entrar no país, é fundamental. Mostrar a sua responsabilidade, o desejo de concretizar seus sonhos , compartilhar as experiências com outros estrangeiros e encorajar iniciativas de colegas. Tudo isso e mais a  responsabilidade e transparência, o exemplo de boa conduta e  dignidade são as condições morais que  farão você sentir-se “em casa”.

Fachada da instituição


VIDAS PARALELAS
O que me marcou quando cheguei à França, em setembro de 2008, foi a “boa acolhida” dos franceses. Morei em Villeurbanne, que é um bairro próximo de Lyon. Nesta Cidade Universitaria, vivem muitos estudantes brasileiros, distribuidos nas Universidades de Lyon I, Lyon II, Lyon III, entre outras e penso que nós brasileiros somos uma boa referência. Somos sempre bem-vindos. Tenho boas experiências e histórias de colegas que estudaram ou ainda estudam nessas Universidades.
Fui recebida pelo Diretor da escola, com um largo sorriso. Os funcionários que estavam por perto também foram gentis, solícitos e assim continuaram, quase um ano depois da minha chegada. O Mestrado é feito na Escola Nacional Superior de Ciências da Informação e de Bibliotecas que está situada em Villeurbanne - France. A L'Enssib ( Escola Nacional Superior de Ciências da Informação e de Bibliotecas) tem como missão formar conservadores e bibliotecários de todos os territórios nacionais e internacionais, que se interessam nos serviços pertinentes a organização de documentos, desenvolvimento de informações cientificas e técnicas e o desenvovimento de pesquisa em Ciências da Informação, Biblioteconomia e História do Livro.
É um grande estabelecimento de ensino superior, criado por decreto em 1992, tendo sucedido a l'ENSB (École Nationale Supérieure de Bibliothécaires), criada em Paris em 1963 e transferida para Villeurbanne em 1974. No início de 1999, fez uma fusão com o Instituto de Formação de Bibliotecários, o que faz deste estabelecimento nacional francês, o único na Europa, para formação de profissionais de categoria A na área da Biblioteconomia.

Sonia Mara e a colega Yao Lu

Passam por lá estudantes de vários países, e todos os continentes são representados. São pessoas maravilhosas, extraordinárias. Um cadinho para lembrar-se pela vida afora. No ano letivo de 2008-2009 tive como colegas estrangeiros duas chinesas, uma africana, um suiço, um algeriano, duas Sirias e uma cubana. A cubana partiu “antes do tempo” . Mas deixou sua marca, contou suas experiências e nos mostrou um pouco da realidade de seu país. Trocamos muitas idéias, compartilhamos com os franceses nossos anfitriões, as realidades dos nossos países.
Como estudantes nos enriquecemos com este aprendizado que faz parte do currículo, de forma “implícita”. Não tem nota e nem avaliações, mas, acredito que é um dos mais belos e apaixonantes processos de “ensino-aprendizagem” deste período  para todos nós. As vidas que passam e as suas histórias deixam marcas indeléveis na personalidade de cada um. O autor Eric Landowski, em seu livro “As presenças do outro” embasado na sociossemiótica, fala da importância do outro na construção da nossa identidade. Ele cita também algumas especificidades do povo francês e de seu relacionamento com os estrangeiros (para ler e refletir)......

Biblioteca Marie Curie - Foto: Charlotte Noireaux

ATIVIDADES

Os hábitos de vida são diferentes. Os franceses não trabalham aos sábados, nem aos domingos (salvo por motivo de força maior). Eles amam “sair de circulação” nos dias em que são feriados. Valorizam os dias de sol, lotam os parques, os jardins e as estradas. Partem para regiões próximas ao mar. No inverno vão para as montanhas fazer ski, ou simplesmente passear. Quem não tem muito dinheiro para fazer viagens caras, vai ao cinema, ao teatro, aos museus e às bibliotecas. Não esquecendo de comentar, que na França, claro,  tudo é pago. Mesmo para fazer carteirinha em uma biblioteca municipal, o cidadão paga. Isto não é um problema, faz parte da cultura. Aprende-se a valorizar o dinheiro, o patrimônio, a História. Valorizar e preservar.

