'Palavra Limada - a carpintaria dos sentidos"

          


Às vezes, em meio a nossas leituras e descobertas, nos deparamos com ótimas composições artísticas que devem ser compartilhadas com mais pessoas. Isso ocorreu comigo nas últimas semanas, quando ganhei de presente um livro de poemas intitulado “Palavra Limada – A Carpintaria dos Sentidos”. Talvez não somente uma surpresa quanto às composições poéticas, mas também em relação à maneira como foram elaboradas. Em primeiro lugar, o que nos chama atenção é o fato de serem três os autores de todos os poemas, ou seja, um livro escrito em conjunto, ou, como um dos autores me advertiu, uma obra surgida de seis mãos. Na apresentação da obra, há um texto em que é revelado o caráter polifônico desta escrita. Interessante, não?
Eu não me recordo de ter me deparado com essa nova maneira de compor até essa obra me ser apresentada e, após as leituras dos poemas, acredito que, no caso presente, isso foi muito bem desenvolvido. Outra coisa que devo destacar é, como o próprio título insinua, os poemas estão divididos conforme os cinco sentidos humanos, a saber: Visão, Olfato, Tato, Audição e Paladar.
Assim que abri o livro encontrei um lindo poema “Camélia”:

Hoje abri o velho armário
e admirei de novo o vestido bordado
com camélias brancas
- densas, no fundo vermelho de musselina.

Que veste tentadora!

Quis rasgar a loucura
na formosura da camélia.
Quis colar ao corpo nu
a força da camélia branca
e subverter o tempo proibido
                 o sexo recolhido
                 a cor acorrentada
                 a voz da mudez.

Subverter o abafamento
daqueles verões empapados de medo
em porões intensos
de tanto negrume.

Subverter
vertida no vestido de camélias brancas
até florir no inverno...

nua como uma camélia na lapela.
(RESENDE, SILVA, HADDAD, 2010, p. 15).

Acredito que esse poema que está alocado na primeira parte do livro, intitulada “visão”, é intenso, forte e sensual. Primeiramente, o vislumbrar o vestido “bordado com camélias brancas” é suficiente para levar o sujeito poético a uma viagem pela memória, pelos medos, tensões e desejos. Há uma loucura a ser rasgada, o corpo nu,  o tempo proibido, os verões passados que traziam tanto o medo como a intensidade do vivido. O presente poema é um composição a partir da qual podemos observar traços de diálogos coma poesia de Adélia Prado, Guimarães Rosa, dentre tantos outros poetas, tornando a questão da polifonia, do diálogo ainda mais intensa e criando imagens dignas de serem apreciadas por todos os leitores que com elas se deparam.
Não posso deixar de dar destaque ao que é dito mesmo na apresentação do livro: os sentidos revelam memórias, cheiros, essências e também a cultura culinária. Sendo assim, alguns poemas, dentre os quais destacarei apenas um, possibilitaram-me não só ler, como também sentir o aroma da comida. Esse aroma invadiu meus poros e  deixou-me estarrecido:


Pão Nosso de cada dia

E da água fez-se a massa,
sovada e fermentada.
Forno aquecido
tempo cozido
cheiro de poema.

Pão-palavra,
nosso maná com casca
cada dia serrilhado na bandeja
e servido nas horas.

O miolo do verso
desperta a forma
de poesia nascente.

         Sorvidão.

Bandeja abandonada.

Farelos...
               Sabor
                      Saliva 
                              Poeta
                                       pó
                                         no sopro do verso:
                                                                   Fênix de sobra.
(RESENDE, SILVA, HADDAD, 2010, p. 73).

Este poema que é um misto de exploração do paladar e constituição de uma “Arte Poética”. Ele conjuga exatamente o lado lúdico da palavra que, ao mesmo tempo que nos faz imaginar o início do dia com o sovar do pão, a feitura do café quentinho, o sabor que o encontro de ambos elementos traz ao serem degustados, também revela o processo de construção do poema que, assim como o pão, deve ser sovado, fermentado (limado), pensado para, somente após  ter crescido, despertar da forma nascente e ser entregue aqueles que também o degustarão, não com o paladar, mas com o intelecto. É um “Pão-Palavra” para não se dizer um “Poema-Pão” que pode nos alimentar todos os dias através da percepção de sua constituição.
Esses dois poemas são apenas alguns dentre os de “Palavra Limada- a carpintaria dos sentidos”. Esse livro é cheio de magia, percepções e conjugação entre sentidos e intelecto, explorando não somente a palavra em si, bem como a capacidade do leitor de perceber as nuances que são reveladas ao longo dos poemas.

