Tecituras II




Rolo na cama
a noite avança

chega a madrugada
calma e mansa ...

me envolve em sua teia

pensamentos e lembranças
povoam minha mente

num emaranhado de sentires
em urdiduras me perco

eu teço
vagarosamente

nas horas insones
a minha própria trama




Ianê Mello


*

Foto de Anka Zhuravleva.
Ler Mais

Pontes



Olá, caros leitores!


     Iniciamos hoje na Coluna As Horas. Apresentaremos por aqui textos que resultam de uma feliz e importante parceria intelectual, teórica e emocional. Textos que refletem as longas horas, de longos diálogos, de uma simbiose de ideias e emoções. Começamos apresentando uma crônica, um tanto quanto reflexiva. Sensível, “Pontes” leva a um mergulho interior, a uma viagem existencial


Pontes


Adriano Almeida & Renata Cordeiro



     Gosto de poder ser um humano imperfeito. Porque o imperfeito não tem obrigação alguma com a perfeição. Gosto de pensar bobagens e me inquietar com tolices. As tolices, estas, me tomam boa parte dos pensamentos. Tenho perdido momentos importantes observando coisas corriqueiras, como as pontes e os rios. Não! Não insinuo que queira me jogar de alguma delas... Me perco vendo-lhes a fixidez, analisando-lhes a continuidade, muito embora as águas que lhes perpassam jamais voltem a ser as mesmas. Acredito ser exatamente essa novidade, sempre constante, o que me intriga e me atrai nas pontes...


     As pontes são um vinho doce e inebriante ao mostrar-me o tempo, mostrar-me que depois de águas turvas e turbulentas vêm passagens de águas claras e mais calmas... As pontes me fazem um mergulho. Sim! Um mergulho... E não sou eu quem mergulha tomando-as como trampolim, são elas próprias a mergulharem... Acredito hoje que somos todos, eu e os outros paranóicos, os urbanóides pós-modernos que se deixam por tempos a observarem pontes, todos nós oceanos profundos. Ao nos fixarmos fitando uma ponte e suas águas, permitimos que elas nos mergulhem tão longícuamente quanto o longo leito que suas águas irão percorrer até a foz. 


     Por estas pontes já se foram muitas inquietudes, inúmeras incertezas. Foram medos e desencantos. Foram, também, águas que eu desejava, por um instante, que voltassem... Sobre as pontes eu despejei já muitas raivas, muitos elos, malditos! Pesos que jamais deveriam ter estado e que as águas tranqüilas levaram para muito além, onde eu jamais pudesse ver. Sobre as pontes e vendo as águas, ao pôr-do-sol, já saciei a minha sede, já banhei-me de novas ideias, me reergui e me apaixonei. Posto que as pontes são, elas próprias, elos, entre o que se foi e o que virá, entre o que entregamos ao destino e o que recebemos dele. Pontes são mais que caminhos, são o início e o fim, de um eterno recomeço.





Adriano de Almeida é pesquisador na área de cultura, imaginário e simbologia do espaço. Mineiro, tem se dedicado a escrever poemas, crônicas e contos. Seus escritos, de caráter introspectivo, retratam, quase sempre, questões da existencialidade humana.








Renata Cordeiro é uma historiadora-musicista. Cantora, compositora, mineira. Como escritora tem percorrido os caminhos da crônica, da poesia e das narrativas em prosa. Suas produções se fazem numa simbiose entre elementos que vão da música aos profundos insights históricos.

Ler Mais

Sobre viver e saber




Entre as racionalidades empiristas e racionalistas das luzes modernas e a esquizofrenia cognitiva da contemporaneidade. É aí que estou, na jornada em busca do saber, do conhecer, do experimentar. Perguntas se
acumulam numa velocidade extrema e se entrelaçam numa complexidade caótica. Neste emaranhado de conceitos e teses sucumbo e perco as noções mais básicas de realidade e o mínimo sentido que possa me orientar. Quem sou eu? onde estou? Qual é o meu tempo?

Poupe-me neófita. Cale-se, sinta a proximidade com o mais longínquo, a abertura dos portais de todos os tempos, a espacialidade em sua plasticidade infinita e a imaterialidade de seu novo ser. É chegado o momento para que compreendas que tudo o que a humanidade mais buscou durante séculos, seja pelos saberes mágicos ou pelo conhecimento canônico foi alcançado, para a desgraça e miséria da humanidade. Não há mais volta. De tanto buscarem saber sobre o que não lhes é dado, sereis entregues a confusão, a loucura, ao descaminho. Mas agora, sem mestras(es) e livros sagrados, sem profecias e possibilidades novas. A infinita e perene condição de possuir um cabedal de conhecimento inumerável e a incapacidade de retê-lo e com ele fazer a alquimia da vida. Terás o que sempre quis, a mais ampla e completa liberdade, mas em troca perderás o domínio sobre si e sobre tudo o que há neste mundo.

