Dicas Drops



Para quem gosta de teatro e é fã do estilo único do Nelson Rodrigues, a boa notícia é a peça “Toda Nudez Será Castigada”, que está em cartaz no Sesc Consolação. A peça conta a história de um burguês viúvo, Herculano, que após a morte da esposa é levado a conhecer uma prostituta, Geni. A partir daí, a vida dele se transforma intensamente. Dessa vez, a montagem leva a direção de Antunes Filho, que já dirigiu outras peças do autor como: A senhora dos Afogados e a Falecida. A peça fica em cartaz até 16 de dezembro. Às sextas e sábados às 21h. Domingos, às 18h. Mais informações, aqui.


Se você ficou curioso para conhecer mais a história do Herculano e da Geni, mas não está em São Paulo, não se preocupe. O texto do Nelson Rodrigues foi adaptado, em 1973, para uma versão cinematográfica. O filme, dirigido por Arnaldo Jabor, recebeu alguns prêmios durante a década de 1970 e está disponível na íntegra no Youtube.




Estão abertas as inscrições para o concurso literário “Poesias sem Fronteiras”. O concurso, que tem como estimular poetas de todo o Brasil, receberá inscrições até 20 de dezembro. Os interessados devem enviar uma única poesia, tema livre, inédita sob um pseudônimo. Mais informações pelo site  www.poesiassemfronteiras.no.comunidades.net  ou pelo blog   http://marceloescritor2.blogspot.com.



Ana Paula Nunes é jornalista, Especialista em Mídia, Informação e Cultura pela Universidade de São Paulo. Coordena a Comunicação da Revista ContemporARTES.


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Planetário


Caros leitores,

Meu encanto pela observação, inúmeras vezes me desconecta do momento das ações e me transporta para outra realidade existencial. Me pego fitando os olhos ao nada, ou em algo que mais ninguém, além de mim mesmo, conseguiria decodificar. Questões absolutamente detalhistas, numa percepção rotineira, costumam me prender a atenção e se fazerem como ponto de partida para reflexões longas e densas. Meus momentos de aparente devaneio ou, ainda, distração, são, na verdade, permeados de intenso existir, de profundo questionamento e, posteriormente, têm resultado em escritos tão mergulhados em si mesmos, quanto o próprio momento em que estas observações se fazem presentes. O texto, forma expressiva que lhes é resultante, não raras vezes encontrará seu sentido exato tão só na mente lúcida de loucuras e inquietações do próprio autor, cabendo a quem venha ler, construir a sua própria interpretação para o emaranhado de palavras dançantes, entregando à elas seus devaneios únicos, suas  viagens pessoais, suas emoções latentes... “Planetário” é uma produção que se expressa nestes termos. Impossível de ser explicada com base em próprios seus fundamentos, os quais sobrevivem num pulsante mundo interior, permite que sua leitura seja construtora de múltiplas interpretações e de múltiplos mergulhos... 

Adriano de Almeida


Planetário


Vejo as retas em curvas, confusas...
Perdidas em passos incertos...
Onde beijo os sorrisos ácidos,
iluminando as canções...
Pra me fazer dormir...


 
Quero ouvir o sono...
Em acordes desiguais...
Perguntando as razões,
do rio e do tempo.


E o mar abraça o caos...
Em poesias frias...
Deixando a noite só,
pra encontrar o dia e a voz.


Buscando os porquês,
em moinhos de vento.
Deixando a noite ir.
Pra deitar o silêncio em sol. 


Volta, devolva as lembranças...
Volta, entregue a calma...
Pra viver estes anos...
Seus risos intensos, únicos.



Adriano Almeida é pesquisador na área de cultura, imaginário e simbologia do espaço. Mineiro, tem se dedicado a escrever poemas, crônicas e contos. Seus escritos, de caráter introspectivo, retratam as incertezas, os conflitos, a melancolia e os encantos da existencialidade humana.