Referência:
RESENDE, José Antônio Oliveira de; Silva, Roginei Paiva da; Haddad, Sônia Moraes. Palavra Limada: a carpintaria dos sentidos. Belo Horizonte: Via Comunicação & Editora, 2010.

Rodrigo C. M. Machado é mestrando em Letras, com ênfase em Estudos Literários, pela Universidade Federal de Viçosa. Dedica-se ao estudo da poesia portuguesa contemporânea, com destaque para a lírica de Sophia de Mello Breyner Andresen.

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Nino Cais, artista paulista, estará na 30ª Bienal de Arte de São Paulo com suas colagens e ressignificações dos objetos.



Nino Cais se equilibrando em copos
Colagens com revistas da década de 1970
Hoje, dia 24 de maio de 2012, fui com meus alunos de Visuais da FPA à Universidade Estadual Paulista, UNESP, para participar do Encontro de formação em arte contemporânea. O evento teve como foco a discussão das poéticas da arte visando abrir os horizontes de educadores de arte e também do público em geral, para tecerem novos olhares sob os processos criativos dos anos 2000. O projeto partiu do Educativo da Bienal que, em parceria com o Instituto de Artes, nos proporcionou a discussão da arte em suas poéticas conceituais na pós-modernidade. A curadora educacional da Fundação Bienal, Stela Barbieri, ressaltou os aspectos da contemporaneidade e dos caminhos que a 30 Bienal de SP sugere para pensarmos as iminências das poéticas.

A Bienal Internacional de Arte de São Paulo teve sua primeira edição em 1951, sempre revelando tendências e sugerindo novos olhares, cada vez mais ousados, sob o processo de se fazer arte, mostrando um estreitamento evolutivo entre arte e público. A Bienal deste ano, que tem como curador  o venezuelano Luis Pérez-Oramas, escritor e historiador, intitulada; A iminência das poéticas, tem como objetivo proporcionar o encontro de vários temas da contemporaneidade como a multiplicidade, a transicionalidade, a recorrência e permanente mutabilidade das poéticas artísticas.
Na palestra, realizada na UNESP, assistimos um vídeo em que Oramas cita o mito de Narciso e  Eco para explicar a instabilidade ou a incomunicabilidade entre os seres. Oramas diz que a arte entra no vão das coisas, nas tais incomunicabilidade, possibilitando a comunicação entre os humanos. O curador completa dizendo que as  palavras e as imagens são elementos distintos mas que estão sempre em estado de  constantes subordinações entre si. 
Ressignificação dos objetos
Colagens com Flores 
A grande e maravilhosa surpresa foi encontrar o artista Nino Cais no Encontro, falando de seu processo criativo e mostrando suas obras de colagens realizados com revistas da década de 1970. A questão interessante levantada por Nino, foi a de reposicionando dos objetos ressignificando-os. O rostos cobertos por flores, blusas de lã ou o equilíbrio do corpo do artista em copos frágeis. O artista trouxe objetos do dia-a-dia em suas várias ressignificações.

Influências de sua mãe costureira - retalhos 
Nino Cais é um dos artistas brasileiros que estará da 30 Bienal colocando e recolocando os objetos do cotidiano em movimentos constastes, como o mestre Duchamp com o seu urinol, A fonte, 1917, a arte de Nino nos ensina a fazer arte com o que temos, com o que nos rodeia, nada mais e fim de papo. A 30 Bienal começa em 7 de setembro e vai até  9 de dezembro. Como afirma o curador,  a Bienal será dividida em "constelações" de obras e artistas que conversam entre si. Dentro das constelações, haverá quatro zonas curatoriais (Sobrevivências, Alterformas, Derivas e Vozes) e uma zona transversal (Reverso).
Fiquem de olho, confiram a Bienal e prestem atenção no trabalho do brasileiro Nino Cais, muito bom!


