sábado, 11 de agosto de 2012

A Arte do tenebrismo: Caravaggio e seus seguidores no MASP



"(...) as coisas pintadas por Caravaggio estão em um universo separado, em certo sentido morto".

(Pasolini, cineasta italiano)

Autor Anônimo, retrato de Michelangelo Merisi da Caravaggio a partir do desenho de autoria de Ottavio Leoni, gravura, Século XVII, Milão, Collezione Bertarelli


Chega a São Paulo, pela primeira vez, a tão esperada exposição que traz seis obras do mestre da pintura tenebrista do século XVII, Michelangelo Merisi da Caravaggio, e de 14 artistas que foram influenciados por ele, conhecidos como caravaggisti. A mostra Caravaggio e seus seguidores, que estava em cartaz na Casa Fiat, em Belo Horizonte, e aberta ao público a partir do dia 2 de agosto até 30 de setembro no Museu de Arte de São Paulo (Masp), foi idealizada por Rossella Vodret - uma das principais autoridades em Caravaggio na Itália e chefe da Superintendência Especial para o Patrimônio Histórico, Artístico e Etnoantropológico e para o Pólo Museológico da Cidade de Roma -, que também concebeu a exposição  A Lição de Caravaggio, no mesmo museu em 1998. A exposição tem curadoria, no Brasil, do crítico Fábio Magalhães (museólogo e ex-curador-chefe do Masp) e, na Itália, Giorgio Leone.

A exposição recebeu investimento de mais de 3,5 milhões de reais. Depois de passar por São Paulo, o conjunto de obras segue para a Argentina, onde será exibido no Museo Nacional de Bellas Artes de Buenos Aires.


Entre as obras  de Caravaggio presentes no Brasil que merecem destaque estão São Jerônimo Que Escreve, São Francisco em Meditação (com duas versões)  e a Cabeça de Medusa, clássicos do pintor lombardo. Os dois quadros têm autoria incontestada e histórica atribuída a Caravaggio, mas a mostra traz outras obras, algumas de coleções particulares, ainda de atribuição controversa, como a tela San Gennaro.

Além das obras do mestre tenebrista, a mostra apresenta pinturas dos seus seguidores da segunda metade do séc. XVI e início do séc. XVII.: Artemisia Gentileschi (1593-1653), Bartolomeo Cavarozzi (1587-1625), Giovanni Baglione (c.1566-1643), Giovanni Battista Caracciolo (1578-1635), Hendrick van Somer (1615-1684/85), Jusepe di Ribera (1591-1652), Leonello Spada (1576-1622), Mattia Preti (1613-1699), Orazio Borgianni (1574-1616), Orazio Gentileschi (1563-1639), Orazio Riminaldi (1593-1630), Simon Vouet (1590-1649), Tommaso Salini (1575-1625) e Valentin de Boulogne (1591-1632). 


Há também um módulo expositivo com os livros raros do acervo do MASP que trazem obras referenciais da época de Caravaggio como os dois famosos compêndios de biografias de artistas barrocos de Giovanni Pietro Bellori,  Le vite de' pittori, scultori et architetti moderni (As vidas dos pintores, escultores e arquitetos modernos), e o Le vite de'pittori scultori, architetti ed intagliatori de Giovanni Baglioni, e outros como Il microcosmo della pittura de Francesco Scannelli, L'Abecedario pittorico de Pellegrino Antonio Lanzi,  Storia picttorica della Italia, de Luigi Lanzi.


Michelangelo Merisi da Caravaggio, São Jerônimo, 1605-1066, óleo sobre tela, Galleria Borghese, Roma. Esta obra pode ser vista pelo público brasileiro na mostra Caravaggio e seus seguidores, em cartaz no MASP


Michelangelo Merisi Da Caravaggio, Cabeça de Medusa, c. 1598-1599, óleo sobre tela colada sobre uma rodela de madeira de choupo, Florença, Galleria degli Uffizi. A obra, uma das mais emblemáticas do pintor lombardo, pode ser vista na exposição Caravaggio e seus seguidores em cartaz no MASP


Michelangelo Merisi da Caravaggio, a exemplo do mestre de mesmo nome, Michelangelo Buonarrotti, a terribilitá jorra de seus pincéis, de seu sangue, de seu temperamento, de seu gênio. Nascido no vilarejo de Caravaggio, situada nas proximidades da região do Bergamo, na Lombardia, região esta de que também é oriundi "il cavalieri" Leonardo Da Vinci.
Caravaggio, que tomou como nome a cidade natal, tem sua biografia envolta por certa bruma de mistério, é também considerado pelos historiadores da arte como o mais influente e original pintor italiano do século XVII, talvez um dos mais revolucionários na tradição artística, por exatamente ter rompido com as normativas que, a partir do adensamento da cultura artística do Renascimento, guiaram a produção da arte, sobretudo no âmbito das academias. 

Em Roma, a "Cidade Eterna", 34 anos após a morte de Michelangelo Buonarotti, ele esteve na origem de uma reação violenta contra o "Maneirismo" - estilo a maniera michelangesca, que é associado à formas distorcidas, alongadas, uso de cores artificiais - e ao academicismo rafaelesco, as formas de pintar da geração antecessora, a quem considerava limitada, afetada. Também se opunha ao ao classicismo dominante dos CarracciCedo, travou contato com as obras de Lorenzo Lotto, Giovanni Girolamo Savoldo, e dos venezianos, como Tiziano Vecellio, e a formação básica de seu estilo pode ser creditada mais a essa experiência do que aos ensinamentos recebidos de Simone Peterzano, um aluno mediano de Tiziano.


