sexta-feira, 26 de julho de 2013

O Poeta e o Tempo


Caros leitores,


Hoje apresento lhes um texto recente que reflete algumas importantes mudanças nas lentes com as quais percebo a realidade. “O poeta e o tempo” apresentou-me a constatação de transformações sutis, mas complexas. Talvez marque o momento em que uma simbiose de novas condições vividas se efetivam no papel. O poeta fala sobre o que pulsa em seu mundo existencial interno, o modo como lhe angustia e lhe excita as experiências cotidianas. Meus textos são uma exteriorização de seus momentos mais próprios, ainda que as palavras possam não fazer sentido algum para quem as lê. Inegável é a mim que os meus escritos me revelam... Não no exato tempo em que os acontecimentos sucedem. Muitas vezes dias, meses, anos, se dão entre eles e seus reflexos poéticos. Contudo, ainda que dentro de uma descontinuidade no tempo, e no espaço, meus versos concretizam, cicatrizam, libertam as realidades existenciais mais íntimas que trago. São, ao mesmo tempo, um quadro de lembranças e uma carta de alforria.


Adriano Almeida.



O poeta e o tempo



Medo de mim,
dos passos tortos...
Dos silêncios não-ditos.
Das ruas metálicas...


Sinto a ausência das flores,
o drama dos normais...
Abraços de assalto,
sonhos de titânio.


Onde se perdem os dias,
por onde vão os gritos?
Seus versos tristes,
suas pontes de areia...


Toma-me a monotonia fria,
em pincéis azuis...
Sobre o mogno envelhecido...
Fitando-me os rascunhos vazios.


Murmura a canção,
em palavras soltas,
perdida entre motores tímidos.
Maquinizando o dia...
Fugindo os poetas,
 em seus tempos incompreendidos...





Adriano Almeida é pesquisador na área de cultura, imaginário e simbologia do espaço. Mineiro, tem se dedicado a escrever poemas, crônicas e contos. Seus escritos, de caráter introspectivo, retratam as incertezas, os conflitos, a melancolia e os encantos da existencialidade humana.




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