Kátia Peixoto é doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP. Mestre em Cinema pela ECA - USP onde realizou pesquisas em cinema italiano principalmente em Federico Fellini nas manifestações teatrais, clowns e mambembe de alguns de seus filmes. Fotógrafa por 6 anos do Jornal Argumento. Formada em piano e dança pelo Conservatório musical Villa Lobos. Atualmente leciona no Curso Superior de de Música da FAC-FITO e na UNIP nos Cursos de Comunicação e é integrante do grupo Adriana Rodrigues de Dança Flamenca sob a direção de Antônio Benega.

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DEPOIS ou AGORA? A SAGA de ADRIENNE RICH


“É necessário que eu escreva
de modo tão indireto
sobre a situação?
É isso que vocês querem que eu faça?”
                                                     (Adrienne Rich – Then or Now)

Certamente era esse o desejo das estruturas de dominação que Adrienne Rich chamava de “patriarcais”: - que ela se calasse ou, na pior das hipóteses, tocasse na “situação” apenas de modo indireto e distante.

Em vez de silenciar ou tergiversar, como é comum hoje em dia, nesses tempos de medo e escuridão crítica, disfarçados de carnavalescas liberdades, a poeta, escritora e ativista norte-americana Adrienne Rich desafiou abertamente a ordem perversa de um mundo marcadamente masculino, fundado na divisão binária dos gêneros e, segundo ela, na “heterossexualidade compulsória”.

Nascida em plena crise do final dos anos vinte (Baltimore, 16-05-1929), Adrienne Rich viveu intensamente todas as grandes crises da segunda metade do século XX, sabendo conciliar, com extremo vigor e sensibilidade, vocações tidas em geral como diametralmente opostas, como a visão poética e a visão política da vida, a reflexão pessoal e a busca pela compreensão do plano coletivo e universal.

É a partir destas sínteses dialéticas que deve ser lida a sua vasta obra poética e literária: tudo que ela escreve está recheado de vívida paixão e crítica social contundente. Embora de uma transparência e clareza viscerais, seus textos – tanto os poéticos quanto os políticos –, recusam-se terminantemente a serem lidos apenas de modo formal, dentro de qualquer lógica retilínea e uniforme. Para mergulhar no que ela diz, é preciso deixar-se contaminar pela paixão com que ela viveu e defendeu a causa cardinal de sua vida: a dignidade do ser humano. “Ser humano”, livre de rótulos como gênero, raça e orientação sexual.

Casou-se, em 1953, com Alfred H. Conrad, professor de economia em Harvard, no rastro de fantasia do “sonho americano”, como ela própria disse, tendo com ele três filhos homens.
Em 1955, ao publicar seu segundo livro de poesia, The Diamond Cutters (Os cortadores de diamante) recebeu o seguinte comentário do crítico americano Randall Jarrell: "É impossível deixar de ver a poeta [por trás desses poemas] como uma espécie de princesa em um conto de fadas."

Contudo, muito cedo, Adrienne Rich descobriria a inoperância da sua entrega e subserviência a esse modelar “conto-de-fadas”, de ordem nitidamente masculina e “patriarcal”, para usar a própria terminologia que ela introduziu.

Ao longo da década de 1960, Rich escreveu diversos trabalhos poéticos, através dos quais ficou evidente as mudanças radicais que estavam em andamento no seu estilo de vida. Snapshots of a Daughter-in-Law (Fotos de uma Enteada, de 1963) e Leaflets (Folhetos, de 1969), revelam uma mulher crescentemente em confronto com os valores e formas tradicionais da sociedade, voltada para temas polêmicos e controversos, como racismo, o papel da mulher e a guerra do Vietnam.

Em 1970, Rich separa-se do marido, que acaba cometendo suicídio mais tarde, neste mesmo ano. Seis anos mais tarde, assume sua relação homoafetiva com Michelle Cliff, novelista de origem jamaicana, com quem vive até o final da vida, concomitantemente ao lançamento da obra Of Woman Born (Nascido[a] de Uma Mulher, de 1976).