Assusto-me com as vozes da eternidade que latejam sobre minha dolorida mente. Lembro-me da minha infância. De como era bom estar por ali, protegida e cuidada pelos olhares adultos. De como o mundo e a vida eram tão simples, bastava chorar e fazer chantagem com a mamãe e meus desejos eram atendidos. Mas já sentia falta da liberdade. Como se já tivesse algo em nossas almas que pulsasse, nos fazendo pedir voz e espaço, atenção, respeito, direito a participar e deliberar. Entre uma queda de dente e uma consulta ao pediatra, tinha uma vida administrada, embora não tivesse consciência de como operavam todas aquelas coisas.

Vieram os anos juvenis, de repente, já não era mais dona de meu corpo. Da pequena estrelinha, me tornava uma figura alta e magra, que já não passava mais de pé no banheiro de casa. Para olhar no espelho já tinha que me abaixar. Já não era eu, queria minha infância de volta. Os adjetivos diminutivos foram embora e agora era apenas chamada de rebelde sem causa. Uma contradição em termos, que respondia prontamente ser absurda, uma vez que só podem haver rebeldes com causas.

Sedenta por tentar entender o que acontecia, o que já se foi e poder prever o que viria, adentrava o meu mundinho particular, meu quarto era a salvação de todo o perigo exterior, e o local onde podia acender meus incensos indianos, ler meus livros de astrologia e preparar meus estudos bíblicos semanais. A biblioteca era meu cantinho secreto, no qual aos meus 14 anos tinham acesso ao lícito e impudico, onde as heresias poderiam ser cometidas secretamente, em meio a fileiras intermináveis de livros. A apostasia e o ateísmo vieram para fazer desabar as bases de tudo o que eu acreditava ser o saber mais puro e verdadeiro até então.

Anos confusos, românticos, inseguros. Nada era certo, quase tudo, sonhos possíveis de serem imaginados e imoralmente chocantes se fossem falados. Mas eu não queria regras. Até ali só tinha me levado ao erro. Agora eu queria experimentar, desmontar, destruir, indefinidamente, sem rumos.

A expulsão, o exílio, estava feito o cenário ideal para colocar em prática, no laboratório da vida, minhas novas crenças desconcertantes. Só não sabia até então, que já não teria possibilidade de jogar o rascunho no lixo e reescrever de novo aquelas histórias. E as marcas da vida, as consequências de minhas escolhas passam a ser minha preocupação central. Ora, nada que os manuais sobre a vida administrada não pudessem dar conta, e deram por algum tempo. Dando uma sensação de segurança perigosa, do tipo que nos leva a estagnar e abandonar os velhos sonhos juvenis.

Mas a roda do destino não cessa, e mais um "mundo" me faz despencar e com todas as "novas" premissas de vida. Remédios não faltam, de vela branca ao anjo da guarda ao mais novo livro de 7 passos para a felicidade eterna. Trocava meus ídolos, mas continuava uma ingênua idólatra, agora com um toque de amargor, fruto das experiências e vivências que a escola da vida te ensina compulsoriamente, mesmo sem você se matricular em um dos cursos. E a nota? ha ha ha , nunca saberá, pois a cada vez que olhares para trás se tornarás como a esposa de Ló, uma estátua de sal, incapaz de retornar ao que se passou e vê-lo de forma a reconhecer o que se foi.

Insistente e desobediente, acabo por ter que repassar por algumas vezes algumas lições, até que possa ser lançada ao próximo nível, com mais duras e deliciosas experiências e o sepultamento de tudo que já se foi. Já mulher feita, dou-me conta de que trago nessa viagem uma coleção de retratos, dos quais não lembro bem o nome. Perfumes, de flores que já foram extintas. Roupagens sociais, que já não cabem mais no espírito que me movimenta. Mais uma tormenta, o saber e o esquecimento, dois anjos que andam de mãos dadas e irão me acompanhar até que meus despojos sejam entregues aos vermes.

Caminho mais calma, serena, guardo a espada que usei em tantas lutas. Em alguns momentos de risco, tiro apressadamente e começo a dar golpes contra o ar, insanamente, desnecessariamente e sem nenhum resultado além do desgaste físico e emocional. Chega agora, a consciência do desgaste. Do tempo que escorre entre minhas mãos e na vagas lembranças lutas incríveis, percas irrecuperáveis e o silêncio imobilizador a me dizer que a cautela e a perspicácia podem ser as maiores armas de uma guerreira do conhecimento.

