MOURIR D'AMOUR
Quando fiquei sabendo que os
cadeados da Pont des Arts de Paris seriam retirados, fiquei bem
chateada. Não que eu tivesse algum com meu nome lá, mas pensei em quanto amor
aquelas 45 toneladas de cadeado representavam. Quantos sonhos, esperanças,
risos, beijos, alegrias e noites de amor simbolizados em quase um milhão de
cadeados. Tudo jogado fora, claro que por uma boa razão. Mas fiquei
triste porque o mundo precisa muito e cada vez mais de amor. E os cadeados da Pont des Arts, em certa medida, representam esse
sentimento, tão humano e indispensável.
Pont des Arts.
Imagem extraída
de: https://www.flickr.com/photos/djpig91/8144632619
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Por
coincidência, fui a Paris a trabalho logo após a retirada dos
cadeados e talvez por estar com esse sentimento de desalento, comecei a ver
corações em todos os lugares. Corações e pessoas apaixonadas. E me dei conta de
que em Paris, de fato, o amor está no ar. Em todos os espaços. Mesmo nos mais
improváveis. Até nas lojas de frutas e verduras, as famosas quitandas. Até mesmo nos...tomates, imagine
só. Encontrei dois com nomes de coração, o coeur de boeuf e o coeur de pigeon. Como os nomes
sugerem, o coeur de boeuf é
um tomate bem grande, enquanto
que o coeur de pigeon é
pequenino e delicado.
Tomates de todos os
tipos, em Paris*.
Tomate coeur de pigeon e coeur de boeuf*.
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Presenteada
pelo destino e com os olhos apaixonados por Paris, encontrei algo
ainda mais raro: um tomate do tipo coeur
de bouef em forma de coração.
Fiquei encantada com esta amorosa coincidência.
Em Paris, até os tomates lembram o amor*. |
Nas
quitandas, a variedade de frutas é tão grande que dá vontade de comer todas. As
cerejas são linda e apetitosas, e lembram (claro!) pequenos corações,
rubros e vibrantes, pedindo para serem saboreados.
As cerejas, os pequeninos corações vibrantes*.
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Próximo à Gare du Nord, onde fiquei
hospedada, há muitas lojas de roupas para festas e uma especialmente me chamou
a atenção, por causa do nome: a Coeur
des Femmes. Pois se há um lugar em que mora o amor, desde sempre, esse
lugar é o coração das mulheres.
Em
todo o comércio de Paris, o amor é lembrado ou sinalizado de forma sutil e às
vezes nem tanto, mas o coração é o símbolo que mais se destaca.
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Fui
conhecer a Sorbonne e depois da visita, sentei-me na Place de La
Sorbonne, para lanchar. Enquanto comia uma baguette deliciosa,
recheada com copa, alcachofra e camembert, comecei a observar
as pessoas. Um casal atraiu minha atenção. Ele era alto, vestia uma
camisa xadrez vermelha e um jeans claro. Levava uma bolsa tipo carteiro.
Tudo bem britânico. Observei que não era muito jovem.
Ela também não. Ambos tinham por volta de cinquenta anos. Mas pareciam dois adolescentes, porque felicidade rejuvenesce. E era evidente que eram muito diferentes. Ele andava de um jeito comportado, sério e compenetrado. Ela, ao contrário, andava tão solta e livre, que parecia que dançava. Usava uma blusa pink, dupla, de um tecido leve.
Ao se movimentar, as laterais se levantavam, dando a impressão de que tinha asas cor-de-rosa. Às vezes, enquanto andava, ela girava e ria, de tanta felicidade, apontando para um lado e outro, mostrando alguma coisa que lhe chamava atenção. Ele ria também, mas todo contido e, encantado com a liberdade dela, apenas segurava sua mão, com tanto carinho e reverência, que era impossível não se comover.
Ela também não. Ambos tinham por volta de cinquenta anos. Mas pareciam dois adolescentes, porque felicidade rejuvenesce. E era evidente que eram muito diferentes. Ele andava de um jeito comportado, sério e compenetrado. Ela, ao contrário, andava tão solta e livre, que parecia que dançava. Usava uma blusa pink, dupla, de um tecido leve.
Ao se movimentar, as laterais se levantavam, dando a impressão de que tinha asas cor-de-rosa. Às vezes, enquanto andava, ela girava e ria, de tanta felicidade, apontando para um lado e outro, mostrando alguma coisa que lhe chamava atenção. Ele ria também, mas todo contido e, encantado com a liberdade dela, apenas segurava sua mão, com tanto carinho e reverência, que era impossível não se comover.
Imagem extraída de: http://purezaesantidade.blogspot.com.br/
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Ela
falava alto em inglês e gesticulava bastante, rindo muito. Sua felicidade
era contagiante. La joie de vivre, pensei.
