As portas da percepção


Livro de 1954, escrito por Aldous Huxley, onde o autor pormenoriza as suas experiências alucinatórias quando tomou mescalina. O título provém de uma citação de William Blake:

If the doors of perception were cleansed everything would appear to man as it is, infinite.
Retrato de William Blake,
por Thomas Phillips.
Tradução: "Se as portas da percepção estivessem limpas, tudo apareceria para o homem tal como é: infinito."

Aldous Huxley
Baseado nesta citação, Huxley assume que o cérebro humano filtra a realidade de modo a não permitir a passagem de todas as impressões e imagens que existem efectivamente. Se isso acontecesse, o processamento de tal quantidade de informação seria simplesmente insuportável. De acordo com esta visão das coisas, as drogas poderiam reduzir esse processo de filtragem, ou "abrir as portas da percepção", como é dito metaforicamente. Com o intuito de verificar esta teoria, Huxley começou a tomar mescalina e a descrever os seus pensamentos e sentimentos sob o efeito da droga. A sua principal impressão foi a de que os objetos do nosso cotidiano perdem a sua funcionalidade, passando a existir "por si mesmos". O espaço e as dimensões tornam-se irrelevantes, parecendo que a percepção se alarga de uma forma espantosa e mesmo humilhante já que o ser humano se apercebe da sua incapacidade para fazer face a tantas impressões.

Foi graças a estes ensaios que Huxley tornou-se uma espécie de guru entre os hippies da contracultura californiana da década de 1970. No entanto, estas "são meditações escritas à luz radiosa da razão, relatos de experiências com a mescalina que não conduzem a uma adesão imediata aos paraísos artificiais, mas sim a uma idéia de alargamento da consciência que não elide o seu elemento reflexivo".

Essa observação é fundamental por causa da história nada desprezível da recepção de Huxley em um âmbito que ultrapassa os limites da chamada "alta cultura" (na qual ele havia se consagrado como autor dos clássicos Contraponto e Admirável mundo novo). No final dos anos 60, o compositor e poeta Jim Morrison criou na Califórnia uma banda de rock chamada The Doors, cujo nome fora inspirado na leitura de As portas da percepção. Morrison morreria em Paris em 1971, provavelmente de overdose, mas sua curta e fulminante trajetória acabaria estabelecendo uma ponte entre a poética visionária de Blake, o erotismo sacrificial dos concertos dos Doors e a obra de Huxley, que assim ganharia uma aura de guru da contracultura.


Um dos principais efeitos desses alucinógenos é a capacidade adquirida de se notar a conexão de coisas, pessoas ou acontecimentos aparentemente distantes. Se o leitor ou a leitora não estão entendendo o motivo ou o que inspirou este texto, talvez seja porque a suas portas não foram completamente abertas.


Vinícius "Elfo" Rennó é graduando em Letras pela UFV. Gosta de cozer bem o que escreve. Basicamente, trata-se de um leitor glutão, amante de cinema e viciado em música. Atualmente é membro do corpo editorial da Contemporâneos – Revista de Artes e Humanidades e, juntamente com a Prof. Dr. Ana Maria Dietrich, coordena a ContemporARTES – Revista de difusão cultural.
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O QUE ALCANÇA A VISTA DO POETA


O QUE ALCANÇA A VISTA DO POETA ENTRE A CIDADE E OS EDIFÍCIOS SUSPENSOS NA FLORESTA

Falar sobre a cidade, as áreas urbanas em via de metamorfose, é tarefa bastante instigante. Em seu livro A condição urbana – a cidade na era da globalização, Olivier Mongin diz que “o urbano contínuo e generalizado é sustentado por uma ‘estética do desaparecimento’. Nesse caso, isso não é a falta de desenvolvimento, a miséria, o abandono que destrói a cidade. Os espaços urbanos, quaisquer que sejam, estão condenados a se tornar informes, disformes, monstruosos (...)”. Mongin chama a atenção para o fato de a cidade, (pós-moderna?) ser sempre um organismo em mutação, pois, a cada instante, há algo mais que a vista não alcança, mais que o ouvido possa perceber, uma composição nova em um cenário que espera para ser analisado.