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O outro, o mundo e o eu



Poupe-me destes diálogos de uma voz só, sem ouvidos, cheiro, pele, cor. Quero poder me derramar em palavras, molhar sua alma, desmanchar papéis, evaporar-me tão cedo chegue a hora. Quero mais do que meros jogos de palavras, quero poder me mostrar como sou, sem intermediários, sem regras, sem pudor. Quero me despir silenciosamente e me sentir parte de você, não poder perceber essa coisa do eu.

Mas você continua imóvel, sem sentimento, frio, desalmado, mero objeto no mundo, pronto para o uso, mas incapaz de se corromper no contato. Não há nada que eu faça, nada que eu diga, nada que eu pense ou emane que seja capaz de tocar o seu profundo vazio. Talvez por que eu não tenha me dado conta de que só há o diálogo no reconhecimento do outro, no olhar, no sentir e no perceber a existência ou não de algo ou alguém.

Hoje eu vou me calar, silenciar-me em prece, contemplar a madrugada fria que prepara mais um dia. Vou me colocar em repouso, acalmar-me, tocar a sublime e leve essência da vida. Terei que abandonar os materialismos, a realidade que nos é posta, parar de correr contra o tempo, deixar de pensar sobre tudo. Apenas sentir sem sentido, ouvir o silêncio, olhar para a escuridão, flutuar sobre o abismo da existência.

Sim, é preciso sair, desconectar, esquecer-se, calar, talvez seja este o momento ideal que prepara o caminho de todo o criar. É preciso negar, deixar de positivar, olhar para um mundo como um quadro branco que clama por cor e vida, por forma, aparência, expressividade. E que não se atrevam @s palpiteir@s, de tentar interpretar esta obra, fruto de uma existência de sombras, amargurada e que canta docemente.

Há que se aceitar os limites, respeitar os domínios dos mundos, falar sobre o que lhes é posto, mas nunca sobre o indizível. Fazer o bom uso dos modos, conter-se diante da infâmia, olhar só o que lhe renova, deixar para trás a reprova. Não há de apoiar a revolta, nem dar vida a vã coisa morta.

Olhai para o falatório do povo, sua fúria, seu terror, de que adiantam mudanças, se não silenciam o clamor? Aceitai a perenidade da vida, e a miséria da curta existência, nem queira tentar resistência, no fim tod@s pedem clemência. Lembrai que é tão passageiro, tudo que vê verdadeiro, de nada adianta apegar-te, nem mesmo à mais bela arte.

Finitude, fraqueza, falta de sentido, fuga, medo, covardia, ilusão, utopia, são tantas as nossas saídas, tentar entender nossas vidas, para dar mais perfume ao túmulo que irá guardar este ser contra o qual nada podemos fazer além de conviver, o qual não somos capazes de olhar, com o qual não podemos falar, escrav@s que somos do sentir mais profundo e momentâneo, do gozo da relação mais próxima, da triste constatação de que nos é bloqueado o acesso ao conhecimento do ser que habitamos e que quanto mais buscamos sentido, mais distante dele nos colocamos.

Tatyane Estrela é graduanda no Bacharelado em Ciências e Humanidades e no Bacharelado e Licenciatura em Filosofia pela Universidade Federal do ABC. Participa do DEFILOTRANS - Grupo de Debates Filosóficos Transdisciplinares Para Além da Academia.
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Um pint de Caracu, ao som de Irish Punk Rock

