Aço e Censura na URSS.




A estrutura de coerção erigida durante o stalinismo foi uma prova da importância que o cinema tinha para os líderes do Partido.

Tais elementos possuem sua gênese nos primeiros anos da URSS. A partir de 1923, todos os filmes realizados na URSS tinham que ser aprovados pelo “Comissariado Estatal para o Repertório”, porém este órgão não censurava, nem modificava, o conteúdo dos filmes. A partir de 1929, esta situação foi se deteriorando: “No curso dos anos de 1930, a extensão do controle e intervenção tornou-se mais e mais extraordinária”. (KENEZ, 2003, p.126).

Ao mesmo tempo em que houve a planificação das atividades cinematográficas, órgãos específicos de censura foram criados, e os censores participavam de todos os estágios da produção cinematográfica. Em determinado momento, eles verificavam cada palavra do roteiro e participavam até da edição final. Neste mesmo ano, os roteiristas foram obrigados a submeter as sinopses ao departamento político criado, na maioria dos estúdios soviéticos. Estes departamentos continham membros do “Comissariado Regional do Partido” e do Komsomol, que representavam a juventude comunista. Uma vez aprovado, o script final era submetido a outra bateria de avaliações de censores que, ironicamente, eram chamados de editores e consultores.

Um dos aspectos cruciais da censura no cinema foi o controle dos scripts dos filmes. Isto resultou numa discussão pública em torno do papel autoral e hierárquico do diretor. Para os puristas do realismo socialista, o diretor não poderia modificar uma palavra sequer do roteiro pré-estabelecido. Abaixo, segue um editorial favorável a este ponto de vista e que foi publicado pelo jornal especializado em cinema, Iskusstvo Kinó, em 1937.

A própria compreensão do papel do roteiro (ou sinopse) final é diferente em diferentes fases do desenvolvimento da cinematografia. O desenvolvimento do roteiro, a serviço do diretor no momento da filmagem, é como um bloco de notas preparado para ele, pelo seu co-autor literário, seu ajudante. Mas no estagio final do desenvolvimento da cinematografia, o roteiro é independente, um produto completamente literário, indicando o que deve ser expresso no filme, suas idéias frame por frame, características e seu desenvolvimento... Esta luta (para o reconhecimento da importância do roteiro), é, apesar de belas palavras de ambos os lados, bem longa. As lutas continuam, acima de tudo, contra todas as sobrevivências do formalismo, que afirma a prioridade incondicional dos diretores contra todos os outros criadores dos filmes, principalmente contra o roteirista e o ator. (ISKUSSTVO KINO,1933 apud KENEZ, 2003, p. 128).


Este editorial ajuda elucidar o contexto em que a censura sobre o cinema foi operacionalizada na União Soviética. Primeiro, foi necessário relativizar a importância dos diretores. Nesta lógica, o papel do diretor resumir-se-ia ao de mero seguidor de uma narrativa pré-estabelecida pelo roteiro, quase que um ilustrador do que estava escrito. Talvez estes ataques violentos contra a possibilidade de intervenção autoral, em eventuais mudanças nos roteiros, por parte dos diretores, tenham sido feito para constranger grandes diretores soviéticos que tinham conquistado reconhecimento, justamente, pela capacidade de improvisação e experimentação nas mais diferentes etapas da produção cinematográfica.

Durante os anos de 1930, houve uma obsessão do Partido em controlar cada palavra dita nos filmes. Isto quase resultou na perda de função do diretor.
Os roteiristas, dentro da hierarquia fílmica, passaram a gozar de status igual ao do diretor, porém suas responsabilidades também aumentaram. Particularmente, para a classe dos diretores, isto foi muito doloroso. A impossibilidade de alocar, nos filmes, quaisquer elementos de subjetividade, tornou a tarefa da direção quase que impossível. Isto gerou, entre outras coisas, perda de dinheiro por parte dos estúdios soviéticos, pois diversos projetos finalizados não foram a público. De certa forma, Kenez (2003) está certo ao se referir a estas limitações do papel do diretor e a primazia do script como um comportamento “profundamente antitético à própria noção de arte cinematográfica.” (KENEZ, 2003, p. 128).

Durante o planejamento relacionado aos filmes produzidos durante os 1930’s, foram os próprios diretores que escreveram os esboços dos roteiros, porém uma analise posterior, feita nos altos círculos da censura, achou que os mesmos eram ideologicamente insuficientes. Para contornar a esta situação, a Sovkinó e a Soiuzkinó estabeleceram diversos contratos com escritores para o fornecimento de roteiros. Isto foi insuficiente para suprir a demanda, porque muito dos autores não entregaram os roteiros, e vários roteiros que foram entregues não obtiveram permissão para serem filmados. Por exemplo, de 1929 até 1933, foram realizados 58 contratos (CHUMIATSKII 1933 apud KENEZ, 2003). Só sete deles se transformaram em filmes completos. Entre estes números foram raros os roteiros que foram escritos por diretores.