A cidade pode ser percebida por fragmentos de imagens refletidas, de palavras cravadas na folha em branco, afinal para Bakhtin (1992, p.95) “a palavra está sempre carregada de um conteúdo ou de sentido ideológico ou vivencial”. Por isso toda e qualquer palavra só pode ser lida, ouvida, compreendida a partir de um contexto histórico preciso. É esse contexto particular que determina e que orienta toda a nossa compreensão.

Assim entre as narrativas que atualizam as identidades produzindo transformações nos sujeitos e sendo transformadas por eles, está O poço de Guerá Fernandes. Sua leitura é reconhecer a escrita como operadora de uma memória social do contemporâneo,das diásporas desse homo urbem reatualizado, ritualizado, exorcizado na medida em que a inquietação identitária que emerge de seus versos sugere um percurso de reconhecimento da condição humana, amarga, dolorosa, abjeta, niilista. Se como nos diz Bonnici, a diáspora significa, em seu sentido mais doloroso, “dispersão”, “desenraizamento”, é da diáspora contemporânea que fala Guerá.

Não fala apenas não, também performatiza. A materialidade de sua escrita estrutura-se sobre pilares performáticos que transcendem os domínios do estritamente literário para adentrar-se em um campo onde é possível, como meio de dar forma e representar essa realidade, a identificação de um processo de espetacularização da escrita que se vale de uma maneira simbólico-crítica de ler e interpretar o urbano contemporâneo. Uma representação literária compreendida como um ato propício para a articulação de identidades minoritárias, dissidentes e subalternas, afinal, “[nesta] cidade todos viviam do lixo. O trabalho acabou depois da guerra. Havia os soldados e as prostitutas que se acertavam de acordos e concessões. No mais eram todos catadores. Gente no lixo. Do lixo sobrevivendo até o momento de irem para a fila do corredor da morte”.

É assim, com suas frases curtas e melodia árida, presenças marcantes da força lírica que Guerá já demonstrara em Mares de ilhas e cores se chove (2008) e Infinito berrante (2009), que o autor não vacila e cria uma cidade onde não se voa longe, uma cidade das pedras onde a única certeza é a dúvida: a metamorfose das personagens, sujeitos de direitos, em indivíduos em busca de afirmação no espaço social; a passagem de estruturas de solidariedade coletiva para as de disputa e competição; o crescente ambiente de incertezas; a colocação da responsabilidade por eventuais fracassos no plano individual; o fim da perspectiva do planejamento em longo prazo.

Guerá Fernandes, em O poço, aponta para nossa desmemória , porque não é apenas um exercício, um mero trabalho de resgate ou projeção, mas de re-significação, de performatização, que visa a uma crítica aguda do futuro no presente, com vistas a uma projeção no re-futuro, nos mostrando o quão significativo pode e deve ser o papel da literatura.






Djalma Thürler é Cientista da Arte (UFF-2000), Professor do Programa de Pós-Graduação Multidisciplinar em Cultura e Sociedade e Professor Adjunto do Instituto de Humanidades, Artes e Ciências da UFBA. Carioca, ator, Bacharel em Direção Teatral e Pesquisador Pleno do CULT (Centro de Estudos Multidisciplinares em Cultura). Atualmente desenvolve estágio de Pós-Doutorado intitulado “Cartografias do desejo e novas sexualidades: a dramaturgia brasileira contemporânea dos anos 90 e depois”.
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UM FOTÓGRAFO DESTEMIDO



Seu nome era Charles C. Ebbets (1905-1978), nascido no Alabama, Estados Unidos. Suas fotos, feitas entre 1920 e 1935 ficaram famosas ao registrar a construção do Edifício GE do Rockfeller Center em Nova York. Foram publicadas no jornal Herald Tribune e a mais conhecida e uma das mais vendidas é a Lunchtime (Almoço no topo de um arranha-céu) de 1932, feita no 69º andar do edifício.
O acervo desse fotógrafo consta de um imenso arquivo fundado por Otto Bettman em 1936 e que pertence atualmente à Companhia Corbis, de propriedade de Bill Gattes.