       
Irish Punk Rock, ou Celtic Rock, são os nomes utilizados para identificar uma cena musical de bandas que mesclam elementos da musicalidade tradicional popular irlandesa com elementos do Punk Rock. O resultado é uma música com muita energia, marcada por refrões estilo sing a long – “cantem junto” -, que estimula o público a cantar junto com a banda, e acordes de guitarras distorcidos contrastando com a leveza da sonoridade de Pennywhistle, também conhecida como flauta irlandesa. Nesta mistura, incluem se ainda, instrumentos tradicionais como o violino, bandolin, acordeão, banjo, bodhrán, (instrumento de percussão) e a gaita de fole. Nesta edição de vozes, inspirada pelo memorável show da banda Flogging Molly, que se apresentou aqui em São Paulo, no último sábado, pretendo apresentar algumas bandas desta cena.
Influenciadas pela literatura do autor irlandês James Joyce ( autor de bestsellers como Ulisses, The Dubliners e Finnegans Wake) canções populares irlandesas e, claro, pelo punk rock e o hardcore, estas bandas cantam o cotidiano da classe trabalhadora, como os "porres" alcoólicos nos Pubs, a paixão pelo futebol e o espírito aguerrido, rude e laborioso dos irlandeses de ontem e hoje. Cantam também, canções de amor dedicadas a pessoas ou a sua terra natal, no caso daqueles que possuem alguma descendência.
Uma das primeiras bandas deste estilo é o The Pogues, que originalmente era conhecido como Poghe Mahone (nome proveniente da expressão gaélica Póg Mo Thóin”, algo como “beije minha bunda”, em português), que surgiu na Inglaterra, na década de 1980. Tendo o alucinado Shane Mac Gowan na posição de frontman da banda, o Pogues era influenciado tanto pelas bandas de punk rock do final da década de 1970, como o Sex Pistols e o Ramones, como por bandas de músicas populares irlandesas, como o Dubliners. Politicamente, a banda assumiu uma posição anti-intervenção inglesa na Irlanda. Como exemplo, cito a canção Streams of Whiskey, composta em homenagem ao poeta e militante do Exército Republicano Irlandês (IRA) Brendan Behan. Na sequência, apresento um videoclipe da canção Irish Rover, interpretada pelos Dubliners e o Pogues.

Outra banda relevante nesta cena, é a Flogging Molly que, como já havia dito, se apresentou, no último sábado, na casa de shows Via Funchal, aqui em São Paulo. Fundada na California, em 1997, pelo carismático vocalista Dave King, um irlandês natural da cidade Dublin, esta banda, nas palavras do próprio King canta o “exílio e rebelião, de luta, história e protesto. É a música de um país dividido ao meio, um país profundamente belo e ferido”. Mas estas palavras não caracterizam a Flogging Molly como uma banda conservadora, defensora de um nacionalismo exacerbado, aliás, a maioria das bandas desta cena não compactuam com ideais desta natureza. A Flogging Molly, por exemplo, participou com a canção Drunken Lullabies de uma compilação de canções intitulada Rock Against Bush vol. 2, lançada em 2004, com o objetivo de mobilizar a juventude contra a reeleição de George W. Bush.
Capa da compilação Rock Against Bush, Fat Wreck Records, 2004



Algumas canções recorrem à memória coletiva para enaltecer a postura combativa dos irlandeses. A versão para canção Molly Maguires, executada pela banda sueca Finnegan´s Hell, é um belo exemplo. Ela foi composta em homenagem a uma sociedade secreta de carvoeiros do século XIX formada por irlandeses emigrados para os Estados Unidos que se opunham a exploração utilizando greves como forma de combate.


Há também canções que enaltecem os Pubs, um dos patrimônios culturais da Irlanda e tema frequentemente visitado pelas bandas. A canção An Irish Pub Song, da banda australiana The Rumjacks, trata exatamente disto. Notem que o vocalista toca um bodhrán.


Com uma cena tão internacionalizada, claro que o Brasil não poderia deixar de ter o seu representante de Irish Punk Rock. O nome da banda é Ketamina, oriunda de São Paulo. Em 2010, ela lançou, pela gravadora Ataque Frontal,  um CD single intitulado Whiskey you´re the Devil, contendo três canções, sendo a canção título um cover de uma música popular irlandesa que se refere à luta contras as tropas napoleônicas na península ibérica.


Resta agora a você, caro leitor, apreciar estas canções, acompanhado de um belo pint de cerveja Guiness, ou , como alternativa, a nossa “Guiness” nacional: a Caracu!

Cheersss...