Como percebemos a situação dos roteiristas também não se tornou fácil, apesar do ganho na hierarquia fílmica. Logo eles perceberam que havia uma distância enorme entre os roteiros em desenvolvimento e o produto final. A manutenção da idéia inicial era particularmente difícil, devido às várias etapas de censura que existia ao longo do processo de criação. Na filmografia soviética, existem muito exemplos de filmes finalizados, cuja edição final não agradou aos censores e que foram refeitos. Em alguns casos, este processo de refilmagem era feito diversas vezes. Segundo Kenez (2003, p. 129), um destes filmes “The Conveyer Belt of Death”, dirigido por Ivan Pyriev, foi refeito 14 vezes.

Esta situação era muito ruim para a indústria cultural soviética. Ao engavetar filmes que tinham sido finalizados e refazer diversos outros que não seguiram os parâmetros do realismo socialista, as metas de produção dos filmes, estabelecidas durante o plano qüinqüenal, não foram cumpridas. Segundo Ermolaev, em artigo publicado em 1938 no Pravda, durante 1935 e 1936, 37 filmes foram declarados impróprios, ideologicamente, gerando um “prejuízo de 15 milhões de rublos.” (ERMOLAEV, 1938 apud TAYLOR, 1988, p. 387).

Um dos exemplos de censura, que resultou em perda de dinheiro, mais discutidos entre os autores que se debruçaram sobre o cinema soviético, produzido durante os anos 30, foi “O Prado de Biéjin” (1937). Dirigido por Eisenstein, este filme foi inspirado originalmente numa obra literária de Turgiênev. Quem construiu o roteiro foi A. Rzheshievskii que tinha sido designado, para tal tarefa, pelo Komsomol. A indicação partiu deste órgão que representava a juventude comunista, porque o objetivo do filme era realizar uma película sobre a coletivização, destinada a uma subseção do Komsomol, denominada de Pioneiros, que congregava as crianças e adolescentes menores de 14 anos.

Apesar de sofrer forte influência da obra de Turgiênev, “O Prado de Biéjin”, teve sua história principal inspirada na trajetória do jovem herói soviético Pavlik Morózov. Segundo a historiografia soviética, Morózov denunciou o pai por falsificar documentos para favorecer alguns kuláks que eram antigos amigos de sua família. Após esta denúncia, seu pai foi preso. Revoltados com a atitude do garoto, os outros parentes o mataram. No roteiro escrito por Rzheshevskii, a história foi modificada. Agora era o próprio pai que matava o filho.

Eisentein gostou muito do roteiro. Ele achava que este tipo de filme poderia ser realizado sem o incomodo da censura, uma vez que no roteiro ficava explícito o caráter propagandístico da obra, porém ele estava enganado. Outro aspecto que ele achou interessante foi o minimalismo do roteiro, pois assim, ele teria alguma liberdade autoral, ocasionada justamente pela simplicidade do script que possibilitava expansões e modificações. Esta tentativa de Eisenstein de contornar a censura mostrou-se inócua e irônica. A ironia advém do fato de que este filme, quando comparado com toda sua obra, é o que melhor reúne as características do realismo socialista, porém, ao ser exibido para alguns membros do Politburo, o trabalho caiu em desgraça.

Segundo Kenez (2003, p. 136), os membros do Politburo não gostaram da atmosfera anárquica que Eisenstein imprimiu ao filme, cujo enredo se desenrolava no contexto da coletivização. Apesar de um esforço gigantesco do diretor que, entre outras coisas, “entrevistou 2000 crianças” para escolher o ator que interpretou Morozov, em março de 1937, a GUK paralisou o processo. Chumiatskii aproveitou-se desta fragilidade de Eisenstein e escreveu um violento artigo publicado em 1937 pelo Pravda, acusando-o de desperdiçar milhões de rublos com o projeto. Diversos ataques públicos seguiram-se ao de Chumiatskii. Muitos diretores famosos, como: Boris Barnet, Aleksandrov, Dovjenko acusaram Eisenstein de se promover em detrimento da comunidade, além, é claro, de classificar o filme como “formalista”. Abaixo segue um destes ataques:

Formalismo, formalismo e mais uma vez o formalismo. Esta é uma doença terrível com você. Formalismo condena à solidão. É uma visão de mundo pessimista, que está em conflito com a nossa época. Devo dizer que eu odeio o formalismo com todo meu ser, odeio os seus elementos de obras de arte, mesmo quando elas são feitas por mestres como você. Tornei-me seu oponente quando vi “Outubro”. Eu vi a revolução através de seus olhos. Eu não vi “O Prado de Biéjin”, apenas trechos sobre o fogo, mas foi o bastante. Como você poderia fazer uma fogueira, no episódio central na construção dos kolkhoz? Eu não entendo o que o artista quis dizer com isso. Nós sentimos que não podemos expressar em nossos filmes, mesmo uma parte dos grandes pensamentos que queremos expressar. Como você se atreve a dar uma parte do seu filme para mostrar o fogo, isso é o melhor testemunho da sua pobreza. Você disse que o fogo representava a luta dos camponeses dos kolkhoz contra a anarquia. Mas não-fascistas e capitalistas também combatem incêndios? Não há elemento socialista nisso. (MARIAN,1937 apud KENEZ, 2003, p.137).