Michelangelo Buonarotti, Ignudi, Pormenor do fresco da Capela Sistina, próximo do Dilúvio e por cima da Sibila da Eritreia, 1509, Capela Sistina, Vaticano, Roma. Como Caravaggio, também Michelangelo, seu predecessor, gostava de pintar jovens adolescentes, seus modelos e, segundo alguns estudiosos seus amantes. Mas seus Ignudi (nus) pretendem refletir e transmitir a beleza vinda da mão de Deus, enquanto os de Caravaggio são sempre equívocos



Michelangelo Caravaggio, São João Batista, óleo sobre tela, c. 1600, Musei Capitolini, Rome


Agnelo Bronzino, Alegoria do Trúnfo de Vênus ou Vênus, Cupido, a lourura e o Tempo, 1540-1545, óleo sobre madeira, National Gallery, Londres. Bronzino, florentino, foi um dos pintores maneiristas mais proeminentes, pupilo e filho adotivo do pintor Pontormo. Habilidoso na figuração é vista na obra que alegoriza o sensualismo da deusa do amor, que inspirava um refinamento decadente e, com suprema destreza, técnica, veicula uma sugestão de erotismo disfarçada sob o pretexto de uma alegoria moralizante



Parmigianino (Girolamo Francesco Mazzola), Madonna com pescoço comprido, 1534-1540, óleo sobre tela, Galleria degli Uffizi, Florença. Em sua "madonna", as formas da figura são extraordinariamente alongadas, afinando em direção ao alto, e a pintura apresenta um refinamento e uma graça que a incluem entre as obras arquetípicas do estilo maneirista



Lorenzo Lotto, Detalhe de Autorretrato, óleo sobre tela, 1527, Gallerie dell'Accademia, Veneza



Giovanni Girolamo Savoldo, Tobias e o anjo, 1530, óleo sobre tela, Galleria Borghese, Roma



Tiziano Vecellio, Amor Profano (Vaidade), óleo sobre tela, 1514-1515, Alte Pinakothek, Munique


Simone Peterzano, Angelica and Medoro, c. 1570-1572, óleo sobre tela



A Roma do século XVII era como Nova Iorque do século XX, cosmopolita, com muitas possibilidades de trabalho e de consagração, devido ao sistema das artes bem articulado, onde a aristocracia e a Igreja dominavam o mecenato. Lá estava uma miríade de artistas vindos de diversas regiões da península itálica, assim como de outras regiões da Europa. Em 1592, Caravaggio esteve na "Cidade Eterna", onde - além dos escândalos frequentes ocasionados por seu caráter intempestivo, brigas em tabernas, duelos, produtor de uma arte indecorosa - foi criticado pelo seu método à maneira veneziana, de pintura a óleo, que consistia em pintar diretamente sobre a tela a partir da observação direta do modelo (processo este bem retratado na livre adaptação cinematográfica da biografia do pintor realizada por Derek Jarman), omitindo o laborioso processo de preparação que era tradicional e do que os tratadista da arte chamavam de inventio, seleção feita pelo artista das melhores partes que integrariam uma composição narrativa, sendo este elemento seminal para a criação, não bastando copiar integralmente a figura de seu motivo.

Distinguem-se duas fases na carreira romana de Caravaggio: um primeiro período experimental (c. 1592 - 1599) e um período da maturidade (1599-1606), durante o qual levou a cabo diversas encomendas prestigiosas. Suas primeiras obras são em geral pequenas figurações de temas não dramáticos, com preponderância das naturezas-mortas, gênero menor da pintura, figuras de meio corpo de pinturas de gênero (cenas prosaicas, do cotidiano, sem narrativas grandiloquentes), e que apresentaram um aberto caráter homoerótico, a exemplo do Jovem Baco (c. 1595, Florença, Galleria degli Uffizi) e o rapaz com uma sesta de frutas (c. 1595, Roma, Galleria Borghese). Mais tarde suas figuras adquiriram maior plasticidade, tornando-se claramente articuladas, e passaram a ser pintadas em cores mais ricas, profundas e contrastantes, com empenho no efeito de sombras extremamente acentuadas, tratamentos que podem ser observados em Ceia em Emaús (c. 1598-1600, National Gallery of London). 

A fim de de intensificar o efeito realista das cenas retratadas, Caravaggio colocou os personagens de seus quadros sob uma luz forte, que dirige toda a atenção ao espectador sobre o que estava acontecendo. Os aspectos secundários são obscurecidos por sombras densas. O pintor chegou até a mostrar algumas figuras como se movimentassem ou gesticulassem fora da tela, em direção ao espectador.