Ebbets, além de um destemido fotógrafo das alturas, foi também piloto de corridas e boxeador profissional.
Suas fotos feitas em uma época em que não eram usadas as mínimas medidas de segurança pelos operários, serviram como denúncia das condições de trabalho existentes naquele período.
As imagens produzidas por ele, causam um inevitável friozinho no estômago. A primeira delas apresentada abaixo, é do próprio Ebbets em ação, feita por um fotógrafo que o auxiliava.


























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Izabel Liviski é Fotógrafa e Mestre em Sociologia pela UFPR. Pesquisadora de História da Arte, Sociologia da Imagem e Antropologia Visual.  Escreve quinzenalmente às 5as feiras na Revista ContemporArtes.
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Do Cinza ao Dark - Escombros na Via Férrea: Cia Antártica








Ao embarcar na estação da LUZ sentido Rio Grande da Serra nos deparamos com paisagens, pessoas, trabalho, economia, cotidiano mas será que por trás desta rotina não exista algo a mais, algo que a apreensão imediata não nos mostra?
Minhas pesquisas atuais estão voltadas a reconstituir conforme o balanço típico do trem este trecho específico da via férrea, e desta forma, entender quais são os motivos para que atualmente o seu entorno seja uma paisagem composta por escombros, imensos galpões abandonados, composições quebradas,indústrias abandonadas.
No caminho deste trecho específico é possível mapear ao menos uma "carcaça" de grande uma grande indústria para cada estação que possui. Mas nesta coluna vou me focar na Cia Antártica que hoje promove uma paisagem de abandono em frente a estação Mooca da linha turquesa da CPTM.

A história da cerveja Antártica em solo brasileiro se inicia em 1885 quando a Antárctica Paulista se instala primeiramente no bairro da água branca - São Paulo- capital. No ínicio produzia apenas gelo e gêneros alimentícios, como o abatedouro de suínos que também levava o nome Antarctica. Em 9 de fevereiro de 1891 é fundada a Companhia Antártica Paulista e o casal Antõnio e Helena Zerrener passam a ser os brasileiros acionistas. Com a desvalorização da moeda no ano de 1893 o casal Zerrener investem na Antarctica e passam a ser a ser acionistas majoritários. Com o crescimento acelerado a Antarctica sob a direção da Zerrener, Bülow & Cia passou a dar enfâse à produção de refigerantes e cerveja e decidiu então expandir ao adquirir em 1904 o controle acionário da então Cervejaria Bavária, esta que se encontrava na Mooca ao lado da via férrea SPR, neste momento em sua fase áurea, em que o café e o processo imigratório estavam em alta.


Logo da Antiga Cervejaria Bavária, que seria o local da nova sede da Cia Antárctica.









Em 1920 a sede da Cia Antarctica passou a ser na Av. Presidente Wilson no bairro da Móoca. A então conhecida alameda bavária, como era conhecida a Av. Presidente Wilson, não teria mais razão de ser conhecida desta forma. É impressionante como as história das indústrias são necessárias para se entender a história de uma cidade ou da própria ferrovia. A Cia Antarctica foi uma das primeiras indústrias a se instalar no Brasil e compõe uma parte importante na história de SP e também da manutenção da ferrovia em geral.
Assim como a Cia Antártica nos remete ao que foi a fase áurea da industrialização paulistana ela nos remete também ao agente deste desenvolvimento frenético, que foi o sucesso da SPR como meio de escoamento de mercadorias. Na fase áurea do Café a locomotiva era a forma mais moderna e eficaz que uma nova fábrica metade brasileira e outra metade Alemã poderia utilizar.

Logo encontrado no interior da Cia Antártica na Av. Presidente Wilson.