Este artigo foi escrito em 1937, por Iu. Marian, diretor soviético pouco conhecido no Ocidente.
Nele, percebe-se o grau de virulência dos ataques que Eisenstein sofreu ao ter seu projeto interrompido. Marian era um stalinista convicto, seu discurso deixa claro que qualquer desvio experimental – formalismo – deveria ser encarado como uma doença contagiosa. A ressalva que ele faz, ao dizer que o “Formalismo condena à solidão”, é uma advertência neste sentido. Nesta lógica, uma vez “doente”, o paciente é obrigado a ir ao isolamento para se tratar. Apesar de que muitos stalinistas considerarem que alguns pacientes deveriam ser sacrificados para evitar a propagação da doença.

Estas críticas foram devastadoras para Eisenstein, pois duraram meses. Apesar de quase ninguém ter tido a oportunidade de assistir ao filme, ele se tornou um exemplo de desvio do realismo socialista e foi discutido, neste sentido, nas escolas de cinema e nos estúdios russos. Eisenstein só não sofreu represálias físicas, devido a sua reputação mundial. Já outros participantes da equipe, como o diretor geral da Mosfilm, não tiveram o mesmo destino e foram presos, por não terem interrompido o projeto.

Outros filmes deste período também sofreram as mesmas conseqüências de “O Prado de Biéjin”. Em um dos tópicos anteriores, citamos o caso de “Nova Moscou” (1938), mas outros tiveram a mesma sorte. “Pai e Filho” (1937) de Margarita Bárskaia e “A Lei da Vida” de Alexander Stolper foram alguns deles. O filme de Bárskaia não chegou a ser exibido, mas, mesmo assim, ela foi detida. Kenez (2003) destaca que Bárskaia, ao lado de Aleksander S. Kubar, foram os únicos diretores que foram presos durante os expurgos na indústria fílmica. Bárskaia em 1937 e Kubar em 1934.

Já o caso de Stolper foi sui generis. O seu filme “A Lei da Vida” (1940), chegou a ser exibido nos cinemas, mas depois de 10 dias de exibição, ele sofreu um ataque em um editorial publicado pela Pravda, e saiu de cartaz. Seu enredo construiu uma crítica direta a alguns lideres do Komsomol que abusavam do seu status.

Esta observação, feita por Kenez (2003), de que apenas dois diretores foram presos não atenua os impactos da censura na indústria cinematográfica. Se por um lado foi raro o número de diretores presos, outros profissionais da indústria fílmica foram presos às dezenas. Não obstante, a eficácia da censura impediu que o número de diretores presos aumentasse. Como já dissemos, a censura era feita em todos os estágios da produção, logo o produto final era resultado da aprovação dos censores, entretanto, em alguns casos, isto falhava, pois o cinema, ao contrário do que alguns dos ideólogos do realismo socialista pensavam, não é uma ciência exata.








Diogo Carvalho é Historiador pela Universidade Federal da Bahia. Atualmente desenvolve mestrado pelo Programa de Pós-Graduação em Cultura e Sociedade (UFBA), onde realiza pesquisas sobre o cinema soviético. Membro da Oficina de Cinema-História da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (UFBA). Trabalha com os seguintes temas: cinema, culturas, História, cultura digital, política humanidades e literatura beatnik. diogocarvalho_71@hotmail.com



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ASPECTOS ANTIILUSIONISTAS


ASPECTOS ANTIILUSIONISTAS NA ENCENAÇÃO DE ANTOINE VITEZ


Essa semana vou apresentar algumas reflexões sobre a noção de antiilusionismo no teatro de Antoine Vitez (1930-1990) através da descrição de duas de suas encenações, ambas de 1971, sem pretensões, claro, de esgotar o assunto.

Nossa investigação sobre o antiilusionismo levou-nos à definição do épico e da evolução histórica do significado do termo. O teatro épico é um dos poucos casos, dos mais recentes, de teoria e prática que constituem uma nova concepção do espetáculo. A sua definição sugere, antes de tudo, a existência de algo essencial em sua arte: a verdade da mentira. Não se pretende mais reproduzir a realidade. Este novo teatro despreza a ilusão de realidade. O palco não é mais a caixa iluminada das ilusões. “O teatro é teatro mesmo, é mentira, portanto, uma mentira essencial, porém mentira. A quarta parede tendo sido derrubada, agora o teatro é disfarce, fingimento, jogo, aparência, parábola, poesia, símbolo, sonho, canto, dança e mito”, como diz Rosenfeld.