Michelangelo Merisi da Caravaggio, Cesta de frutos, c. 1598-1599, óleo sobre tela, Milão Pinacoteca Ambrosiana. Até 1919m esta tela em trompe-l'óeleil era considerada como uma obra holandesa. Já não há quem conteste a atribuição a Caravaggio


Michelangelo Merisi da Caravaggio, O Jovem Baco, c. 1596-1597, óleo sobre tela, Florença, Galeria degli Uffizi


Michelangelo Merisi da Caravaggio, Rapaz segurando um cesto de frutas, c. 1593-1594, óleo sobre tela, Galleria Borghese, Roma


Leonardo Da Vinci, A ùltima Ceia1495–1498, têmpera sobre gesso, Santa Maria delle Grazie, Milão  


Tiziano Vecellio, Ceia em Emaús, 1530, óleo sobre tela, Musée du Louvre, Paris


Michelangelo Merisi da Caravaggio, Ceia em Emaús, 1540, Musée du Louvre, Paris


O segundo período em Roma iniciou-se com uma encomenda (obtida provavelmente sob os auspícios de seu primeiro primeiro patrono ilustre, o hedonista cardeal Francesco del Monte) para a decoração da Capela Contarelli na Igreja dedicada aos peregrinos franceses, San Luigi dei Francesi, (Vocação de São Mateus e Martírio de São Mateus, 1599-1600), na qual seus extraordinários avanços em termos de maestria na fatura, na composição, ação dramática e uso das tintas só foram alcançados após muito esforço, como atestam as análises de obras feitas por meio de raios-x. O retábulo que representava São Mateus e o Anjo foi rejeitado por ser considerado indecoroso, mas acabou sendo comprado mais tarde pelo marquês Vincenzo Giustiniani, um dos mais importantes mecenas de Roma, que também pagou pelo retábulo substituto. O primeiro retábulo estava em Berlim e acabou sendo destruído durante a Segunda Guerra Mundial; o substituto encontra-se ainda em situ, ambos foram executados em 1602.




Igreja San Luigi dei Francesi, Roma. A Igreja foi projetada por Giacommo della Porta e construída por Domenico Fontanaentre 1518 e 1589: os trabalhos puderam ser completados através da intervenção pessoal de Catarina de Medici, que doou de suas posses na região. Ali que se encontra a Vocação de São Mateus , de Caravaggio



Cappella Contarelli, Igreja San Luigi dei Francesi, Roma




Cappella Contarelli, cúpula afrescada por Igreja San Luigi dei Francesi, Roma



Cappella Contarelli, com as obras de Caravaggio A vocação de São Mateus e São Mateus e o Anjo



Michelangelo Merisi da Caravaggio, A Vocação de São Mateus, 1599-1600, óleo sobre tela, Cappella Contarelli da Igreja San Luigi dei Francesi, Roma



Michelangelo Merisi da Caravaggio,  São Mateus e o Anjo1599-1600, óleo sobre tela, Cappella Contarelli da Igreja San Luigi dei Francesi, Roma



As duas versões de São Mateus e o Anjo. A primeira versão (à esquerda) foi recusada pela representação do santo e do anjo ser considerada muito vulgar, fora do decoro teológico, pois os personagens se apresentam muito reais, e a cena sugere que São Mateus é um homem rústico e iletrado, como se o anjo guiasse a escrita do texto revelado ao simplório homem. A obra original foi destruída em 1945, na queda de Berlim, quando da derrota alemã na Segunda Guerra Mundial. Anteriormente estava no Kaiser-Friedrich-Museum, Gemäldegalerie. Há apenas registros desta obra em fotografias em livros do início do século XX. Na segunda versão, o anjo recuou e, em lugar de segurar familiarmente na mão do santo para guiá-la, apenas gesticula. São Mateus, por sua vez, é representado com traços mais gentis, é dotado de certa nobreza, e até mesmo ganha uma auréola, signo de sua santidade. Contudo Caravaggio foi ainda criticado por "não saber" representar anjos a voar e por pintá-los como "acrobatas"


Michelangelo Merisi da Caravaggio, Martírio de São Mateus, 1599-1600, óleo sobre tela, Cappella Contarelli da Igreja San Luigi dei Francesi, Roma


Nesse meio tempo, Caravaggio já assumira sua segunda grande encomenda pública - duas pinturas para a Capela Cerasi em Santa Maria del Popolo (Crucificação de São Pedro Conversão de São Paulo, 1600-1601), que impressionam pela economia de elementos, pela força da visão pictórica e pela nova abordagem de velhos temas. As pinturas da Capela Contarelli e da Capella Cerasi mudaram a orientação da obra de Caravaggio, que a partir de então dedicou-se quase exclusivamente à pintura de obras religiosas de grande porte, entre as quais contam-se o Sepultamento (1602-01604, Vaticano, Roma), A Virgem de Loreto (1603-1605, San Agostino, Roma), A Virgem dos Palafreneiros (1605, Galleria Borghese, Roma), e A Morte da Virgem ( 1605-1606, Musée du Louvre, Paris). As duas últimas obras recusadas por não estarem de acordo com o decoro e à "correção trológica". Apesar dessa incompreensão a respeito de seus trabalho, suas obras rejeitadas foram adquiridas de pronto por mecenas seculares. 



Igreja Santa Maria del Popolo, Roma



Cappella Cerasi em Santa Maria del Popolo, Roma. Na capela dois gostos do século XVII se confrontam: a arte classicizante de Annibale Carracci, observada na tela do altar, Assunção da Virgem, com cores vivas, e o tenebrismo de Caravaggio em Crucificação de São Pedro Conversão de São Paulo. Ambas as obras datam de 1600-1601



Michelangelo Merisi da Caravaggio, A conversão de São Paulo, 1601, óleo sobre tela, Cappella Cerasi em Santa Maria del Popolo, Roma



Michelangelo Merisi da Caravaggio, A crucificação de São Pedro, 1601, óleo sobre tela, Cappella Cerasi em Santa Maria del Popolo, Roma



Michelangelo Merisi da Caravaggio, A deposição no Túmulo, 1602-1603, óleo sobre tela, Pinacoteca do Vaticano, Cidade do Vaticano, Roma