A partir daí, sua vida pessoal passa a se confundir com sua própria obra , tornando-se o melhor testemunho da sua insurreição contra a ordem “patriarcal”, exaustivamente dissecada e denunciada nesta sua clássica prosa literária, uma aguda reflexão crítica sobre a maternidade e a condição da mulher, onde Rich incorpora, com notável habilidade intelectual, sua experiência de mãe e sua visceral militância feminista. Como ela disse em um depoimento de 2002, amadureceu para assumir "seu lesbianismo reprimido desde a adolescência". Este livro – pioneiro, sensível e corajoso - será sempre considerado um marco nos estudos sobre a condição da mulher na sociedade, como mãe, esposa, filha e, principalmente, como mulher.

Outro de seus trabalhos, considerado como um dos melhores,  é Mergulho no Naufrágio - uma história verdadeiramente estranha narrada por um explorador solitário que mergulha em águas profundas para descobrir algo terrível. Há muitas interpretações: seria uma história sobre sexo, é autobiográfico, é uma história sobre mitos ou sobre a morte do ego? Há uma grande releitura desse trabalho pela poeta Anne Waldman.

Adrienne Rich morreu no dia 27 de março deste ano, aos 82 anos, depois de viver o que se pode chamar de uma vida fértil e engajada com os mais importantes ideais que alimentaram os espíritos verdadeiramente livres de todos os tempos. Como mulher, seu legado será lembrado para sempre como um plantio fértil, que continua e ainda continuará dando frutos e sementes, a despeito das condições ainda tão hostis do terreno.

Para concluir, um pequeno poema de Rich, Women escrito em 1968, onde ela descreve com sensibilidade e inteligência, as mulheres mais próximas dela, suas três irmãs. A tradução, foi feita por mim, de forma livre.

Mulheres

Minhas três irmãs estão sentadas
em rochas negras de obsidiana.
Pela primeira vez, à esta luz,  posso ver quem elas são.


Minha primeira irmã está costurando seu traje para a procissão.
Ela está indo como a 'Senhora Transparente'
e todos os seus nervos ficarão visíveis.


Minha segunda irmã também está costurando,
uma costura sobre o coração, que nunca cicatrizou completamente.
Por fim, ela espera, este aperto no peito em breve vai passar.


Minha terceira irmã está olhando
para uma crosta vermelho-escura que se espalha para o oeste distante, para fora no mar.
Suas meias estão rasgadas mas ainda assim, ela é muito bela.

******

Texto principal: Geraldo Eustáquio de Souza*

Texto adicional: Izabel Liviski

*Geraldo Eustáquio de Souza (Letícia Lanz), é economista, tem mestrado em administração de empresas e  é psicanalista. Atualmente é mestrando em Sociologia pela UFPR. É também poeta, escritor e ensaista crítico, com diversos livros e artigos publicados.

Assista a um vídeo exclusivo sobre a trajetória de Adrienne Rich, autoria de Geraldo Eustáquio (Leticia Lanz):
http://www.leticialanz.org/

A seguir, a programação da Primeira Jornada de Pesquisa do Grupo "MULHERES E PRODUÇÃO CULTURAL", que terá lugar na UFPR, nos dias 25 e 26 de maio de 2012:

PROGRAMAÇÃO:
Coordenadora : Dra. Miriam Adelman, Programa de Pós-graduação em Sociologia, UFPR.
Vice coordenadora: Dra. Anna Beatriz Paula, SEPT, UFPR.

Sexta-feira, 25 de maio
Sessão 1: 9:00-12:00
Expositoras:
Cleusa Gomes, UNILA. “Gênero e práticas intersexuais no cinema latino americano”
Alexsandra Piasecka-Till, UFPR. “Atlas de bolso das mulheres” de Sylwia Chutnik: Intertextualidade, interdiscursividade e gênero social.”
Natália de Santana Guerellus, UFPR. “ Como um castelo de cartas: A construção da memória sobre a trajetória política de Rachel de Queiroz”
Daniele Shorne de Souza, UFPR. “A CIDADE DAS DAMAS E O SEU TESOURO: A PROBLEMATIZAÇÃO DA FEMINILIDADE POR CRISTINA DE PIZÁN NA FRANÇA DO INÍCIO DO SÉCULO XV
Joana Pupo, UEPG. “A INVISIBILIDADE DA AUTORIA FEMININA NO ROMANTISMO INGLÊS – A EXIGÊNCIA DE UMA MUDANÇA DE PARADIGMA”
Coordenadora da sessão: Ana Paula Vosne Martins, DEHIS/UFPR.