Quando entramos num espaço cênico, tomamos consciência de uma perturbadora riqueza de significados. Um mundo se abre para nós. Um mundo de segredos, de surpresas, de intimidade. Quantas vezes se renasce naquele espaço - profundo e escuro, que verticaliza, contrai e elastica, reduz e amplia, - luzes, sombras, seres, objetos, imagens.

Antoine Vitez é um desses diretores que acreditam que o sentido real do teatro está no espetáculo que há dentro. Esse cofre de cenas que aguça nossa percepção. O passado, o presente, o futuro nele se condensam.

O que mais caracteriza o teatro épico, além dos seus meios, é o seu fim, o seu objetivo, muito concreto e imediato: a ruptura de qualquer encantamento e do chamado realismo cênico, utilizando diversos recursos sobre os quais falarei agora.

ANDRÔMACA
autor: Racine
estréia: 26 de janeiro de 1971

“(...) É a sua concepção de poesia e de teatro, é a eficácia de seus princípios pedagógicos (Vitez é professor do Conservatório desde 1969) que o espetáculo que nós acabamos de ver nos faz apreciar: um mínimo de acessórios (mesas, cadeiras, escadas), modo de vestir descontraído (os “Jeans”), troca de papéis e variações em uma mesma cena interpretada diversas vezes. E esta ‘despersonalização’ da personagem não impede que um fluido emocional passe em alguns momentos.(...) Racine poupado? Não, restituído à sua complexa ambigüidade.”


ELECTRA
autor: Sófocles... e Ritsos
estréia: 16 /10/1971

“(...) Os versos de Yannis Ritsos intervêm na tragédia de Sófocles como colagens, mas não daquelas que a provocam. Eles são representados em consonância, trama dentro da trama, mais amarração que incrustação, e tão hábil que a passagem se opera insensivelmente e produz, quando se revela então que a ligação já foi feita, um choque emotivo que eu compararia a um sinal luminoso que anuncia, um clarão fugitivo repercutido.
- Este novo espetáculo você o faz para os parênteses? perguntam a Vitez.
- Não para os parênteses, mas por causa deles, respondeu.
Esses parênteses - assim são definidos os empréstimos a Ritsos - servem com muita exatidão, conforme o diz Vitez, “para fazer vibrar o texto de Sófocles.”
(...) Aqui intervêm a necessidade do dispositivo cênico pedido por Vitez a este outro grego, que não faz a sua primeira cenografia inventiva, Yannis Kokkos, e que representa sobre a proximidade do ator e do espectador para uma participação distanciada; aí está o paradoxo, mas as coisas se passam de fato assim.


Imaginem a planta de uma igreja. Os espectadores, uma centena, sentam sobre os bancos orientados em direção ao corredor central, os braços mais curtos do transepto cortando a nave ao meio. Assim eles dominam mas por pouco, sobre seus quatro estrados por andar, a área de representação, longo assoalho de ripas vermelho-escuro. As entradas e saídas dos atores são laterais. Quando a ação não lhes diz respeito, eles vão simplesmente sentar-se em um banco na extremidade do caminho de flores. Essa referência ao teatro japonês justifica-se pelo fato de um certo estilo de representação, e a expressão poder ser utilizada literalmente, já que as flores, verdadeiras, recém colhidas, vêm atapetar as oferendas e, metaforicamente, Electra, em sua desolação, pisa-as, mata-as. As mulheres estão vestidas com vestidos perolados mas franjados, luxo decadente. (...) Os rostos são untados de um fundo de tinta azul-acinzentado que lhes compõem máscaras mas não de ouro como aquela de Micenas, mas de cofre oxidado.
(...) Os parênteses não facilitam o acesso ao texto. Eles introduzem com felicidade outros planos; ainda é preciso para se emocionar com eles ser especialista em uma ginástica do espírito. Há ainda a duração do espetáculo; perto de duas horas e meia de tensão que é preciso poder sustentar. Admito, claro, que ele possa tocar acidentalmente uma sensibilidade, uma inteligência não educada. Então, que recompensa! Mas que Vitez queira ou não, Electra é um espetáculo “elitista”. Longe de mim a idéia de reprová-lo. Ele visa mais alto. É, entretanto, assim que o nível do público tem alguma chance de se elevar. Popular, não. Político, sim, e feito por mãos operárias. Mas em suma, o que é um espetáculo popular? Um termo a ser definido.