Por isso não apenas a Antarctica mas muitas outras fábricas e indústrias viram no entorno da então SPR, a primeira via férrea paulista, o local ideal para a instalação de suas sedes. A ferrovia abriu caminhos para o surgimento de novas cidades, pontos de comércio e juntamente com isso as indústrias e fábricas vieram reforçar o surgimento de bairros operários como a Matarazzo e a formação dos bairros de Utinga e Vila Indústrial. A partir disso podemos entender também porque a região do grande ABC foi considerada até o início da década de 90 o pólo industrial brasileiro em relação ao PIB, por meio das indústrias e sua instalação no espaço físico destas três cidades.

Mas a paisagem atual que encontramos hoje da Cia Antártica reflete o que houve com a maioria das indústrias e fábricas que se encontravam no entorno deste trecho específico, a linha turquesa da CTPM. Com a mudança da Cia Antárctica para a cidade de jaguariúna-SP, uma tendência para a maioria das indústrias, que mantiveram seus escritórios na região metropolitana de SP e migraram para o interior de SP em busca de mão-de-obra mais barata. Mas este evento ocorreu não apenas pelo custo que era manter as fábricas e indústrias no entorno da ferrovia, a opção rodoviária na década de 50 refletiunos anos 80 e 90 de forma voraz neste trecho, então no ponto de vista logístico as indústrias não estavam mais localizadas em um ponto estratégico para ter maior eficiência em escoar suas mercadorias.


Cia Antártica hoje: paisagem de abandono

Nesta altura era bem mais rentável migrar sua sede para o interior, no entorno de uma grande Rodovia, como é a paisagem que encontramos hoje na rodovia Ayrton Senna. Entendemos que tudo ao nosso redor tem uma justificativa para ser, a transformação as vezes é lenta,em cada vento, em cada chuva tudo aquilo que um dia foi o símbolo da insdustrialização paulista passa a ser um vazio, um conjunto de escombros. Mas assim como é a dinâmica do capital enquanto o partimônio indústrial definha os grandes galpões e escombros são vistos por metro quadrado e se perde em meio á tanta especulação imobiliária.
Aos poucos aquele grande espaço vazio da Antarctica, sua grande torre, os ferros distorcidos, passam pelo vidro do trem como restos de uma história que precisa de mais tempo para ser contada do que uma simples parada de estação. O cenário passa a ter mais sentido e podemos entender melhor o quanto fábricas, indústrias, linhas férreas são determinantes para o nome de ruas, para a história de cidades, para o entendimento de nosso cotidiano.

Marina Rosmaninho é graduada no Centro Universitário Fundação Santo André(2008) Bacharel e Licenciada no curso de Ciências Sociais. Atualmente trabalha junto com Ana Maria Dietrich no grupo de pesquisa Neblina sobre Trilhos. Marina atualmente trabalha para realizar o documentário intitulado Transformação Sensível, Neblina sobre trilhos. É socióloga e amante da linguagem audivisual, gosta de fotografia, documentários, filmes e de utilizar de tudo isso para investigar a sociedade.

















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O ANJO SEM NOME - NICHOLAS WINTON