Michelangelo Buonarotti, Pietá, 1499, mámore, Vaticano, Basílica de San Pietro, Roma


Pieter Paul Rubens, A Deposição do Túmulo, 1613-1615, óleo sobre tela, National Gallery of Canada, Ottawa. Obra inspirada em Caravaggio



Michelangelo Merisi da Caravaggio, Nossa Senhora dos Peregrinos, ou Nossa Senhora de Loreto, 1604-1605, óleo sobre tela, Cappella Cavaletti, Igreja Santo Agostino, Roma



Michelangelo Merisi da Caravaggio, Nossa Senhora dos Palafreneiros, ou Nossa Senhora da Serpente, 1605-1606, óleo sobre tela, Galleria Borghese, Roma



À esquerda: Leonardo Da Vinci, Virgem dos Rochedos, c. 1483-1486, Óleo sobre madeira, Musée du Louvre, Paris
À direita: Leonardo Da Vinci, Virgem dos Rochedos, c. 1495-1519, Óleo sobre madeira, National Gallery, Londres




Michelangelo Merisi da Caravaggio, A Morte da Virgem, 1606, óleo sobre tela, Musée du Louvre, Paris


Em 1606, depois de assassinar um homem em uma briga originada por uma aposta num jogo de péla (tipo de boccia), Caravaggio fugiu de Roma, e passou os quatros últimos anos de vida perambulando de Nápoles à Malta e à Sicília, e de lá para a Nápoles novamente.

Continuou pintando obras religiosas, num novo estilo purificado de todos os aspectos não-essenciais: redução de cores, tinta aplicada em finas camadas, o movimento e o drama das últimas obras romanas substituídos por um silêncio e uma contemplatividade comoventes. Destaca-se entre as obras desse período A decaptação de São João Batista (168, Catedral de Valetta, Malta), pintura de caráter sumamente trágico, uma encomenda da Ordem da Cruz de malta (nobiliarquia, em atividade desde o medievo, que visava defender a fé cristã face o Oriente e aos piratas "bárbaros"). Em Malta, fez uma série de encomendas para alguns membros, em destaque o retrato do grão mestre Alof de Wignacourt. Caravaggio acaba sendo entronizado cavaleiro da graça.


Michelangelo Merisi da Caravaggio, Retrato de Alof de Wignacourt,  1608, óelo sobre tela, Musée du Louvre, Paris




A arte de Caravaggio também está envolta por uma questão político-religiosa. O período em que viveu o pintor encontrava-se sob a influência da Companhia de Jesus, ordem religiosa criada por Inácio de Loyola, em 1534, no contexto da Contrarreforma, a reforma de cunho teológico-cultural-social empontada pela Igreja católica que visava fazer frente à Reforma Protestante.  O “Livro dos Exercícios Espirituais”, de  Inácio de Loyola, pregava a prática de penitências rigorosas para purgar os pecados mundanos. Seus adeptos releram a bíblia procurando vivenciar as experiências físicas – a dor, por exemplo – de Jesus e dos santos. A Cia de Jesus tinha como uma de suas características extrema disciplina e obediência cega ao papa. A vivência frugal e rígida destes "cavaleiros de Jesus" tinha a lógica da vida militar, isto é, como o cotidiano de uma caserna. Por conta disso, a arte produzida no contexto "barroco" tendia a enfatizar um forte impacto emotivo face aos temas religiosos, de modo a fazer uma narrativa com capacidade de enfrentar triunfantemente o cisma protestante. Os contemporâneos de Caravaggio ficaram muito impressionados com suas  pinturas. As inovações pictóricas que promoveu foram nesse sentido de reler realistamente muitas das passagens bíblicas e de moralizar os fieis induzindo-os à comoção por meio de imagens. Nesse sentido, a dramaticidade que Caravaggio confere às suas composições proporciona um sentido pedagógico aos fiéis fruidores. Contudo, muitos consideravam sua arte chocante e vulgar.

Caravaggio não tinha ainda 40 anos quando morreu vitimado por malária ao tentar retornar à Roma, esperando por um perdão das autoridades - perdão que seria concedido pouco depois de sua morte -, mas todas as suas últimas possuem aquela qualidade inefável presente nos trabalhos de um gênio já idoso. Sua atividade, curta mas prolífica e dotada de uma intensidade emocional formidável, é marcante por seu rápido desenvolvimento e pelo impacto que exerceu sobre a pintura europeia. Como Michelangelo Buonarrotti, não teve discípulos diretos, entretanto deixou uma legião de seguidores, os "Caravaggisti". Sua obra junto aos Carracci, resgatou a pintura italiana da nebulosa arficiosidade afetada da arte maneirista que havia caracterizado o século XVI.

O nome de Caravaggio conservou sua fama ao longo de todo o século XVII, mas muitos consideravam um "gênio mau", como nas palavras de Vincenzo Carducci, pintor e crítico de arte da primeira metade do século XVII, escritas em 1633, em sua obra Diálogos de la Pintura, em que defende a tradição heroica italiana e critica de forma contumaz o caráter naturalista de Caravaggio. Para Carducci tal gênio diabólico era uma influência perniciosa sobre outros artistas. Giovanni Baglione pintor e escritor, autor de Le Vite de' pittori, scultori, ed architetti (1642), escreveu:

Alguns o veem como a própria ruína da pintura, pois muitos artistas jovens, seguindo seu exemplo, simplesmente copiam cabeças de modelos naturais, sem estudarem o funcionamento do desenho e profundidade da arte (...) e são incapazes de unir duas figuras ou de compor uma história, pois não entendem o alto valor da nobre arte de pintar".