PROJETOS DE FUTURO
Sou herdeira do futuro. Todo o esforço é válido para projetar um espírito que vai pouco mais além, na minha opinião. Ir mais longe, deixar um traço, fazer projetos que possam benificiar o amanhã. Melhorar a qualidade de vida através de ações concretas é uma atitude que me encanta. Tantas pessoas trabalham para isso no mundo, no Brasil, nas Universidades. Eu quero fazer parte desse grupo.

Sala de aula

Espero que este aprendizado, este conhecimento, que é na verdade  uma ferramenta indispensável na construção deste futuro que desejo, possa me permitir fazer parte dos trabalhos que já estão em andamento na nossa comunidade. Não quero descobrir a “América”, ela já foi descoberta. Mas quero contribuir, fazer parte da construção dos novos caminhos abertos para atravessarmos as velhas descobertas, inclusive da América.  Fazer a diferença, este é um belo futuro. E é para ele que estou olhando neste momento, sem esquecer que o presente é que me levará “petit à petit” em direção ao futuro que está bem aqui na minha frente.
Referências:
Landowski, Eric. Presenças do outro: Ensaios de Sociossemiótica. Perspectiva, São Paulo:2002.
Texto: SONIA MARA SALDANHA BACH
Fotos: Sonia Mara  e Charlotte Noireaux


**********************


Izabel Liviski é Fotógrafa e Mestre em Sociologia pela UFPR. Pesquisadora de História da Arte, Sociologia da Imagem e da Cultura, escreve a  coluna  INCONTROS quinzenalmente às 5ªs feiras, na ContemporARTES.
Ler Mais

Conspiração Nazista: Plano para dominar a América Latina




Na última quinta-feira, dia 27 de outubro, foi a estreia na History Channel do documentário Conspiração Nazista: Plano para dominar a América Latina que contou com entrevistas que eu concedi ao diretor argentino Rodrigo Villa da produtora Cinema 7 sobre minha tese de Doutorado, Nazismo Tropical, o partido nazista no Brasil. Entre outros assuntos que abordei, estão o papel dos jovens na ideologia nazista, abordando principalmente o aspecto da imensa crueldade que ideias sectárias podem fazer na vida de pessoas ainda em formação; o posicionamento do Brasil perante a Segunda Guerra Mundial,  o papel do líder do partido nazista no Brasil, Hans Henning von Cossel e também a discussão sobre o episódio do afundamento dos navios brasileiros por ocasião da declaração de guerra do Brasil contra o eixo, enfatizando que existe um mito na comunidade alemã que tais navios teriam sido afundados pelos EUA. Também mencionei as redes de interlocução entre os partidários da América do Sul por meio da Auslandsorganisation der NSDAP (Organização do Partido Nazista no Exterior). Convido a todos a assistirem e partilharem seus comentários sobre esse acontecimento da história.


Sinopse:
Após a Segunda Guerra Mundial, e depois que centenas de líderes nazistas fugiram para o novo continente, sempre se tem falado sobre a presença do nazismo na América Latina. Mas o que nunca se supôs, e nunca se investigou a fundo, é o plano que o Terceiro Reich tinha de se infiltrar no continente americano, muito antes do começo da guerra. Nossa equipe de investigação conseguiu obter dados nunca antes revelados sobre a infiltração nazista na educação, na economia, na política e na sociedade dos mais importantes países da América Latina (Estados Unidos, México, Brasil, Chile e Argentina). “Conspiração Nazi” mostrará material de arquivo nunca visto sobre a infiltração nazista no continente americano, com fotografias inéditas, arquivo fílmico e documentos que provam indubitavelmente esta história reveladora, como só o History pode mostrar.



O documentário se encontra no Youtube em partes. Para assistir sua íntegra, clique aqui.


Abaixo um dos trechos sobre a Juventude Hitlerista no Brasil.




Para mais informações:
DIETRICH, A.M., Juventudade Hitlerista à Brasileira. História Viva, jan. 2007.