Houve um tempo, antes da segunda guerra, que o mundo já transpirava medo. Enquanto muitos pressentiam o pior, alguns conseguiram combater a paralisia causada por um abstrato futuro que se desenhava com manchas vermelhas. Os horrores que se erguiam como soldados famintos de dor eram por demais monstruosos para serem cogitados pelas pessoas de bem.
Nessa época, o mundo não dispunha de meios de comunicação de massa e as notícias eram poucas e esparsas. Mesmo assim, um homem teve a premonição do que viria a ser o domínio em massa de uma mente maléfica e heroicamente traçou um plano para salvar crianças da rainha da morte. Nicholas Winton, anjo que poucos conhecem, um britânico que organizou o resgate de cerca de 669 crianças judias na antiga Tchecoslováquia, salvando-as da morte certa nos campos de concentração nazistas. As crianças nunca mais viram seus pais. Mas sobreviveram, formaram famílias, adotaram órfãos, realizaram pesquisas, semearam amor e gratidão por onde passaram.
Nicholas não comentou o que fez durante cinquenta anos. Os anjos não buscam reconhecimento. Alimentam-se do próprio bem que ofertam. Segundo ele, os nazistas sabiam que ele mandava  crianças para a Inglaterra e Suécia, dois únicos países que as aceitaram, e não colocaram nenhum empecilho, já que o objetivo era realmente se livrar de todas com o menor custo possível. Ele, humildemente, disse que não foi difícil, apenas foi muito trabalhoso organizar o resgate e encontrar famílias para tantas crianças. O último trem, com 250 crianças, foi impedido por tanques  quando a guerra já feria aquelas terras que choravam sangue.
Todos conhecemos a luta do Sr. Oskar Schindler, que salvou mais de 1200 judeus em 1944. Além dele, inúmeras pessoas foram estrelas e guiaram vítimas durante a noite em que a humanidade viveu seu maior pesadelo. Eva Schloss, sobrevivente de um campo de extermínio explica o silêncio por vinte anos como necessário: o sofrimento a emudecia.Desde então, ela viaja o mundo e solta a voz contra o preconceito. Hoje, vivenciamos ataques a  minorias, sejam nordestinos, homossexuais ou religiosos desta ou daquela crença. Esquecemos que os rótulos vestem o exterior e não alteram a essência da alma humana. Sejamos também anônimas estrelas, levando luz onde há trevas de intolerância. A exemplo de Cristo, Buda, Gandhi, Madre Thereza, entre outros que nunca buscaram agradecimento ou elogio pelo que faziam. Estavam ocupados demais pensando no bem do mundo para analisarem sua performance.




Fizeram uma homenagem a esse homem em um programa de televisão na Inglaterra. Ele estava sentadinho quando disseram:
“A mulher ao seu lado foi uma das crianças que o senhor salvou.”
Ele, em silêncio, cumprimentou-a e secou uma lágrima.
A entrevistadora continuou:
“Quem mais aqui foi uma das crianças salvas por Sr. Nicholas?”
E a plateia inteirinha levantou....
Nossa, é de arrepiar! Quem quiser assistir, está no youtube: http://www.youtube.com/watch?v=6_nFuJAF5F0  (1´39´´)


Frases:
“Não me vejo como um herói. Para ser herói, alguém precisa fazer algo de perigoso. Não fiz. O que fiz foi algo que os outros achavam impossível. Mas eu tinha de tentar, para ver se era possível ou não.
“Não é um ato heróico. Meu lema é: se algo não é obviamente impossível, então deve haver uma maneira de fazer.”


Simone Pedersen, formada em direito, escritora,  morou onze anos no exterior onde teve vivência multicultural e conheceu diferentes estilos linguísticos. Atualmente reside no interior de São Paulo  e, há dois anos,  participa ativamente de concursos literários,  tendo conquistado inúmeros prêmios  no Brasil e no exterior.Tem textos publicados em dezenas de antologias de contos, crônicas e poesias. É colunista do Folha de Vinhedo. Seus livros  Infantis “Vila Felina”, “Sara e os óculos mágicos”, “Conde Van Pirado” e “Vila Encantada”, "Coleção Pá-pum" e Coleção Fuá" foram lançados na Bienal de SP 2010. Além de  “Fragmentos e Estilhaços” com contos, crônicas e poemas selecionados em concursos, lançou umo livro de poesias, recentemente, em Portugal: "Colcha de retalhos".


Entrevista sobre literatura infantil:



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ANTOLOGIA DE MIM MESMO – LANÇAMENTO HOJE




Hoje vou aproveitar a importante conquista desse espaço no uni.verso da ContemporArtes para vender o meu peixe. E também o meu novo livro.

Caminho de mãos dadas com a escrita literária desde os 15 anos, quando iniciei meus registros inspirado nos encantos do primeiro amor e também nos sonhos da adolescência.

