Um bate-papo entre Bira Vidal e Djalma Thürler
Diálogo em 3 Atos
Prólogo
Esse foi um bate-papo, uma conversa com o jornalista Bira Vidal realizada em 23 de agosto, que traduzo aqui como uma proposta de reflexão da coluna da semana passada. Para os que ainda não sabem, coordeno o CuS, Grupo de Pesquisa em Cultura e Sociedade da UFBA.
Primeiro Ato
Bira Vidal: Além de trabalhar com pesquisa, o CUS atua de que forma? Qual é o alcance que o CUS tem fora da UFBa?
Thürler: O CuS, em sua pequena trajetória já alcançou significativa projeção nacional, haja vista, seus coordenadores comporem diretoria da ABEH (Associação Brasileira de Estudos da Homocultura) e terem voz nas reuniões da SNDH (Secretaria Nacional de Direitos Humanos). Isso mostra que a pesquisa acadêmica desenvolvida cá no grupo ganhou um dimensão política que talvez não esperássemos, mas estamos gostando de como Academia e Política vem se misturando.
Bira Vidal: O grupo analisa de que forma a exposição da imagem do homossexual na cultura?
Thürler: Nossa principal linha de investigação é a Teoria Queer, isso significa que nos interessa analisar os processos de normatização cultural, em especial, as normas de gênero e sexualidade, o que chamamos de heteronormatividade. Mas trabalhamos na tentativa de desconstrução, de desestabilização dessas normas, iluminando e dando voz aos "ex-cêntricos", ou seja, aqueles com identidades - sejam elas quais forem - fora da norma, fora do centro. Não é verdade que analisamos apenas a exposição da imagem do homossexual, a bem da verdade, preferimos optar pela expressão "não-heterossexual", mas não nos limitamos a eles, aliás, todos que borram qualquer tipo de norma nos interessa, o cartunista Laerte, por exemplo, nos interessa sobremaneira quando diz que os papéis sexuais e sua dicotomia binária são invenções.
Segundo Ato
Bira Vidal: Como o CUS está dividido em relação a áreas de pesquisa? Ex: masculinidade...
Thürler: Não é exatamente uma divisão, mas um prolongamento das discussões do grande grupo, o GENI - Gênero, Narrativas e Políticas Masculinas está debruçado sobre os estudos masculinistas, que teve origem muito próxima dos estudos feministas e gays nos anos 60-70, e se preocupa em criar elementos para discutir a hegemonia masculina na cultura mundial, alimentada e incentivada pela sociedade, história, arte, comunicação, etc. As violências contra mulheres e gays, por exemplo, partem desse grupo, aliás a violência é apenas um dos tantos "delírios masculinos".
Bira Vidal: Quem forma o grupo? Alunos da UFBa de qualquer curso, professores, funcionários, etc?
Thürler: O CuS é composto por alunos de variados Cursos da UFBA, Comunicação, Ciências Políticas, Antropologia, dos Bacharelados Interdisciplinares e do Mestrado em Cultura e Sociedade, além de uma funcionária da Escola de Teatro.
Terceiro Ato
Bira Vidal: Qual foi o saldo até agora dos trabalhos do grupo?
Thürler: Existe um saldo material, quantitativo, além da ABEH e SNDH, que já citei, temos inúmeras participações em Congressos importantes no Brasil e no exterior, convites para curadoria de Seminários sobre Cultura LGBT, palestras que algumas prefeituras contatam, o Evento "Stonewall 40 + o que no Brasil" e o livro homônimo que acabou de ser lançado, a peça "o Melhor do homem", que está em sua terceira temporada e iniciará turnê nacional em outubro. Mas tem outros saldos, a chance de com isso tudo estarmos criando uma política de equidade, ajudando e contribuindo para uma sociedade mais livre e "permeável", mais saudável, portanto. E claro, formar novos pesquisadores que formarão outros tantos que continuarão lutando por liberdade.
Djalma Thürler é Cientista da Arte (UFF-2000), Professor do Programa de Pós-Graduação Multidisciplinar em Cultura e Sociedade e Professor Adjunto do Instituto de Humanidades, Artes e Ciências da UFBA. Carioca, ator, Bacharel em Direção Teatral e Pesquisador Pleno do CULT (Centro de Estudos Multidisciplinares em Cultura). Atualmente desenvolve estágio de Pós-Doutorado intitulado “Cartografias do desejo e novas sexualidades: a dramaturgia brasileira contemporânea dos anos 90 e depois”.