quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Adeus Lenin - memória e subjetividade


Hoje publico reflexões de discentes da UFABC sobre o filme Adeus Lenin (Alemanha, 2002, dir. Wolfgang Becker). Tal filme para mim é muito especial, uma vez que morei em Berlim, local onde acontece toda a trama. Além disso, ele mostra um olhar diferente da grande mudança histórica que foi a Queda do Muro de Berlim, enfatizando a dimensão da memória, no dizer de Pierre Nora, afetiva, fluída e mágica. Pensar em famílias, pessoas, subjetividades que foram transpassadas por uma grande mudança como essa é algo necessário e traz novas perspectivas para se pensar essa problemática.

Entre Ostalgie e cosmonautas 

O artigo “Cicatrizes deixadas pelo Muro de Berlim” (DIETRICH, 2004) e o filme Adeus Lenin têm como principais pontos em comum a nostalgia (chamada de no texto de Ostalgie - nostalgia do leste) dos elementos mais simbólicos da Guerra Fria, como exemplo a corrida espacial. O sentimento revela a esperança que o socialismo colocou nas pessoas da Alemanha Oriental e nas que acreditavam na ideologia no mundo. O título do filme explora a imagem de um personagem marcante da luta socialista. 
A noção nacionalista tem um elemento que se destaca em relação a outros países: enquanto a população em alguns locais do mundo dá preferência a produtos nacionais ao invés dos importados, os alemães orientais não tiveram essa opção. De um dia para o outro, toda a economia estava inserida no mercado e os produtos do Estado haviam desaparecido e sido substituídos por estrangeiros. Essa troca brusca, a mudança da moeda e a fuga dos “cérebros” da Alemanha Oriental provocaram o sentimento de traição na população que viveu toda a vida no país. 
Quando o vizinho dos Kerner reclama que passou “40 anos trabalhando para isso” e quando Alexander pergunta ao médico se ele também irá fugir para o outro lado são mostras do apelo emocional que essa população detinha com a causa socialista nacional. Mas, o mais interessante é o modo como o protagonista decide encerrar a história do país para sua mãe. Ao colocar o cosmonauta que ele tanto gostava quando criança para ser o novo presidente da Alemanha Oriental e em seu discurso dizer que por ter visto a Terra do alto, detinha uma visão diferente do mundo, a ideia por trás do discurso não é contrária ao socialismo, e sim do modo como ele se transformou. 
O protagonista, assim como muitos que viveram em países socialistas, não queriam mais viver nos seus países-prisões, mas também não se sentiam felizes em abandonar suas terras natais para trabalhar em fast-foods no Ocidente. E o mais forte do discurso é a ideia de que o socialismo não funcionou, mas as pessoas nunca se esqueceriam de suas conquistas.

Assim, pode-se dizer que Adeus Lenin é um retrato de “dois mundos”, com um marco importante: a queda do muro de Berlim. O próprio enfarte da protagonista, Sra. Kerner, pode ser visto como uma metáfora da queda do muro de Berlim. Mostra um choque entre tudo o que ela acreditava e idealizava e a manifestação política contra a ex-Alemanha Oriental, simbolizando a violência e a brutalidade entre jovens, entre eles, seu filho. 
A idealização do socialismo foi consagrada nos “noticiários” feitos pelo filho. Toda a recriação do regime mostrava um mundo socialista ideal, como defendido pela mãe, que já não mais existia na vida real, que agora reproduzia os ideias capitalistas: Burger King, Coca-Cola, desvalorização da moeda, o consumo representado pela troca dos móveis e pela própria decisão da filha: trocar os estudos de teoria econômica pelo emprego em uma lanchonete americana. 
A recriação do universo socialista, idealizado pelo filho, é a reprodução ideológica do que o regime socialista fazia com seus camaradas.

Rafael, Cristiane, Queli, Arnaldo Aguiar Jr. e Rebeca 

Leia também o texto de Lucca Amaral Tori e Luana Homma sobre o mesmo assunto.
Cicatrizes de concreto: macro e micro-história


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