Alexandre de Almeida é graduado em Historia e mestre em Antropologia, ambos pela PUCSP. Sua pesquisa tem como foco os grupos juvenis urbanos e seus posicionamentos políticos/partidários. Também realiza pesquisa na área de Arquivologia, com ênfase em documentos audiovisuais e sonoros. Foi radialista na Patrulha FM, em Santo André (SP), especializada no gênero Rock, no final da década de 1990, onde além de apresentar a programação comercial noturna, produziu e apresentou o programa “Expresso da Meia Noite”. Trabalha, há mais de dez anos, com patrimônio histórico arquivístico, atuando em instituições como o Arquivo Público do Estado de São Paulo e Centro de Memória Bunge. Atualmente, coordena a área de Arquivos Sonoros e Audiovisuais do Acervo Presidente FHC e trabalha como professor na rede pública de ensino de São Paulo.
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Paraíso




Deu vontade de falar da Vó. Deu saudade daqueles domingos na casa dela, onde a única regra era brincar sem relógios tiquetaqueando: correr descalço o dia inteiro no quintal, sujar as mãos na terra do jardim, não sair de lá sem levar na mochila sacolés, chocolates e os pastéis de queijo mais gostosos de toda a infância.

Saudade também da hora do almoço, da cozinha de azulejos azuis, da mesa em que não cabiam todas as travessas e travessuras, da Dona Mari carinhosamente nos intimando a provar e repetir umas duzentas vezes cada prato, do bolinho de bacalhau à salada de frutas. Afinal, neto nenhum seu podia ser magrinho. O que as vós da vizinhança iam pensar?

Saudade até da cara (quase) feia que ela fazia quando nos esquecíamos de pedir sua bênção ou um beijinho de tchau. Do seu olhar levemente preocupado quando iniciávamos a Vigésima Sexta Guerra Mundial das Almofadas e usávamos como trampolim o enorme sofá da sala – que fazia a curva do outro lado da rua.

Saudade do zelo com que cuidava das camisas do Vô Maneco, do capricho com que pregava cada botão que tentasse escapar.

Saudade do banho de mangueira no verão, do cheiro do café no frio, do barulho da máquina de costura, da cor da tinta com que pintava o cabelo, do sorriso que teimava em não aparecer nas fotografias, do jeitinho delicadamente severo de convencer Mãe a nos perdoar... pela Vigésima Sétima Guerra Mundial das Almofadas.

Saudade da saudade que Vó irradiava quando nos via abrindo o portão felizes da vida – prestes a provar mais um pedacinho do céu.









Fábio Flora é autor de Segundas estórias: uma leitura sobre Joãozito Guimarães Rosa (Quartet, 2008) e escreve no Pasmatório (http://pasmatorio.blogspot.com.br).
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Balzac: ícone literário




Quem mais célebre que Balzac para retrata uma Europa com suas singularidades e peculiaridades? O Pai Goriot é, sem dúvida, uma obra que revive uma sociedade européia, dotada de costumes e perpetuando seu glamour entre tantos da classe baixa, representa uma típica sociedade, voltada ao contraponto entre ricos e pobres. Logo, constatamos que a obra balzaquiana é um ícone da literatura mundial, pois podemos inferir que encontramos em sua obra uma essência de profundo conhecimento. Isso se justifica, pois como já afirma Todorov, “A literatura não nasce no vazio, mas no centro de um conjunto de discursos vivos, compartilhando com eles numerosas características”.


Podemos perceber essa riqueza de representações logo nas primeiras páginas do romance, quando o narrador, bem astucioso descreve as personagens e o ambiente: “Nenhum bairro de Paris é mais horrível nem mais desconhecido” (BALZAC, 1994, p.10). A pensão é de Dona Vauquer e, é nesse espaço qual boa parte da narrativa se desenvolve, desde retomadas da história até ações da própria narrativa. Os quartos na pensão indicavam o quão poder aquisitivo tinham os moradores. Goriot é um senhor que enriqueceu com a venda de trigo, mas sua decadência é perceptível com a mudança nos dormitórios que foi tomado a fazer durante algum tempo. Contudo, apesar do título levar o nome de uma das personagens, o destaque da obra se dá em outras duas: Eugênio de Rastignac, um jovem universitário e Paris, a cidade.