Toda essa iniciação perdeu-se no tempo depois de ter encaminhado minha pasta de “escritos” para avaliação do professor de literatura do colegial e também do cursinho – o saudoso Mestre Wilson Camargo – um dos meus grandes incentivadores.

O primeiro rebento, a publicidade e os concursos literários

Formado em Publicidade e Propaganda, em 1981, aos 22 anos, lancei o meu primeiro livro “Transparecer a Escuridão”, produção independente de poesias e crônicas que retratavam as paixões e vivências do cotidiano.

Depois de um extenso período dedicado única e exclusivamente à criação e redação publicitárias, retomo o processo criativo literário e, a partir de 2004, intensifico a minha participação em concursos.

Realmente, não me recordo como entrei nesse mundo lá nos tempos idos, só sei que a sensação de ter o primeiro texto selecionado para publicação em uma antologia foi muito gratificante e inesquecível.

Daí, certo dia, descobri a comunidade que participo no Orkut - a Concursos Literários - e o estímulo foi aumentando cada vez mais, graças à convivência com conceituados autores contemporâneos – todos premiadíssimos – como Heloisa Galves (in memorian), Tatiana Alves, André Caldas, André Kondo, Simone Pedersen, Rosana Banharoli, Nathalia Wigg, Cris Dakinis, Sérgio Bernardo, Paulo Franco, Edweine Loureiro, Zulmar Lopes, Henriette Effenberger, Thiago de Paula, Rômulo César, Zé Ronaldo, Walther Moreira Santos e tantas outras feras que estimo muito e há alguns anos fazem parte do meu dia a dia e aprendizado.

Minha dedicação extrema e o processo contínuo de aperfeiçoamento trouxeram grandes resultados: hoje tenho textos editados em mais de 60 publicações, contando ainda com mais de 170 classificações conquistadas em inúmeros certames realizados em várias partes do país, das quais, 45 somente entre janeiro e novembro de 2010.

Só Concursados - diVersos poemas, crônicas e contos premiados


O novo livro que estou lançando hoje à noite na minha cidade natal – Americana, interior de São Paulo, teve como principal objetivo reunir em uma única obra poemas, crônicas e contos premiados entre os meses de outubro de 1982 a abril de 2010, colocando-os propositadamente lado a lado numa mesma publicação.

Como costumo dizer, é uma antologia de mim mesmo, que marca historicamente cada fase da minha vida, demonstrando em sua leitura a evolução, o amadurecimento do meu trabalho ao longo dos anos. Isso é claramente percebido página por página, quase que programada cronologicamente, uma vez que cada texto publicado vem acompanhado da sua data de criação.

Como vejo essa evolução? De crescimento contínuo. Algo que não termina, pois sempre estou buscando novas formas de aprimoramento, de vencer os novos desafios que aparecem: uma hora, estou escrevendo poemas, na maioria das vezes, concisos, com ou sem rima, derivados da minha experiência profissional com o texto publicitário, que tem que ser sempre enxuto, objetivo e com alto poder de persuasão. Outra, estou enveredando por textos mais longos, como, por exemplo, contos e crônicas. De repente, estou aprendendo a fazer trovas, sonetos... Por que não? São inúmeros os caminhos da escrita. Sou diverso. Quero continuar caminhando, aprendendo!

“Só Concursados” conta com importantes e inquestionáveis parcerias. Desde o início, foi abraçado forte e carinhosamente pelo COMCULT – Conselho Municipal de Cultura da Prefeitura de Americana, que subsidiou a edição do projeto. Além disso, foi ilustrado pelo Diretor de Arte e Designer Gráfico Fábio Benencase - meu parceiro de trabalho na área de publicidade. As fotos de capa, contracapa e campanha de divulgação foram clicadas pelo amigo e renomado fotógrafo americanense Juarez Godoy. O evento contará com intervenções poéticas feitas por duas novas amigas minhas: as atrizes Gláucia Neves e Fabiana Pantarotto.

