quarta-feira, 18 de março de 2015

Berlim in Progress II




Um pouco mais sobre as mudanças na cidade que se refaz metrópole. Ainda pensando na formação daquela estética do feio e do abandonado. Aqui, a esquina de casa quando me mudei, para mim foi  como um alívio do tudo "bonitinho e certinho" e uma familiaridade com muitas esquinas do Brasil. Fiquei feliz quando consegui o apartamento!




Mas voltando à história. Em novembro de 89 o muro caiu diante das conjunturas econômicas e de um mal entendido. Nos anos que que seguiram, os primeiros da década de 90, a cidade viveu uma espécie de "ausência de poder" ou melhor um: "e agora". Os jovens alternativos do lado capitalista se aventuraram no antigo lado comunista, em muito quase abandonado. Era comum as famílias saírem de suas casas às pressas e com apenas alguns pertences, pois não sabiam se as fronteiras continuariam abertas. Amigos relatam sobre apartamentos abertos, abandonados completamente mobiliados e até com a mesa posta. Prédios foram ocupados por grupos autônomos e outras pessoas passaram a morar nos apartamentos abandonados.
A paisagem dos bairros era triste e chocante para quem conhecia a Alemanha "bonitinha" capitalista.



Passaram-se os primeiros anos as coisas foram tomando sua ordem - tão cara ao povo alemão - e, como disse, a cidade passa a ser reformada sistematicamente. Vale clicar nesta página, que mostra de uma maneira bem genial esta transformação. 

Enquanto esta parte da cidade que mostra o link acima se tornou um concentrado de pequenas galerias de arte e um lugar bem frequentado por turistas. A minha esquina se transformou numa zona residencial, primeiro dos "alternativos" e pobres estudantes. Agora de jovens conformes, cada vez mais os vizinhos parecem ter saído de uma vitrine de loja. Suas roupas são sempre novas e os cabelos estão sempre penteados, era exatamente da maneira contrária à essa que se apresentavam os antigos moradores...
O Bairro, chamado Prezlauer Berg foi carinhosamente apelidado de Pregnance Hill por conta do número absurdamente alto de crianças - exceção no quadro geral da Alemanha. Mas diante das minhas observações de anos, feitas durante o café da manhã (eu morro no térreo), já se pode acusar uma queda nesta tendência, sendo agora ultrapassada pelos "malucos do Jogging", citando André Dahmer. 
Meu bairro agora tem um tom pastel, assim como mostra o link acima. Quase todos os prédios foram renovados com excessão de poucos que ainda esperam a sua vez. Posso dizer que essas imagens já são documentos. 


Eu imagino que em questão de duas décadas acabará a transformação da cidade, esta Berlim vai desaparecer, por que afinal também tem a substância dos prédios que precisa ser salva. Quem vai viver nessa cidade é essa cara aqui, to curiosa pra saber como vai ser. 








An Valéria Celestino é historiadora e mora em Berlim. Terminou dois “estudos de História” uma vez no Brasil outra na Alemanha. Hoje trabalha como tradutora.

3 comentários:

Alfredo Rangel disse...

Belíssimo trabalho. E como é bom ver um país que, como a Alemanha, respeita seu povo e atende às necessidades deste povo desta maneira.

19 de março de 2015 às 16:59
Alfredo Rangel disse...

Belíssimo trabalho. E como é bom ver um país que, como a Alemanha, respeita seu povo e atende às necessidades deste povo desta maneira.

19 de março de 2015 às 17:04
Ana Valéria disse...

Obrigada, Alfredo. Tens razão também acho que respeitar e atender são as palavras chaves que faltam para nós... Mas chegaremos lá.

1 de abril de 2015 às 12:47

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