______________, Caça às Suásticas, o Partido Nazista em São Paulo. São Paulo: IMESP/ Humanitas, 2007.

Amanhã, 12o. encontro do Café com PP:








Ana Maria Dietrich é autora do livro Caça às Suásticas, o Partido Nazista em São Paulo e pós-doutora pela Unicamp com a pesquisa Traumas de guerra na Contemporaneidade. Profa. da UFABC e coordenadora da Contemporartes - Revista de Difusão Cultural junto a Rodrigo Machado.
Ler Mais

Prisioneiros num país livre


Estamos vendo diariamente nossos jovens morrendo, sejam eles brancos ou negros, ou é nas mãos dos policiais, ou nas mãos dos bandidos.

Mas você pode até dizer o problema não é meu, mas é. Quantas vezes você sai da sua casa e não tem medo de morrer com uma bala perdida, na mão de um ladrão, que não terá piedade de você.

Quando seus filhos saem de casa, eles podem entrar nas listas das violências, quando permitimos que as mulheres sejam escrachadas nos comerciais e nas músicas estamos sendo coniventes com o machismo nojento que também mata.



Só achamos tudo isso normal, quando acontece na casa do vizinho, mas a próxima com certeza será a sua, porque enquanto nos fechamos num mundinho hipócritas leis brasileiras estão colocando os bandidos nas ruas e essas mesmas leis estão ficando cada vez mais brandas aos criminosos.


A violência não vê raça, religião e muito menos respeita posição social. Precisamos urgentemente rever nossos conceitos e dar o grito de liberdade.







Alexandra Eliziario da Silva, é graduanda no curso de Pedagogia na Uniabc, moradora da cidade de Santo André - São Paulo


Ler Mais

Rainbow Gathering, a Contracultura não morreu...


“Traga coisas boas. Você ficará surpreso de que o que você realmente precisa é na verdade muito pouco. Traga amor, abraços e boas energias e o mais importante: traga você mesmo”.

 Esse é o convite que consta no site do grupo Rainbow Gathering como é conhecido. O grupo existe há 39 anos e tem como objetivo reunir pessoas de diferentes culturas e pensamentos interessadas em uma nova vivência, completamente à parte da sociedade capitalista tradicional, “fora da Babilônia”, como definem os participantes. Os encontros chegam a reunir cerca de 30.000 pessoas e predominam em sua filosofia, conceitos de paz, amor, harmonia e liberdade. Alguns definem esses happenings como os maiores encontros hippies do mundo.

Mais do que um encontro hippie, é uma reunião de pessoas com formas de pensar e agir alternativas, que incluem entre outras coisas, mochileiros do mundo inteiro e até crianças e cachorros.
São realizados em grandes campos abertos e pitorescos que podem variar da Nova Zelândia à Pensilvânia. O Rainbow não é apenas um encontro, existe uma cultura Rainbow que é vivenciada durante o evento que dura 4 luas, aproximadamente um mês.


Durante esse período, os participantes são convidados a deixar de lado certos hábitos da vida moderna, como por exemplo, a individualidade. Tudo é feito em grupo, inclusive a comida. São construídas cozinhas comunitárias, onde o principal tipo de alimento é o vegetariano.
Outra característica é a quase ausência do dinheiro, como moeda de valor. Tudo funciona na base da troca, em grandes rodas onde você pode negociar com os outros “irmãos”, coisas das quais necessite. O único momento em que se vê dinheiro, é quando se passa o Chapéu Mágico, onde você pode, se quiser, depositar qualquer quantia que lhe convenha. Se não tiver nada, um beijo ou um sorriso para o chapéu também valem. Outra forma de colaborar, é cozinhando ou construindo as estruturas do festival como fogões de barro e banheiros secos.


O Rainbow é uma espécie de anarquia organizada. Não há líderes definidos, e você pode se perguntar como um encontro de milhares de pessoas pode funcionar sem liderança?
Bem, existem reuniões, grandes círculos de fala, onde as pessoas discutem o que será feito e para dar sua opinião, você recebe o bastão da fala e depois o passa adiante. E há focalizadores, pessoas responsáveis por organizar as reuniões, mas que raramente intervêm no que está sendo discutido.