O lançamento acontecerá hoje, 29.11, a partir das 19h. Maiores informações: gtrombin@terra.com.br
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Cícero Dias: um artista de alma infantil


Por Raquel Czarneski Borges.

“Cícero Dias nasceu no bar do Palace Hotel, na terça-feira de carnaval...” [1]

“Na zona da mata, o canavial novo
É um descanso verde que faz bem;
é uma suavidade poisar a vista na manteiga e no pêlo dos ratos.
No mais matinal perfume francês.
A gente domina uma dedicação apertando os dedos no barro mole. Ele escorre e foge.
E o corpo estremece que é um prazer.” [2]

Esta primeira frase, de Murilo Mendes, sintetiza bem o que parece ser a origem de Cícero Dias e sua pintura: uma grande festa. Suas formas, cores e traços são alegorias do Carnaval que se dava em sua alma, em seu coração. Cícero Dias dedicou sua vida inteira para a pintura. Brincou com as cores e formas. Dedicou sua vida inteira para expressar seus sonhos. Foi considerado louco, esquizofrênico, de “psiquê infantil”. Pois bem, pergunto-me hoje, que mal há nisso? Que mal há em acreditar nos sonhos e fazer de tudo para mantê-los vivos e torná-los realidade? Seus traços mudaram muito ao longo do tempo, assim como mudou sua vida. No início eram aquarelas, livres, soltas, de um menino que nasceu e cresceu em engenho. Depois, as Belas Artes, o ensino tradicional e sempre a tentativa da ousadia, da marca pessoal, das cores ou dos desenhos simples (ou complexos, tudo depende do observador). Também a arte figurativa. Foi chamado de “Chagall dos Trópicos”, celebrado pelos modernistas. Muda-se para Paris e vem a arte abstrata (seria um traidor da “pernambucanidade”?). Como achar agora neste Cícero cosmopolita, aquele Cícero que pintava canaviais e mulatas? Buscando sua inspiração no centro dos sonhos...

Eu vi o mundo, ele começava no Recife (fragmento).
Reprodução de http://revistapesquisa.fapesp.br/?art=3254
&bd=1&pg=1&lg=
Cícero Dias pintava de acordo com sua inspiração “infantil”. Seus críticos, para exaltá-lo ou para denegri-lo, designavam-no incompreensível, sonhador, ousado...um herege. Para os modernistas, vindos do impacto da semana de 22, a exposição do painel de Cícero “Eu vi o mundo, ele começava no Recife” representava transgressão demais. O painel gigante, de 15 metros, mostrava o que Cícero via em seu mundo de sonhos, qual a cidade do Recife que existia na sua memória e nos seus delírios de poeta das cores. O painel foi um escândalo para a época, mostrando um Recife quente, envolto em uma luz amarelada dos nordeste, com sua figuras dançantes, carros-de-boi, engenhos, casas-grandes e senzalas, prédios, plantas , bichos e gente, todos ordenados no espaço de forma a parecer que a tela era um grande tabuleiro, uma brincadeira, um sonho infantil. Se Recife possuía esse caráter lúdico e mágico para Cícero Dias, seria por que era daqui que todas as coisas do mundo se originavam?


A temática do sonho e do lúdico não aparecem, no entanto, apenas no famoso painel. Ela esta presente em quase todas as obras do pintor. Mesmo em sua fase abstrata, podemos perceber que ele brinca com as formas e cores. Sua arte transmite alegria de viver. O mundo é uma grande festa sonhada por Cícero. Em seu quadro “Bagunça”, de 1928, vemos novamente este pintor de alma alegre e desinibida. Figuras coloridas povoam a tela, brincam, se divertem em seus jogos, desfrutam o prazer do tempo, da liberdade. Para além de uma cidade, pequenina e esmagada no canto da tela, abre-se um universo de jogos e “trelas” próprio de pequenas comunidades, onde todos partilham os espaços públicos,onde os habitantes se conhecem. Meninos jogando bola, tocando música, mães passeando com suas filhas...é este o outro mundo que se descortina longe da cidade grande, talvez em algum bairro, na zona rural...em Pernambuco, no Rio de Janeiro. Este mundo representado por Cícero Dias nos parece um mundo aconchegante e íntimo, onde as atividades cotidianas desenvolvem-se voltadas para o prazer. A mulher nua que desce uma escada no canto esquerdo da tela nos confirma esta vocação para o deleite que a cena pintada dos demonstra. Além do colorido, a movimentação das figuras nos passa o ar de leveza de um grande divertimento, de uma bagunça de criança mesmo.