Djalma Thürler é Cientista da Arte (UFF-2000), Professor do Programa de Pós-Graduação Multidisciplinar em Cultura e Sociedade e Professor Adjunto do Instituto de Humanidades, Artes e Ciências da UFBA. Carioca, ator, Bacharel em Direção Teatral e Pesquisador Pleno do CULT (Centro de Estudos Multidisciplinares em Cultura). Atualmente desenvolve estágio de Pós-Doutorado intitulado “Cartografias do desejo e novas sexualidades: a dramaturgia brasileira contemporânea dos anos 90 e depois”.
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O ETERNO FEMININO E SEU UNIVERSO



Oscar Niemeyer, autor do projeto arquitetônico do Museu (MON) e que dá nome ao mesmo, assim descreve sua geometria:
"Não é o ângulo reto que me atrai nem a linha reta, dura, inflexível, criada pelo homem. O que me atrai é a curva livre e sensual, a curva que encontro nas montanhas do meu país, no curso sinuoso dos seus rios, nas ondas do mar, no corpo da mulher amada. De curvas é feito todo o universo, o universo curvo de Einstein."

Pois o MON está com o seu acervo em cartaz, em que se propõe apresentar o feminino e seu universo nas diversas linguagens artísticas, sem a pretensão de um recorte curatorial específico ou a preocupação com qualquer cronologia ou gênero. O feminino e seu universo foi o estímulo que norteou a seleção das obras dessa mostra em sua maioria, desenhos, entre outras técnicas. Os trabalhos exortam a mulher e refletem sobre a eternidade da temática feminina e ao exortar a mulher, exorta-se também o homem, parte de outra parte, segundo Estela Sandrini, diretora do museu.

Na dialética das relações sociais, as pessoas formam-se no contraponto das imagens recíprocas, como em um jogo de espelhos, compreendendo-se ou opondo-se, contemplando-se ou estranhando-se. Aí se revelam identidades e alteridades, diversidades e desigualdades, acomodações e oposições. Nesse sentido é que o espelho da mulher pode ser o homem, assim como o espelho do homem pode ser a mulher, ambos constituindo-se recíproca, necessária e contraditoriamente. Essa é a dialética das relações sociais, com a qual se consitutem todos, coisas, gentes e ideais, realidades e imaginários já disse uma vez o saudoso Octavio Ianni refletindo sobre as figurações da mulher nas ciências sociais e na arte.

Voltando à mostra, ela passeia pela história da arte refletindo sobre a eternidade da temática feminina. Desde a Pré-história, com a Vênus de Willendorf, passando pelas musas do Renascimento até as figuras inovadoras das “Demoiselles d’Avignon” de Picasso, a exposição explora o universo das mulheres em um total de 59 trabalhos de diversas linguagens e técnicas. Entre os artistas que compõem a exposição destacam-se Iberê Camargo, Torres Garcia, Di Cavalcanti, Vicente do Rego Monteiro, Letícia Marquez e a paranaense Helena Wong.

Estela Sandrini ilustra a exposição do acervo com essas palavras:
"...Ah...mulheres...! De todas as cores e sotaques, de todas as idades. Mulheres plenas ou à espera. Quem é você? E você? As mulheres de cada face, inspiração de artistas e poetas. Desejos, necessidades ou vaidades. Quantos há em teu riso ou em teu pranto? O que levas? Alegrias ou tristezas, sempre esperança e saudades. Quem são vocês? Por vezes inteiras, outras metades. Mas mulheres de guerra e de paz. Quem são vocês? Partes de uma mesma face!"

Serviço:
Mulheres no acervo MON- Sala Helena Wong
Até 29 de agosto de 2011.
Museu Oscar Niemeyer (Rua Marechal Hermes, 999)
Curitiba - Informações: (41) 3350-4400.


"Colombina"- Arthur Nísio

"Mulheres com criança" - Helena Wong

"Campesina de Quiromarca" - Martin Chambi


"A fonte"- Theodoro de Bona

"Rotunda vaidosa" - Ennio Marques Ferreira


"Nu deitado" - Estanislau Traple


"Pernas" - German Lorca


"Menina sentada"- Theodoro de Bona





Izabel Liviski é Fotógrafa e Mestre em Sociologia pela UFPR, Pesquisadora de História da Arte, Sociologia da Imagem e Artes Visuais em geral. Escreve quinzenalmente às 5as feiras na Revista ContemporArtes.





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Troca de Saberes



Troca de Saberes:

Ocupando espaços

Espaços que ainda nos são negados,

espaços que sempre nos serão de direito!!!

por: Aline SerzeVilaça

Troca de Saberes,

Trocando versos, sorrisos, receitas, ciências, saberes

que são nossos por experiências, culturas e vidas.

Trocados, partilhados, oferecidos, apreciados

tal qual deveres e direitos!!!

A Troca de Saberes é um belíssimo, respeitoso, e politicamente inteligente e correto encontro proposto há três anos pelo Programa TEIA

da Universidade Federal de Viçosa (UFV), CTA - Centro de Tecnologias Alternativas da Zona da Mata, também localizado em Viçosa, em parceira com outros profissionais e estudantes ecologicamente carinhosos da UFV, e de amigos, parceiros, companheiros de lutas da cidades vizinhas, das comunidade rurais, dos movimentos sindicais que lutam pela agricultura familiar, agroecologia. Participando também movimentos como o MAB- Movimento dos atingidos por barragens, MST- Movimento Sem Terra, Cooperativas de produtos agroecológicos e artesanais.