Sessão 2: 14:00hs.-16:00hs.

Flora Morena Maria Martini de Araújo. PARA ALÉM DE SOPHIE: A CONSTRUÇÃO DO MODELO FEMININO NAS OBRAS LES CONVERSATIONS D´EMILIE, DE MADAME D´ÉPINAY, E CORINNE, DE MADAME DE STAËL
Silvana Scarinci, PPGMúsica/UFPR. “Dido, Didon, Didone: três diferentes representações da personagem feminina de Virgílio em óperas do século XVII inglesa, francesa e italiana.”
Anadir dos Reis Miranda, DEHIS/UFPR. “Mary Wollstonecraft e a produção de romances sentimentais na Inglaterra Setecentista”
Coordenadora da sessão: Miriam Adelman, DECISO/UFPR.

Sessão 3:- 16:30hs.- 18:00hs.

Maria Josele Bucco-Coelho, UFPR “Entre lugares discursivos: a ressemantização do sujeito subalterno na ficção histórica contemporânea”.
Miriam Adelman, DECISO/UFPR e Renata Senna Garrafoni, DEHIS/UFPR. “Escritoras da Geração Beat”.
Milena Costa de Souza, FAP. “Encontros Teóricos e Prática Artística: as teorias feministas e pós-colonial e o desenvolvimento da poética de Kara Walker”.
Coordenadora da sessão: Anna Beatriz Paula (SEPT, UFPR)
Local de sessões 1, 2 e 3: Sala da Pós-graduação em Sociologia (Rua General Carneiro, 460 9 andar)

Evento cultural: Homenagem à escritora e poeta Adrienne Rich, com leitura bi-lingue de poesias e discussão sobre a obra da autora.
Dia 26/05- sexta-feira:
Horário: 19:00hs. – 21:00 hs.
Local: Bar Fidel- Rua: Jaime Reis, 320, Centro.

Sábado, 26 de maio
Mesa-Redonda: As Mulheres e a Produção Literária.
Local: Sala da Pós-graduação em História (Rua General Carneiro, 460, 6o andar)
Expositoras:
Beatriz Polidori Zechlinski, “Amizade e Criação Literária no Século XVII: Observações sobre os laços afectivos entre Madame de La Fayette e Gilles Ménage.”
Anna Beatriz Paula, “Exílio e deslocamentos em Fasting and Feasting, de Anita Desai”
Lucia Cherem, UFPR-Delin: "George Sand-Aurore Dupin: escritora, jornalista e mulher política (1804-1876)".
Coordenadora: Ana Paula Vosne Martins (DEHIS, UFPR)

Universidade Federal do Paraná: Rua XV de Novembro, 1299 -  Centro - CEP: 80.060-000 
Curitiba - PR - Brasil - Fone: (41) 3360-5000.



Izabel Liviski é Fotógrafa e Doutoranda em Sociologia pela UFPR.  Pesquisadora de História da Arte, Sociologia da Imagem e da Cultura e Antropologia Visual.  Escreve a coluna Incontros quinzenalmente às 5as feiras na Revista ContemporArtes.





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Minicurso de História Oral

      

HISTÓRIA ORAL
              MÉTODOS DE ENTREVISTA E TRANSCRIÇÃO
Dias 24 e 25 de maio, das 16h às 18h.
Auditório do Programa de Mestrado em História Social
Universidade Severino Sombra
Rua Joaquim Teixeira Leite, 52
Centro, Vassouras – RJ


Amanhã e sexta-feira, das 16h às 18h, darei um mini-curso de História Oral em Vassouras (RJ), no Programa de Mestrado da Universidade Severino Sombra.

O curso pretende elaborar uma reflexão ampla sobre as formas de oralidades na sociedade contemporânea. Visa capacitar os participantes a utilizar os procedimentos de história oral relacionados aos métodos de entrevista, conceitos de rede, colônia e comunidade de destino, transformação do documento oral para o escrito e uso de objetos biográficos. No campo da história social, o conhecimento de seus métodos é cada vez mais utilizado em diversas pesquisas, em especial, por aquelas que trabalham com a História do Tempo Presente.

