sexta-feira, 1 de junho de 2012

Refúgio




           Caros Leitores,


       Apresentamos hoje dois poemas. Frutos de inspirações sob tons de mineiridade, instrospecção e dilemas existenciais, "Refúgio" e "Sobre Flores e Cinzas" são a solubilização de momentos de profundo encontro de emoções latentes que perfazem o processo do auto-conhecimento humano. Um mergulho dentro de nós mesmos, capaz de dar, novamente, a chance de recomeçar.


Adriano Almeida & Renata Cordeiro





Refúgio


Diante de mim, o vazio.
Diante de mim, a alegria perdida.
A ausência do que nunca foi,
do que nem mesmo teve a chance de ser.
A alegria construída em longos instantes, 
se vai numa fração de segundo...


Persiste o vazio,
subsiste a inquietação.
Uma flor gélida,
a contemplar silenciosamente o deserto.
Espera-se uma alma,
a aparição de uma resposta, 
um refrigério à solidão.
Insiste o silêncio...

Haverá uma resposta?
Terá sentido aquela flor,
solitária e fúnebre,
a espreita de uma chance de luz?
Por quanto tempo ainda,
contemplará o deserto...?

Os ventos sopram cortantes,
não trazem resposta,
dizem murmúrios...
Intraduzíveis...


Vê-se ao longe, até se perder,
perde-se.
Lança-se os olhos aos pés,
não há caminhos, 
só um imenso deserto.
E o vento a soprar frio,
pedindo aquele agasalho velho,
que traga algum cheiro...
 A presença das lembranças,
o calor de algo bom... 

Imagina-se um lugar seguro,
a reaquecer os ventos,
a fazer sentir de novo os dedos.
Cada um deles.
 A juntar os pedaços que restam...
Porque sempre restam,
cinzas, pedaços, frações...
Que o calor pode insistir,
em deixar viver...
Mesmo que tudo diga não.








Sobre Flores e Cinzas


Eu estive pensando
em momentos calmos...
Que a morte é uma realidade
muito mais de quem vive, do que
de quem morre...


Que a vida ou a morte,
existem, sobretudo, dentro de nós mesmos...
E então...
Quando uma pessoa, antes querida,
se torna intolerável demais
para os limites humanos...
É aconselhável matá-la...

Mas não torpemente
como em um crime hediondo.
Matá-la, para que não reste
dela mais pensamentos...
Para que não reste dela
mais nenhuma lembrança,
boa ou ruim...


Torná-la como um
jardim florido...
Sobre túmulos...
Dos quais não se ouve
murmúrio ou lamento,
sorriso ou lágrima,
emoção alguma...
Somente a lembrança do que
não pode mais ser...


E a certeza de que as dores se foram.
E ali sob os pés,
tornaram-se apenas
cinzas...
A serem levadas, dia após dia,
até o momento de nada mais
restar...
E o cemitério,
só lembrará as flores
das inúmeras visitas...
Monologadas...
Que somente os vivos presenciaram.
E os mortos...
Estes já não estavam mais...











Adriano Almeida é pesquisador na área de cultura, imaginário e simbologia do espaço. Mineiro, tem se dedicado a escrever poemas, crônicas e contos. Seus escritos, de caráter introspectivo, retratam, quase sempre, questões da existencialidade humana.





Renata Cordeiro é uma historiadora-musicista. Cantora, compositora, mineira. Como escritora tem percorrido os caminhos da crônica, da poesia e das narrativas em prosa. Suas produções se fazem numa simbiose entre elementos que vão da música aos profundos insights históricos.



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