Convido nossos leitores da ContemporArtes para realizar a leitura dessa obra que é um primor da literatura mundial. No livro  “Vicissitudes literárias na criação da narrativa e no imaginário ficcional” você pode encontrar uma bela análise da obra realizada pela mestranda em Literatura Bruna Araújo.


Renato Dering é escritor, mestrando em Letras (Estudos Literários) pela Universidade Federal de Viçosa (UFV), sendo graduado também em Letras pela Universidade Federal de Goiás (UFG). Realizou estágio como roteirista na TV UFG e em seu Trabalho de Conclusão de Curso, desenvolveu pesquisa acerca da contística brasileira e roteirização fílmica. Atualmente também pesquisa a Literatura e Cultura de massa.





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A Estória e o Poeta

          


Esta é a história de Estória, uma história que não tinha sido, mas sempre quis ser. Ela nasceu na cabeça de um escritor que não tinha leitores nem tampouco admiradores. Não é possível estimar a idade de Estória, pois nem seu criador tem estes cálculos, o que ele sabe é que há muito tempo queria dar a ela uma vida. Até então, Estória era um mero embrião. O escritor se chamava Poeta, mas nem assim conseguia espalhar sua escrita, nem por isso era frustrado.
Poeta não sabia o motivo, mas só era capaz de escrever poesias. Talvez seu nome fosse um carma, mas esta ideia logo foi descartada, Poeta não acreditava em carma, ressurreição ou qualquer carga que fosse carregada pra outra vida. Não sabia nem se possuía de fato, esta vida que vivia.
O grande problema de Estória era que seu criador não conseguia escrever uma história, uma crônica, nem mesmo um conto sequer. Tudo que Poeta escrevia era poesia, e Estória não tinha o menor orgulho de seus “irmãos” com rimas, afinal o que tem de belo numa poesia? Achava que bonitas eram as folhas recheadas de letras, uma história de verdade. Mas o problema ainda não era esse...
Para que Estória recheasse as páginas brancas de um livro, era preciso ser e ela não era. Pelo menos ainda não. Poeta apenas teve a ideia de criar uma história, mas não teve a ideia de qual história criar. Achava que tinha perdido a habilidade de escrever em prosa, como fazia nas redações da escola, aliás, de onde saíram suas melhores notas. A confusão de Poeta deixava Estória furiosa. Ora, se não sabia o que fazer com ela, porque a criara? Ele respondia com a mesma sinceridade com que era perguntado, “as ideias nos atingem sem aviso, e em boa parte das vezes, passam tão rápido que não vemos nem a cor!”. Mas na verdade ele tinha visto a cor, só não lembrava qual era.
Determinado á dar uma história para Estória, Poeta sentou-se em frente ao computador e apesar de adorar a caneta e o papel, digitar era mais rápido do que escrever, portanto poderia pegar a ideia quando ela passasse em sua mente/frente. Do outro lado de sua cabeça (o lado de dentro), Estória começava a questionar sua existência e principalmente seu criador. Tentou buscar outras histórias, perdidas como ela, para que pudessem se unir e se rebelar contra Poeta. Poeta não pensava que a criara, mas que era apenas seu causador. Uma história há de se encaixar na forma de Estória, mas o tempo passava e lá nos confins de sua cabeça, Estória , já acompanhada de outras perdidas, armava uma cilada. Uma revolução armada em busca da história tão esperada.
A esta altura, Poeta não sabia o que fazer, a pressão definitivamente não o ajudava a escrever, e  além do que, julgava-se inocente e pensou que Estória poderia ser mais paciente, aguardar a inspiração chegar até ele e então lhe daria uma vida. Mas os planos eram outros. Descobriu que havia dezenas, talvez centenas de estórias inacabadas, de ideias indecisas com datas imprecisas, enfim...sua mente agora era uma confusão organizada, a revolução estava preparada e explodiria a qualquer segundo. Poeta suava frio e pensava numa resposta para todas aquelas estórias, mas o barulho dos protestos impedia seus pensamentos e por este motivo não conseguia construir argumentos concretos que convencessem o grupo revoltado a reverem seus conceitos.
As exigências eram claras, todos ali dentro queriam ideias novas e diferentes para que continuassem vivas. Estória, líder do movimento pedia insistentemente uma solução, ou no mínimo uma retratação de Poeta que ousou ter algumas ideias sem fim e por isso tinha os deixado assim...estórias sem forma, enfim...monstros disformes que o questionavam agora. Era necessário um fim, Poeta sabia muito bem disso, mas as conclusões não apareciam, as repostas não existiam, ou não podiam ser vistas de onde estava, precisava de um lugar sereno. Pensou nalguma ilha que pudesse existir em sua mente, alguma trilha que o levasse ao mundo das histórias novas e finitas, mas sentiu-se impotente diante do horizonte á sua frente. Decidiu pela rendição. Os manifestantes tomariam conta de sua mente. Seria assim, infelizmente.
Quando soube do acontecido, quando esta ideia passou pela cabeça de Poeta, Estória teve um estalo de sabedoria e pediu uma reunião em sigilo. Conseguiu. Frente á frente, criador e criatura, as coisas começaram a caminhar. Estória contou que já se sentia viva, e assim como as outras agora tinha uma história, houve uma epifania coletiva.
As ideias agora, estavam unidas por uma única e intensa história. Era sobre um escritor chamado Poeta que escrevia muita poesia e pouca prosa até que um conflito fez com que escrevesse a melhor história já escrita, sobre uma história que não era...mas agora tinha se tornado viva e preencheu todas estas linhas. Poeta e Estória fizeram história na literatura e juntos construíram novas, vivas, ricas e fictícias vidas...todas dentro de uma única cabeça. A cabeça de Poeta!