Este ano, entre os dias 11 e 13 de Julho, este grupo de cerca de 230 pessoas se encontra no campus

da UFV fazendo alegre e conscientemente um importante movimento de resistência cultural, alimentar, econômica, agroecológica intervindo responsavelmente e mudando a lógica capitalista, excludente, consumista, da Semana do Fazendeiro,

tradicional evento realizado pela universidade em questão.
Noss@s companheir@s da Troca estão transformando a massacrante rotina do agronegócio e do veneno que enriquece e empodera apenas alguns poucos que além de deter as terras, também influenciam até os saberes de uma instituição de densa tradição como a já citada.
Dentre debates intensos, instalações pedagógicas, cantorias, danças, estamos vivenciando juntos, sonhadores dos mesmos sonhos, numa troca intensa de resultados satisfatórios e desafios desta opção agroecológica.
Gênero, Saúde Integral, Agroecologia, Economia Popular Solidária, são e serão temas debatidos. Barragens, Mineradoras, Minerodutos, Terras, Eucalipto e monoculturas, Venenos- Agrotóxico, Esgoto, Lixo, Comercialização, Exclusão Cultural, Educação são temas problemas que a nossa região- Zona da Mata e todo o País enfrenta ou não, que serão discutidos.
Eis aqui uma breve pincelada do que esta Troca de Saberes, de Sonhos, de vivencias, este partilhar de culturas, de experiencias, este celebrar da vida em harmonia com a natureza e com o outro. Este celebrar da luta e resistência continua a ordem opressora estabelecida.

Assim, peço licença para me incluir como companheira de sonho e citar um querido amigo de luta que diz...

"Queria ter da flor a essência

Para perfumar campo e cidade

Com seu perfume

Aniquilar os odores

Da desigualdade

Queria ter a capacidade

Do germinar da semente

Para alimentar a fome do povo

Não deixar que existam

Indigentes

Acreditando

Somos flor e semente

Flores que perfumam a vida

Sementes que alimentam o sonho"

Poesia Flor e Semente composta carinhosamente por: Amauri Adolfo, Poeta, Agricultor Agroecológico


Troca de Saberes no campus da Universidade Federal de Viçosa
momento em que nós do campo nos empoderamos do direito de ocupar o grande latifúndio do conhecimento da zona da mata mineira.

Assim, desejando perfumar a vida,
sendo flor e semente

Deixo aqui um abraço carinhoso aos participantes da Troca e aos outros agricultores, agricultoras, artesãs e artesãos que não puderam vir.
Fica aqui um agradecimento pelos saberes conosco partilhados e um
Muito Obrigada!!!

Atenciosamente,

Aline SerzeVilaça

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Perdemos o Poeta Mário Chamie!


MORRE O POETA MÁRIO CHAMIE!
Por Altair de Oliveira


Entristecidos, noticiamos que faleceu neste último dia 03 de julho, aos 78 anos, no hospital Oswaldo Cruz em São Paulo, o poeta, crítico literário e ex secretário de cultura de São Paulo, "Mário Chamie". O poeta sofreu falência múltipla de órgãos durante um tratamento de quimioterapia, ele sofria de cancer pulmonar desde 2010.


Mário Chamie nasceu em Cajobi-SP em 1933, formou-se em Direito pela Universidade de São Paulo, onde foi colega de Lígia Fagundes Teles, publicou o seu primeiro livro de poemas "Espaço Inaugural" (1955) e uniu-se ao grupo literário de vanguarda "Poesia Concreta". Seguiram-se os livros "O Lugar" (1957) e Os Rodízios (1958) e em 1961 abandonou o grupo do concretismo. Em 1962, o poeta publicou o livro "Lavra Lavra", que instituiu o grupo literário "poema-praxis", do qual ele foi o mentor e principal teórico. Assim como o grupo "Neo-concreto", instituído pelo poeta Ferreira Gullar, o movimento "Instauração-Praxis", de Chamie, era também dissidente e criticava a Poesia Concreta. O livro Lavra Lavra recebeu o prêmio jabuti de 1963 e o movimento literário fundou a revista Praxis.

A partir de 1963 Chamie iniciou uma série de conferências sobre a "nova literatura brasileira" na Itália, Alemanha, Suíça, Líbano, Egito e Síria. Também ministou palestras sobre "problemas da vanguarda artística" nas universidades de Nova York, Colúmbia, Harvard, Princeton, Wisconsin e Califórnia, nos Estados Unidos, em 1964. Em Harvard, o poeta deu aulas para o astro da música Jim Morrison, vocalista da banda The Doors, de quem se orgulhava em conservar uma coleção de cartas que o músico posteriormente lhe enviara.