Achei que era italiana, pois era muito expansiva, ao contrário dele, super
austero. Ele
era um lorde inglês. Ela era uma maluquinha. Então, em um determinado
momento, eles se sentaram e se beijaram na boca. Foi um beijo rápido, só
um selinho. Percebi que ela queria mais, mas ele era muito discreto para
isso.
Ela o olhou diretamente nos olhos, profundamente e não precisou dizer nada. Seu olhar era de absoluta entrega ao amor. Então ele cochichou algo em seu ouvido. Che bello, ela disse e riu baixinho, toda enternecida e aí tive certeza de que era italiana.
A seguir, eles ficaram sentados de mãos dadas, em silêncio, apenas apreciando aquele momento tão especial, que nunca mais se repetiria, não daquele jeito; e porque ambos sabiam disso, respeitaram aquele instante mágico. Depois de alguns minutos, levantaram-se e foram embora. Fiquei olhando enquanto se afastavam e torci muito e verdadeiramente para que aquele amor desse certo...
Ela o olhou diretamente nos olhos, profundamente e não precisou dizer nada. Seu olhar era de absoluta entrega ao amor. Então ele cochichou algo em seu ouvido. Che bello, ela disse e riu baixinho, toda enternecida e aí tive certeza de que era italiana.
A seguir, eles ficaram sentados de mãos dadas, em silêncio, apenas apreciando aquele momento tão especial, que nunca mais se repetiria, não daquele jeito; e porque ambos sabiam disso, respeitaram aquele instante mágico. Depois de alguns minutos, levantaram-se e foram embora. Fiquei olhando enquanto se afastavam e torci muito e verdadeiramente para que aquele amor desse certo...
Place de
La Sorbonne
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Cenas
como essa, que mostram o poder do amor em Paris, vi
muitas. Na Gare du Nord, uma
jovem estrangeira pediu uma informação para um guarda, um negro bonito, todo
elegante em seu uniforme azul-escuro. Quando ele começou a falar, a moça foi
subitamente tomada por alguma coisa, uma energia especial e eletrizante. Não
sei se foi a língua francesa, tão musical, ou se foi o charme do homem, mas ela
começou a fazer uma pergunta atrás da outra, na tentativa de prolongar aquele
momento único, enquanto seu corpo começou a se mover, no compasso da conversa.
Fez algumas piadas, porque ambos riram e ela começou a passar a mão pelos cabelos, subitamente transformada em uma mulher sedutora. Olhava o guarda nos olhos e ele também a olhava, hipnotizado. Uma atração imediata se estabeleceu entre eles. Já não eram mais dois estranhos, mas um homem e uma mulher, atraídos e encantados um pelo outro.
Fez algumas piadas, porque ambos riram e ela começou a passar a mão pelos cabelos, subitamente transformada em uma mulher sedutora. Olhava o guarda nos olhos e ele também a olhava, hipnotizado. Uma atração imediata se estabeleceu entre eles. Já não eram mais dois estranhos, mas um homem e uma mulher, atraídos e encantados um pelo outro.
Gare du
Nord
Imagems extraídas de: http://genius.com/2302351
e
http://dicasdefrances.blogspot.com.br/2011/02/gares-de-paris-rer-tranportes.html
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No Arco
do Triunfo vi muitos casais apaixonados. Mas um jovem casal oriental se
destacava pela alegria e beleza. Tão lindos e felizes que pareciam em
lua-de-mel. Usavam “roupa de casal”, coisa que só tinha visto em
novelinhas coreanas (Sim, eu confesso que assisto! E adoro!).
Como na Coréia gestos afetivos e carinhosos entre casais podem ser vistos como algo imoral, vestir-se igual é uma maneira de dizer ao mundo que se amam muito, que são um casal apaixonado e que estão juntos. Perguntei se estavam e lua-de-mel e a moça respondeu que sim, mas pela terceira vez. Quer coisa mais romântica que essa?
Como na Coréia gestos afetivos e carinhosos entre casais podem ser vistos como algo imoral, vestir-se igual é uma maneira de dizer ao mundo que se amam muito, que são um casal apaixonado e que estão juntos. Perguntei se estavam e lua-de-mel e a moça respondeu que sim, mas pela terceira vez. Quer coisa mais romântica que essa?
Tristan e Sisi, o lindo casal coreano, curtindo sua terceira lua-de-mel em Paris.
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Há
muito amor em Paris e se os casais apaixonados não podem mais colocar
cadeados na Pont Des Arts, há muitos outros lugares que podem substituir a
ponte. Na Basílica de Sacre Coeur, alguns apaixonados já começaram a
clicar os cadeados nas cercas que circundam a igreja. Ainda são poucos, mas sem
a opção da ponte, acredito que esse será o novo point dos apaixonados. E com um
bônus extra: a energia sagrada da antiga igreja, cujo nome (lógico que sim!) remete ao coração.
Cadeados na Basílica Sacre Coeur
Referências:
Créditos das fotos não
referenciadas:
Izabel Liviski e Vanisse Simone.
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