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O ciclo interminável da corrupção

O governo impõe impostos
e ainda dispõe de votos
para continuar impondo modos
de modo que o povo vota
para pôr sua própria desgraça em voga
vagando como uma massa disforme
que pede, leva  porrada e absorve
enquanto os claros culpados, absolve...
A impostura das pessoas
revela sua própria culpa
e propõe que o esquema continue
O sistema diminui o cidadão
e aumenta gradualmente a corrupção
o homem se corrompe e então
vota novamente naquele
que vagamente pensa na população
e que na verdade sofre de vaidade
o que me faz supor
que sua riqueza é miserável
e perpetua o ciclo interminável
de um governo impostor.
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De autoria desconhecida

Sou um autor
desconhecido
Escrevo meus poemas
aos gritos
para que todos
saibam meus conflitos
E que isso
faça com que reflitam
pois a poesia
É um exercício
Da filosofia
que eu respiro
e que está viva
nos meus escritos
Espero no mínimo
que arranque um suspiro
de quem lê este livro.
Será um prazer
ter em ti, mais um amigo.

(á proposito, me chamo Vinícius)





Vinícius Henrique Masutti é natural de Pato Branco, Paraná, Brasil. Mas é uma espécie de nômade, pois já viveu no Mato Grosso do Sul e hoje faz seus versos em Cuiabá, Mato Grosso. Lá faz um trabalho de garimpo poético, redescobrindo os poetas daquela terra. Escreve artigos para o jornal "Diário de Cuiabá", o mais antigo do estado. Estuda Filosofia na Universidade Federal do Mato Grosso, porque como gosta de afirmar,  "Filosofia é poesia porque poesia é reflexão". Vinícius pratica poesia e filosofia.

A Contemporartes agradece a publicação e avisa que seu espaço continua aberto para produções artísticas de seus leitores.

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