Olho pela janela, já entregam as flores, vivem os amores, tratam os horrores e eu aqui, a olhar no espelho, e ver as marcas que a vida deixou, a derramar lágrimas de felicidade, por ver concretizadas algumas de minha ambições inconfessáveis.

Numa súbita síntese, começo a enxergar por um momento, como pude construir muito mais do que algum dia pensei e de como sou puxada para ir para frente, por uma uma força desconhecida. No encanto do viver para o saber, saber para viver, aprendo que se houver força, desejo, pulsão, o tempo há de te levar, cedo ou tarde a muitos dos lugares que quisestes e depois te trazer de volta à casinha com flores na janela, onde a simplicidade da vida cotidiana pode ser a mais complexa demonstração da capacidade de realização humana, quando busca-se o saber.

Tatyane Estrela é graduanda no Bacharelado em Ciências e Humanidades e no Bacharelado e Licenciatura em Filosofia na Universidade Federal do ABC. Integrante do grupo de pesquisa ABC das Diversidades. Bolsista de iniciação científica do CNPQ, no qual desenvolve pesquisa com o seguinte tema: Formação e atuação de entidades de representação LGBT no grande ABC: Impactos na formulação de políticas públicas.
Ler Mais

Café com PP e Batuclagem na UFABC


2012 começou com todo o pique com os projetos de extensão Café com PP e Batuclagem dos quais participo e coordeno. Na quinta-feira passada, tivemos o primeiro encontro do Café com PP 2012, cujo tema foi Políticas Públicas de Saúde e contou com a presença de Thiago Ramos, pianista erudito da Camerata de Villa Lobos de Santos, que apresentou peças clássicas, além dos professores e especialistas em Políticas Públicas de Saúde Vanessa Elias e Francisco Comaru que apresentaram as últimas pesquisas na área. Tivemos um formato diferente, como em um talk show ao invés dos tradicionais slides. Houve um debate mediado primeiramente por Lucas Furtado e foram abertas as perguntas do público.
O próximo encontro Café com PP será dia 4 de junho quando teremos uma apresentação do Neblina sobre Trilhos e o debate com o Prof. Paulo Cézar Garcez, do Museu Paulista, que falará sobre Políticas Culturais. O encontro acontecerá na Fundação Pró-Memória São Caetano.

                                   Thiago Ramos no Café com PP/ UFABC -Sigma - São Bernardo

                                   Lucas Furtado e Vanessa Elias de Oliveira em conversa no Café com PP

                                  O professor Francisco Comaru em debate com Vanessa Elias
                                     Equipe e palestrantes

Já o Batuclagem começou 2012 com duas oficinas, uma sobre Contação de Histórias, ministrada por Jessica Mary Pereira e outra sobre Artes Gráficas, com Raphael Furquini. Amanhã será a primeira oficina feita com as crianças. Ela acontecerá na E.E. Homero Thon e o tema será Reciclagem. Os arte-educadores utilizarão brincadeiras, jogos e quiz sobre educação ambiental. Ainda está prevista uma segunda oficina nessa mesma escola ainda esse mês com o tema Biodiversidade.

O grupo Batuclagem 2012 tem dois violinistas clássicos, Thiago Ramos e André Freitas, uma contadora de histórias, Jessica Mary, uma formanda em Engenharia Ambiental, Hellen Tozi e duas estudantes do Bacharelado de Ciências e Tecnologia, Luana Sabatini e Karen Paula. Utilizará nas oficinas as técnicas de contação de histórias aliadas com a música e está previsto ainda a realização de um livro de Contos infantis adaptados para a educação ambiental.



Equipe Curupira /Batuclagem 2012


Equipe Boto / Batuclagem 2012.


Ana Maria Dietrich é coordenadora da Contemporartes e professora adjunta da UFABC.
 
Ler Mais

"Call girl"





Sem trilha sonora, uma câmera na mão acompanha os movimentos da personagem central. Expressão séria, olhar compenetrado e atitudes objetivas. Poucas falas saem de sua boca que mais responde do que pergunta. O sujeito dá rapidamente lugar ao objeto: uma prostituta de luxo, uma “call girl”, como um dos títulos em inglês do filme explicita, se trata de uma jovem que tem consciência em torno da sua atratividade sexual e o explora como profissão.