A história oral se fundamenta nos conceitos de memória, identidade e narrativa. A concepção de memória está fundamentada no conceito de Pierre Nora que se baseia em dois elementos intrínsecos da memória: ser afetiva e mágica. (NORA, 1993) Tal afetividade traz características que marcam um grande diferencial com o conceito de História. Enquanto a história é racional, feita por interpretações marcadas por um método científico que questiona o passado por meio de problematizações, a memória é fluída, inconstante e não linear.


O que constrói tal filtro, que separa o que é lembrança de esquecimento, são justamente marcos afetivos de nossas trajetórias (HALBWACHS, 1990). O componente “mágico” diz respeito ao elemento criativo da memória. Ditados como “quem conta um conto, aumenta um ponto” tem seu embasamento, pois a memória é reelaborada em cada grupo identitário, criada no tempo presente, e não apenas “resgatada” do passado, portanto, seria de grande ingenuidade se pensar como possível o mero “resgate” de um passado. O passado nunca volta, mas é reelaborado, por meio da narrativa, na dinâmica do Tempo presente. A elaboração de narrativas se faz por meio de particularidades que o próprio colaborador, o grupo ao qual pertence, seu tempo e espaço influenciam tanto no modo de narrar quanto no conteúdo de que narrar.


Aproveito para divulgar o II Encontro Café com PP/ UFABC São Bernardo.
























Prof. Dra. Ana Maria Dietrich. Professora Colaboradora do Mestrado em História Social (USS) e professora adjunta da UFABC. Pós-doutora pelo Instituto de Filosofia e Ciências Humanas/ UNICAMP.


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Repouso

 
Três imagens: sapatos, facas e cruzes. Seu ladeamento é uma proposição expográfica dada pela curadoria ou teria Andy Warhol concebido esta série de objetos fotográficos com a finalidade de mostra-los em conjunto? Essa é a pergunta que me ficou após percorrer os olhos pelas suas trezentas fotografias em Polaroid expostas no Museu da Imagem e do Som de São Paulo.

Recebidos na entrada por uma grande reprodução de seu famoso autorretrato acompanhado pelo nosso futuro garantido, uma caveira, adentramos uma espécie de arena expositiva. Nela, grupos de polaroides emolduradas sobre cada parede. Cada linha (ou fileira) de imagens possui um recorte específico: celebridades num andar, pequenas narrativas domésticas em outro, objetos banais mais abaixo. A produção fotográfica de Warhol, portanto, é dividida como os gêneros da tradição clássica: obras históricas, paisagem e natureza-morta, cada um tem um espaço diferenciado.

Voltando ao trio de imagens que me feriram. Dez sapatos preenchem uma composição em um inventário de ângulos. Poderíamos chama-los de “calçados femininos”, vista a pesquisa do artista sobre os muros que separam o masculino do feminino? Uma constância: saltos dos mais diversos tamanhos. Aquilo que amortece é também o que fere a estrutura óssea do corpo humano. O objeto que poderia ser tachado por banal e impessoal ganha uma segunda camada quando se repara que sobre ele há uma palavra inscrita – Halston, em letras capitais. Uma grife, um estilista, um amigo de Warhol; a imagem é, então, monumento e publicidade.

Do lado oposto desta fotografia, cruzes e a ausência da pesquisa pela tridimensionalidade aparente. Não há variação, apenas certeza: doze vezes a morte, preto sobre o branco. Sem surpresas, um estudo sobre o óbvio e uma pesquisa formal sobre uma das imagens mais recorrentes da história da arte. O cemitério se transforma em grade.

Entre estas duas imagens, uma terceira somada a uma questão: qual das polaroides que Warhol produziu sobre estas facas que se encontrava exposta? Tento recorrer à memória, mas não as alcanço com exatidão. Nem mesmo a Internet, suas buscas e seu excesso de informações me dão a garantia da imagem exposta. Fico na dúvida entre duas fotografias. Na primeira, uma fileira de facas posa para a fotografia e temos a organização serial comum à poética do artista. Na outra, um “retrato de casal” com um ser mais mortal que o outro. A lentidão pontiaguda do salto alto faz um contraponto com a velocidade de dano proporcionado por esta extremidade de metal.