Não existe uma "população fixa", porque a idéia é que você passe pelo festival, aprenda e depois de um tempo saia para colocar em prática os ensinamentos, seja fundando ou indo morar em comunidades alternativas, seja aplicando isso na sua rotina. É claro, que há os que passam a vida inteira indo de um Rainbow a outro sem nunca parar. Mas eles não são a maioria.


De resto, o Rainbow proporciona às pessoas, momentos agradáveis com muita música, oficinas, yoga, reflexão, ensinamentos, conhecimento pessoal intenso e muitas descobertas. Afinal não é todo dia que se tem a oportunidade de conviver com 30.000 pessoas do mundo inteiro. Quem já foi, afirma que a experiência é única. Para participar não é necessário pagar entrada. Basta levar suas coisas dentro de uma mochila, uma barraca, comida para contribuir com a cozinha e coração e mentes abertos para novos aprendizados.

Para os interessados em participar dessa "trip", o grande problema é a saber as coordenadas para chegar lá. Assim como no ENCA (Encontro de Comunidades Alternativas)  – evento semelhante que ocorre no Brasil - é difícil achar informações com antecedência. Os encontros podem se dar em qualquer parte do mundo, e geralmente só é divulgado o país onde vai ocorrer.


Benoit Paillé, fotógrafo canadense e participante há sete anos desse grupo nômade, fotografou alguns destes encontros durante três anos, na Espanha, México e Canadá.  A produção de imagens não costuma ser permitida, porém Paillé captou com muita sensibilidade as fotos que ilustram essa matéria.
São imagens muito especiais daqueles a quem se refere como seus irmãos e irmãs e estão repletas de cores, olhares e sentimentos puros.




                                                                      ********************


Izabel Liviski é Fotógrafa e Professora de Sociologia, disciplina da qual é Mestre pela UFPR. Pesquisadora em História da Arte, Sociologia da Imagem e da Cultura, escreve a coluna INCONTROS quinzenalmente às quintas-feiras na revista ContemporArtes.







Ler Mais

A gaita e a permanência




Falar sobre cinema na República Tcheca remete de modo inevitável à minha infância. Tinha cerca de seis anos e estudava pelo turno da manhã. Como quase toda criança dos anos 90, geração pré-internet, uma boa opção para diversão era assistir a desenhos animados na pequena tela de casa. Após o almoço, passava parte da tarde a assistir um programa infantil muito famoso no Brasil, o Glub Glub, exibido na TV Cultura.

Um desenho, especificamente, me chamava a atenção. Era, como dizia na época, uma “animação de massinha” (ou seja, em stop motion e feita com pequenas esculturas). Dois amigos do sexo masculino passavam pelas mais absurdas situações e, geralmente, dentro da casa de um destes. Do ato de se colar papel para decorar suas paredes até os momentos em que cozinhavam juntos; inexistia um momento de tranquilidade para esses personagens. A sequência de atos atrapalhados e equivocados dava lugar a momentos tragicômicos: objetos quebravam, o espaço da casa era tomado por inundações e o número de explosões não era pequeno.

Nunca soube o nome deste desenho animado, mas a passagem do tempo não me fez esquecer de suas imagens. Mais forte do que o visual, porém, era uma peça de sua trilha sonora; um som repetitivo de gaita cuja reprodução por cantarolar era simples. Por anos o fiz para pessoas em diferentes momentos da vida (escola, universidade, trabalho) e a lembrança coletiva do desenho era ativada. Qual, porém, o seu título?

Vinte anos se passaram e eis que, por motivos variados, fiz uma viagem até Praga, capital da República Tcheca. Ao caminhar por seu centro histórico, pequena não foi minha surpresa ao esbarrar com diversos fantoches de um popular personagem de outro desenho animado: Krtek, uma simpática toupeira criada por Zdenek Miller. Após assistir ao episódio “Krtek e a mamãe”, em que é mostrado de modo claro o parto de uma coelha, fiquei intrigado com a transparência desse desenho infantil e resolvi assistir todos os seus episódios curtos.