Baglioni chegou a processar Caravaggio e três outros pintores, acusando-os de divulgarem poemas satíricos grosseiros a seu respeito. O ódio que nutria a Caravaggio transparece flagrantemente na biografia do pintor que consta de seu "Vite"; ironicamente, porém, as melhores obras que produziu em sua mediana mas bem sucedida carreira, foram aquelas que se aproximam à maneira caravaggesca. Seguindo o mesmo tom de Baglioni, Giovanni Bellori (biógrafo, teórico da arte, antiquário e colecionador italiano do período barroco) escreveu:

Não há dúvida de que Caravaggio contribuiu para o avanço da arte e da pintura, pois apareceu numa época em que o realismo não estava tão em moda, e em que as figuras eram desenhadas de acordo com a convenção e o costume, satisfazendo mais o gosto pela graciosidade do que as exigências da verdade.

Bellori foi fundador da Academia francesa de Arte, e na elaboração da qual foi ajudado pelo pintor e amigo francês Nicolas Poussin. Em sua obra demonstra entusiasmo em relação à Rafael Sanzio, Aniballe Carracci e o próprio Nocolas Poussin, sendo tais escritos seminais quanto à teorização do classicismo e do academicismo, corpus teórico que direciona práticas artísticas de que não faz parte Caravaggio. Mas Bellori também considerava que Caravaggio "pôs abaixo a majestade da arte", e que devido à influência dele "cada um passou a agir conforme seus próprios padrões, e o pelo perdeu seu valor. A Antiguidade perdeu toda a sua autoridade, assim como Rafael (...) alguns artistas passaram a dedicar-se com a impureza e a deformidade", prossegue Bellori.



Michelangelo Merisi da Caravaggio, A degolação de São João Batista, 1608, óleo sobre tela, Oratório da Catedral de São João, La Valetta, Malta. Única obra assinada por Caravaggio. Seu nome parece estar traçado com o sangue que sai do pescoço de São João Batista, precedido da letra F da palavra "Fra", o que significa que quando da entrega da obra, o pintor é entronizado como cavaleiro da graça. Esta obra teve muita notoriedade, e foi deveras muito contemplada, embora tenha suscitado certa polêmica: a Capela dos Italianos, na Catedral de Malta, onde a obra foi afixada, era ponto de encontros dos cavaleiros da Cruz de Malta. A pintura fora pendurada em uma parede falsa que dava acesso a um pátio onde se fazia o julgamento dos irmãos de ordenação faltosos. São João, mártir, pode ser associados ao irmãos que os demais se empenham em condenar. Há também a hipótese de Caravaggio fazer-se representar na situação de martírio por sua situação de perigo após seu delito e a fuga de Roma




Michelangelo Merisi da Caravaggio, O Repouso durante a fuga para o Egito, c. 1596-1597, óleo sobre tela, Galleria Doria Pamphili





Nicolas Poussin, A fuga para o Egito1657, óleo sobre tela, Musée des Beaux-Arts, Lyon




Michelangelo Merisi da Caravaggio, As Sete Obras da Misericórdia, 1606, óleo sobre tela, Igreja Pio Monte della Misericordia, Nápoles




Michelangelo Merisi da Caravaggio, O Amor Triunfante, 1602, óleo sobre tela, Gemäldegalerie, Staaliche Museen zu Berlim, Stiftung Pressuischer Kuturbesitz



Giovanni Baglione, Amor Sacro e Amor Profano, 1602, óleo sobre tela, Galleria Nazionale d'Arte Antica, Roma


Tiziano Vecellio, O Anjo Gabriel, detalhe do Políptico Averoldi, c. 1522, Igreja de S.S Nazaro e Celso


Rafael Sanzio, São Miguel aniquilando o Satã, 1518, óleo sobre tela, Musée du Louvre, Paris


Aniballe Carracci, detalhe de anjo da Anunciação, 1588, óleo sobre tela


O interesse por Caravaggio declinou no século XVIII - e o pintor não é mencionado nos Discursos do pintor e teórico inglês do século XVIII, Sir Joshua Reynolds, defensor do "Grande Estilo", ou legado da tradição clássica. Mas o mestre tenebrista volta à baila na metade do século XIX. Nessa época considerava-se a rejeição de Caravaggio à beleza ideal como tendo a vantagem da verdade, mas ainda havia aqueles que, como o crítico de arte inglês John Ruskin, viam nele "a busca perpétua do deleite do horror e da feiúra, e a sujeira do pecado", (Pintores Modernos, vol.ii, 1846).

A pesquisa histórica da sua obra teve início nos primeiros anos do século XX. Desde então Caravaggio tem atraído muitos comentários e especulações pelos críticos. O historiador da arte italiano Roberto Longhi, incansável e mais notável estudioso sobre a vida e obra do pintor, foi o grande responsável por retirá-lo do ostracismo das artes, o recolocando em um lugar honroso, junto dos grandes mestres. Longhi catalogou a grande exposição de Caravaggio e dos caravaggistas em 1951, e em sua obra magistral sobre o "pintor proscrito", faz sua defesa em relação as injustiças de sua fortuna crítica na história da arte ao escrever: 