Bagunça, 1928.
Reprodução de http://vejabrasil.abril.com.br/galeria/rio-de-janeiro/
caminhos-arte-franca-brasil/index.php#img/CicDias.jpg

Segundo Gilberto Freyre, essa leveza das obras de Cícero Dias se dava justamente por suas origens, sua infância de menino de engenho. Segundo ele, “O menino de engenho era decerto criatura menos sacrificada à gravidade de trajo e vida que o nascido nas cidades”, nas suas trelas de menino, “(...) montava a cavalo, saía pelo mato com o moleque a pegar curiós (...). No tempo de cana madura chupava com delícia os roletes que lhe torneavam a faca os negros do engenho” . Nessa sua liberdade, Cícero, como menino de engenho que era, conhece o mundo, saboreia-o. Quando cresce, permanece com o gosto da cana nos lábios.

Cícero Dias gostava de se referir a um lugar no centro do ser, que conservava uma pré-história da arte...uma matriz criativa acessível a todos, onde estavam guardadas todas as imagens oníricas, todos os delírios humanos. Segundo Philippe Dagen, um “(...) viveiro oculto de mitos, obsessões, fantasmas e visões” . Parece que Cícero tinha trânsito livre neste viveiro dos sonhos e tinha em sua tarefa de pintor, o modo de expressar, de dar vida a todas as figuras que habitavam não só sua imaginação, mas que povoavam e povoam as profundezas das almas de todos os seres humanos que não querem deixar de sonhar.

Cícero Dias no Marco Zero do Recife.
http://veja.abril.com.br/050203/datas.html
Cícero Dias morreu pintando...e sonhando. Menino de engenho nascido em Escada, Pernambuco, morre aos 95 anos em Paris. Seu corpo está enterrado lá, no famoso cemitério de Montparnasse. Mas seus delírios de poeta e pintor continuam a existir no canto infantil de nossas almas. Seus sonhos permanecem vivos e o Marco Zero do Recife continua lhe prestando homenagens a cada amanhecer.









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Notas:
1 - MENDES, Murilo. Nascimento de Cícero Dias. In: FILHO, Waldir Simões de Assis. Cícero Dias, oito décadas de pintura. Simões de Assis Galeria de Arte: Curitiba, 2006.p. 68
2 - ANDRADE, Mário de. Poemas da Negra – a Cícero Dias. In: FILHO, Waldir Simões de Assis. Cícero Dias, oito décadas de pintura. Simões de Assis Galeria de Arte: Curitiba, 2006. P. 76


Contribuição da leitora Raquel Czarneski Borges, graduada em História pela Universidade Federal do Rio Grande – FURG - RS. Enveredou-se pela graduação a estudar Arte, História e hibridismo cultural. Hoje é uma gaúcha vivendo o mundo lindo de Olinda e Recife, a alegria e as incongruências de uma tal de “pernambucanidade”. É mestranda em História na UFPE na linha de Cultura e Memória do Norte e Nordeste do Brasil. Uma “desmemoriada” das coisas do Norte, mas que carrega em si muitos afetos do Sul. Pesquisa um artista chamado Cícero Dias, e suas representações da cidade do Recife nas décadas de 20 e 30. Atua também no grupo P.I.A. (Pesquisas e Interações Artísticas), atualmente em parceria com o MAMAM (Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães) pesquisando a obra do artista recifense Daniel Santiago.
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