quarta-feira, 4 de março de 2015

Berlim in progress




Há quase duas décadas morando em Berlim pude e posso observar as mudanças que a cidade vem passando. Uma das mais visíveis, a reforma da paisagem urbana, principalmente nos bairros do antigo lado comunista. Onde antes havia o aspecto do abandono, que entristecia os primeiros visitantes, onde antes havia o improviso e a criatividade como solução e uma vida realmente alternativa, agora há fachadas bonitas em tom pastel e a apropriação deste "alternativo" com estética e, consequentemente, como mercado. 

Berlim criou uma estética do "feio" do "velho", que é aceita agora por pessoas que talvez, há alguns anos atrás, nem sequer pensariam em descer as escadas de um porão úmido e necessitado de uma boa reforma para comer e beber entre amigos. O caos, o feio e o velho está domesticado.
Se isso é bom ou ruim, não quero aqui julgar. Fato é, Berlim se transforma e ninguém pode prever se em algumas décadas ainda haverá prédios que testemunham este momento pós queda do muro. Mesmo porque eles realmente precisam de uma reforma! 


Entrada do prédio Schwarzenberg, Rosenthaler str 39, Berlim

Um desses prédios é o Schwarzenberg, na Rosenthaler str 39, um prédio cheio de histórias, construído na segunda metade do século 18. primeiro como moradia, depois também como espaço para oficinas e mais tarde pequenas fábricas. Durante a ditadura nazista o prédio abrigou entre 1936 e 1945 a fábrica de escovas e vassouras de Otto Weidt. Nesta fábrica Weidt empregava judeus em sua maioria cegos e surdos, protegendo seus trabalhadores da deportação.
Hoje uma associação, fundada em 1995, que leva  o nome da casa - http://haus-schwarzenberg.org - administra o prédio e abriga galerias, ateliês, bares, cinema alternativo, lojas e museu. A concessão termina este ano e seus organizadores não sabem se será renovada.

Neste pátio está o Cinema Central, onde passa filmes na lingua original que não são blockbusters.


Esta cantinho de Berlim sobrevive no meio da nova Berlim, na mesma rua um pouquinho mais a frente está a loja da Hugo Boss e a sede da SAP. Logo ali numa outra rua a loja de Karl Lagerfeld e muitas outras lojas chiques que dão uma pista de como a será essa transformação. Quem sabe a cidade, agora novamente capital da Alemanha, retome seu glamour dos idos tempos da República de Weimar, na década de 20, quando era a maior cidade industrial do continente e uma metrópole da cultura e do entretenimento, da boêmia e da vanguarda intelectual.


Ana Valéria Celestino é historiadora 
e mora em Berlim. Realizou dois “estudos de História” uma vez no Brasil outra na Alemanha. Sempre voltada para a leitura de manuscritos, o que quase significa: “quanto mais ruim for o garrancho melhor”. trabalhou no Brasil como paleógrafa,  mas a vida quis a tradução, trabalho que exercia durante os estudos e continua fazendo até hoje em Berlim.


Dentre as “realizações” teve a oportunidade de organizar um arquivo pessoal com documentos inéditos no Instituto Ibero-americano em Berlim, trabalhar com um manuscrito do século XI e, finalmente, saber o latim. Ainda por vir, a escrita de um trabalho historiográfico, o doutorado. 


6 comentários:

Rogerio disse...

Bem vinda!! Ótima coluna!! Auguri!! Ps. sou o ex-inquilino da "Girassol-Giramundo" :)))

4 de março de 2015 às 05:18
Rogerio disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
Lari Germano disse...

que gostoso conhecer Berlim assim! vou amar...!

4 de março de 2015 às 09:18
izabel liviski disse...

Bem vinda, Ana...parabéns pela 'inauguração' em grande estilo!
abraço grande.
Bel

4 de março de 2015 às 11:42
Ana Dietrich disse...

querida ana, é um prazer enorme tê-la conosco para mostrar sua arte, suas reflexões. Saiba que lhe admiro muito como pessoa, profissional e amiga. bjs

6 de março de 2015 às 20:14
Ana Valéria disse...

Obrigada pelas boas vindas! Eu estou bem contente em poder fazer parte desta Revista. Abraços a todos

18 de março de 2015 às 10:14

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