Não admira que, diante de uma vida infeliz e atormentada como a de Caravaggio, os historiadores dos Seiscentos se empenhassem em transformar cada passagem sua, desde o começo, para encaixá-la num retrato tipicamente popular ("plebeu", como se dizia então), indecorosa do artista.
Foi assim que Caravaggio, desde menino, na Lombardia, converteu-se em filho de pedreiro, em misturador de cal e preparador de cola para os caiadores milaneses. Certamente não seria preciso carregar nas tintas para narrar o resto da sua vida, sobretudo os anos em Roma, Nápoles e Malta, mas não faltou quem o fizesse e até houve quem gostasse de fixar a data de sua morte, por razões de correspondência simbólica, um ano antes da data verdadeira.
A crítica moderna fez justiça a essas aberrações e até àqueles preconceitos que quase se poderiam dizer "clacissistas" na sua intenção de nos apresentar um Caravaggio sujo e irregular, numa relação de equivalência com o juízo negativo sobre a sua arte; na verdade, recorrendo aos testemunhos mais antigos e menos acautelados, ela pôde restabelecer uma sequencia de fatos que, em particular nos primeiros tempos, não apresenta nada de anormal.

E prossegue Longhi:

(...) a crítica de arte italiana de Caravaggio resvala no pântano da "idea" belloriana e fica ali a coaxar contra o artista até os tempos neoclássicos. Assim, poderíamos dizer que a história de um infortúnio. Mas pelo menos traz a vantagem de que a moda fantasiosa e luxuriante do barroco veio a florescer abundante sobre a pessoa de Caravaggio, quase como uma figura de romance. Assim, entre verdades e falsidades, desde meados dos seiscentos, de Bellori a Passeri, a tétrica vida de Caravaggio está pronta para a novelística do romantismo.
Por outro lado, foi uma verdadeira fortuna, e não mais infortúnio, que a crítica de Caravaggio não tenha se restringido aos acadêmicos italianos. Da Espanha à Holanda, muitos entenderam melhor o seu alcance e função na Europa. E como podia ser diferente nas nações de Velásquez ou de Zurbarán, de Rembrandt ou de Vermeer? A despeito da tendência acadêmica, é compreensível que a admiração e o assombro por aquele "monstro de natureza" sejam tão transparentes nos diálogos entre Vicente Carducho [Vicenzo Carducci] e Francisco Pacheco. Velásquez, para eles, não é senão "um segundo Carabacho", como Palomino dirá explicitamente ainda em 1724. 


 Sobre Caravaggio, Ellis Waterhouse também escreveu:

O leitor inocente da literatura dedicada à história da arte pode ser desculpado por supor que o lugar dele [Caravaggio] na história da civilização situa-se em algum ponto em termos de importância, entre Aristóteles e Lenin".

Caravaggio é conhecido pelas suas experimentações pioneiras e pela técnica claro-escuro. Segundo Giorgio Leone, curador da mostra, o pintor italiano entende o drama da existência e sabe como colocá-la de maneira realista na sua obra. É inegável a vivacidade e o movimento que caravaggio confere às suas pinturas, me muitas delas é como se os personagens se movimentassem para fora da tela, como num enquadramento de cinema, e é este aspecto dramático que antecipa a sétima arte que encantou o cineasta Pasolini:

O que me encanta é esse diafragma luminoso que torna as figuras distantes, artificiais, como que refletidas em um espelho cósmico. Seus rostos vulgares adquirem uma característica mortuária. Os personagens estão doentes. Eles, que por definição, deveriam ser vitais, trazem a pele abatida pela cinzenta palidez da morte.



Michelangelo Merisi da Caravaggio, Baco Doente (Auto-retrato), c. 1593-1594, óleo sobre tela, Galleria Borghese, Roma

Caravaggio é um dos poucos pintores a não ter deixado pupilos, a exemplo de Michelangelo Buonarotti, tampouco fundou uma escola como os Carracci, mas deixou uma legião de seguidores de sua arte, denominados de Caravaggisti. Os métodos de Caravaggio, e em particular o uso enfático do chiaroscuoro, para obter um realismo dramático, exerceram enorme influência em Roma na primeira década do século XVII - tanto sobre os pintores italianos quanto sobre os artistas estrangeiros que afluíam àquela que, então, era a capital da arte europeia. Sua fama já havia se difundido em 1603, quando Karel van Mander, em Haarlem, escreve sobre: "Michelangelo Caravaggio que está fazendo coisas extraordinárias em Roma".
Entre os maiores caravaggistas italianos encontra-se Orazio Gientileschi, um dos poucos seguidores que tiveram contato pessoal com o mestre, e Bartolomeo Manfredi, que popularizou as cenas de tabernas e salas de guarda (temas que o próprio Caravaggio jamais havia pintado).
Em Nápoles, cidade por onde Caravaggio estabelece estadia em 1606, Giovanni Battista Caracciolo, Artemisia Gientileschi e Jusepe de Ribera (espanhol de nascimento) fizeram com que o estilo à maneira de Caravaggio criasse raízes. Em Roma, o caravaggismo saiu de voga na década de 1620, mas persistiu em outras localidades da península itálica e da Europe - sobretudo na Sicília (que Caravaggio chegou a visitar), na Lorena, noroeste da França, e em Utrecht, região central da Holanda, lugares onde subsistiu até meados da década de 1650. Baburen, Honthorst e Terbrugghen foram os artistas que fizeram de Utrecht (região de ancestralidade cultural católica) o centro do caravaggismo holandês; na Lorena, Georges de La Tour aperfeiçoou aquela que talvez seja a interpretação mais pessoal e poética do estilo. Poucos grandes pintores trabalham no estilo caravaggesco ao longo de toda a sua carreira; alguns, como Guido Renni, flertaram brevemente com o estilo, enquanto outros, como Honthorst (que se tornou um retratista de corte), mudaram por completo de direção.
O caravaggismo foi, contudo, um fenômeno de grande importância, e alguns dos gigantes da arte do século XVII, como Rembrandt van Rijn, Peter Paul Rubens e Diego Velásquez.