O poeta escreveu ainda vários outros livros de poesias e de ensaios literários e recebeu vários prêmios, destes destacam-se o prêmio "Prêmio de Poesia" que recebeu em 1977 pelo livro "Objeto Selvagem", concedido pela Associação Paulista de Críticos de Arte e o terceiro lugar que recebeu no "Prêmio Portugal Telecon" de 2003, pelo livro "Horizonte de Esgrimas".

No período de 1979 a 1983, Mário Chamie foi secretário municipal de Cultura, onde ele foi um dos principais responsáveis pela criação do Centro Cultural São Paulo e da Pinacoteca do Estado.
Desde 1992, o poeta ocupava a cadeira de número 26 na Academia Paulista de Letras (APL), onde era tido como um dos mais brilhantes e participativos membros.




O que Já Disseram dele:


- "Não resta dúvida que Lavra Lavra se tornará um marco ns história da poesia brasileira. Atribuo-lhe grande importância. É uma realização. Finalmente chegamos à prática da nova concepção de poesia. Cada poema tem ao mesmo tempo uma linha de rigidez e de elasticidade. O leitor entra ali dentro e gira como o manipulador da obra. As Geórgicas da era industrial." - Murilo Mendes, sobre o livro "Lavra Lavra", de Chamie;

- "Mário Chamie... é a grande voz poética brasileira deste final de século." - Leo Gilson Ribeiro;

- "A obra de Mário Chamie constitui uma saudável exceção em nossa poesia de vanguarda. Em seus livros, a linguagem experimental, em vez de se comprazer em ensinamentos gratuitos, dá sempre a palavra ao objeto. Desde a fábula (O Cão sem Plumas) ou o apólogo (O Rio) cabralianos, nossa musa social não se exprimia com tal vigor." - Jose Guilherme Merquior;

- "Mário Chamie, inspirador e principal teórico do grupo Práxis, tentou de certo modo preservar a estrutura do poema, além de manter um forte lastro de realidade. As suas experiências são interessantes como tentativa de manter a tradição do Modernismo sem renunciar o espírito de vanguarda." - Antônio Candido;

- "Chamie foi uma das grandes figuras culturais de São Paulo surgidas na metade do século 20. Foi um imenso poeta, um originalíssimo ensaísta e um dos mais marcantes secretários de Cultura que a cidade já teve" - Amir Labaki, articulista da Folha de São Paulo.

- "Altamente consciente da revolução da linguagem que se vinha operando na poesia brasileira desde as conquistas de 22, Chamie assume-a como 'revolução do conhecimento' e como 'consciência política' " - Nelly Novaes Coelho.


O que Ele já Disse Sobre a Poesia:

Chamie - "Penso que a poesia é a linguagem das linguagens, pois é nela e por ela que o inesperado dizer sobre as coisas se anuncia. Ela é sempre inaugural e desconcertante. Não se domestica com poéticas a palavra imprevisível do poema. Platão rejeitou a presença dos poetas em sua República por desconfiar da força desestabilizadora de suas transgressões. Hoje, a República que tenta descartar a poesia é outra. É uma república de mil faces, sob a regência de um deus único e poderoso: o Mercado. Este tem na mídia o espaço específico para o funcionamento de sua lógica, que privilegia a mercadoria, o consumo ou as falsas objetividades, divididas entre a "auto-ajuda" e o entretenimento massificante. Ora, sem valor mercadológico e longe de ser entretenimento ou auto-ajuda, a poesia não cultiva igualdades apaziguadas. Ao contrário, ela devassa discursos, libera diferenças, não pacifica e traz inquietude. Utopia incessante de si mesma, a poesia sopra sobre as repúblicas estáveis do consenso os ventos do dissenso, com que cada poeta dita a própria singularidade. Baudelaire emblematizou essa singularidade na figura do flaneur ou do apache, ou seja, na figura daquele indivíduo que, mesmo fazendo parte da massa urbana padronizada, reconhecia-se único e solidário, ao mesmo tempo. A lição permanente de Baudelaire é esta: no horizonte da poesia não há lugar para a mesmice multiplicada ou repetida. Que todo poeta seja singular e faça a sua diferença!" - numa entrevista ao escritor e jornalista José Castello para "O Estado de São Paulo" em 2001.


Principais Livros de Poemas de Mário Chamie:


* 1955 - Espaço Inaugural
* 1957 - O Lugar
* 1958 - Os Rodízios
* 1962 - Lavra Lavra
* 1963 - Now Tomorrow Mau
* 1967 - Indústria
* 1974 - Planoplenário
* 1977 - Objeto Selvagem
* 1978 - Sábado na Hora da Escuta
* 1986 - A Quinta Parede
* 1993 - Natureza da Coisa
* 1998 - Caravana Contrária
* 2002 - Horizonte de Esgrimas.


Principais Livros de Ensaios de Chamie:

- Intertexto - 1970;
- ATransgressão do Texto - 1972;
- Instauração Praxis - 1974;
- A palavra inscrita - 2004.