Do universo da toupeira para um panorama do cinema de animação tcheco. Através dessa ampliação da pesquisa, para minha surpresa, eis que descubro a identidade dos dois atrapalhados personagens aqui citados: Pat e Mat ou, como chegaram ao Brasil, Zeca e Joca. O som da gaita ganhou um contexto, a assinatura de Lubomir Benes e Vladimir Jiranek e um corpo de cerca de oitenta episódios. Dividi esta descoberta com amigos e mais de uma vez tive como resposta a surpresa deles.

A fechar este ciclo de coincidências (ou do “destino”), redigi um texto intitulado “Krtek e o universo ao redor”, uma breve interpretação da Toupeira e de como ela se coloca em relação às situações dadas em seus episódios. Meses depois tomei conhecimento da realização da Mostra de Cinema Tcheco no Centro Cultural Banco do Brasil de Brasília, São Paulo e, agora, Rio de Janeiro.

Creio que este evento se trata de uma boa oportunidade para sermos introduzidos à história do audiovisual na República Tcheca. Poucos foram os eventos realizados em solo brasileiro que visavam traçar panorama semelhante ao dado pela Mostra de Cinema Tcheco. Poderia destacar, por exemplo, a retrospectiva parcial da obra de Jan Svankmajer, que a Curta Cinema realizou em 2008 e, ainda a ser realizado em 2012, uma retrospectiva da obra de Milos Forman, aqui representado por “Baile de bombeiros”, no Rio de Janeiro.

A justaposição de outras animações tchecas como “Pequeno grilo e cachorrinho” ao lado do documentário “Marcela” e de dramas com cunho histórico como “Num céu azul escuro” e “Protetor” faz com que o público não tenha uma apreensão unitária e homogênea desta produção audiovisual. Narrativas cômicas enfocadas em pequenos grupos de personagens, mas que não deixam de lado a relação entre vida privada e História, são encontradas nos premiados “A minha pequena aldeia” e “Solitários”. 

Espera-se que esta aproximação cultural entre Brasil e República Tcheco pelo viés do audiovisual dê outros frutos e proporcione outros recortes para futuros eventos – geográficos, de gênero, autorais. Que os dois países possam fazer uma parceria tal qual Zeca e Joca – claro, sem as suas atrapalhadas aventuras, mas mantendo o mesmo clima de amizade e companheirismo dos personagens. Que os filmes aqui a serem projetados possam marcar outras crianças ou gerações posteriores tal qual o som de uma gaita está impresso na memória de um grupo de pessoas até o presente.


Raphael Fonseca é crítico e historiador da arte. Bacharel em História da Arte pela UERJ, com mestrado na mesma área pela UNICAMP. Professor de Artes Visuais no Colégio Pedro II (RJ). Curador de mostras e festivais de cinema como “Commedia all’italiana” (realizada na Caixa Cultural de Brasília e São Paulo, 2011), o Festival Brasileiro de Cinema Universitário, a Mostra do Filme Livre e o Primeiro Plano – Festival de Cinema de Juiz de Fora.  Membro da Associação Nacional de Pesquisadores em Artes Plásticas (ANPAP). Realizador de curtas-metragens como "Boiúna" (2004), "A respiração" (2006) e "Preguiça" (2009).
Ler Mais

A Poesia de Manuel Bandeira em foco


O poeta Manuel Bandeira é um dos grandes nomes do dito modernismo no Brasil, devido ao seu poema “Os Sapos”, lido na Semana de Arte Moderna de 1922. Semana essa que, voltada para as artes em geral (literatura, música, escultura, pintura), contou com nomes como: Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Anita Malfati, Tarsila do Amaral, Heitor Villa-Lobos, Di Cavalcanti entre outros.