Michelangelo Merisi da Caravaggio, São Francisco em meditação, 1606, óleo sobre tela, Galleria Nazionale d’Arte Antica di Palazzo Barberini, Roma


Jusepe de Ribera, São Francisco de Assis, 1643, óleo sobre tela,  Palazzo Pitti, Florença


El Greco,  Êxtase de São Francisco com os Estigmas, c. 1600, Óleo sobre tela, Museu de Arte de São Paulo



Orazio Gientileschi, São Francisco e o anjo, 1612-13,  óleo sobre tela,Galleria Nazionale d'Arte Antica, Roma



Michelangelo Merisi da Caravaggio, David com a cabeça do Golias, 1609-1610, óleo sobre tela, Galleria Borghese, Roma


Guido Reni, David com a cabeça do Golias, 1605, óleo sobre tela, Musée du Louvre, Paris


Bartolomeo Manfredi, O Triunfo de David (Davis e o Golias), c. 1615, óleo sobre tela, David and Goliath (The Triumph of David)Musée du Louvre, Paris



Michelangelo Merisi da Caravaggio, Coração de espinhos, 1603, óleo sobre tela, Cassa di Risparmio, Prato











Giovanni Battista Caracciolo, “L’agonia di Cristo”, 1615, óleo sobre tela, Kunsthistorisches Museum, Viena





Michelangelo Merisi da Caravaggio, Ceia em Emaús, 1606, óleo sobre tela, Pinacoteca di Brera, Milão



Rembrandt Harmenszoon van Rijn, Cristo em Emaús, 1648, óleo sobre tela, Musée du Louvre, Paris





Michelangelo Merisi da Caravaggio, Judith e Holofernes, 1598-1599, óleo sobre tela, Galleria Nazionale d'Arte Antica at Palazzo Barberini, Rome



Artemisia Gientileschi, Judith e Holofernes, óleo sobre tela, 1620, Galleria degli Ufizzi, Florença


 Peter Paul Rubens,  Judith com a cabeça de Holofernes, 1616, óleo sobre tela



Giovanni Baglione, Judith degolando Holofernes1608, óleo sobre tela




Michelangelo Merisi da Caravaggio , Tocador de alaúde, c. 1596, óleo sobre tela, coleção particular



Dirck van Baburen, Jovem a cantar, 1622, óleo sobre tela, Städel Museum, Frankfurt am Main, Photo: Städel Museum



Gerrit van Honthorst), O violonista com copo de vinho, 1623, óleo sobre tela, Amsterdam, Rijksmuseum




Hendrick Terbrugghen, Jovem mulher a ler partitura, 1628, óleo sobre tela, Basel, Kunstmuseum, Photo: Kusnstmuseum Basel


Gerart Teunisz, Rembrandt como pastor com flauta, c. 1636, óleo sobre tela



Diego Velázquez, Três Músicos, 1618, óleo sobre tela, Staatliche Gemaldegalerie, Viena




Michelangelo Merisi da Caravaggio, A Adivinha, c. 1596-1597, óleo sobre tela, Musée du Louvre, Paris



Simon Vouet, Leitora de sorte1618, óleo sobre tela, National Gallery of Canada, Ottawa




Georges de La Tour, A cartomante, c. 1630, óleo sobre tela, Metropolitan Museum of New York


Michelangelo Merisi da Caravaggio, A Conversão de Madalena ou Marta censurando Madalena por sua vaidade, c. 1598, óleo sobre tela, Detroit Institute of Arts, Detroit, Michigan




Michelangelo Merisi da Caravaggio, Narciso, c. 1598-1599, óleo sobre tela, Galleria Nazionale d'Arte Antica, Palazzo Corsini, Roma




Quanto à fortuna histórica do pintor proscrito conclui Longhi:

 Com aquela carga toda da Renascença por trás de Caravaggio, já havia o suficiente para se vangloriar, sem precisar relembrá-lo. Afinal: 'Calomniez, calomniez, quelque chose restera'. De fato, alguma coisa restara e restou até pouco tempo atrás na desconfiança das gerações mais antigas quanto ao incogruente Caravaggio. Mas não foi apenas por culpa dos italianos, que, pelo contrário, no novo século - a crítica caravaggiana na Itália se inicia na primeira década do século XX -, tentaram alcançar a Europa e, trabalhando em tempos difíceis, abriram caminho para aquela afirmação da crítica em ação que consistiu na exposição de Caravaggio e dos caravaggianos em 1951. Em torno dela, viu-se reacender, tal como nos dias do artista, aquela rosácea de reflexos imediatos, de iluminação e contrastes que pertencem a todo o público e sempre oferecem os sinais mais seguros para garantir que um pintor ainda está vivo.

É certo que mesmo encoberto pelas brumas do tempo, pela boataria que recria sua biografia em múltiplas matizes, seu legado está vivificado na história da arte.  Mesmo que as telas do mestre tenebrista em exposição no MASP sejam poucas, vale a pena, pelo menos neste poucos meses de mostra, o privilégio de contemplar a força e a paixão de seu caráter evidenciados em suas obras.



In Ars Veritas.