POEMAS DE MÁRIO CHAMIE



CERTO ANTÔNIO CONSELHEIRO


Cândido. O Antônio das mortes
conselheiras
não é antes de tudo
um forte.
Carregado de frases
e paráfrases,
suas alheias ideias
presas
avançam às avessas
com as lesmas
de suas próprias mortas
letras.
É brando
o antônio destas mortes
sorrateiras
com as armas e as prisões
assinaladas na colméia
de outras tantas presas
ideias alheias.

Mais que brando
é cândido
esse antônio das mortes
sertanejas,
quando
de chicote na algibeira
abate,
sob patas e alpercatas
de sua igreja acadêmica,
o corpo santo da controvérsia
seja nas gueras
de sua lisonja lisonjeira,
seja
contra a teia e a trama,
a aranha e a areia
de outras suas medianas
frases feitas.

Não é antes de tudo
um forte
esse antônio de mortes
tão anêmicas.
Nessa esteira
de tantas outras
mortas letras,
avança sombranceiro
para trás,
sorrateiro capataz
das mesmas lentas lesmas
de suas alheias ideias caranguejas.


***


FORCA NA FORÇA


a palavra na boca

na boca a palavra: força

a força da palavra força

a palavra rolha fofa



a rolha fofa sem força

a palavra em folha solta



a força da palavra forca

a palavra de boca em boca



na boca a palavra forca

a palavra e sua força


***


RODÍZIO DO CORPO




Dia. A avenida jaz num leito

quando sou inerte neste reino

de dormir. Pedra sobre pedra,

seus andores duram em terra

e são chamados casa, edifício.

Movo os olhos e contudo rijo

meu corpo imóvel nunca leva

às duras alamedas graça aérea.

Necessário que o físico (cabeça,

feixe de ossos e ágeis peças)

permaneça rodízio senão moto-

­contínuo onde ruas sejam o foco

de luz na sombra e vice-versa.



Eis mover. O movimento humano

das coisas que animo, se amamos.


***


Para ler mais:

- Biografia do poeta Mário Chamie: http://pt.wikipedia.org/wiki/M%C3%A1rio_Chamie
- Entrevista concedida a José Castello: http://www.revista.agulha.nom.br/disseram36.html


***


Ilustrações: 1- foto do poeta Mário Chamie; 2- foto da capa do livro "Caravana Contrária", de Chamie; 3- "Forças da Natureza" de Di Cavalcanti.
***

Altair de Oliveira (poesia.comentada@gmail.com), poeta, escreve quinzenalmente às segundas-feiras no ContemporARTES a coluna "Poesia Comovida" e conta com participação eventual de colaboradores especiais.
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Alguns poemas de Rudinei Borges




[Meninos da Sétima Rua]
Tenho saudades do que é breve
e vai para além dos barcos.
Esvai com a alvorada.
Saudades do menino cálido,
que se perdeu nos campos
entre o cais e o beco
e a tenra ilusão dos fósseis.
Saudades daquele menino:
amante das ruas,
andarilho das tardes.
O meu menino.
Eu mesmo.

[Nascimento de Maria Fernanda]
Não tenho razões
para ser
maior que o tempo.
Nem menor
que o instante vago.
Sou apenas o vento
e estou onde quero
como se não quisesse nada.

[Nascimento de Thiago Gonçalves]
Tenho que prenunciar o cais,
as mulheres grávidas,
o pasto e a cerca.
O ombro dos pais
quando é tempo de colheita.
A mão das mães
diante do fogão à lenha.
Tenho que prenunciar a tarde.

[Catedral de Sant’Ana]
Quem é livre
quando calam os sinos
e os candelabros?
Quando a manhã parte
levando os montes?
Ninguém é livre
quando não ama
a intensidade da chama.
Só é livre
a alma branda
quando a paixão doma
a carne
e as marés lentas
tocam cítaras.
[O poeta]
Parece estar mais próximo do outro mundo. Está. Quando dorme a profundeza do sono o poeta rompe a porta das coisas e vai às ilhas que ninguém conhece.
Vê na flor não o que a flor não é. Vê na flor o singelo encanto e furta das pétalas a luz do dia.
A lamparina acesa atravessa a madrugada. Junta o alfarrábio e o tinteiro à escrivaninha. Tece metáforas em silêncio como se contasse segredos a ninguém.

Consigo já não pode. Nem com os demais.
Chora aqueles que perderam a amada.
Sente na mão a dor das chagas,
porque nele todas as dores se encontram.
Nasce a poesia.
E o poeta devolve às pétalas
a luz do dia
tecida em palavras.







Rudinei Borges é escritor, poeta e dramaturgo. Nasceu em Itaituba, Pará. Formou-se em Filosofia. É autor do livro "Chão de terra batida" [All Print, 2009]. Edita a página A Rua Sétima.Entre em contato com o autor pelo e-mail: rudineiborges1@yahoo.com.br

A Contemporartes agradece a publicação e avisa que seu espaço continua aberto para produções artísticas de seus leitores.
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