Sonhos não faltam: um apartamento, uma vida mais confortável em Ljubljana, capital da Eslovênia, e distante do seu passado provinciano. Um acontecimento imprevisível, um desvio de percurso, porém, faz com que a certeza ceda espaço a uma expressão de desespero. A confiança no presente e a projeção para o futuro são rapidamente substituídas por um retorno à família e a mais uma tentativa de se construir um porto seguro impossível. No lugar deste, os não-lugares proporcionados pelos transportes públicos: o trem,  o ônibus, o táxi e a consciência de que se é mais um na multidão. Planos aéreos da cidade são contrapostos a imagens em primeiro plano do rosto preocupado de nossa personagem.

Uma vez que ela tem sua vida ameaçada, muda radicalmente seu comportamento e retorna, tal qual uma "filha pródiga", às suas origens. O contato com o pai e a tentativa de construir laços com a mãe são fugas temporárias da capital, outrora promissora e intensa, e agora um labirinto para gatos e ratos. Todo momento pode ser o último e a sensação de culpa é latente. Só resta a ela acender quantos cigarros forem necessários e aguardar a passagem do tempo.

“Slovenian girl” se interessa pelos microuniversos que podem vir a ser encontrados na Eslovênia contemporânea. A guerra e a Iugoslávia enquanto tópicos sequer passam perto desta narrativa que, em contrapartida, mostra um processo de “internacionalização” do país. Não à toa, a “eslovena” do título cursa uma graduação em inglês e tem uma clientela majoritariamente estrangeira. Poderíamos interpretar esse dado como uma metáfora para a posição que o país ocupa atualmente, ainda marginal quando pensado em relação à Europa enquanto território e constructo cultural?





Raphael Fonseca é crítico e historiador da arte. Bacharel em História da Arte pela UERJ, com mestrado na mesma área pela UNICAMP. Professor de Artes Visuais no Colégio Pedro II (RJ). Curador de mostras e festivais de cinema como “Commedia all’italiana” (Caixa Cultural de Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo, 2011) e "Cinema pós-iugoslavo" (Caixa Cultural de São Paulo, 2012). Membro da Associação Nacional de Pesquisadores em Artes Plásticas (ANPAP).
Ler Mais

A Literatura Contemporânea no Brasil: Milton Hatoum.


Milton Hatoum é um escritor brasileiro nascido em Manaus (AM) e está entre os nomes mais recorrentes da literatura contemporânea. Em sua trajetória de vida, passou por Brasília, São Paulo, chegando a sair do País. O que lhe deu mais argumentos e forças para sua escrita, que permeia questões sociais e políticas.

Filho de libanês, mas nascido no Brasil, teve sua formação secundária terminada no Distrito Federal. Possui formação superior pela USP e Universidade de Paris III, sendo Doutor em Teoria Literária pela primeira. Atuou também como docente na Universidade Federal do Amazonas (UFAM).

Publicou romances como Relato de um Certo Oriente, Dois Irmãos e Cinzas do Norte, porém não se restringe aos romances, tendo contos e crônicas publicados em jornais e revista do país. Seus livros já foram traduzidos em diversos países, entre eles França, Espanha e Estados Unidos.

Deixo o leitor com um pequeno trecho de uma crônica do escritor, publicada no Estado de São Paulo:

"Sou viúva, meu filho mais velho mora em São Paulo, os outros em Maringá. Se eu pudesse, também moraria em São Paulo. Porque gosto muito de dançar. Em Maringá é mais difícil. Não sabe como é uma cidade pequena? Vão me chamar de velha sirigaita, ou de viúva assanhada"


Renato Dering é escritor, mestrando em Letras (Estudos Literários) pela Universidade Federal de Viçosa (UFV), sendo graduado também em Letras (Português) pela Universidade Federal de Goiás (UFG). Realizou estágio como roteirista na TV UFG e em seu Trabalho de Conclusão de Curso, desenvolveu pesquisa acerca da contística brasileira e roteirização fílmica. Atualmente também pesquisa a Literatura e Cultura de massa. É idealizador e administrador do site EFFI, que divulga o cinema e conteúdos audiovisuais. Contato: renatodering@gmail.com


Ler Mais

A arte milenar do Origami contribuindo com a Ciência

          



Em primeiro lugar perguntamos: o que é o origami? É uma palavra de origem japonesa onde ori significa dobrar e kami significa papel. Trata-se de uma arte milenar oriental que, utilizando-se das dobras de papel, muitas formas e ideias são extraídas desse contexto. Apesar do Japão levar consigo a patente de ser o local originário do origami, existem rumores que ele pode ter surgido também na China onde a história do papel é bem mais antiga.
A aproximação dessa arte com a matemática é muito bem expressa no livro Wakoku Chiyekurabe, do autor Kan Chu Sen, publicado em 1721, que traz a relação origami/matemática presente na apresentação de questões envolvendo resoluções de problemas que exigem raciocínio matemático, utilizando o origami como uma ferramenta significativa para sua compreensão.
Imagens do livro de Ken Chu Sen, 1721