Para conhecer mais a vida e obra de Michelangelo Caravaggio:

Site da exposição Caravaggio and his Followers in Rome,  Kimbell Art Museum:

http://caravaggio.kimbellart.org/exhibit/sacred-narrative/david-and-goliath-triumph-david

Primeiro capítulo da série O Poder da Arte, dedicado a Michelangelo Merisi da Caravaggio, produção da BBC de Londres com o historiador britânico Simon Schama.






http://www.youtube.com/watch?feature=endscreen&NR=1&v=H4gAcQCHjZg


Episódio da série PALETAS, que analisa as simbologias e as técnicas empregadas por artistas em diferentes momentos da história da arte. Neste programa, se utiliza de raio X, infravermelho e animações para dissecar um famoso quadro do pintor italiano Michelangelo Merisi (1571-1610), mais conhecido como Caravaggio.



Trailler da complexa biografia de Michelangelo Merisi da Caravaggio, pintor italiano do século XVII, segundo a visão livre e peculiar do cineasta inglês
Derek Jarman, que traz uma impressionante reflexão sobre a arte, a sexualidade e a identidade. Muitas vezes apontado como o primeiro artista moderno, ele é aqui retratado como um homem selvagem, desregrado e escandaloso. Na película, o chiaroscuro das telas do artista lombardo é transposto para o écran a partir de um fantástico trabalho de Jarman sobre a luz, a cor e a encenação. É importante destacar que não se trata de uma biografia histórica, o cineasta se permite muita liberdade tanto quanto à interpretação da vida do pintor quanto recria seus contextos de forma atemporal. Filme vencedor do Festival de Berlim (1986) e Urso de Prata para Melhor Realizador.

Ficha técnica:

Com: Nigel Terry, Dexter Fletcher, Noam Almaz, Spencer Leigh, Tilda Swinton, Sean Bean, Dawn Archibald, Robbie Coltrane, Garry Cooper, Nigel Davenport, Michael Gough, Jonathan Hyde

Realização: Derek Jarman
Argumento: Suso Cecchi d'Amico, Nicholas Ward Jackson, Derek Jarman
Música original: Simon Fisher-Turner
Direcção de fotografia: Gabriel Beristain
Montagem: George Akers
Direcção artística: Michael Buchanan
Guarda-roupa: Sandy Powell
Produção: Sarah Radclyffe

REINO UNIDO - 1986 - 93' -cor




Imagens do caravaggista holandês Gerret van Honthorst

http://www.youtube.com/watch?v=P8VYqXC0LBw




Bibliografia:

ARGAN, Giulio Carlo. Imagem e Persuasão - ensaios sobre o barroco. Trad. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.

BELLORI, Giovan Pietro. Le vite de’ pittori e architetti moderni. Turim: Einaudi, 2009.

BUSSAGLI, Marco; REICHE, Mattia. Baroque & Rococo. Nova Iorque: Sterling Publishing, 2009.

CARL, Klaus; Charles, Victoria. Baroque Art. Nova Iorque: Parkstone International, 2009.

CHILVERS, Ian (Org.). Dicionário Oxford de Arte. Trad. Marcelo Brandão Cipolla. São Paulo: Martins Fontes, 2007.

FALUCCI, C., Caravaggio, La bottega del gênio, Catálogo da Mostra, Palazzo Venezia, dez 2010 – mai 2011, Roma, L'Erma di Bretschneider Ed., 2010.

FRANKLIN, David, Caravaggio and his circle in Rome, New Haven, Yale Univ. Press, 2011.

FUMAROLI, Marc, Le sentiment des images au XVIIe Siècle, Paris, Champs, s.d.

LAMBERT, Gilles. Caravaggio. Trad. Zita Moraes. Colônia: Taschen, 2006.

LONGHI, Roberto. Caravaggio. Trad. Denise Bottman. São Paulo: Cosac & Naify, 2012.

______________. Di Cimabue a Morandi, Mondadori, 1982.

MAINSTONE, Madaleine; MAINSTONE, Rowland. O Barroco e o século XVII. Trad. Àvaro Cabral. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editores, Coleção Introdução à História da Arte da Universidade de Cambridge,1986.

SCHAMA, Simon. O poder da Arte. São Paulo: Cia. Das Letras, 2010.

STRINATI, Claudio; VODRET, Rossella. A Lição de Caravaggio - obras primas das Coleções da Galleria Nazionale d'Arte Antica di Roma. São Paulo: Museu de Arte Moderna de São Paulo, 1998.



WOLFLINN, Heinrich. Conceitos fundamentais da História da Arte. São
Paulo: Martins Fontes, 2006.




Mariana Zenaro é graduada e licenciada em História pelo Centro Universitário Fundação Santo André e bacharel em Comunicação Social, com ênfase em Jornalismo, pela Universidade Metodista de São Paulo. Tem Pós-Graduação, MBA em Bens Culturais: Cultura, Economia e Gestão, pela Fundação Getúlio Vargas. Frequentou os cursos livres de História da Arte na Escola do Museu de Arte de São Paulo (MASP) por dois anos e meio. Trabalhou em Museus, Arquivos e Instituições Culturais. Foi voluntária no Centro de Documentação e Biblioteca do Museu de Arte Moderna de São Paulo. Dá cursos e palestras sobre história da arte em fundações, centros culturais e no Centro de Capacitação para professores da rede pública municipal de São Caetano do Sul (CECAPE- SCS). Atualmente trabalha na divisão de pesquisa e produção da Difusão Cultural da Fundação Pró-Memória de São Caetano do Sul.




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