O esforço pela lembrança de uma imagem agonia, mas é sintomático. O que é possível lembrar após esta avalanche de pequenas imagens de 9x11 centímetros? Diremos, talvez, que fitamos por mais tempo as personalidades que Warhol registra: Schwarzenegger, Lisa Minelli, Debbie Harry, sua própria imagem... e os pseudoanônimos? E os integrantes do seu círculo social que nos chegaram devido ao seu clique e que não reverberaram no cinema, na música pop e nas artes visuais como criadores? Possuem nome e sobrenome escritos na placa de um museu, mas talvez apenas Warhol fosse capaz de recitar a biografia de cada um. Eles são tão fantasmas quanto os fotografados distantes da lente nas primeiras experiências do século XIX ou como aqueles encontrados nos álbuns de família cujos nomes escapam à lembrança de nossas mães.

As polaroides de Andy Warhol são como estes calçados com salto alto: elevam o 
status das imagens registradas, as alavancando como arte emoldurada tal qual um altar faz com um objeto sagrado. Todos estes nomes, porém, serão esfaqueados pela malícia do tempo e da História. A queda do salto é certeira e só restará o repouso - tão silencioso como uma fotografia.

(a exposição "Superfície Polaroides (1969-1986)" está em cartaz no Museu da Imagem e do Som de São Paulo até 24 de junho)


Raphael Fonseca é crítico e historiador da arte. Bacharel em História da Arte pela UERJ, com mestrado na mesma área pela UNICAMP. Professor de Artes Visuais no Colégio Pedro II (RJ). Curador de mostras e festivais de cinema como “Commedia all’italiana” (Caixa Cultural de Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo, 2011) e "Cinema pós-iugoslavo" (Caixa Cultural de São Paulo, 2012). Membro da Associação Nacional de Pesquisadores em Artes Plásticas (ANPAP).

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AINDA NA SÍNTESE DA LINGUAGUEM

  

AINDA NA SÍNTESE DA LINGUAGUEM

Não é de hoje que gosto de passear pelos textos minimalistas, pela concisão poética, ensinamentos passados pela propaganda e também pelo grande amigo, redator e escritor, Devanir Luiz Kauffman Ferreira, devoto dessa arte “dos curtos, curtíssimos” desde os longínquos anos 80.  

Algumas modalidades são recentes no meu aprendizado e até que acabei me saindo bem: a trova, o haicai e a aldravia.
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O que é aldravia?
“Trata-se de um poema sintético, capaz de inverter ideias correntes de que a poesia está num beco sem saída. Essa forma nova demonstra uma via de saída para a poesia – aldravia. O Poema é constituído numa linométrica de até 06 (seis) palavras-verso. Esse limite de 06 palavras se dá de forma aleatória, porém preocupada com a produção de um poema que condense significação com um mínimo de palavras, conforme o espírito poundiano de poesia, sem que isso signifique extremo esforço para sua elaboração.”
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Em 2011, participei de um concurso de trovas, haicais e aldravias, promovido pelo InBrasCI (Instituto Brasileiro das Culturas Internacionais – RJ), que tinha como objetivo “incentivar antigas e novas formas poéticas, que primam pela síntese da linguagem, sem prejuízo do conteúdo.
 O tema era livre e a avaliação baseada no conjunto de obras inscritas (até, no máximo, 5 poemas em cada modalidade). Com pontuações feitas também por modalidade, a somatória de pontos atribuídos pela banca determinaria os 1º, 2º e 3º lugares.

O resultado, previsto para outubro, acabou saindo apenas em 6 de março de 2012, quando recebi um e-mail da Sra. Marilza de Castro – Presidente do InBrasCI – comunicando a minha classificação. No dia 19 de março de 2012 aconteceu a premiação, onde meu conjunto de obras inscritas “abocanhou” o 3º lugar.

A seguir, os textos selecionados. Espero que, a exemplo dos jurados, você também aprecie o resultado das minhas incursões minimalistas.

Trovas_______________________________________________________
(comumente essa modalidade não recebe título)

VIAJANDO
Caminhos e descaminhos,
Vou pisando na embreagem
Entre flores, passarinhos...
Essa vida é uma viagem!