Uma obra relevante nesse sentido também é o livro do autor T. Sundara Row, o Geometric Exercises in paper folding, (Exercícios geométricos em origami). Tal estudo foi publicado originalmente em Madras, Índia, em 1893, sendo que foi editado em 1905 pela The Open Court Publishing Company e reeditado em 1996 pela Dover Publications, Inc, New York. A intenção desse trabalho era mostrar a possibilidade de construção de polígonos regulares por origami, e demonstrar certas proposições geométricas com auxílio das dobraduras.
Quanto ao Brasil, os estudos sobre essa relação do origami com outras disciplinas científicas, existe uma pequena bibliografia nacional sobre a aplicação do origami no ensino de matemática. Imenes (1996) traz a construção de polígonos, poliedros, ângulos e retas. Machado (1996) apresenta problemas que envolvem técnicas de composição e decomposição de figuras geométricas. Michel (1997) apresenta uma série de dobraduras de sólidos geométricos de fácil execução. Rego, Rego e Gaudêncio Jr, (2004) apresenta em seu livro uma grande variedade de atividades para o uso em sala de aula.

Atualmente, as técnicas do origami são motivo de pesquisa visando aplicações em novas áreas de tecnologias e computação. Por exemplo, o método de dobra de mapas criado por Koryo Miura (‘Folding Miura Ori Map”) é utilizado no design de velas solares dobráveis e no projeto de painéis de satélites.
O origami, e suas seqüências de dobras, são estudados na engenharia computacional, criando uma área de pesquisa conhecida como computational origami. Ela é a intersecção entre a ciência da computação e a matemática do origami, e desenvolve algoritmos que resolvem problemas relacionados à dobragem de papéis.
Um dos primeiros softwares criados foi o TreeMaker (1993) desenvolvido Robert Lang . Esse software realiza as marcações base no papel, para depois as dobras serem feitas. Um exemplo do tipo problema estudado com este software é o “problema dobre e corte” que consiste na criação de um algoritmo onde se pode provar que qualquer forma poligonal, seja ela uma simples estrela ou um dragão, pode ser feita ao dobrar um pedaço de papel na seqüência correta e depois cortá-lo.
O problema dobre e corte foi solucionado por Erik Demaine (MIT), que aplica essa técnica na Alemanha, no design de airbags para automóveis. Demaine também pesquisa os dobramentos de proteínas com as técnicas de dobras. Acredita-se que as proteínas possuem uma seqüência correta de dobras na sua formação e que “dobras ruins” são responsáveis por certas doenças.
Robert M. Hanson é autor do livro Molecular Origami : Precision Scale Models from Paper, onde modelos de papel são criados com o intuito de auxiliar o estudo do arranjo dos átomos nas moléculas. Ele também criou o programa de computador Molecular origami, onde é possível imprimir várias estruturas moleculares em dobraduras de papel.
Em outras áreas do estudo da química o origami também é útil. Ligações iônicas e covalentes podem ser representadas com modelos feitos com origami. O livro Molecular Models with Origami de Yoshihide Momotani, traz uma série de exemplos que representam moléculas: um aldeído, uma ligação covalente e um modelo de DNA.

Os estudos dos movimentos feitos no origami também são utilizados na robótica e na automatização de atividades com materiais flexíveis: dobrar camisas e jornais. Lança-se mão dos movimentos realizados no origami para a programação em computador deste tipo de automatização.

Através dos estudos e suas respectivas publicações levantadas acima, temos a certeza de que o origami é uma alternativa de grande valor para interessados no desenvolvimento intelectual. É interessante encerrarmos esse artigo com as palavras utilizadas pela origamista japonesa Tomoko Fuse e refletirmos sobre ela: “Todo origami começa quando pomos as mãos em movimento. Há uma grande diferença entre conhecer alguma coisa através da mente e conhecer a mesma coisa através do tato”.











Mirna Valéria Coimbra Dias é graduada em Matemática pela UERJ e especialista em Matemática Financeira e Estatística pela FACEL.
Marcus Antônio Croce é Mestre em História pela UFF e doutorando em Economia pela UFMG. Atualmente é professor titular da Faculdade Santa Rita (FASAR) e prof. Substituto do Departamento de Economia da UFMG. e-mail de contato dos colaboradores: mc1967@ig.com.br

A Contemporartes agradece a publicação e avisa que seu espaço continua aberto para produções artísticas de seus leitores.

Ler Mais