Os sapos
Enfunando os papos,
Saem da penumbra,
Aos pulos, os sapos.
A luz os delumbra.
Em ronco que a terra,
Berra o sapo-boi:
– “Meu pai foi à guerra!”
– “Não foi!” — “Foi!” — “Não foi!”
O sapo-tanoeiro
Parnasiano aguado,
Diz: — ” Meu cancioneiro
É bem martelado.
Vede como primo
Em comer os hiatos!
Que arte! E nunca rimo
Os termos cognatos.
O meu verso é bom
Frumento sem joio.
Faço rimas com
Consoantes de apoio.
Vai por cinquenta anos
Que lhes dei a norma:
Reduzi sem danos
A formas a forma.
Clame a saparia
Em críticas céticas:
Não há mais poesia,
Mas há artes poéticas…”
Urra o sapo-boi:
– “Meu pai foi rei” — “Foi!”
– “Não foi!” — “Foi!” — “Não foi!”
Brada em um assomo
O sapo-tanoeiro:
– “A grande arte é como
Lavor de joalheiro.
Ou bem de estatutário.
Tudo quanto é belo,
Tudo quanto é vário,
Canta no martelo.”
Outros, sapos-pipas
(Um mal em si cabe),
Falam pelas tripas:
–”Sei!” — “Não sabe!” — “Sabe!”
Longe dessa grita,
Lá onde mais densa
A noite infinita
Verte a sombra imensa;
Lá, fugido ao mundo,
Sem glória, sem fé,
No perau profundo
E solitário, é
Que soluças tu,
Transido de frio,
Sapo-cururu
Da beira do rio…
Manuel Bandeira nasceu em Recife e é neto de Antônio Herculano de Sousa Bandeira, professor de Direito da Faculdade de Direito do Recife, uma das primeiras do país. Sua família sempre teve posses e cargos, fator esse que possibilitou sua ida à Suíça para tratamento de uma doença.
A primeira publicação do poeta pernambucano foi o livro de poesias “A Cinza das horas”, datado em 1917. Assim, segundo Davi Arrigucci Jr.: "A poesia de Bandeira (..) tem início no momento em que sua vida, mal saída da adolescência, se quebra pela manifestação da tuberculose, doença então fatal. O rapaz que só fazia versos por divertimento ou brincadeira, de repente, diante do ócio obrigatório, do sentimento de vazio e tédio, começa a fazê-los por necessidade, por fatalidade, em resposta à circunstância terrível e inevitável".
Arrigucci percebe que nos poemas escritos por Bandeira, posterior a descoberta da doença, há uma necessidade de se satisfazer através da escrita, devido ao fardo que carregava.
Um pouco mais da poesia de Manuel Bandeira (os poemas não estão em ordem de publicação):
O Bicho
Vi ontem um bicho
Na imundice do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem
Poema tirado de uma notícia de jornal
João Gostoso era carregador de feira livre e morava no morro da Babilônia num barracão sem número
Uma noite ele chegou no bar Vinte de Novembro
Bebeu
Cantou
Dançou
Depois se atirou na lagoa Rodrigo de Freitas e morreu afogado.
Desencanto
Eu faço versos como quem chora
De desalento... de desencanto...
Fecha o meu livro, se por agora
Não tens motivo nenhum de pranto.

Meu verso é sangue. Volúpia ardente...
Tristeza esparsa... remorso vão...
Dói-me nas veias. Amargo e quente,
Cai, gota a gota, do coração.

E nestes versos de angústia rouca,
Assim dos lábios a vida corre,
Deixando um acre sabor na boca.

- Eu faço versos como quem morre.

Obras Poéticas de Manuel Bandeira

§ A Cinza das Horas, 1917
§ Carnaval, 1919
§ Os Sapos, 1922
§ O Ritmo Dissoluto, 1924
§ Libertinagem, 1930
§ Estrela da Manhã, 1936
§ Lira dos Cinquent'anos, 1940
§ Belo, Belo, 1948
§ Mafuá do Malungo, 1948
§ Opus 10, 1952
§ Estrela da tarde, 1960
§ Estrela da Vida Inteira, 1966
§O Bicho, 1947



Renato Dering é escritor, mestrando em Letras (Estudos Literários) pela Universidade Federal de Viçosa (UFV), sendo graduado também em Letras (Português) pela Universidade Federal de Goiás (UFG). Realizou estágio como roteirista na TV UFG e em seu Trabalho de Conclusão de Curso, desenvolveu pesquisa acerca da contística brasileira e roteirização fílmica. Atualmente também pesquisa a Literatura e Cultura de massa. É idealizador e administrador do site EFFI, que divulga o cinema e conteúdos audiovisuais. Contato: renatodering@gmail.com | twitter.com/rdering
Ler Mais