sábado, 16 de novembro de 2013

SI NO PODEMOS SER VIOLENTA, NO ES NUESTRA REVOLUCIÓN





 
SI NO PODEMOS SER VIOLENTA, NO ES NUESTRA REVOLUCIÓN

    Essa coluna sai um pouco atrasada, mas precisava esperar que passasse o I Seminário Internacional Desfazendo Gênero – Sujetividade, Cidadania, Transfeminismo, idealizado pela Professora Berenice Bento e que aconteceu na Univerdidade Federal do Rio Grande do Norte, em Natal. O Seminário é, nas palavras de Richard Miskolci,  uma provocação ao acalentado Fazendo Gênero, Seminário que em 2013 completa sua décima edição sob o título Desafios Atuais dos Feminismos e que acontece em Florianópolis, Santa Catarina. A ideia, segundo Miskolci, veio depois da Conferência de abertura do Fazendo em que um cultuado pesquisador português foi aplaudidíssimo depois de uma fala conservadora.
    Assim nasceu um dos mais importantes encontros científicos dos últimos tempos. Importante porque coloca em pauta importantes temas, quais sejam, o do deslocamento das identidades, o apagamento das fronteiras binárias e dicotômicas (masculino/feminino; heterossexual/homossexual; passivo/ativo), a biologização dos desejos,  entre tantos. O Seminário Desfazendo foi um encontro de combate. Mas foi importante, também, porque apostou que a Arte pudesse ser, em meio às Ciências Sociais, à Saúde, à Antropologia e outros campos do conhecimento, ferramenta potente em desestabilizar o cento colonizante.
    Eu mesmo participei de uma mesa de discussão em que o tema era a politização do abjeto, em especial, “O que podemos aprender com um teatro de abjeções”. Essas indagações serão publicadas no livro do Seminário, mas acho válido, aqui, partilhar um pouco o que penso a esse respeito.
    Primeiro, “eu nada tenho a ver com Guimarães Rosa, estou escrevendo sobre pessoas empilhadas na cidade enquanto os tecnocratas afiam o arame farpado”, por isso o teatro que venho praticando se assemelha a ao que Rubem Fonseca chamou de pornografia terrorista, espécie de linguagem ao avesso, parafraseando Carlinda Fragale Pate Nuñez, que encontra o seu sentido e efetiva seu poder demolidor junto ao discurso vigente, ou como já previra Rubem Fonseca, em 1975, no conto Intestino Grosso, o teatro que penso é uma alternativa à “fantasia oferecida às massas pela televisão hoje”, o avesso do avesso do avesso do avesso, que seu personagem batizou de “pornografia terrorista”.
    Essa “pornografia terrorista” estava, de algum modo, espalhada por todo o Seminário, vejam o texto do manifesto da ocupação feita em um banheiro masculino:
“O banheiro dos homens foi ocupado. E não como de costume, por seus corpos castrados de cu, sua inteligência de self-made man, sua racionalidade a toda prova, suas políticas viris e todas essas mijadas-em-pé do macho hétero ocidentalóide. O banheiro dos homens está, desta vez, ocupado por uma horda de homens fracassados, sapatânicas assassinas, bichas anômalas, translésbichas extra-terrestres; gente do fora, gentália, gente que não fala a língua da normalidade e que, por isso, procria dialetos estrangeiros; gente que estrangeiriza o de casa, porque não tem casinha, caixa, etiqueta, padrão de fábrica. O banheiro dos homens foi ocupado por gente que resiste a viver com medo de não ser homem, gente que desfaz o homem, implode-o em submasculinidades, femininos excessivos e seis mil outros gêneros não catalogados”.


    Estava também na potente criação de Silvero Pereira, “Uma flor de dama”, que provou sem qualquer sombra de dúvida, que “Si no podemos ser violenta, no es nuestra revolución”, refrão cantado pela banda que encerrou esse encontro que já tem sua segunda edição garantida em 2015, em Salvador.





Djalma Thürler é um artista multidisciplinar. Professor Adjunto da UFBA com estágio de Pós-Doutoramento em Literatura e Crítica Literária e Diretor de Teatro. Pertence ao Programa Multidisciplinar de Pós-Graduação em Cultura e Sociedade / UFBA. Programa de Pós-Graduação Estudos Interdisciplinares sobre a Universidade / UFBA Instituto de Humanidades, Artes e Ciências (IHAC/UFBA) CUS - Grupo de Pesquisa em Cultura e Sexualidade GENI - Gênero, Narrativas e Políticas Masculina.

1 comentários:

Falcao Vasconcellos disse...

Sou extrangeiro, tou entrando agora nesse território
Bão demais para quem gosta de matutar. Nada como beber em fontes matutas.Comi, degustei, degluti.
Vamos ver o o que procede à digestão.

25 de agosto de 2013 às 19:28

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