TEMPORAL
Ah! Como o tempo se escassa
Rapidinho na ampulheta,
Mexendo com a carcaça,
Deformando a silhueta.


PASSA
Tudo nessa vida passa
Tão rápido como a hora.
Nada é feito de argamassa
Que demora a ir embora.

CHORO RABISCADO
O lápis rabisca e chora
O sumiço da caneta.
É solidão que devora
Grafite, papel, prancheta.

LOUVA-A-DEUS
Sentindo a perda dos seus,
O cavalinho de Deus
Os seus joelhinhos dobrou
E por um momento orou.

Haicais_______________________________________________________

DESALUMIADO
Sol brilha no céu,
vaivém de sonhos, além
do gosto de fel.

NEGRITUDE
Tem tudo na noite:
má fé, pó de chaminé,
derradeiro açoite.

PIPOCANDO
Verão queima o chão,
os pés salpicam. Revés
que arde o coração.

GELEIRA
Frio. Vento a gelar,
cortar o peito, sangrar.
Tempo de chorar.

VERTICAL
Linha do horizonte,
um bar a me embebedar.
Lágrimas na fronte.

Aldravias______________________________________________________

DESTEMPO
Arritmia
Relógio
parado
no
meio
dia

ROMPIMENTO
Linha
da
vida
interrompida
Triste
Partida

SORRISO NOTURNO
Boca
da
noite
Dentestrelas
reluzem

CANTATA
Ninho
de
passarinho
Canto
da
vida

ABOCANHADA
Noite
engole
dia
Que
linda
poesia



ABRAÇOS LITERÁRIOS E ATÉ +.


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Dicas do Drops

          

Já está à venda o livro “Skate e skatistas: questões contemporâneas”, com organização de Tony Honorato e do historiador Leonardo Brandão, membro do conselho consultivo da Revista Contemporâneos. A obra reúne textos de 12 autores nacionais e estrangeiros que abordam vários aspectos relacionados à cultura do skate. O livro é editado pela Universidade Estadual de Londrina, e foi encontra mais informações sobre ele e como adquiri-lo aqui


Este não é o primeiro trabalho de Leonardo Brandão no universo do skate. Também é dele o livro “A Cidade e a Tribo Skatista: Juventude, Cotidiano e Práticas Corporais na História Cultura”, lançado em 2011.





O XV CISO – Encontro Norte e Nordeste de Ciências Sociais Pré-Alas Brasil está com as inscrições abertas para envio de trabalhos. O evento será realizado de 04 a 07 de setembro, em Teresina (PI) e terá uma rica programação de mini-cursos, mesas-redondas e apresentação de trabalhos sobre a sociologia em suas várias aplicações  
Esta edição do CISO acontece juntamente com o encontro nacional da Associação Latina Americana de Sociologia (ALAS), prévia do Congresso Internacional da Associação, que vai acontecer ano que vem, no Chile. Aqui você encontra a programação já definida e informações sobre prazos e inscrições. 


Essa é para os leitores poetas. A Editora LiteraCidade prepara sua primeira publicação temática, a antologia poética Versos Enamorados, e convida os interessados a enviarem seus poemas. Apenas alguns poemas serão selecionados, mas a participação é gratuita. Na página do projeto você encontra o regulamento completo.   
A LiteraCidade também está com chamada aberta para o volume 10 da Antologia Cidade. Mais informações aqui


E a última dica de hoje é para quem se interessa pelo mundos das artes. O nosso colaborador Douglas  Negrisolli ministrou, no Empório Fotográfico da Sheila Oliveira, a palestra “O artista, mercado e marketing pessoal”. A fim de alcançar os interessados que não puderam comparecer, ele disponibilizou on-line o material que apresentou na ocasião (os slides podem ser vistos neste link) e também o áudio da palestra, que você confere aqui.   Aproveite! 


 
Mônica Bento é jornalista, formada pela Universidade Federal de Viçosa (MG). Em seu trabalho de conclusão de curso estudou a função social das salas de cinema e desenvolveu a reportagem multimídia CineMemória. Pertence a equipe de Comunicação da Contemporartes-Revista de Difusão Cultural. 











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